quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MENSAGEM DE FELIZ ANO NOVO


Mais um ano chega ao fim. Para alguns marcados por extrema alegria, para outros embargados de dor. Nesse momento é hora de refletir. Como foi nosso ano? Conseguimos conquistar nossos ideais? Será que realmente lutamos por eles?

Demos o abraço que nosso irmão tanto queria, ou viramos as costas não se importando com ele? Pedimos perdão pelas nossas falhas, ou o orgulho não deixou? Fomos amigos e companheiros com nosso colega de trabalho, ou simplesmente fazíamos nosso trabalho sem se importar com o outro tão perto de nós? Estivemos presente na vida de nossos filhos, de nossos maridos, esposas? Enfim, depois de tantas perguntas nos vêm mais uma: será que teremos uma outra chance? Para um pedido de desculpas, uma reconciliação, uma dúvida não respondida, um amor encontrado, uma dor desaparecida, um grito de alívio, um beijo, um abraço que não foi dado?

Meu Deus… nos dê forças, nos dê saúde, nos dê a chance de fazer o que deveria ser feito, consertar nossos erros, de sermos amigos, companheiros, compreensivos, mãe, pai, filha, filho, esposa, esposo.

Mais uma chance chega, os fogos anunciam a chegada de um ano novo! É hora de refazer seus sonhos ainda não realizados e acreditar que irá concretizá-los. Soltar um olhar solidário e acalantador para os seus amigos. Aprender com os erros do ano já ido e brindar o ano bem vindo com um sorriso.

O grande ideal é fazer o bem, vamos lutar por nossos irmãos brasileiros. Vivemos em um país maravilhoso, perfeito, mas que é mal gerido e, consequentemente, faz seu bom povo sofrer... VAMOS MUDAR ISSO!

EU ACREDITO NO BRASIL, NÃO VOU DESISTIR DELE!

A equipe da TV Imperial - Movimento de Restauração da Monarquia no Brasil deseja a você um ano repleto de luz, amor, saúde e prosperidade.

Feliz Ano Novo e que Deus os abençoe!

BRASIL


As raízes etimológicas do termo "Brasil" são de difícil reconstrução. O filólogo Adelino José da Silva Azevedo postulou que se trata de uma palavra de procedência celta (uma lenda que fala de uma "terra de delícias", vista entre nuvens), mas advertiu também que as origens mais remotas do termo poderiam ser encontradas na língua dos antigos fenícios. Na época colonial, cronistas da importância de João de Barros, Frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gândavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" é derivado dessa forma, bem antes de "pau-brasil", designação dada a um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos e também na construção do cérebre Cruzeiro da denominada por Pedro Álvares Cabral de "Terra do Santo - Cruzeiro de Brasil" armados nos altares nas duas Missas celebradas na época da conquista portuguesa aos piratas, com apoio de nativos - amigos e de soldados e artilharias de terra e mar presentes na batalha, e em frota de treze naves - fortalezas e a consequente descoberta para o mundo civilizado conforme a verdadeira História do Descobrimento em livro de Armador (Capitão-mor ou Marechal de Armada) Pedro Álvares Cabral publicado em Editora da Biblioteca Real de Lisboa da Imprensa Régia, em 1501.

Na época dos descobrimentos, era comum aos exploradores guardar cuidadosamente o segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim de explorá-lo vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que haviam descoberto certa "ilha Brasil" (em vez de Terra - continental) no meio do oceano Atlântico, de onde extraíam o conhecido desde antiguidade o pau-brasil.

"Brasil nasceu Imperial", Segundo Pedro Álvares Cabral em seu célebre livro de 1501.

Em 1967, com a primeira constituição do regime militar, o Brasil passou a chamar-se República Federativa do Brasil, nome que a constituição federal brasileira de 1988 conserva até hoje. Antes, na época da monarquia constitucional, de acordo com a primeira constituição, a constituição imperial brasileira de 1824, baseada essa constituição nas chamadas "Ordenações de Maria - Primeira, Imperadora", era Império do Brasil, e depois, com a proclamação da República brasileira em 1889, o nome foi alterado para Estados Unidos do Brasil.


  • TEORIAS

Pau-brasil

O nome proveniente da árvore Pau-brasil; A origem derivada da madeira já era defendida na época colonial, onde cronistas da importância de João de Barros, Frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gandavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" deriva de "pau-brasil", a designação de um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos. Essa teoria é oficial e ensinada nas escolas brasileiras e portuguesas

Ilha Brazil

O nome proveniente de uma ilha mítica chamada Brazil (com z). Essa lenda teria surgido entre os Celtas que diziam ser uma ilha no meio do oceano que pegava fogo constantemente. Por volta de 1339, muitos documentos da época mostram que já existia essa ilha no meio do Oceano Atlântico a oeste da ilha dos Açores, porém a localização exata variava entre galegos e germânicos. O nome Brazil deu origem ao sobrenome de uma família na Idade Média e ainda hoje presente na Irlanda.

Brasile

O nome proveniente da derivação de "Balj ibn Bishr", primeiro chefe muçulmano a conquistar Andaluzia (na Espanha). Este famoso guerreiro teve seu nome pronunciado de diversas formas e, com o passar dos anos, seu nome ficou para a história como "Brasile".

Outras denominações

Antes de ficar com a designação atual "Brasil" as novas terras descobertas foram designadas de: Monte Pascoal (quando os portugueses avistaram terras pela primeira vez), Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Nova Lusitânia, Cabrália, etc...

Mesmo após a adoção do nome "Brasil", a denominação oficial do Estado brasileiro ainda mudou algumas vezes. Durante o período do Brasil Colônia, ainda foram usados os nomes "Principado do Brasil", "Vice-reino do Brasil" e "Reino do Brasil".

Como Estado soberano, em 7 de setembro de 1822, o "Reino Independente do Brasil" declara-se independente do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Contudo, já em 12 de outubro do mesmo ano, o nome foi trocado para "Império do Brasil". Assim o Brasil ficou até o Golpe de Estad ditatorial da república, quando a designação oficial passou a ser "República dos Estados Unidos do Brasil". E finalmente em 24 de janeiro de 1967, data na qual a Constituição brasileira de 1967 foi votada, o atual nome "República Federativa do Brasil" foi escolhido e perdura na atualidade.

FONTES:
    1. Brasil – Origem do nome A Enciclopédia;
    2. Constituição brasileira de 1891 Presidência da República;
    3. Houaiss, Antônio (2009), "Brasileiro", Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Objetiva;
    4. COUTO, Jorge (1997), A construção do Brasil;
    5. Constituição política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824);
    6. A Origem dos Nomes dos Países. Editora Panda Books.

    quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

    "O GRITO DO IMPIRANGA", DE MACHADO PARA O IMPERADOR

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    "Só peço aos deuses, também creio nos deuses, que afaste do Brasil o sistema republicano"
    Machado de Assis

    Liberdade!... Farol divinizado! -
    Sob o teu brilho a humanidade e os séculos
    Caminham ao porvir. Roma as algemas
    Quebrou dos filhos que a opressão lançara
    Dentre a sombra de púrpura dos Césares,
    Que envolvia Tarquínio em fogo e sangue,
    Cheia de tua luz e estimulada
    Por teu nome divino - essa palavra
    Imensa como as vozes do Oceano.
    Sublime como a ideia do infinito!
    Tal como Roma a terra americana,
    Um dia alevantando ao sol dos trópicos
    A fronte que domina os estandartes,
    Saudou teu nome majestoso e belo -
    E o brado imenso - Independência ou morte! -
    Soltado lá das margens do Ipiranga.
    Foi nos campos soar da eternidade.

    Desenrola nas turbas populares
    Dos livres a bandeira o herói tão nobre,
    Digno dos louros festivais que outrora
    Roma dava aos heróis entre os aplausos
    Do povo que os levava ao Capitólio!
    Ele foi como o César de Marengo;
    Sua voz como a lava do Vesúvio
    Levada pela voz da imensidade
    Foi do Tejo soar nas margens, onde
    Estremeceu de susto o lusitano!

    Ipiranga!... Ipiranga!... A voz das brisas
    Este nome repete nas florestas!
    Caminhante! Eis ali onde primeiro
    Soou o brado - Independência ou morte! -
    O homem secular levando as águias
    Por entre os turbilhões de pó, de fumo,
    Ostentando nos livres estandartes
    O lúcido farol de um século ovante,
    Mais sublime não foi nem mais valente
    Que Pedro o herói, da América travando
    Do farol da sagrada liberdade,
    E acordando o Brasil, escravizado,
    Sob férreos grilhões adormecido.

    Somos livres! - Nas paginas da história
    Nosso nome fulgura - ali traçado
    Foi por Deus, que do herói guiando o braço,
    Nas folhas o escreveu do eterno livro.
    Somos livres! - No peito brasileiro
    A ideia da opressão não se acalenta!
    Somos já livres como a voz do oceano,
    Somos grandes também como o infinito,
    Como o nome de Pedro e dos Andradas!

    Seja bendito o dia em que Colombo
    César dos mares, afrontando as ondas,
    À Europa revelou um Novo Mundo;
    Ele nos trouxe o cetro das conquistas
    Nas mãos de Pedro - o fundador do Império!

    O herói calcando os pedestais da história,
    Ergue soberbo aos séculos vindouros
    A fronte majestosa! Imenso vulto!
    É ele o sol da terra brasileira!
    Neste dia de esplêndidas lembranças
    No peito brasileiro se reflete
    O nome dele - como um sol ardente
    Brilha dourado no cristal dos prismas!

    Tomando o sabre, dominou dois mundos
    O herói libertador, valente e ousado!
    Ele, o tronco da nossa liberdade,
    Foi como o cedro secular do Líbano,
    Que resiste ao tufão e às tempestades!

    Ipiranga! Inda o vento das florestas
    Que as noites tropicais respiram frescas
    Parecem murmurar nos seus soluços
    O brado imenso - Independência ou morte!
    Qual o trovão nos ecos do infinito!

    Disse ao guerreiro o Deus da Liberdade:
    Liberta o teu Brasil num brado augusto,
    E o herói valente libertou num grito!

    Joaquim Maria Machado de Assis
    7 de setembro de 1856.

    Poema recentemente descoberto de Machado de Assis, publicado no dia 9 de setembro do ano de 1856, no jornal Correio Mercantil, quando o escritor tinha ainda 17 anos de idade.

    "MONARQUIA RACISTA"... FOI O QUE "ELES" DISSERAM.

    Francisco Jê Acaiaba de Montezuma, primeiro e único visconde de Jequitinhonha

    O Visconde de Jequitinhonha nasceu em Salvador, 23 de março de 1794, foi um advogado, jurista e político brasileiro.

    Seu nome de batismo era Francisco Gomes Brandão. Filho do comerciante português Manuel Gomes Brandão e da mestiça Narcisa Teresa de Jesus Barreto. Família mestiça, após a união de um português com uma brasileira, mas dotada de boa renda. Era desejo do pai fazê-lo padre, de forma que ingressou no seminário franciscano, em 1808. A despeito desta vontade paterna, ruma em 1816 para Portugal, ingressando na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se forma em 1821.

    Retornando para a Bahia, torna-se ardoroso defensor da sua independência. Ao lado do editor baiano Francisco Corte Real, depois Corte Imperial, funda o jornal "O Constitucional", que passa a ser o porta-voz dos interesses dos baianos face ao partido dito "português". Quando a situação na capital torna-se insustentável para os brasileiros, toma parte activa nas lutas pela Independência da Bahia - grande orador que era - junto ao Governo Provisório que então se formara na vila de Cachoeira.

    Proclamada a Independência, abandona o nome de batismo, passando a chamar-se Francisco Gê Acayaba de Montezuma – incorporando assim ao nome todos os elementos que formam a nação brasileira, e uma homenagem ao imperador asteca Montezuma (Gê, atualmente grafado com "J", designa os índios brasileiros do tronco linguístico não-tupi-guarani; Acayaba, atualmente grafado com "I", palavra de origem tupi.

    Como prêmio por sua participação nas lutas, o Imperador Dom Pedro I concede-lhe o título de barão de Cachoeira, recusando este, porém aceitando ser agraciado comendador da Imperial Ordem do Cruzeiro.

    Montezuma logo ingressa na política, e em 1823 elege-se deputado, indo para a corte. Ali, exerce com seu verbo inflamado e talento reconhecido na oratória, ferrenha oposição ao Ministro da Guerra. Preso, é exilado na França - onde permanece por oito anos. De volta ao Brasil, é eleito para a Assembléia Geral Constituinte de 1831, onde ocupa lugar de destaque. Ali, torna-se o primeiro deputado da história brasileira a lutar contra o tráfico negreiro, sendo portanto um dos pioneiros do movimento abolicionista - idéia que defendia com ardor, mesmo que isto então fosse considerado ilegal. Em 1837 é feito Ministro da Justiça e dos Estrangeiros (5º Gabinete - Regência Feijó), elegendo-se também deputado pela Bahia. Ocupou, ainda, o cargo de "ministro plenipotenciário" (diplomata) junto ao Império Britânico. Em 1850, foi nomeado Conselheiro de Estado.

    Em 1851 Montezuma elege-se Senador por sua província natal.

    Foi presidente do Banco do Brasil por um curto período de abril a agosto de 1866.

    Foi o fundador e primeiro Presidente do Instituto dos Advogados do Brasil, tendo ainda, em 1850, pugnado pela criação da Ordem dos Advogados do Brasil, sem sucesso, justamente na Câmara dos Deputados, onde tinha assento.

    Se havia recusado o baronato, aceitou, entretanto, o título de Visconde com Grandeza (Grande do Império). Assim, fez-se nobre com o decreto imperial de 2 de dezembro de 1854.

    Além da comenda já citada, Montezuma foi ainda comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e condecorado com a medalha da Guerra da Independência.

    Montezuma foi um dos membros-fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Deixou uma relativamente farta obra publicada, versando sobre economia, história, política e, claro, direito.

    Brasão do Visconde

    FONTE:

    • BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. Typographia Nacional, Rio de Janeiro, 1893.

    "MONARQUIA RACISTA"... FOI O QUE "ELES" DISSERAM.

    Francisco Paulo de Almeida, primeiro e único Barão de Guaraciaba

    O Barão de Guaraciaba nasceu em Lagoa Dourada, 10 de janeiro de 1826, foi proprietário rural e banqueiro brasileiro. Distinguiu-se por ter sido financeiramente o mais bem sucedido negro do Império (sim, na monarquia brasileira havia a a ascensão social de negros, já na "democrática e avançada" república dos EUA ocorreram lutas até o meio do século XX para tal). Possuiu diversas fazendas e cerca de duzentos escravos (como sempre digo, infelizmente, a sociedade era escravagista, por isso a demora para, dentro da lei, abolir a escravidão), com uma fortuna estimada à época em setecentos mil contos de réis. Foi proprietário do emblemático Palácio Amarelo na cidade de Petrópolis.

    Iniciou sua vida como ourives, especializado na confecção de botões de colarinho. Era exímio violinista e suplementava sua renda tocando em enterros. Depois tornou-se tropeiro e em 1860 comprou sua primeira fazenda no Arraial de São Sebastião do Rio Bonito.Concentrou seus negócios cafeeiros nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro (Vale do Paraíba). Foi proprietário de várias fazendas de café, dentre elas, Fazenda Veneza (Conservatória, Rio de Janeiro), posteriormente de propriedade de Lily Marinho, e Fazenda do Pocinho da Família Almeida e Souza (Barra do Piraí/Vassouras, Rio de Janeiro). Foi sócio-fundador do Banco Territorial de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Agraciado com o o título nobiliárquico de barão em 16 de setembro de 1887.

    Embora fosse negro, o aristocrata estava longe de ser um abolicionista. Quando a Princesa Dona Isabel assinou a Lei Áurea, tinha cerca de 200 escravos na fazenda Veneza, em Conservatória, onde possuía mais de 400 mil pés de café. Mesmo com a abolição, a maioria continuou trabalhando para o barão, e alguns foram incluídos no testamento — caso de Isabelinha, que trabalhava na sede da fazenda e ganhou, na divisão da herança, o mesmo valor em dinheiro que os filhos homens: quase 2.000 contos de réis.

    Foi o primeiro barão negro do império, se notabilizando pela beneficência em favor das Santas Casas.

    Palácio Amarelo, Petrópolis: antiga propriedade do Barão do Guaraciaba.

    Após a Proclamação da República, via golpe de Estado ditatorial, adquire o Palácio Amarelo, atual sede do Legislativo da cidade de Petrópolis, foi perseguido pelo legislativo, até vender seu imóvel.

    Faleceu com 98 anos de idade em 1901, em uma mansão no Catete — para onde se mudou após vender o Palácio Amarelo, em Petrópolis, à Câmara dos Vereadores —, sua família se espalhou por cidades do Rio e de Minas.

    FONTE:

    • Caio Barretto Briso - Jornal O Globo. Um barão negro, seu palácio e seus 200 escravos 16 de novembro de 2014. Visitado em 16 de novembro de 2014;
    • FERREIRA, Carlos Alberto Dias. Francisco Paulo de Almeida – Barão de Guaraciaba: inserção de um negro nas atividades econômicas, sociais e políticas do Brasil no século XIX. In: Simpósio Nacional de História, 25., 2009, Fortaleza. Anais do XXV Simpósio Nacional de História – História e Ética. Fortaleza: ANPUH, 2009;
    • José Smith de Vasconcelos e Rodolfo Smith de Vasconcelos (1917). Archivo nobiliarchico brasileiro - verbete Guaraciaba (Barão de) Imprimerie La Concorde.

    segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

    POVO NEURÓTICO

    Vivemos num Estado que ainda não é nosso, 
    desligados da raiz histórica que nos explica e argumenta.


    Para mim é no mínimo interessante que a Constituição de 1891 – a primeira promulgada após o golpe dos militares e a expulsão da família real brasileira – tenha sido escrita num cassino. Isto mesmo: num cassino. O Governo Provisório de Marechal Deodoro ainda adaptava as construções do Rio de Janeiro à estrutura republicana. Não havia lugar apropriado, segundo consta, para discutir e votar a famosa Carta de Rui Barbosa (leiam História da República, de José Maria Bello).

    Entre doses de uísque, jogos de dados e cartas de baralho, os líderes dos Estados Unidos do Brazil pactuaram o novo Estado de forma absolutamente artificial. Aliás, o próprio republicanismo era incipiente. Apesar de algumas organizações em São Paulo, por exemplo, é de se lembrar de que nas eleições legislativas que antecederam o golpe de 15 de novembro apenas três deputados eram antimonárquicos. O povo, em sua esmagadora maioria, havia escolhido - mais uma vez - políticos que expressavam o conjunto (tradicional) de crenças do século XIX: Monarquia, Poder Moderador, Parlamentarismo, Catolicismo, etc.

    No excelente "A formação das almas", José Murilo de Carvalho demonstra a falta de intimidade do projeto republicano com a vida e os sonhos dos brasileiros que assistiram “bestializados” à deposição de Pedro II. Não existia qualquer correspondência entre os projetos dos militares e positivistas com as aspirações do povo comum. Por isso foi preciso forjar símbolos nacionais, inventar heróis (como Tiradentes), emular a história e princípios de outras nações (como a norte-americana e a francesa). O Hino Nacional também teve seu capítulo tragicômico: numa das reuniões dos republicanos governistas fez-se uma sessão espírita a fim de tentar ouvir os músicos franceses que haviam composto a Marselhesa.

    De lá para cá, a República tem se esmerado em se infiltrar no imaginário nacional (esta é a conclusão de Carvalho). Ao mesmo tempo, a história do século XX mostra as imensas falhas neste processo e a falta de continuidade num projeto de nação democrática. República da Espada, República Velha (aquela, dos coronéis), Período Vargas, Ditadura, Redemocratização (com queda de presidente, inclusive): o alto e baixo da vida política brasileira, marcada pela transitoriedade e ausência de verdadeiros símbolos que, emanados das mais sinceras aspirações do povo, traduzam-se na cena pública pela ação de seus agentes mais destacados.

    A tese de Luís Martins em "O patriarca e o bacharel" pode nos ajudar a compreender a tragédia nacional: em 1889 expulsamos nosso “pai” do Trono e nos sentimos culpados por isso. Sabemos que aquilo foi covarde e injustificado. Por isso, desde então, procuramos alguém que nos socorra e expie nossa culpa sendo não apenas um líder, mas também um amoroso chefe. Getúlio, Juscelino ou Lula só foram possíveis porque os filhos do Brasil querem um novo pai que lhes diga o que fazer, a que horas comer e no que acreditar. 

    Somos, assim, um povo neurótico: pressionado a acreditar nos símbolos republicanos inventados (o que torna o fundo de nossa imaginação falsa) e culpados pela morte que causamos (no caso, a do Imperador). Para usar um conceito de Julián Marias, desinstalados: vivemos num Estado que ainda não é nosso, desligados da raiz histórica que nos explica e argumenta. Ruptura é oposta à continuidade, e não há como nos entendermos numa narrativa interrompida, de tempos em tempos, por novos assaltos ao ethos social.

    Por isso precisamos de tantas leis e intervenções: porque a ordem tem de vir de fora. Um povo que expressa uma crença inabalável nas instituições não acredita em si mesmo. É preciso que os ministros do STF nos digam o que é certo; que as Casas legislativas promulguem leis sobre as coisas mais corriqueiras e imbecis; que os governos determinem limites que sozinho este mesmo povo não pode fazê-lo.


    Somos neuróticos. E toda ação política deveria ser precedida por uma profunda ação psiquiátrica e salvadora.

    ESCRITO POR TIAGO AMORIM - 19 DEZEMBRO 2015

    FONTE: goo.gl/vCEpSI

    quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

    OS 200 ANOS DA ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO

    S.A.I.R. o Príncipe Dom Luíz de Orleáns e Bragança,
    Chefe da Casa Imperial e, de jure, Imperador do Brasil.

    "O Brasil se emancipou de Portugal num longo processo, iniciado ainda no século XVI, quando começou a ser povoado, civilizado e evangelizado pelos lusos.

    Foi um processo longo, muito parecido com o da educação normal de uma criança, desde quando nasce até o momento em que, atingida a idade adulta e já preparada para as lutas e incertezas da vida, sai do lar paterno e vai caminhar com as próprias pernas nas veredas de sua existência individual.
    Os três primeiros séculos de nossa história constituem o período geralmente chamado 'colonial'. Como muitos historiadores, tenho objeções a essa designação, pois o Brasil nunca foi uma colônia de Portugal, no sentido exato do termo. O Brasil foi, desde 1500, parte integrante do reino luso. Parte que foi crescendo em importância, foi-se agigantando e que acabou por se tornar a sede da Monarquia Bragantina.

    Inicialmente o Brasil era patrimônio da Ordem de Cristo, da qual os Reis de Portugal eram perpétuos administradores. Depois, passou a ser administrado pela própria Coroa, que respeitava franquias e direitos locais, a nível municipal, garantindo muito ampla margem de autonomia às vilas e cidades brasileiras.

    Os gastos portugueses, com o povoamento do Brasil, sempre foram muito elevados, tanto economicamente falando, quanto em termos do que hoje em dia se chama 'recursos humanos'. Portugal era um país pequeno e com população relativamente pouco numerosa, mas durante séculos inteiros mandou, sistematicamente, para o Brasil povoadores que para cá vieram. Foi uma espécie de sangramento prolongado, o de Portugal, em benefício do Brasil. Os recursos obtidos pelos portugueses no Brasil, nos ciclos do pau-brasil e da cana-de-açúcar, nunca foram suficientes para pagar o muito que aqui era investido: o balanço sempre foi negativo para administração lusa, ela sempre investiu muito mais do que recebeu. Somente depois da descoberta do ouro em Minas Gerais, em 1695, Portugal passou a receber os frutos do que aplicara no Brasil, desde 1500. Dizer que o Brasil foi 'colônia de exploração e não colônia de povoamento', como dizem historiadores marxistas, é um absurdo.

    Durante o século XVII, quando das lutas heroicas para expulsar do território brasileiro o invasor calvinista holandês, ainda o Brasil se sentia autenticamente português. Os que aqui nasciam eram portugueses do Brasil, assim como havia portugueses de Lisboa, de Angola, da Índia ou do Macau. O Brasil era um menino em fase de crescimento, mas ainda perfeitamente integrado na casa paterna.
    A adolescência foi sendo atingida na passagem do século XVIII para o XIX, quando, em decorrência de um desenvolvimento orgânico e natural, o Brasil foi se dando conta de que estava caminhando mais rapidamente para atingir a plenitude da idade adulta.

    A vinda da Família Real, em 1808, acelerou e, ao mesmo tempo, cristalizou o processo. O Príncipe D. João – depois Rei D. João VI – foi um grande estadista, um homem com uma visão extraordinária. Compreendeu que o Brasil estava prestes a atingir a emancipação, e procedeu em tudo com extrema sabedoria, de modo a assegura uma emancipação não traumática, mas na linha da continuidade.
    Dentro desse processo, a elevação do Brasil a Reino Unido foi muito importante. Do ponto de vista institucional, o Brasil deixou de ser parte de Portugal, mas passou a ser um Reino autônomo. Em outras palavras, o Brasil se transformou em uma nação soberana, cujo Rei, ‘per accidens’, era o mesmo Rei de Portugal e dos Algarves.

    Se D. João não tivesse retornado a Portugal em 1821 – a contragosto, note-se, e forçado pelas cortes revolucionárias portuguesas – e se estas não tivessem querido forçar o retrocesso da abolição do estatuto de Reino Unido, provavelmente o Brasil teria continuado unido a Portugal por mais tempo. Provavelmente, aos poucos, o centro de poder e influência do Reino Unido se teria mantido e consolidado no Brasil, que era maior e dispunha de maiores potencialidades do que Portugal. E teríamos um imenso império luso-brasileiro, ao mesmo tempo europeu, americano, africano e oriental.

    Mas a volta de D. João para Portugal encaminhou os acontecimentos para outro sentido. O Sete de Setembro tornou-se inevitável. Na ótica do sábio D. João, foi seu filho que tomou a coroa 'antes que algum aventureiro o fizesse'. E garantiu uma independência dentro da continuidade monárquica, dinástica, cultural, linguística e, sobretudo, religiosa."



    - S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, em matéria publicada na edição número 40 do boletim "Herdeiros do Porvir"

    A SAÍDA PARA A CRISE

    O Chanceler do Círculo Monárquico do RJ, Dr. Bruno Hellmuth, com a palavra

    "Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2015

    Prezados Monarquistas

    A SAÍDA PARA A CRISE

    Diante da grave crise que o Brasil vive,  o ex-presidente FHC, entre outras personalidades, vem apontando  o fracasso do modelo político que nosso país adotou.  Ninguém verbalizou, entretanto, até agora,  o que do modelo fracassou - o presidencialismo ou a república? - e quais seriam as alternativas.  A proposta do Sr. Marcus Vinicius Furtado Coelho, presidente da OAB, que veio a público há poucos dias, é a primeira que vejo divulgada num grande jornal.

    Porém,  apesar dele afirmar que o semipresidencialismo "se impõe"  como solução para os problemas,  certamente muitas vozes surgirão apontando os pontos fracos e os riscos desse outro modelo.

    Ele afirma ser possível o fenômeno da coabitação caso o chefe de Estado e a maioria do parlamento forem eleitos por partidos diferentes.

     É claro que nada é impossível,  mas é pouco provável que tal situação não gere graves conflitos. Ele apenas acerta quando propõe que o chefe de Estado não deva ter papel meramente decorativo.  Me parece muito mais adequado um modelo semelhante ao da Inglaterra ou da Alemanha - para citar uma monarquia e uma república -  onde o chefe de Estado não é eleito em escrutínio popular. Trata-se do ideal de um chefe de Estado apartidário, portanto neutro. O Poder Moderador, muito necessário num país como o Brasil, onde a sociedade continua dividida em duas classes, e que o  Sr. Marcus Vinicius pretende atribuir a um presidente eleito, ficará, sem dúvida, muito melhor nas mãos de um Chefe de Estado neutro. Não seria melhor um chefe neutro escolher o comando das Forças Armadas e os ministros do Supremo Tribunal Federal? Quem contestará que isso funcionou muito bem aqui, no tempo de D. Pedro II?

    Não é honesto usar o argumento de de que o parlamentarismo já foi derrotado duas vezes em plebiscito, assim como o foi a monarquia em 1993. Todos sabem muito bem que a mídia faz a cabeça do povo de acordo com os interesses corporativos no poder em determinado momento.


    Este é o momento de se discutir cada proposta com honestidade e isenção."

    CÍRCULO MONÁRQUICO DO RIO DE JANEIRO

    Bruno Hellmuth

    Chanceler



    segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

    DOM ANTONIO: "DOM PEDRO II SOUBE SER O PODER MODERADOR"

    "O que tenho a dizer de Dom Pedro II é que ele soube ser o Poder Moderador". - Dom Antonio

    MANIFESTO DE S.A.R. DOM ANTONIO DE ORLEANS E BRAGANÇA 
    NA CELEBRAÇÃO DO 190* ANIVERSÁRIO DO IMPERADOR DOM PEDRO II

    Segue mostrando que hoje o que falta ao Brasil é justamente um Poder Moderador em momentos de crise não só do governo mas também do Parlamento.

    "Dom Pedro tinha o poder de demitir o Gabinete ou até mesmo dissolver o Parlamento quando este se mostrava indigno"

    Hoje, nós os brasileiros, recebemos diariamente notícias de atos vergonhosos e mesmo falcatruas de grande número de políticos. e tudo continua na mesma... No Segundo Reinado este Parlamento já teria sido dissolvido pelo Imperador...

    "Dom Pedro não teria escolhido políticos pessoalmente. Ele convocaria o povo para fazer a nova escolha. Foi a fase mais democrata que o Brasil já viveu..."

    Porque, a outra função do Poder Moderador era garantir a harmonia dos três Poderes. Visava garantir a Independência de cada um deles. Não deixando por exemplo, que o Judiciário se imiscuísse nas funções do Legislativo e do Executivo e vice-versa.

    "Nos últimos meses, temos visto o Judiciário fazendo leis, exercendo o papel que seria do Legislativo. Recentemente, sugeriram que o Supremo Tribunal é o Poder Moderador, que pode decidir sobre tudo, fazer leis, e executar as leis. Será assim um poder Ditatorial".

    Dom Pedro II tinha o poder de impedir as interferências de um poder em outro. Nosso país, não estaria nesta situação se ainda fôssemos uma Monarquia. Dom Pedro II sempre deu exemplo do que um Chefe de Estado deve ser um servidor. E Ele seguiu esta diretriz ao extremo, de corpo e alma até o fim de sua vida. Esta é a função de um chefe de Estado.

    "Não é de servir-se do cargo mas servir à nação. Acredito que a última esperança para um Brasil melhor é a volta do Regime Monárquico e do Poder Moderador inclusive... Não concebo uma Monarquia apenas decorativa. O Imperador tem que ter o poder de veto e o poder de dissolver o Parlamento."

    O Brasil vive uma crise econômica e política terrível. Ninguém sabe o que será o amanhã... parece-nos que será cada vez pior: déficit público imenso, desemprego aumentando, cada vez mais..

    "Precisamos de alguém que tomasse posição neste momento. Esta seria a função do Monarca e do Poder Moderador. Isto é o que teria a dizer agora... Aprendi com meu Pai que este é um país maravilhoso com um povo maravilhoso, muito criativo e trabalhador. E, se deixarem trabalhar, o Brasil será país do Primeiro Mundo tal como foi no tempo de Dom Pedro II. Agradeço a todos em nome da Família Imperial desejando que tenhamos dias mais felizes..."

    domingo, 6 de dezembro de 2015

    A DESPEDIDA DA PRINCESA E O CASO DA FERROVIA NÃO TERMINADA

    Cartão postal com a estação de Curitiba da estrada de ferro do Paraná

    A princesa Isabel e seus filhos despediram-se de Curitiba no dia 13 de dezembro de 1884, após passarem quatorze dias entre a capital e o interior do Paraná. Pegaram o trem para Paranaguá a poucos quilômetros da estação em frente à rua da Liberdade – atual Barão do Rio Branco – pois os trilhos ainda não haviam sido assentados até o fim. Conde d'Eu seguia viagem pelo interior até Santa Catarina, onde iria se encontrar com a esposa dias depois.

    Na carta diário que a Redentora – como era conhecida por defender a causa abolicionista – enviou a seus pais, Dom Pedro II e Dª Tereza Cristina, foram poucas as palavras sobre a partida. “Volta a Paranaguá. Dia, outra vez, esplêndido para a descida da serra. Fizemos parar, por vezes, o trem, para apanharmos flores novas para nossa coleção” - estas observações sobre a flora, que aparecem em diversos momentos na sua carta, devem-se ao seu grande interesse por botânica.

    Nos bastidores, uma corrida para que a estrada estivesse pronta para os festejos da Emancipação Política do Paraná, que completaria 31 anos. No entanto, tão perto de chegar ao seu final, após cinco anos em obras, parecia patinar em acertos burocráticos na capital. Isto ao menos é o que conta o correspondente do Diário de Notícias do Rio de Janeiro.

    Em Curityba tem havido o diabo com o assentamento dos trilhos da estrada de ferro do Paraná. O Sr. commendador Martins Franco, em cujas terras passa a estrada, embargou as obras, e pede 16:000$ de indemnisação. Segundo nos consta, o Sr. Dr. Teixeira Soares, engenheiro-chefe da estrada, vai depositar a quantia pedida e acceitar a acção judiciaria, afim de poderem proseguir os trabalhos de assentamento dos trilhos, que estão distantes da estação central, em Curityba, apenas 4 kilometros e 600 metros. Mais dois dias de trabalho e a machina soltará o seu silvo do progresso na esperançosa cidade de Curityba.” Escreveu isto no dia 8 daquele mês, com a publicação no Rio de Janeiro somente dias depois, na edição 361 (26 de dezembro), pois as reportagens chegavam pelo correio.

    Mas foi no dia 13 de dezembro que o correspondente soltou toda a sua indignação em texto, ao relatar a partida da princesa, pois as obras ainda não haviam terminado como ele esperava. “Por causa da camara municipal da capital da provincia, tiveram SS. AA. Imperiaes, a Sra. Princeza e seus filhos, sua comitiva, de percorrer em carro, cerca de 2 kilometros para alcançar a ponta dos trilhos da estrada de ferro do Paraná, que devido á patriotica camara não chegou ainda ao seu termino.”

    Contou ele de um novo embargo à obra, administrada pela companhia Génerale de Chemins de Fèr Brésiliens. “Agora é a camara municipal de Corityba da capital da provincia, quem embarga as obras, por passarem os trilhos pelas terras municipaes, exigindo para levantar o embargo a grande quantia de 1:500$000.” Mais adiante, no mesmo texto, prosseguiu: “Quando se encetaram os trabalhos d'esta estrada, a camara municipal de Paranaguá, deu um notavel baile aos engenheiros, e fez votos para que a estrada continuasse. Vencidos os primeiros 40 kilometros chegou a machina á cidade de Morretes e a respectiva municipalidade, considerou esse acontecimento como um dia de festa, e houve grande pagodeira”.

    Segundo ele, faltavam apenas 3,2 quilômetros para a conclusão da ferrovia quando houve o embargo. “Vejam os leitores se isto é coherencia. Perto da cidade, havia um grande pantano, a camara municipal de Corytiba dirige-se ao engenheiro chefe dos trabalhos da estrada e pede-lhe para fazer alli a estação. O engenheiro, accede ao pedido, faz a estação, com a qual gastou 114:000$, dessecca o pantano, e dá com isso á cidade outras condições de salubridade;  A camara municipal apanhou-se servida e no momento em que a assembléa provincial, sem duvida mais empenhada pelo engrandecimento da provincia, pede o prolongamento da estrada, vem a camara municipal e embarga-lhe as obras. Não farei mais commentarios e apenas direi que o que a camara municipal e a assembléa deviam pedir, não é vias de communicações faceis, baratas e rapidas como os outros paizes, - é cathechese, porque ainda estão muito selvagens estes povos.”

    Ele continuou fazendo duras críticas à Câmara e também à cidade: “Ao passo que a camara de Corityba, de gloriosa memoria, oppõe-se abertamente ao progresso da provincia, esquece-se dos seus deveres, deixa que a cidade continúe immunda, sem calçamento, e as ruas cheias de atoleiros e de pó. Quando chove não se póde sahir de casa, quando não chove o pó é tanto que suffoca os transeuntes. Só quem vem ao Paraná é que póde avaliar a miseria em que se acha a provincia, cuja capital é inferior ao bairro do Engenho Novo ou de Todos os Santos ahi no Rio de Janeiro. O Paraná nada tem, e o que possui é mau e pessimo; começando pelas ruas, passa-se á cadeia que é um attentado ao progresso, á civilisação e á higyene, e faz-se ponto na camara municipal de que fallo, que está de cutello erguido contra tudo que seja elemento de grandeza para estra provincia que é patrimonio de duas famílias, que põem e dispõem a seu bel prazer. Digo estas verdades porque estamos em tempo, atravessamos um periodo em que é preciso pintar a cousa tal qual é, sem medo, nem rebuço.”

    Não foi de se admirar o pedido de embargo realizado pela Câmara. Era ela o poder administrador da cidade – a figura do prefeito tornou-se efetiva somente após a Proclamação da República – e pelos motivos que o próprio repórter elencou, era preciso dinheiro para investimentos. O valor exigido para levantar o embargo, portanto, fazia-se evidentemente necessário. Para uma obra que durou cinco anos, tendo enfrentado desafios como as construções do Viaduto do Carvalho e a Ponte São João, mal algum faria ser prolongada por mais alguns dias. O fato é que, no dia 19 de dezembro, data da Emancipação Política do Paraná, foi definitivamente concluída – a estação ainda tinha com alguns detalhes por terminar. A inauguração ocorreria no dia 2 de fevereiro do ano seguinte.

    O Dezenove de Dezembro, periódico que circulava no Paraná, nada relatou a respeito do embargo, mas ao noticiar a partida da família imperial, cumprimentou os “distinctos collegas da imprensa da côrte da Gazeta de Noticias [do Rio de Janeiro] e do Paiz, os Srs. Maximino Serzedello e José Vinhaes”. “A' tão distinctos cavalleiros, que em tão pouco tempo tanta sympathia grangearam do povo desta capital, apresentamos nossos cumprimentos, desejando prospera viagem correspondendo á delicada cortesia com que vieram despedir-se do proprietário de nossa folha”. Na redação, obviamente, ainda não haviam lido o jornal carioca, que seria publicado somente no dia 1º de janeiro de 1885, devido à demora dos correios da época.


    Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

    FONTE: goo.gl/U6Ggie

    Notas:
    1) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.

    2) Ao utilizar ou se basear em textos históricos do nosso site, por gentileza, cite a fonte.

    Referências bibliográficas:
    Edição 361 - Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – 26 de dezembro de 1884

    Edição 001 - Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – 1 de janeiro de 1885

    A estrada de ferro Paranaguá-Curitiba. Uma obra de arte. - Acervo do Museu Paranaense.

    Edição  291 - O Dezenove de Dezembro – 14 de dezembro de 1884
    Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972).

    TRÊS PRÍNCIPES NOS CAMPOS DE TRIGO DO ABRANCHES

    D. Pedro, D. Antonio e D. Luís, herdeiros da Princesa Dona Isabel

    Em 1884, dois colonos que ceifavam trigo em um campo no Abranches, avistaram três meninos que, vindo em sua direção, pediram-lhes algumas espigas do cereal. Nem imaginavam os camponeses – e pense na surpresa quando descobriram – que as três crianças eram príncipes, netos de Dom Pedro II. A data era 4 de dezembro e os infantes haviam chegado cinco dias antes a Curitiba, acompanhados de seus pais, princesa Isabel e Conde d'Eu, para conhecer a cidade e fazer a primeira viagem oficial da estrada de ferro, vindos de Paranaguá. 

    O campo em que D. Pedro, D. Antonio e D. Luís passeavam tratava-se de uma colônia de poloneses provenientes da Prússia Ocidental. Os colonos estavam ali a pouco tempo (desde 1873), após terem conseguido autorização do então presidente da Província do Paraná, Frederico Abranches, para se instalarem a “seis quilômetros” de Curitiba, num espaço estabelecido pela Câmara Municipal. Outros bairros, como Pilarzinho, Santa Cândida, Augusta e Orleans, também foram povoados por poloneses, tornando a capital, a maior colônia destes imigrantes no Brasil. Tudo isso porque o imperador havia adotado uma política de “portas abertas” aos estrangeiros, para minimizar a falta de mão de obra – a propósito, o bairro Orleans recebeu este nome em homenagem ao Conde d'Eu, Luíz Felipe de Orléans.

    Naquela manhã de 1884, a família imperial chegou à colônia às 7h30. “Os colonos aguardavam os augustos visitantes, no adro da igreja que alli ha, em companhia do padre Kuvonski, diretor e parocho na colonia, que é composta de mais de 1,500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, todos polacos e pertencentes á Prussia”, narrou o jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, que enviou um correspondente especialmente para acompanhar a viagem dos príncipes. 

    Lá, participaram de uma missa e ouviram músicas típicas: “á  sahida, os colonos dirigiram um cantico a Suas Altezas, cantando em côro, depois d'isso, o hymno polaco, cantando com eles o Sr. conde d'Eu, que declarou já ter ouvido este hymno na Cracóvia uma vez, e que alli o povo que o ouve e os que o cantam, levantam-se para provar que a Polonia não morreu ainda – o que tambem acreditam. O Sr. conde d'Eu esteve alguns dias na Polonia, e, como tem grande aptidão para as línguas, conseguiu aprender aquelle idioma.”, relatou o correspondente – vinte anos antes, guerras externas travadas pelo exército prussiano impulsionaram a imigração de aldeães de Siolkowice, uma pequena aldeia próximo a Opole, no Sul da Polônia, para as terras brasileiras. 

    Chama a atenção a descrição que o jornalista carioca faz sobre a aparência dos anfitriões, quase como se não estivessem no mesmo Brasil. “As mulheres n'esta colonia usam todas umas toucas, parecidas com as que se põe nas crianças recém-nascidas, e que lhes dão uma apparencia muito comica.  Os homens, e mesmo as mulheres, são feios, predominando o cabello preto em umas cabeças chatas como a dos nossos patricios do Ceará. São de boa indole, muito trabalhadores e sorumbaticos. Custa-se a arrancar uma palavra  d'estes polacos, que têm physionomia de quem pensa muito na vida pela certeza da morte.

    Ele relatou ainda que a colônia Abranches era a que ficava mais perto “da cidade de Curityba”, e que ali se cultivava milho, trigo, centeio e batatas. “Muitos outros cereaes alimentícios, e gado suíno, muar e cavallar; não é a colonia mais prospera, mas é uma das melhores da provincia. Em caminho para ella avistam-se grandes campos cobertos de plantação, e todos os lotes de terra bem aproveitados.” Por esta descrição, é possível perceber quão rural e diferente era a região norte da cidade da atualidade.

    Em regresso, os principes D. Pedro, D. Luiz e D. Antonio, avistando em um grande campo dois colonos, que ceifavam trigo, dirigiram-se a elles e pediram algumas espigas d'aquelle cereal, sendo satisfeitos pelos colonos, que não sabiam quem eram aquellas crianças, o que só mais tarde conseguiram, ficando por isso lisongeados”, continuou.

    Naquele dia, princesa Isabel escreveria aos pais: “Nas colônias Abranches, Santa Cândida, Pilarzinho e Lamenha, todas polacas e perto de Curitiba, há umas 250 famílias. A única coisa que os colonos se queixam é da exiguidade do lote que destinaram a cada família, no que, com efeito, pareceu-nos terem eles razão”.

    Notas sobre os alemães
    Os alemães, que também tiveram forte influência cultural em Curitiba, da mesma forma foram alvo de observação por parte dos visitantes, principalmente do correspondente carioca. “Nas colonias, os Srs. Allemães chegaram a afinação de governar e dar leis; e a língua que n'elas se ensina, é a d'aquella nacionalidade, porque o governo não póde com elles, que ás vezes nem conhecem a auctoridade policial e só prestam obediência ao maioral das colonias, que é um rei pequeno.” 

    Por toda parte, em todas as ruas, ás janellas de todas as casas, parados ás esquinas, encontram-se indivíduos de cachimbo na bocca, mãos nos bolsos e bonet; não é preciso perguntar, porque se lhe dirigirem a palavra em portuguez, não respondem: - é allemão. E ser-se allemão em Curityba, ou falar um pouco o idioma, já se é alguma cousa.” 

    Por Michelle Stival da Rocha – jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal.


    Notas:
    1) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada. 

    2) As informações encontradas sobre o local de hospedagem da família imperial em Curitiba são contraditórias. O boletim do IHGPR informou que teria sido na casa de Antonio Ricardo dos Santos. Mas conforme pesquisa realizada pela Casa da Memória, no livro "Ação empresarial do barão do Serro Azul", p. 54, da prof. Odah Regina Guimarães (UFPR), existe a afirmação de que a Princesa ficou hospedada no palacete do Barão (do Serro Azul – O Solar do Barão, hoje um espaço cultural da prefeitura).

    3) Ao utilizar ou se basear em textos históricos do nosso site, por gentileza, cite a fonte.

    Referências Bibliográficas:
    Edição 352 da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – quinta-feira, 17 de dezembro de 1884, pg. 2.

    Edição 355 da Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro – Sábado, 20 de dezembro de 1884. 

    Imigração polonesa no território paranaense: Aspectos culturais e distrição espacial das colônias polonesas no espaço geográfico paranaense. Antonio Leocadio Cabral Reis e Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira.

    Identificação de Conflitos pelo Uso e Ocupação do Solo Urbano na Região das Nascentes do Rio Belém, Município de Curitiba, Paraná  HARRY ALBERTO BOLLMANN (PUCPR), DENIS ALCIDES REZENDE (PUCPR) e RAFAEL ALEXANDRE DE FIGUEIREDO GOMES (PUCPR).

    Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972). 

    Fenianos, Eduardo Emílio. Orleans, Riviera, Augusta e São Miguel. Curitiba: UniverCidade, 2000. (Coleção Bairros de Curitiba; v. 24).

    PRINCESA ISABEL E UM RETRATO DOS PRÉDIOS DE CURITIBA EM 1884

    Quando a princesa Isabel visitou a Santa Casa não foram poupadas críticas ao prédio, 
    por parte do jornal carioca.

    “Se por fóra elle é bonito, por dentro é horroroso, só tendo de bom a capella em estylo gothico e o necroterio no mesmo gosto. Para este edificio póde empregar-se o ditado – por fora cordas de viola, por dentro pão bolorento.” Foi exatamente assim que a Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, no dia 3 de dezembro de 1884, reportou sobre as dependências da Santa Casa de Misericórdia, por ocasião da visita da família imperial a Curitiba. Era um espaço praticamente recém-criado, inaugurado em 1880 pelo próprio imperador Dom Pedro II, e que por muitos anos foi o único hospital da cidade.

    Embora seja possível notar o expressivo mau humor com que o repórter carioca – enviado especialmente para cobrir a comitiva da princesa Isabel – abordou certos assuntos da capital paranaense, por meio de seus relatos é possível delinear alguns traços de Curitiba que não estão nos livros, tampouco em fotografias. Não é de se estranhar seu descontentamento, acostumado que estava a viver na cidade que recebera todos os mimos e investimentos por ser sede do Império do Brasil.

    Dividido em muitas salas, algumas acanhadas e sem ar, na maior parte vazias e infectas, taes são as enfermarias onde se encontram actualmente 31 doentes, sendo 10 loucos, 7 mulheres e tres homens, um dos quaes estava nú. As camas e os colchões (se é que o são) não abonam muito o estabelecimento, nem a irmandade, que é o provedor e medico do hospital, o Sr. Dr. Albuquerque... Tem o hospital uma boa pharmacia e um excellente enfermeiro”, continuou.

    O hospital, por fóra é de bonita apparencia, e, construido n'um estylo que nem é gothico, nem dorico, é uma melange de architecturas, mas que mostra o gosto de quem o desenhou e de quem executou as obras”, descreveu. A casa de saúde fora fundada pelo Dr. José Candido da Silva Murici, que dá nome à alameda Dr. Muricy.

    Diferente foi o relato da princesa Isabel, que, em uma carta diário destinada a seus pais D. Pedro II e Dª Tereza Cristina, reconheceu a falta de recursos, mas foi suave ao retratar o cenário. “Depois do almoço visita ao hospital de Caridade, com poucos recursos, mas bem arranjado. Capelinha muito bonita, feita com madeiras do Paraná. O Dr. Pires [Atonio Carlos Pires de Carvalho e Albuquerque], provedor da irmandade e médico daí, agradou-me. Dizem ser muito boa pessoa e muito caridosa. O estilo arquitetônico do hospital é inglês, do tempo da Rainha Isabel, bonito. Só é pena que tivessem caiado todo o edifício. Dessa forma não lhe terão deixado todo o seu cunho.”

    A história da inauguração da Santa Casa, que contou com a presença do imperador D. Pedro II, é contada pelo jornalista da Câmara Municipal João Cândido Martins, em outra matéria publicada na seção do Nossa Memória. Ocorreu no dia 22 de maio de 1880 e foi um marco da influência alemã na engenharia curitibana. O prédio foi decisivo para a urbanização do Campo do Olho d'Água, local hoje conhecido como Praça Rui Barbosa.

    Hoje a instituição é mantida pelo Grupo Marista e atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. Possui uma estrutura com 278 leitos, sendo 37 de UTIs e nove salas cirúrgicas, conforme seu site. Realiza entre 600 e 800 cirurgias mensais e interna uma média de 1.350 pacientes por mês. Atende diversas especialidades, como cirurgia vascular, otorrinolaringologia, cardiologia, cirurgia vascular, bariátrica, transplantes, dentre outras.

    A Câmara e a Assembleia
    No dia 5 de dezembro, a família imperial visitou a Câmara Municipal, que funcionava em cima da cadeia pública. Desta vez, foi a princesa Isabel quem não poupou críticas: “muito acanhada, e Gaston [Gastão de Orleans, o Conde d’Eu] desceu à prisão que achou muito suja, muito desordenada, os presos muito acumulados. Dizem que pouca fiscalização tem havido, e que até súcias¹ e jantares se têm dado na prisão, entre presos e gente de fora. O presidente (Brasílio Machado) e o Chefe de polícia (Dr. Leão Veloso) dizem que vão tomar providências. Eles há pouco chegaram, e por isso nada fizeram”.

    Na Gazeta de Notícias, inicialmente uma simples menção à visita. “O edifício da municipalidade é pequeno e fica ao lado da cadêa, havendo no pavimento terreo uma prisão.” No entanto, posteriormente, o mesmo jornal, sem dó, publicaria: “não podemos deixar de declarar, que não ha em todo o imperio peior cadeia que a d'esta capital. Os presos aqui passam um vidão, passeiam quando querem, visitam a família e os amigos, dão banquetes e fazem negocio nas prisões, cujas grades têm o aspecto de vitrina de casa de quinquilharias”. Esse prédio ao qual se referiram foi demolido e ficava onde hoje é o Mercado das Flores, na Praça Generoso Marques.

    No mesmo dia, os príncipes foram visitar a Assembleia Provincial: “Foram Suas Altezas, acompanhadas do Sr. marechal Miranda Reis e baroneza de Suruhy, visitar a assembléia provincial, onde foram recebidas pelos srs. Conselheiro Alves de Araujo, Dr. Generoso Marques e outros Srs. Deputados. O edificio da assembléia foi mandado construir pelo finado conselheiro Zacarias e pode-se dizer que é um dos melhores edificios da provincia: espaçoso, com uma grande galeria para o povo, muito arejada e perfeitamente collocada”, noticiou o periódico.

    O prédio ficava na Dr. Muricy, esquina com a rua Cândido Lopes, onde permaneceu até o início da década de 50, conforme informa o site da Assembleia Legislativa do Paraná. O prédio não existe mais e no lugar está a Biblioteca Pública do Paraná.

    O palácio da Assembleia Provincial, a Santa Casa, a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá e o Passeio Público, citados nesta série de reportagens sobre a visita da princesa Isabel e sua família a Curitiba, são os primeiros sinais do progresso que se avolumava após a Emancipação Política do Paraná, cujo território antes de 1853 era subordinado à província de São Paulo. No entanto, percebe-se que ainda havia pouco recurso para geri-lo, o que ficou evidente aos augustos viajantes na visita. Curitiba e o Paraná estavam crescendo e demandavam investimentos.

    Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

    FONTE: goo.gl/YvRxcU

    Notas:
    1) Súcias: cambada, corja, bando de vagabundos, grupo de marginais.

    2) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.

    3) As informações encontradas sobre o local de hospedagem da família imperial em Curitiba são contraditórias. O boletim do IHGPR informou que teria sido na casa de Antonio Ricardo dos Santos. Mas conforme pesquisa realizada pela Casa da Memória, no livro "Ação empresarial do barão do Serro Azul", p. 54, da prof. Odah Regina Guimarães (UFPR), existe a afirmação de que a Princesa ficou hospedada no palacete do Barão (do Serro Azul – O Solar do Barão, hoje um espaço cultural da prefeitura).

    4) Ao utilizar ou se basear em textos históricos do nosso site, por gentileza, cite a fonte.

    Referências Bibliográficas:
    Edição 355 da Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro – Sábado, 20 de dezembro de 1884
    Edição 357 – Gazeta de Noticias RJ, 22 de dezembro de 1884 – pg 1
    Edição 358 – Gazeta de Notícias RJ 23 de dezembro de 1884 – pg 2
    Diário da Princesa 3 dezembro de 1884,  pg 38.
    Site da Assembleia Legislativa do Paraná (ttp://www.alep.pr.gov.br/a_assembleia/historia)
    Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972).

    UMA PRINCESA NOS TRILHOS DE NOSSA HISTÓRIA

    A Princesa Dona Isabel veio a Curitiba em 1884 para a primeira viagem oficial 
    da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá. 

    Nesta semana, comemora-se o aniversário da Princesa Isabel (29 de julho de 1846). Pouca gente sabe, mas quando a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá estava para ser inaugurada, a capital recebeu a visita dela, com o marido, Conde d'Eu, e os filhos Pedro, Luis e Antônio, em 1884. Juntos, eles fariam a primeira viagem oficial da ferrovia – mas a grande inauguração seria feita somente no dia 1º de fevereiro de 1885. Para esperá-la, a cidade estava em festa, com as casas iluminadas e as ruas enfeitadas com bandeiras e arcos. Uma série de reportagens, que começa com esta, vai contar como foi a visita e como era a “Curityba” do século XIX.

    A commissão de festejos roga a todos os dignos commerciantes desta praça o obsequi de fecharem os estabelecimentos, hoje das 2 horas da tarde em diante e, outrossim, pede aos habitantes da capital, que se dignem de illuminar a frente de suas casas durante as noites em que aqui permanecerem SS. Altezas.” Assim anunciou o jornal O Dezenove de Dezembro, que noticiou cada passo da família nestas terras de muito pinhão. Um boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense (IHGPR), publicado em 1972, transcreve a carta diário que a princesa escreveu a seus pais, D. Pedro II e Dª Tereza Cristina.

    Mas é o relato de um repórter da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, que acompanhou toda a visita, que chama a atenção pela riqueza de detalhes e impressões pessoais. Ele descreve não só o passeio, mas também a cidade da época. As visitas à Santa Casa, às fábricas de mate, às colônias do Abranches e Taboão, à Câmara Municipal e ao Palácio do Governo, além dos contratempos do final do assentamento da estrada de ferro, são os fatos narrados de forma pitoresca pelo jornal.

    Saindo de Paranaguá às seis horas da manhã, suas altezas chegariam a Curitiba de trem, naquela que seria a primeira viagem oficial pela via-férrea, no dia 29 de novembro de 1884. Faltavam 20 dias para as comemorações da Emancipação Política do Paraná, e a inauguração do trajeto era um presente à cidade, em alusão à data.

    A linha ainda não havia sido concluída até a estação da Praça Eufrásio Correia, e a família imperial teve de descer na altura do bairro Cajuru e terminar o trajeto em carruagens. A expectativa, de acordo com a Gazeta de Notícias, era de que, talvez, durante os dias que ficassem em Curitiba e arredores, a estrada desse por concluída e a despedida (13 de dezembro) já fosse na estação. No entanto, ocorreram alguns contratempos, que serão contados mais adiante, em outra reportagem da série.

    A edição 348 da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro traz o relato da viagem, que incluiu um café da manhã em Morretes e um almoço na estação do Cadeado, ambos oferecidos pelo engenheiro da estrada, João Teixeira Soares. No Cadeado, um pavilhão foi montado especialmente para a ocasião, “e de onde se descortina um vista esplêndida, baía de Paranaguá ao longe. A serra do Marumbi à direita. Que magnífica serra! E como estava banhada de luz!”, descreve a princesa em sua carta a D. Pedro II.

    Cheios de saudades, estou certo, deixaram hoje pela manhã a cidade de Paranaguá Suas Altezas Imperiaes e a sua comitiva, que levou d'esta cidade a mais grata recordação. A's 6 horas da manhã, prompto o comboio, seguiram os augustos viajantes pela estrada de ferro do Paraná, em companhia do engenheiro chefe e dos outros empregados da linha e grande numero de pessoas”, relata o jornal carioca, que complementa: “na frende da machina collocaram-se dous carros abertos, em um dos quaes iam Suas Altezas, e no outro os engenheiros da estrada, o estado maior do Sr. conde d'Eu e os representantes da imprensa e da côrte, para poderem ver a via-ferrea e as suas bellas obras d'arte. A' proporção que se sobe, vão se descortinando panoramas esplendidos, e do alto da serra do Marumby, que se acha a 1800 metros acima do nível do mar, e a mais de 80 kilometros de Paranaguá, avista-se a entrada da barra desta cidade, como em toda a subida em differentes pontos e posições o mar, de lado de Paranaguá”, documenta o periódico.

    Que viagem! Nunca vi, creio eu, estada de ferro mais bela, com mais pontos de vista esplêndidos, seguidos dos famosos campos do Paraná, verdadeiros parques ingleses, com seus grandes gramados, com muita florzinha bonita, e os massiffs [bosque espesso, segundo o boletim do IHGPR] formados pelos belos pinheiros, escreve a herdeira, aos pais.

    O trem parou em Piraquara, “indo Suas Altezas a pequena distancia apanhar parasitas, flores, e ver a herva matte denominada chimarrão e o cipó que figurou na exposição de Philadelphia em 1876” (Gazeta do Rio de Janeiro). Mais adiante, em uma localidade chamada Atauba (km 100) – hoje identifica-se o local de parada como sendo no bairro Cajuru –, ponto até onde iam os trilhos do trem, às 3h40 da tarde, foram recebidos pelo comendador Ildefonso Corrêa e “grande numero de pessoas importantes de Curitiba, e muitos carros [carruagens] que conduziram os augustos viajantes e sua comitiva á capital do Paraná, onde chegaram ás 5 horas da tarde, fazendo-se viagem pelo leito da estrada”, relata o jornal.

    Foram recepcionados na porta do palácio de Ildefonso Corrêa por “colonos polacos” e moças que carregavam bandeiras, e homens com galhardetes e ramos. “O Sr. conde d'Eu, da sacada do palacio, agradeceu a manifestação, proferindo um discurso, no qual pediu aos colonos que alliados aos brazileiros fizessem prosperar o Brazil, cujo solo lhes daria a recompensa dos seus esforços. Terminou levando vivas aos colonos e ao Brazil.” Segundo o relato do periódico carioca, o conde começou seu discurso em allemão e terminou-o em “polaco”, “por lhe terem dito que os colonos eram d'esta nacionalidade”.

    De noite, os alemães vieram com lanternas de cores e com cânticos nos cumprimentar. Há muitos alemães e polacos por aqui, e muita carinha de criança tenho visto que me faz lembrar as de Petrópolis. Curitiba é uma bonita cidadezinha: Ruas alinhadas, casas muito limpinhas, alguns edifícios bonitos...”, constatou Isabel.

    No dia seguinte, percorreram a cidade e assistiram uma missa celebrada na Igreja Matriz. “A' 1 hora da tarde houve cortejo, ao qual compareceram todos os officiaes e commandantes dos corpos actualmente em Curityba. SA, a princesa imperial, os principes e seus preceptores percorreram a cidade e arrabaldes, voltando a palacio quasi ao anoitecer.” (Gazeta do Rio de Janeiro)

    Nos relatos que se seguem nas reportagens do correspondente carioca, nota-se um grande interesse de Conde d'Eu pelos quartéis da cidade, enquanto a princesa Isabel preferiu os passeios no campo e as paisagens.

    No dia 7 de dezembro, as altezas imperiais seguiram para o interior da província, indo a princesa Isabel até Palmeira acompanhar Conde D'Eu e assistir à festa de Nossa Senhora da Conceição. Dali, ela voltaria a Curitiba. Ele, junto ao seu estado-maior e os representantes da imprensa da côrte, por terra, visitariam a província de Santa Catarina, “onde deveriam encontrar-se com S. A. a princeza imperial, que vai por mar”, conforme deu a Gazeta do Rio de Janeiro.


    Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

    FONTE: goo.gl/bp1VfO

    Notas:
    1) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.

    2) As informações encontradas sobre o local de hospedagem da família imperial em Curitiba são contraditórias. O boletim do IHGPR informou que teria sido na casa de Antonio Ricardo dos Santos. Mas conforme pesquisa realizada pela Casa da Memória, no livro "Ação empresarial do barão do Serro Azul", p. 54, da prof. Odah Regina Guimarães (UFPR), existe a afirmação de que a Princesa ficou hospedada no palacete do Barão (do Serro Azul – O Solar do Barão, hoje um espaço cultural da prefeitura).

    Referências Bibliográficas:
    - Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro (edição 348, de 13 de dezembro de 1884 pg.2). Exemplar disponível para consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

    - Jornal O Dezenove de Dezembro (edição 278, de 29 de novembro de 1884). Exemplar disponível para consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

    - Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972).

    - A estrada de ferro Paranaguá-Curitiba. Uma obra de arte. - Acervo do Museu Paranaense.

    CURIOSIDADE, APETITE REAL

    Boa de garfo, a monarquia portuguesa tinha predileção por alimentos brasileiros
    O Imperador Dom Pedro I preferia um bom prato de arroz com feijão a refeições requintadas

    Por RODRIGO CARDOSO

    Hoje fiz uma verdadeira penitência; como não me deram senão peixe de lata, que não gosto nada, não comi senão arroz de manteiga e batatas.” Assim escreveu a Princesa Isabel, 150 anos atrás, ao reclamar do cardápio imperial para a quaresma de 1858. Muito gulosa, a filha do Imperador Dom Pedro II tinha uma queda por doces de ovos, sorvetes e não resistia a um pão-de-ló acompanhado de chá. Por conta do paladar calórico, a primeira Senadora do Brasil, que se notabilizou por assinar a Lei Áurea e abolir a escravidão no País, freqüentemente confessava em suas cartas uma preocupação com o peso. Os hábitos alimentares da Princesa e de outros personagens históricos da Famílias Imperial Brasileira e Real portuguesa – que há 200 anos, a serem completados em março, aportaram no Brasil – estarão reunidos em um livro.

    Sob o título Banquetes reais (ainda provisório), a obra editada na forma de romance histórico será lançada no segundo semestre do ano pela Jorge Zahar Editor. “Acho que sou uma encarnação da princesa Isabel”, diverte-se a historiadora portuguesa Ana Roldão, que assina o livro junto com o jornalista Edmundo Barreiros. “Gosto de todas as comidas que ela apreciava”, completa a escritora e pesquisadora de gastronomia dos séculos XVIII e XIX e da arte da mesa.

    Há 14 anos no Brasil, Ana é gerente de negócios do Museu Imperial de Petrópolis (RJ) e, ao inaugurar um bistrô no local, passou a ouvir das pessoas: “O que o Imperador comia? E a Imperatriz?” Debruçada há um ano sobre anotações de viagens, de despensa, correspondências, livros de receitas e cadernos de mordomia, levantou banquetes, cardápios e as mudanças na alimentação com a chegada da corte de além-mar. “Goiaba e aguardente de cana, que era adicionada a frutas frescas, passaram a constar na alimentação dos portugueses”, conta ela.

    Dom João VI e sua esposa, Carlota Joaquina, não dividiram o mesmo teto no Brasil. A mesa de jantar de cada um deles, porém, era composta de 12 pratos – duas terrinas de sopa, um cozido, um arroz, quatro guisados, dois assados e duas massas, além de fruta, pão, queijo e doce. Um banquete, por sua vez, chegava a dispor de 30 pratos diferentes. O Rei de Portugal foi o que mais se rendeu às iguarias do Brasil. “Dom João descascava cinco mangas depois de comer três frangos”, conta Ana. “Eu vi a camisola de dom João que está sendo restaurada e estará em uma exposição futura. Dá para ver que ele era um homem grande e aí entende-se o tamanho de seu apetite.

    Carlota, por sua vez, além de conspirar contra o marido e tentar tirá-lo do trono várias vezes, é famosa pela predileção por cachaça. “Ela costumava misturar aguardente de cana com frutas, mas também a usava para conservar alimentos. Um escrito revela que era destinada ao quarto e à cozinha dela uma grande quantidade de aguardente”, afirma a historiadora.


    Ana explica que foi com Dom Pedro II, em 1838, que o consumo de massa entrou no cardápio. A Casa Imperial contava com um fornecedor oficial para o alimento, que tinha no talharim o tipo preferido na corte. Dom Pedro I, “o rapaz das cavalariças”, como diz Ana no bom português de Portugal, era avesso à pompa à mesa. “Ele comia arroz com feijão para mostrar que gostava de comida trivial brasileira, cujo tripé é arroz, feijão e mandioca”, conta ela. O Imperador, célebre pelo grito da Independência, casou- se em 1818 com Dona Leopoldina, que desembarcou no Brasil um ano antes trazendo na bagagem seus alimentos preferidos conservados pela salga. Vieram: salmão, atum, pescada, carne de porco, ervilha, feijão verde, alcachofras em azeite e, enfim, o bacalhau – talvez o único peixe que a Princesa Isabel não chiava para saborear.

    Dom João VI conseguia comer cinco mangas após três frangos

    Sobremesa Imperial
    Fatias à Pompadur é uma sobremesa do século XIX, um tipo de fatia dourada (denominação portuguesa) ou rabanada. Leia a receita:

    “Cortado o miolo de pão em bocados redondos ou quadrados, da grossura de dous ou tres dedos, deite-se por um instante de môlho em vinho branco da Madeira, ou em qualquer outro vinho branco; passem-se depois de escorridos, por ovos batidos, frijão-se, e repitão o mesmo duas ou tres vezes, como acima foi dito; depois de fritas, e de boa cor, sirvão-se com calda de vinho do Rheno, e assucar em ponto.N.B. Todas as fatias se podem fazer, molhando-se em água, leite, ou em o liquor que quizerem.”*

    FONTES:

    • Cozinheiro Imperial, Biblioteca do Museu Imperial;
    • goo.gl/ZXuw1G

    SOBRE A ELITE - POR BRUNO HELLMUTH

    Bruno Hellmuth é chanceler do Círculo Monárquico do Rio de Janeiro

    No uso corrente da língua portuguesa no Brasil, tem-se observado, sobretudo nas últimas décadas, uma sistemática deturpação no emprego do vocábulo elite. Aceita-se como normal hoje em dia, que nas línguas vivas ocorram constantes evoluções,  com a criação de novos vocábulos, abandono de alguns e, ainda mudanças de significado de outros.

    A palavra elite entrou para o nosso vocabulário como um galicismo, e  deriva originariamente do latim eligere que designava os eleitos ou selecionados.  Segundo os melhores dicionários, elite significa o que há de melhor dentro de uma sociedade ou grupo.  Corresponde, portanto, ao termo grego aristo o qual compõe a palavra aristocracia, o governo pelos melhores.

    Se por um lado continua valendo este significado quando se fala em tropas de elite,  assim como de uma elite de atiradores, de atletas, de juristas, de médicos, intelectuais, etc…por outro, nos discursos políticos, pelo menos no Brasil, o termo tem sido empregado como referência à camada mais rica e poderosa da sociedade, estando muitas vezes implícito uma imagem negativa, de frivolidade e egoísmo deste segmento social.  Fernando Collor de Melo, no início de seu mandato como Presidente da República, afirmou que o Brasil possuía uma elite medíocre.  Ora, de acordo com o significado tradicional da palavra, como consta nos léxicos, os medíocres não podem ser elite.  Já encontramos também, em artigo de jornal  de alta circulação,  referência a uma elite virtuosa, o que nos parece um flagrante pleonasmo, como se pudesse existir uma elite não virtuosa.

    Algumas pessoas encontram-se no topo da pirâmide social por herança, ou lá chegaram através de golpes desonestos ou até mesmo de sorte.  Outros, porém, alcançaram este topo por méritos, por terem tido acesso às melhores escolas e faculdades, por esforço, talento e criatividade.  Estes, em geral,  estão incluídos nas elites de suas respectivas profissões, mas não compõem necessariamente a elite social.  Nem sempre aqueles que se destacam profissionalmente são os mais virtuosos elementos da sociedade e, inversamente,  podemos encontrar membros da elite em meios menos abastados.  Devemos catalogar como elite as pessoas de padrões de vida modestos, ou que até fazem votos de pobreza, e que dedicam suas vidas à educação, proteção, ou apoio espiritual aos elementos mais frágeis da sociedade.

    No nosso entender,  compõem a elite social aqueles que, além de suas competências e talentos, demonstram com palavras e atos sua preocupação com o destino de seus semelhantes menos favorecidos ou menos preparados.  Aqueles que,  além de suas atividades profissionais, lideram associações,  presidem clubes, organizações não-governamentais, ou assumem liderança política, visando o bem da sociedade e procurando transformar a realidade de modo positivo.  Em outras palavras, pegando emprestado os conceitos emitidos por  James C. Hunter, autor de O Monge e o Executivo, a verdadeira elite é formada por indivíduos para os quais liderança não significa poder e direito a privilégios, e sim autoridade, responsabilidades e sacrifícios permanentes.  Pessoas que vêem suas particulares condições financeiras, profissionais e sociais, como fonte primeira de um dever social, que alia a necessidade de retribuição à sociedade e ao país pelos privilégios legítimos alcançados, à consciência do dever fazer, dever construir em prol dos seus semelhantes, da sua comunidade, do seu país e da humanidade.  Nesse sentido, vemos que a elite se caracteriza pela generosidade, pelo amor ao próximo e o amor à pátria.  Podemos afirmar com segurança, felizmente, que pessoas com estas características existem em nosso país, embora em número menor do que gostaríamos.

    Na procura pelas razões da deturpação do conceito de elite, especìficamente no Brasil, ocorreram a nós duas explicações, sendo as duas baseadas em acontecimentos históricos.

    Se na segunda metade do século XIX a população brasileira, de um modo geral, percebia uma forte ação do poder constituído em favor do desenvolvimento social, envolvendo investimentos na educação, cultura, e, principalmente, não esqueçamos, a articulação política pela abolição da escravidão, após o golpe republicano de 1889, as oligarquias, agora livres do antigo poder moderador, preferiram frear os avanços sociais planejados, a favor da manutenção de um sistema de castas que garantisse a abundância de mão de obra barata e desqualificada para as monoculturas, a indústria incipiente e para o serviço doméstico.  Foi, portanto natural que a base da sociedade passasse a enxergar nas classes dominantes apenas o poder, e não mais a autoridade, liderança e proteção.  Com a classe dominante não se identificando com o povo, a palavra elite, para a ampla massa, perdia o seu sentido,  passando a ser aplicada para designar o grupo de pessoas de alto poder aquisitivo e hábitos refinados, em geral, de pele clara.

    Com a avassaladora propaganda, a partir do final da 1ª Grande Guerra,  da ideologia socialista, e que até hoje impregna nossos meios acadêmicos,  passou-se a, absurdamente, negar os princípios científicos darwinianos, de que entre humanos haja diferenciação tanto genética como adquirida.  Para eliminar contradições nesta ideologia, o conceito de elite não poderia mais ser admitido,  e o significado da palavra tinha que ser forçosamente deturpado. As esquerdas passaram a utilizar o termo como sinônimo de burguesia, com sentido depreciativo, ou até como insulto.

    Acontece que, segundo as leis da biologia, a diversidade de caracteres dentro de uma mesma espécie, mesmo a humana, é essencial para sua própria sobrevivência.  Na sociologia, certamente encontrar-se-ão leis análogas.  Mas, ninguém em sã consciência, defenderá a volta da lei da selva,  segundo a qual só os mais fortes e melhor adaptados sobrevivem.  O mais sensato, e o que já é praticado pelas sociedades em estágio civilizatório mais evoluído, é se garantir a igualdade de oportunidades e de direitos, com investimento em educação e saúde igual para todas as crianças e adolescentes.  Porém, mesmo com estas garantias, inevitavelmente,  as pessoas continuarão se diferenciando, seja por influências do meio, seja por maior talento, ambições, disciplina ou senso humanitário.


    Segundo aquela  mentalidade igualitarista, não se admite tampouco que possa existir uma família ocupando a chefia de estado de geração em geração, que pela tradição multicentenária ou até milenar encarna os mais altos padrões de educação, virtudes, de cultura e conduta,  nos quais o povo gostaria de se espelhar, e que serviria de estimulo à formação e crescimento da verdadeira elite.  Ao contrário, os adeptos do igualitarismo radical,  preferem recusar a idéia de uma família modelo, com as características mencionadas,  e se ufanar de um falso sinal de democracia, que seria a possibilidade de qualquer cidadão,  mesmo sem maior cultura e menos convicto dos valores morais tradicionais ocupar o mais alto cargo da nação.  Na verdade,  a maioria dos brasileiros, um ex-presidente da república inclusive, ignora a diferença entre estado e governo.  Deverá ser consenso que qualquer cidadão,  mesmo sem maior titulação acadêmica,  mas com boa carreira política,  pode vir a ocupar com eficiência a chefia do governo, como ocorre nos sistemas parlamentares.  A chefia de estado, porém, de preferência dotada de poder moderador, deveria ser reservada à nata da elite.  Tivemos, no Brasil,  a figura de D.Pedro II, como exemplo maior deste modelo.  Nosso país necessita com premência de um intenso esforço em prol da educação e cultura do povo, até mesmo para resgatar o verdadeiro sentido de elite.

    FONTE: goo.gl/iPN5Na