segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A FAMÍLIA IMPERIAL PELAS FÁBRICAS DE CURITIBA

Engenhos Tibagi e Iguaçu, no bairro Batel, 
de propriedade de Ildefonso Correia Pereira, o Barão do Serro Azul

Data: 07/08/2015 - 14:02:01

Depois de visitada à chácara, dirigiram-se para uma das ilhas, a maior, onde tomaram Suas Altezas e comitiva matte sob differentes fórmas, em chá, em folha, queimado e por último à moda da terra, em cuia, havendo entre estas uma que conta mais de cincoenta annos.” A cena, narrada pela Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, passa-se em Curitiba, em 1º de dezembro de 1884: Princesa Isabel, Conde d'Eu e dois dos filhos do casal, em visita à cidade, foram conhecer a fábrica de erva mate dos senhores Silva, Irmão & Fontana. Considerado o ciclo de “ouro” de Curitiba, o mate enriqueceu muitas famílias e trouxe progresso à capital – e era este o principal motivo de se construir a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, que estava sendo concluída naquele final de ano, e por onde chegou a Princesa a Curitiba na primeira viagem da ferrovia.

Todos juntos, menos Antônio, partimos às 4 horas para a fábrica de mate do Fontana, oriental [como chamavam as pessoas vindas da Banda Oriental do Uruguai], filho de italianos e casado com uma filha do Dr. Ermelino. É bem inteligente, seu mate muito bem beneficiado. Tem convertido em verdadeiras plantações de flores e de bonitas árvores (muitas delas frutíferas) um verdadeiro brejo que rodeava a antiga fábrica de mate que Papai conheceu neste lugar”, assim contou a Redentora a seus pais, D. Pedro II e Tereza Cristina, em uma carta-diário.

A fábrica ficava onde hoje é a avenida João Gualberto. O local descrito no início do texto é bem próximo do Passeio Público, inaugurado e aberto ao público somente dois anos depois, em 1886. Fontana aplicou uma técnica de redução de banhados em seu território e logo após fez o mesmo no terreno onde seria o parque, às suas próprias custas, por ser amigo do presidente da província, Visconde de Taunay. Da Mansão das Rosas, residência do industrial, sobrou somente o portal, que hoje é entrada de um conjunto de edifícios em frente ao Colégio Estadual do Paraná. A demolição da propriedade ocorreu em 1974.
 
A Gazeta do Rio de Janeiro descreveu com detalhes como era feito o processamento do mate. “Estes senhores possuem dous estabelecimentos juntos um do outro, organizados e construídos pelo laborioso industrial o Sr. Francisco Fasce Fontana, ha seguramente tres anos e meio. Um dos estabelecimentos é movido a vapor por um motor da força de 42 cavallos, e outro por motor hydraulico. E' grande o desenvolvimento do primeiro, que, trabalhando dez horas, prepara diariamente mais de mil arrobas de matte, prompto para a exportação. O segundo, em vista do motor, que, como já se sabe, é hidráulico, apenas póde beneficiar de 300 a 400 arrobas diarias, não sendo tão perfeito como o primeiro.” A máquina a vapor seria uma invenção do próprio Fontana.

Suas altezas percorreram a “esplendida chacara que rodeia as fabricas, cortadas por innumeros rios, divididos de proposito, alem de magnificos jardins nas ilhas pitorescas, que tornam agradavel e aprazivel aquella parte da cidade. N'esta chacara encontram-se flôres e arbustos rarissimos, e que só se conhecem na Europa e nas repúblicas do Prata, pela excellencia do clima. O do Paraná nada fica devendo áquelle”, relata o jornal.

Fontana teria oferecido licor de mate aos augustos viajantes, preparado na própria fábrica, “e que é excellente”, elogia o correspondente. “O Sr. conde d'Eu significou ao intelligente industrial o Sr. Fontana o contentamento e a satisfação com que se retirava, declarando que não esperava encontrar alli um tão importante estabelecimento”, continua. Após esta visita, com autorização de Dom Pedro II, o engenho foi batizado de Fábricas Imperiais Fontana.

A família também visitou os engenhos de Tibagi e Iguaçu, no Batel, de propriedade de Ildefonso Pereira Correia – onde hoje está a pracinha do Batel. Ele ficaria mais conhecido posteriormente pelo nome de Barão do Serro Azul. Recebeu este título da própria Princesa Dona Isabel, em 1888. 

O repórter carioca manifestou claramente sua preferência pela fábrica dos Fontana: “Também o Sr. commendador Ildefonso Corrêa tem uma bem montada fabrica de preparar herva matte; porém um pouco inferior á dos Srs. Silva, Irmão & Fontana, em aparelhos e modo de preparar a materia prima”.

Já a Princesa Dona Isabel, dias depois em seu diário, escreveria diferente aos pais. “Fábrica de beneficiar mate do Comendador Ildefonso Pereira Correia: Pareceu-me ainda melhor instalada do que a do Fontana. Esta fábrica está um pouco fora da cidade [o Batel era considerado rocio, lugar afastado do centro], e aí perto há um altozinho aonde fomos para gozar a vista. Não se podia ver nada de mais lindo e aprazível. Ao longe, S. José dos Pinhais, campos, copas de pinheiros. Mais perto, casinhas pitorescas, culturas, Curitiba.


Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba

Notas:
1) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.

2) As informações encontradas sobre o local de hospedagem da família imperial em Curitiba são contraditórias. O boletim do IHGPR informou que teria sido na casa de Antonio Ricardo dos Santos. Mas conforme pesquisa realizada pela Casa da Memória, no livro "Ação empresarial do barão do Serro Azul", p. 54, da prof. Odah Regina Guimarães (UFPR), existe a afirmação de que a Princesa ficou hospedada no palacete do Barão (do Serro Azul – O Solar do Barão, hoje um espaço cultural da prefeitura).

3) Ao utilizar ou se basear em textos históricos do nosso site, por gentileza, cite a fonte.

Referências:
Edição 351 da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – terça-feira, 16 de dezembro de 1884. pg. 2. (Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional)

Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972).

(1) Romanel, Maria Cecília; Scherner, Maria Luiza. Álbum de Memórias: A trajetória das indústrias do Paraná, Curitiba: Editora Univer Cidade, 2007.

FONTE: www.cmc.pr.gov.br/ass_det.php?not=25153#&panel1-3

sábado, 28 de novembro de 2015

MENDES: POLÍTICAS PÚBLICAS SERVEM PARA COMPRAR VOTOS

Vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Gilmar Mendes, disse que agora sabe o que PT fez para ganhar as eleições

Da Redação com BandNews 
Atualizado em sexta-feira, 27 de novembro de 2015 - 17h58

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, atacou o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff ao participar de uma palestra nesta sexta-feira (27), em São Paulo.  Ele comentou a ampliação de programas sociais em ano de eleição e disse que a prática é uma "compra de votos moderna".

"Nessa campanha, a presidente Dilma disse, como candidata, 'que nós fazemos do diabo para ganhar as eleições, mas depois entabulamos entendimentos etc'. E o presidente Lula disse, em algum momento - isso na presença da candidata Dilma – que 'eles não sabem do que somos capazes de fazer para ganhar a eleição'. Então eu concluí: agora a gente sabe", afirmou o ministro.

"A gente fica imaginando a captação de sufrágio como a compra do eleitor via captação de telhas, de saco de cimento, de tijolo, mas na verdade, em termos gerais, dispõe-se da possibilidade de fazer políticas públicas ad hoc para aquela finalidade: aumentar Bolsa Família em ano eleitoral, aumentar o número de pescadores que recebem a Bolsa Defeso", acrescentou.

Na sequência ele disse que as ações "resultaram em um déficit de R$ 50 bilhões",  como o estimado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) – as chamadas pedaladas fiscais, que acontecem quando o governo atrasa, propositalmente, repasses para instituições como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Ministério das Cidades.

"A adoção de determinadas políticas públicas, hoje, com finalidade eleitora, é uma moderna compra de votos", concluiu.

FONTE: goo.gl/SZKAmz

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

REPÚBLICA DESONRADA

Estão esculhambando nosso País

OBSERVAÇÃO DE UM MONARQUISTA ANTES DE COMEÇAR A REPORTAGEM:
Não há como  desonrar algo que nasceu da desonra, a esculhambação começou com o 15/11/1889. Esperar algo diferente do sistema corrupto e corruptor que é a república brasileira é infantilidade, já são mais de 125 anos na mesma corrupção, no mesmo populismo, na mesma cleptocracia. BASTA!

Carlos José Marques, diretor editorial
ISTOÉ Online |  27.Nov.15 - 12:39 |  Atualizado em 27.Nov.15 - 22:18

O grau de perplexidade que toma conta dos brasileiros só aumenta. Como é possível conceber a ideia de um senador da República, líder do Governo, destacado quadro do PT, em pleno exercício do mandato, articular a fuga de um delator de escândalos? E ainda garantir financiamento através de um banqueiro? Não foi através de intermediários. Ele - em pessoa! - negociou. Propôs alternativas de rota. Arrotou influência, inclusive no Supremo Tribunal, e falou do interesse do Governo no caso. Cada passo gravado e documentado. E o que dizer de um presidente da Câmara, denunciado por enriquecimento ilícito, tentando escolher quem pode conduzir o processo e como ele deve ser investigado por seus crimes? A mandatária não sabe quando e por que vários de seus assessores diretos se meteram em maracutaias escabrosas. Nem responde de maneira convincente a muitas das dúvidas de participação que lhe pesam sobre a cabeça, de financiamento ilegal em campanha, de crime de responsabilidade nas pedaladas fiscais entre outras. Seu mentor, e articulador do projeto de poder que por treze anos vem assaltando os cofres do País - fazendo “o diabo”! -, alega que as acusações a seus amigos, filhos, noras e agregados não passam de mera perseguição. 

Enquanto o chefe do Partido dos Trabalhadores, no afã de defender correligionários (muitos atrás das grades), aponta que eles são “guerreiros do povo” a serviço de missões partidárias, embora pegos em flagrante nas pilhagens que deram origem ao “mensalão” e ao “petrolão”. Parece piada. Lamentavelmente não é. O cinismo desse grupo ultrapassou as barreiras do aceitável. O tamanho da sujeira que espalham há anos parece não ter fim. É uma tentativa milimetricamente planejada de esculhambação geral da República. Surreal! Qualquer cidadão que guarde um mínimo de caráter, de noção do certo e errado – independente de opções partidárias – tem que se sentir ultrajado. Deve estar atento e não temer reagir. Como chegamos a esse ponto? Estão roubando nosso País a luz do dia! Roubando o futuro, os sonhos, as chances de dar certo, o dinheiro de cada um que contribui, enquanto afrontam a dignidade nacional. Pergunta elementar: onde estão os líderes para frear tamanho descalabro? O que foi feito dos homens públicos de bem, capazes da abnegação e luta a favor do interesse comum? Quem vai tomar para si a bandeira da faxina moral e liderar um basta? Apareçam aqueles que entraram na vida política por convicção de que poderiam ajudar o próximo, sem a velada ideia de se locupletar! 

Hoje as esperanças dos brasileiros parecem residir nas instituições da Justiça, que funcionam plenamente e de maneira louvável. Respondem na letra da lei com a punição que a Carta Magna contempla e a sociedade almeja. Sem receios ou tergiversações. A frase da ministra do Supremo, Carmem Lúcia, diante das últimas revelações, foi lapidar do que vem pela frente. Disse a ministra, para que ninguém se esqueça: “Houve um momento em que a maioria de nós acreditou que a esperança tinha vencido o medo. Depois descobrimos que o cinismo tinha vencido a esperança. Agora o escárnio venceu o cinismo. Mas o crime não vencerá a justiça”. Fez claramente uma referência e uma resposta enfática ao já desacreditado slogan de “esperança” maquinado por Lula do PT. No mesmo tom, o ministro Celso de Mello alertou: “A captura do Estado e de instituições governamentais por organizações criminosas é um fato gravíssimo. É preciso esmagar, é preciso destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos”. Aqui está posta a reação. Que o Brasil nunca mais tenha de engolir calado tanta podridão, tantos políticos de má índole e agremiações partidárias que se transformaram em meras centrais de práticas ilícitas, com ideologias mafiosas e quadros especializados na arte da ladroagem e safadeza institucionalizada. 

Ano que vem, mais uma vez, ocorrerão eleições municipais, com a volta as urnas. Que o povo dê ali uma resposta consistente e consciente contra esses maus elementos. E que eles sejam varridos dos postos que ainda ocupam.

FONTE: goo.gl/euS8td

A Monarquia não é a solução dos problemas do Brasil, 
mas sim o caminho pelo qual chegaremos às soluções.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

VICTOR MEIRELLES


Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, 18 de Agosto de 1832 — Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 1903).

De origens humildes, cedo seu talento foi reconhecido, sendo admitido como aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Especializou-se no gênero da pintura histórica, e ao ganhar o Prêmio de Viagem ao Exterior da Academia, passou vários anos em aperfeiçoamento na Europa. Lá pintou sua obra mais conhecida, A Primeira Missa no Brasil. Voltando ao Brasil tornou-se um dos pintores preferidos de Dom Pedro II, inserindo-se no programa de mecenato do monarca e alinhando-se à sua proposta de renovação da imagem do Brasil através da criação de símbolos visuais de sua história.
Tornou-se admirado professor da Academia, formando uma geração de grandes pintores, e continuou seu trabalho pessoal realizando outras pinturas históricas importantes, como a Batalha dos Guararapes, a Moema e o Combate Naval do Riachuelo, bem como retratos e paisagens, onde se destacam o Retrato de Dom Pedro II e os seus três Panoramas. Fez muitos admiradores, mas também muitos críticos, despertando fortes polêmicas, num período em que se acendia a disputa entre os acadêmicos e os primeiros modernistas. Com o advento da República, por estar demasiado vinculado ao Império, caiu no ostracismo, e acabou sua vida em precárias condições financeiras, já muito esquecido.

A obra de Victor Meirelles pertence à tradição acadêmica brasileira, formada por uma eclética síntese de referências neoclássicas, românticas e realistas, mas o pintor absorveu também influências barrocas e do grupo dos Nazarenos. Um dos principais pintores brasileiros do século XIX, para muitos o maior de todos, foi autor de algumas das mais célebres recriações visuais da história brasileira, que até os dias de hoje permanecem vivas na cultura nacional e são incessantemente reproduzidas em livros escolares.

CONSAGRAÇÃO

Retrato de Dom Pedro II, 1864, uma das obras mais clássicas de Meirelles.
Museu de Arte de São Paulo.

De talento precoce, foi notado e incentivado pela família e por autoridades locais, e em 1845 começou a ter aulas regulares com um professor de desenho geométrico, o engenheiro argentino Marciano Moreno. Ao mesmo tempo, provavelmente completou seus estudos gerais no Colégio dos Jesuítas, e é possível que tenha entrado em contato com artistas viajantes que documentavam a natureza e o povo local. 

Alguns de seus desenhos foram vistos e apreciados por Jerônimo Coelho, conselheiro do Império, que os mostrou ao então diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix-Émile Taunay. O diretor de imediato aceitou o jovem, então com apenas quatorze anos, como aluno da instituição. Transferindo-se para o Rio de Janeiro em 1847, passou a frequentar o curso de desenho, tendo as despesas iniciais financiadas por um grupo de mecenas e sendo alundo de Manuel Joaquim de Melo Corte Real, Joaquim Inácio da Costa Miranda e José Correia de Lima, que estudara com o classicista Debret. Já no ano seguinte conquistou uma medalha de ouro e pouco mais tarde voltou à sua cidade natal para visitar seus pais. Datam desta época as primeiras de suas obras conhecidas. Em 1849 estava novamente no Rio, estudando na Academia entre outras a disciplina de pintura histórica, gênero em que obteve seus maiores sucessos. Consta que Meirelles era um aluno brilhante, destacando-se em todas as disciplinas. Em 1852 venceu o Prêmio de Viagem à Europa com a pintura São João Batista no Cárcere.

Aos 21 anos incompletos, Victor Meirelles desembarcou em Havre, na França, em junho de 1853. Passou brevemente por Paris e em seguida estabeleceu-se em Roma, seu destino original. Lá conheceu dois outros alunos da Academia que também fazia seu aperfeiçoamento, Agostinho da Motta e Paliére Grandjean Ferreira, que o introduziram no ambiente artístico da cidade e o orientaram sobre quais mestres deveria procurar. A princípio entrou na classe de Tommaso Minardi, que, a despeito de sua fama, seguia um método austero demais, onde os alunos permaneciam excessivamente subordinados aos preceitos, sem oportunidade de desenvolverem idéias próprias. Então abandonou a classe e se matriculou no atelier de Nicola Consoni, membro da Academia de São Lucas. 

Consonni também era rigoroso, mas Meirelles aproveitou bem as sessões de modelo vivo, imprescindíveis para o refinamento do desenho anatômico da figura humana, elemento essencial no gênero da pintura histórica, o mais prestigiado no sistema acadêmico. Paralelamente, exercitava-se na aquarela e entrava em contato com o vasto acervo de arte antiga da capital italiana. Numa segunda etapa, transferiu-se para Florença, conhecendo os museus locais e sendo fortemente impressionado pela arte de Veronese. Como estudo copiou obras do mestre, bem como de outras figuras destacadas, como Ticiano, Tintoretto e Lorenzo Lotto. Como era exigido pela Academia, regularmente enviava para o Brasil suas obras como prova de seu progresso. Seu rendimento era tão bom que o governo brasileiro decidiu renovar em 1856 sua bolsa de estudos por mais três anos, além de indicar ao artista uma lista de novos estudos específicos que ele deveria cumprir.

Desta forma, em 1856 seguiu para Milão e logo depois para Paris. Tentou, segundo recomendação de Araújo Porto-Alegre, na época diretor da Academia e seu principal mentor, ser admitido como aluno de Paul Delaroche, mas o mestre repentinamente faleceu. Assim precisou buscar outra orientação, encontrando-a em Léon Cogniet, pintor romântico igualmente celebrado, membro da Escola de Belas Artes de Paris e uma referência para os estrangeiros que iam estudar na Europa. Em seguida estudou com André Gastaldi, que possuía quase a mesma idade que Meirelles, mas que tinha uma visão mais avançada sobre a arte e lhe deu importante instrução sobre cores. Sua rotina, segundo relatos, era quase monástica, dedicando-se integralmente à arte, e novamente seus estudos foram considerados tão bons que sua bolsa de estudos foi prorrogada outra vez, por mais dois anos. Nesta época sua produção era numerosa, destacando-se entre todas suas obras A Primeira Missa no Brasil, executada entre 1858 e 1861, que lhe valeu espaço e elogios no prestigioso Salão de Paris de 1861, um feito inédito para artistas brasileiros que repercutiu muito positivamente em sua terra.

 A Primeira Missa no Brasil, criada por Meirelles entre 1858 e 1861

No mesmo ano sua bolsa terminou e ele teve de retornar, já festejado como um gênio. Expôs a Primeira Missa e entre muitas homenagens recebeu do Imperador Dom Pedro II a Ordem da Rosa no grau de cavaleiro. Logo depois viajou para Santa Catarina para visitar sua mãe — o pai falecera enquanto ele estava na Europa. Permaneceu algum tempo ali e retornou ao Rio, onde foi nomeado Professor Honorário da Academia, sendo promovido pouco depois para Professor Interino, e mais tarde assumindo como Titular de pintura histórica. Testemunhos de alunos declaram seu respeito pelo artista, atestando o seu caráter impecável e sua enorme dedicação à docência, sendo considerado um professor atencioso, paciente e verdadeiramente interessado no progresso de seus discípulos. Sua fama se consolidou e desta época é a Moema, uma das mais conhecidas obras do indianismo brasileiro, mas que em sua primeira exposição não atraiu interesse. Não obstante, recebeu encomendas da família imperial, pintando o Casamento da Princesa Dona Isabel e um retrato do Imperador em 1864, além de retratos de membros da nobreza e de políticos. Em 1864 recebeu o hábito da Ordem de Cristo. Tornou-se conhecido também pela sua devoção às causas nacionais, e por isso foi contratado em 1868 pelo governo para realizar pinturas sobre a Guerra do Paraguai, que estava em pleno andamento, num contrato que ao mesmo tempo o honrava e lhe dava boa remuneração.

Imediatamente Meirelles deslocou-se para a região do conflito para colher impressões da paisagem e do ambiente militar. Instalou um atelier a bordo do navio Brasil, a capitânia da frota brasileira, e ali passou seis meses elaborando esboços para suas obras. Voltando ao Rio, ocupou um espaço no Convento de Santo Antônio, que transformou em atelier, e meteu-se ao trabalho afincadamente, isolando-se do mundo. Desse esforço resultaram duas de suas obras mais importantes, ambas de grandes dimensões: a Passagem de Humaitá e o Combate Naval de Riachuelo. Enquanto estava nesses trabalhos recebeu a visita da Família Imperial, com quem mantinha contato, o que resultou em novas pinturas e no envio do Combate Naval para representar o Brasil em uma feira internacional promovida nos Estados Unidos. No retorno da exposição a obra foi estragada.

Em 1871 pintou o Juramento da Princesa Regente, no ano seguinte foi nomeado comendador da Ordem da Rosa, e em 1875 iniciou os esboços para uma outra grande obra histórica, a Batalha dos Guararapes, aceitando um projeto que fora recusado por Pedro Américo, que preferiu trabalhar sobre a Batalha de Avaí. Como fizera antes, deslocou-se à região onde ocorrera o conflito para conceber a composição com maior verdade. As duas batalhas foram expostas no Salão de 1879, recebendo ambos os artistas o Grande Prêmio e o título de dignitários da Ordem da Rosa, mas desencadearam a maior polêmica estética que até então se travou no Brasil. Enquanto uns reconheciam as suas habilidades superlativas, saudando-os como gênios e heróis, outros os acusavam de plágio e de passadismo. Ao mesmo tempo, formaram-se dois partidos, um apoiando Meirelles e outro Américo, na disputa sobre qual das batalhas era mais perfeita. O público leigo também se engajou e a discussão tomou os jornais e revistas durante meses, mas a despeito de receber muito aplauso, as também numerosas críticas o abateram profundamente, jogando-o num estado de melancolia que, entre altos e baixos, aparentemente o acompanharia até o final da vida.



Em 1883 estava de novo na Europa, onde fez uma nova versão do Combate Naval de Riachuelo, que se perdera, no ano seguinte foi feito grande dignitário da Ordem da Rosa e na Bélgica iniciou, em 1885, a execução do Panorama do Rio de Janeiro, uma vista tomada a partir do morro de Santo Antônio. Para isso, contou com a ajuda do belga Henri Langerock, fundando com ele uma empresa de panoramas, um gênero que se tornava rapidamente popular em várias técnicas e podia significar um bom lucro para os artistas através da cobrança de ingressos para visitação. Em 1887 a pintura foi exposta em Bruxelas, fazendo uso de um cilindro giratório que permitia aos espectadores contemplar as vistas em 360 graus. A obra foi inaugurada em presença da família real da Bélgica e grande corpo de nobres e autoridades, sendo visitada por cerca de 50 mil pessoas, com grande repercussão na imprensa. A esta altura estava desfeita sua sociedade com Langerock, que o processou por supostas perdas financeiras, mas o caso foi decidido a favor de Meirelles. Em 1889 o panorama foi exposto na Exposição Universal de Paris, onde recebeu medalha de ouro e mais elogios da imprensa e do público, mas por falha na programação do evento e pela competição de muitas outras atrações, inclusive panoramas de outros artistas, sua visitação foi pouco expressiva.

ANOS FINAIS

Em 1889, com o Golpe de Estado da Proclamação da República, veio a perseguição política aos artistas oficiais da Monarquia e em 1890 foi demitido precocemente da Academia Imperial, agora transformada em Escola Nacional de Belas Artes. Com apenas 57 anos de idade, alegou-se que estava velho demais. Por um ano conseguiu colocação como professor no Liceu de Artes e Ofícios, mas a partir de 1891, outra vez desempregado, instalou seu Panorama do Rio em uma rotunda especialmente construída para ele no largo do Paço Imperial, onde cobrava mil réis por visitante. Segundo notícias da época, em seu primeiro ano de exibição a obra foi visitada por cerca de 70 mil pessoas, mas isso pode ser exagero publicitário. Pouco mais tarde franqueou o acesso aos escolares e ofereceu detalhados materiais didáticos complementares à obra, preocupado com a boa educação da população. Em 1893 o governo enviou uma representação para a Exposição Universal de Chicago, onde a Primeira Missa e o Panorama do Rio foram exibidos com grande sucesso. No mesmo ano fundou uma escola de pintura com Décio Villares e Eduardo de Sá, mas as aulas encerraram após alguns meses.

Sua segunda composição panorâmica apareceu em 1896, uma vasta paisagem de 115 metros de largura por 14,5 de altura, representando a entrada da Esquadra Legal na baía de Guanabara, um episódio da Revolta da Armada de 1894, que realizou praticamente sem auxílio nenhum, num esforço monumental, e quase sem auxílio também para as tarefas administrativas de exposição, os contatos, as buscas de patrocínio. Sem trabalho fixo, cansado e vivendo basicamente da renda das visitações aos panoramas, quando o governo exigiu, em 1898, que ele desmontasse a rotunda, ficou em sérias dificuldades financeiras, sobrevivendo da ajuda de amigos. Em 1900 seu Panorama do Descobrimento do Brasil, ainda incompleto, foi exibido na mostra do IV Centenário do Descobrimento, como a última tentativa de reavivar sua carreira, como referiu Mário Coelho. A mostra foi inaugurada em presença do presidente Campos Salles, que qualificou a obra como extraordinária, mas sua estrela já se apagava. Montou outro pavilhão de exibição numa chácara do antigo Seminário de São José, nos fundos do Convento do Carmo, mas os panoramas já não eram novidade e atraíam cada vez menos gente. Ainda alimentava a ideia de voltar a expô-los na Europa, procurando interessar o governo, mas o plano não deu em nada.

Pouco tempo antes de morrer o pintor havia doado seus panoramas ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Não se sabe exatamente o que se fez deles, mas o fato é que acabaram estragando e se perdendo. Além disso, o manejo das obras, todas imensas, era extremamente complicado; o maior dos panoramas havia empregado mais de três toneladas só de tinta, e como não tinham molduras fixas, a cada manuseio estragavam mais um pouco. Desde a doação, em 1902, já havia sido assinalado em relatório o perigo de deterioração das obras. Mas anos se passaram até que, em 1910, quando o Museu foi reformado, João José da Silva, restaurador da Escola de Belas Artes, foi designado para localizá-las e fazer uma inspeção. Disse que as encontrou já próximas da decomposição em três grandes caixas apodrecidas, abandonadas em um pavilhão arruinado, imundo e alagado que mais parecia um curral de porcos, e referiu que fora informado de que antes de serem recolhidas para lá estiveram largadas ao ar livre durante muito tempo, num terreiro da Quinta. Em seguida, acabaram novamente expostas às intempéries, sendo enroladas, não se sabe por quem, em três grandes cilindros e deixadas no pátio do Museu sem qualquer proteção ou cobertura, onde ficaram meses, à espera de solução burocrática para o seu caso, que nunca veio.

O destino final dos panoramas é nebuloso. Sandra Makowiecky diz que "segundo consta se pensou em fazer com eles uma fogueira. Outros acreditam que foram cortados em pedaços para servirem de cobertura às mobílias e outros materiais transportados em carrinhos de mão. Acredita-se até que parte deles foi atirada ao mar". O artista pensava que seria reconhecido pelas futuras gerações devido a esses grandes panoramas, porém, só restam deles alguns estudos. Muitos desenhos e estudos que o artista doou ao Museu Nacional também se perderam por negligência. Segundo seu biógrafo Carlos Rubens, pouco antes de morrer Meirelles teria dito a um amigo e antigo discípulo que se tivesse outra chance faria sua vida tomar outros caminhos, ao que o amigo respondeu: "E que outros caminhos levariam o senhor à Primeira Missa?" Como a História mostra, sua fama atual repousa principalmente nesta grande composição.

O flagelo de Cristo

Desencantado, pobre e abandonado, na manhã de um domingo de carnaval, em 22 de fevereiro de 1903, Victor Meirelles morre aos 71 anos, na casa simples onde vivia. O artista era casado com Rosália Fraga, que já tinha um filho de união anterior, a quem ele adotou, mas não deixou descendência direta e sobre sua vida privada nada se sabe. Sua viúva doou seu espólio à Escola Nacional de Belas Artes, que realizou uma exposição póstuma em sua homenagem. A viúva faleceu pouco depois, ainda no mesmo ano. 

FONTES: 
  • Silva, Tathianni Cristini da. O Patrimônio Cultural do Centro Histórico de Florianópolis: um estudo do papel dos Museus Histórico de Santa Catarina e Victor Meirelles na preservação e produção da cultura;
  • Franz, Teresinha Sueli. "Victor Meirelles e a Construção da Identidade Brasileira". In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte, 2007; II;
  • Rubens, Carlos. "Victor Meirelles". In: Pequena História das Artes Plásticas no Brasil [1941]. Edição Brasiliana online, pp. 123-131;
  • Mallmann, Regis. Os passos do maior pintor brasileiro do século XIX entre Desterro, Paris e o Rio de Janeiro.

IMPERATRIZ DO BRASIL

Durante o Império do Brasil(1822-1889), ascenderam ao trono três imperatrizes. D. Leopoldina de Habsburgo, a primeira imperatriz, foi a única a participar ativamente da política do novo país, seja tornando-se regente devido às freqüentes ausências de seu marido, D. Pedro I, seja pela sua atuação como correspondente dos Habsburgo, mantendo seu pai, Francisco I da Áustria, informado dos ocorridos no Brasil e procurando garantir alguns interesses da Santa Aliança. Foi baseado no Brasão de Dona Leopoldina que o Losango dourado de nossa bandeira foi inspirado. Devido a sua morte prematura, e à partida de D. Pedro I junto a D. Amélia de Leuchtenberg, não houve quem por direito de fato pudesse reger o Império até a maioridade de seu filho caçula, D. Pedro II. Assim sendo, institucionalizou-se o chamado Período Regencial, no qual há uma ocupação do cargo de regente do Império por sucessivas personalidades políticas da época, eleitas pela Câmara.

A sucessora de D. Leopoldina, D. Amélia de Leuchtenberg, permaneceu pouco tempo no cargo. Acompanhou D. Pedro I em seu retorno a Portugal, após a abdicação de ambos ao trono brasileiro, para lutar pelo direito regencial da filha desse, D. Maria II de Portugal. Já a terceira imperatriz, D. Teresa de Bourbon-Duas Sicílias, apresentou uma atuação muito mais discreta nos rumos da política nacional, estando sempre ao lado de seu marido, D. Pedro II, e falecendo pouco após o exílio. Sua filha, D. Isabel, nunca chegou a ascender ao trono brasileiro, haja vista o golpe de Estado que levou a proclamação da República brasileira em 1889, apesar de ter atuado como regente do Império por três vezes, a mais notável quando da abolição da escravatura.

Pelo tratado do Rio de Janeiro, firmado entre Portugal e Brasil em 1825, reconhecia-se a autonomia do antigo reino, mas reservava-se o título de imperador titular do Brasil a D. João VI. Por conseguinte, seu cônjuge, D. Carlota Joaquina de Bourbon, tornou-se a imperatriz titular do Brasil. Com a morte do marido, sete meses depois, D. Carlota perde o título tanto do trono português quanto do brasileiro, tornando-se rainha-mãe e imperatriz-mãe.


  • NOSSAS IMPERATRIZES

Dona Maria Leopoldina de Áustria 

Dona Carlota Joaquina de Bourbon (Imperatriz-Titular)

Dona Amélia de Leuchtenberg

Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias

Dona Maria Pia de Bourbon-Duas Sicílias (Imperatriz de jure, esposa de Dom Luis Maria)

Dona Maria Isabel de Wittelsbach (Imperatriz de jure, esposa de Dom Pedro Henrique)

Dona Cristina de Ligne (futura Imperatriz (de jure?), esposa de Dom Antonio)

DEUS SALVE NOSSOS PRINCESAS!

LITERATURA, POIS "NO IMPÉRIO NÃO HAVIA CULTURA"

Uma fotografia de 1858, mostrando os três maiores escritores romancistas brasileiros. 
Da esq: Gonçalves Dias, Manuel de Araújo Porto-alegre e Gonçalves de Magalhães

Nos primeiros anos após a independência, a literatura brasileira era ainda fortemente influenciada pela literatura portuguesa e seu predominante estilo neoclássico. Em 1837, Gonçalves de Magalhães publicou o primeiro trabalho do romantismo no Brasil, começando uma nova era no país. No ano seguinte, 1838, foi feito a primeira peça teatral encenada por brasileiros e com um tema nacional, que marcou o nascimento do teatro brasileiro. Até então, os temas eram muitas vezes baseados em obras europeias, mesmo que não fossem realizados por atores estrangeiros. O romantismo na época foi considerado como o estilo literário que melhor se ajustava à literatura brasileira, o que poderia revelar sua singularidade quando comparada à literatura estrangeira. Durante as décadas de 1830 e 1840, "uma rede de jornais, revistas, editoras e gráficas surgiram junto com a abertura de teatros em grandes cidades, o que poderia ser chamado, mesmo para a estreiteza de seu alcance, uma cultura nacional."

O romantismo teve o seu apogeu entre o final dos anos 1850 e início dos anos 1870, dividindo-se em vários ramos, incluindo o indianismo e o sentimentalismo. Por ser o estilo literário mais influente no Brasil do século XIX, muitos dos mais renomados escritores brasileiros eram expoentes do romantismo: Manuel de Araújo Porto-Alegre, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, José de Alencar, Bernardo Guimarães, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e Alfredo d'Escragnolle Taunay.

No teatro, o mais famoso romancista foi o dramaturgo Martins Pena, embora outros, como Joaquim Manuel de Macedo, também tenham alcançado a fama. Embora o romantismo brasileiro tenha encontrado seu lugar na literatura, não teve o mesmo sucesso no teatro, sendo que a maioria das peças executadas ou eram tragédias neoclássicas, obras românticas de Portugal ou traduções do italiano, francês ou espanhol. Como em outras áreas, o teatro era patrocinado pelo governo (após a abertura do Conservatório Dramático Brasileiro, em 1845), que tentava ajudar companhias de teatro nacionais com ajuda financeira em troca de encenarem peças em português.

As primeiras reações ao romantismo surgiram na década de 1870, mas seria só na década seguinte que novos estilos literários tomariam o seu lugar. O primeiro a aparecer foi o realismo, que tinha entre os seus mais notáveis ​​escritores nomes como o monarquista Joaquim Maria Machado de Assis e Raul Pompeia. Os estilos mais recentes que coexistiram com o realismo, como o naturalismo e o parnasianismo, eram ambos ligados à evolução do primeiro. Entre os mais conhecidos naturalistas estão Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha. Entre os principais parnasianos estão Gonçalves Crespo, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. O teatro brasileiro foi influenciado pelo realismo em 1855, décadas antes do impacto do estilo sobre a literatura e a poesia. Entre os dramaturgos realistas mais famosos estão José de Alencar, Quintino Bocaiúva, Joaquim Manuel de Macedo, Júlia Lopes de Almeida e Maria Angélica Ribeiro. 

Da década de 1850 até ao final do império, as peças brasileiras eram encenadas por companhias nacionais e continuaram a ser apresentadas ao público ao lado de peças estrangeiras. As artes cênicas do Brasil Imperial também abrangiam a realização de duetos musicais, danças, ginásticas e comédias. Com menos prestígio, mas mais populares entre as classes trabalhadoras eram os fantoches e os mágicos, assim como o circo, com suas companhias itinerantes que incluíam acrobatas, animais treinados, ilusionistas e outros tipos de artistas.

FONTES:

  • Vainfas, Ronaldo. In: Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial (em português). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002;
  • Barman, Roderick J.. In: Roderick J.. Brazil: The Forging of a Nation, 1798–1852 (em inglês). Stanford: Stanford University Press, 1988.

FALA DO TRONO

S.M. o Imperador Dom Pedro II durante a Fala do Trono, 1872

A Fala do Trono é um evento que ocorre em certas monarquias, na qual o soberano reinante (ou um representante) lê um discurso preparado para uma sessão do parlamento, esboçando a agenda do governo para a sessão seguinte. Este evento é frequentemente realizado anualmente, embora em alguns lugares possam ocorrer com maior ou menor frequência, sempre que uma nova sessão do parlamento é aberta. A fala do trono não é escrita pelo chefe de estado, ou seu representante, que irá lê-lo, mas sim pelos ministros da coroa, mesmo que o explicitador refira-se no texto como “Meu Governo”.


  • NO IMPÉRIO DO BRASIL
No Brasil Imperial as Falas do Trono foram discursos proferidos pelos imperadores, Dom Pedro I e Dom Pedro II, e pelos Regentes nas reuniões de abertura e encerramento do ano legislativo da Assembleia Geral Legislativa brasileira. Durante toda a existência da Assembleia, no período monárquico, perante os senadores e deputados, o monarca costumeiramente discorria sobre temas importantes da história política, os problemas que o país enfrentava, os seus desafios e propostas para resolvê-los. Na abertura, indicava metas a serem implementadas durante o ano. Na sessão imperial de encerramento, comumente era realizado um balanço sobre a situação do País e as medidas saneadoras que foram tomadas pelo governo imperial. A solenidade era precedida de todo um cerimonial que, juntamente com o discurso, permitia à Coroa se posicionar como símbolo de poder.

Em um trecho da fala de abertura do ano legislativo de 1830, o imperador Dom Pedro I aborda a necessidade de leis que facilitassem a distribuição de terras após acordos internacionais para o fim do tráfico de escravos.

"O trafico da escravidão cessou, e o governo está decidido a empregar todas as medidas que a boa fé e a humanidade reclamem para evitar a continuação debaixo de qualquer forma ou pretexto que seja: portanto, julgo de indispensável necessidade indicar-vos que é conveniente facilitar a entrada de braços uteis. Leis que autorizem a distribuição de terras incultas e que afiancem a execução dos ajustes feitos com os colonos, seriam de manifesta utilidade e de grande vantagem para nossa industria em geral”

A Sala do Trono do Império

No dia 3 de maio de 1888, a Princesa imperial regente, Isabel, é recebida por parlamentares no Palácio Conde dos Arcos, sede do Senado. É lá que, no discurso de abertura do ano legislativo, ela defende o fim do trabalho servil no país. A Lei Áurea, que aboliu a escravidão, foi aprovada em regime de urgência, apenas dez dias após a fala da princesa regente.

A chegada da Princesa Regente Dona Isabel do Brasil ao parlamento


“A extinção do elemento servil, pelo influxo do sentimento nacional e das liberalidades particulares, em honra do Brasil, adiantou-se pacificamente do tal modo, que é hoje aspiração aclamada por todas as classes, com admiráveis exemplos de abnegação da parte dos proprietários. Quando o próprio interesse privado vem espontaneamente colaborar para que o Brasil se desfaça da infeliz herança, que as necessidades da lavoura haviam mantido, confio que não hesitareis em apagar do direito pátrio a unica excepção que nele figura em antagonismo com o espirito cristão e liberal das nossas instituições”.


  • REINOS DA COMMONWEALTH
A sala do Trono inglês, na Casa dos Lords

Nos reinos integrantes da Commonwealth, a fala do trono é feita por um congressista (não importando se for um governo de unicameralismo ou bicameralismo) como parte do evento solene da abertura da sessão legislativa. Em cada caso, a fala é feita pelo Gabinete de Governo, com ou sem a participação de quem irá lê-lo, e apresenta o planejamento para o ano legislativo. No Reino Unido, onde a prática teve início e o monarca dos reinos da Commonwealth predominantemente reside, o seu Her Majesty's Most Gracious Speech (A Fala Mais Graciosa de Vossa Majestade), também conhecido como Gracious Address ou, menos formalmente, Queen's Speech (A Fala da Rainha), é geralmente lido pelo soberano reinante na Abertura do Parlamento de Estado, o que ocorre anualmente, quer em novembro ou dezembro ou logo após uma eleição geral.

O monarca pode, entrementes, delegar alguém para ler a fala em seu lugar; A rainha Elizabeth II delegou sua Fala de 1959 e 1963  — quando estava grávida do Príncipe Andrew e do Príncipe Edward, respectivamente, tendo o Lorde Chanceler lido a fala. Nos países que compartilham com o Reino Unido a mesma pessoa como seus respectivos soberanos, a Fala do Trono em geral pode ser lida em nome do monarca pelo seu vice-rei, o governador-geral, embora o monarca possa o fazer em pessoa. A rainha Elizabeth II leu a fala do trono no Parlamento da Nova Zelândia em 1954, no Parlamento da Austrália em 1954 e 1974, e no Parlamento do Canadá em 1957 e 1977. Outro membro da família real pode realizar a ala, como em 1 de setembro de 1919, quando Edward, Príncipe de Wales (Mais tarde Rei Edward VIII), leu a Fala do Trono no Parlamento Canadense.

S.M. a Rainha no Parlamento da Nova Zelância

Para as legislaturas dos Estados territórios da Austrália, e nas Províncias e territórios do Canadá, a Fala do Trono também é realizado para traçar os planos legislativos locais. No Canadá, não é claro constitucionalmente, mas geralmente o vice-governador, é incumbido para representar a Monarquia nas províncias canadenses. Na Austrália, os governadores dos Estados da Austrália normalmente dão a Fala no lugar do monarca, mas o soberano reinante pode realizar a tarefa em pessoa, sendo que a rainha Elizabeth II abriu os parlamentos de alguns estados da Austrália em 1954 e de Nova Gales do Sul em 1992.

A Fala é seguida por um debate e votação nas duas casas ou a na casa de um parlamento. Formalmente, o representante apenas pede ao Parlamento para agradecer ao monarca ou vice-rei da Fala através da Fala em Resposta, o debate, no entanto, muitas vezes amplo, explorando vários aspectos das políticas propostas pelo governo, geralmente se estende por vários dias. Quando a Fala de Resposta é finalmente votado, é realizado um pedido de moção de confiança no governo, que, se perdido, teria como resultado o fim do mandato deste parlamento. Em algumas legislaturas, a discussão e a votação segue um aumento simbólico de outras matérias, tendentes a evidenciar a independência do parlamento da Coroa. Na Câmara dos Comuns britânica, por tradição, essas outras matérias levantadas é o Outlawries Bill. Na Câmara dos Comuns do Canadá, os projetos destacados é o Bills C-1 and S-1, uma lei de comprometimento com a clareza administrativa, enquanto no Senado canadense é destacado a Bill S-1, uma lei relacionada à transportes ferroviários. Na Australia e na Nova Zelândia, em contrapartida, nenhuma lei formal é votada, sendo que as respectivas casas preferem debater assuntos não controversos antes de redigir a Fala de Resposta.

A Fala Trono não é geralmente feito na abertura de todos os períodos legislativos no Reino Unido, sendo que o equivalente mais próximo é o pronunciamento da agenda geral feita pelo Primeiro Ministro. Entrementes, volta e meia a Rainha discursa de forma não oficial nas sessões, sendo que muitas vezes ela esteve presente na abertura do Parlamento Escocês, geralmente falando reflexivamente sobre suas realizações e desejando à instituição o bem para o seu próximo mandato, em vez de desejar para os planos do executivo.


  • EM OUTROS PAÍSES
Outras monarquias, como a Holanda (Dia do Príncipe) e Noruega, possuem Fala do Trono semelhantes. Na Suécia, o monarca realiza um pequeno discurso antes da Fala do primeiro-ministro. No Japão, O imperador realiza um discurso na abertura da Dieta; ele não se refere a nenhuma política do governo, deixando ao primeiro-ministro as questões políticas. Na Tailândia, o Rei realiza um discurso no Ananta Samakhom Throne Hall, aconselhando a Assembléia Nacional em seus trabalhos.

Várias repúblicas também realizam anualmente um discurso em que o presidente abre a sessão legislativa, como nos Estados Unidos. No Brasil é realizado um discurso do presidente para os congressistas no inicio de seu mandato.

FONTES:

  1. McLaren, Walter Wallace. A Political History of Japan During the Meiji Era, 1867-1912. [S.l.]: Read Books. p. 361;
  2. Parlamento do Reino Unido. About Parliament > How Parliament works > Parliamentary occasions > State Opening of Parliament Queen's Printer. Visitado em 13 de setembro de 2010;
  3. Riksdag. Programme for the opening of the 2007/08 Riksdag session Hedman, Karin;
  4. Série 'Falas do Trono', do Senado Federal brasileiro.

AS ARTES NO IMPÉRIO

A primeira missa no Brasil (1861), de Victor Meirelles (1832-1903). 
Museu Nacional de Belas Artes.

Segundo o historiador Ronald Raminelli, as "artes visuais passaram por grandes inovações no império, em comparação com o período colonial." Com a independência em 1822, a pintura, a escultura e a arquitetura foram influenciadas por símbolos nacionais e da monarquia, já que ambos ultrapassaram os temas religiosos em importância. O antigo estilo barroco anteriormente dominante foi substituído pelo neoclassicismo. Novos desenvolvimentos apareceram, como o uso do ferro na arquitetura e o aparecimento da litografia e da fotografia, o que revitalizou as artes visuais.

A criação da Academia Imperial de Belas Artes pelo governo em 1820 desempenhou um papel fundamental na influência e na expansão das artes visuais no Brasil, principalmente, ao educar gerações de artistas, mas também por servir como uma orientação estilística. As origens da Academia de Belas Artes estão na fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 1816, pelo português D. João VI. Seus membros — dos quais o mais famoso foi Jean-Baptiste Debret — eram emigrantes franceses que trabalhavam como pintores, escultores, músicos e engenheiros. O principal objetivo da escola era incentivar a estética francesa e o estilo neoclássico para que substituíssem o estilo barroco predominante. Atormentada pela falta de recursos desde a sua criação, a escola foi mais tarde renomeada "Academia de Belas Artes" em 1820 e, em 1824, recebeu o nome definitivo sob o império: Academia Imperial das Belas Artes.

Foi só depois da maioridade de Pedro II, em 1840, no entanto, que a Academia se tornou uma potência, parte do grande esquema de fomentar uma cultura nacional e, consequentemente, unir todos os brasileiros em um sentido comum de nacionalidade. Pedro II iria patrocinar o cultura brasileira através de diversas instituições públicas financiadas pelo governo (não restritas à Academia de Belas Artes), tais como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e Academia Imperial de Música e Ópera Nacional. Esse patrocínio estatal abriria o caminho não apenas para as carreiras dos artistas, mas também para aqueles envolvidos em outros campos, incluindo historiadores como Francisco Adolfo de Varnhagen, e músicos, como o compositor operístico Antônio Carlos Gomes. 

Na década de 1840, o romantismo tinha largamente suplantado o neoclassicismo, não só na pintura, mas também na escultura e na arquitetura. A Academia não resumia seu papel em simplesmente fornecer educação: prêmios, medalhas, bolsas de estudo em países estrangeiros, fundos eram usados ​​como incentivos culturais. Alguns dos seus funcionários e alunos foram alguns dos mais renomados artistas brasileiros, como Simplício Rodrigues de Sá, Félix Taunay, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Pedro Américo, Victor Meirelles, Rodolfo Amoedo, Almeida Júnior, Rodolfo Bernardelli e João Zeferino da Costa. 

Na década de 1880, depois de ter sido considerado como o estilo oficial da Academia, o romantismo diminuiu e outros estilos foram explorados por uma nova geração de artistas. Entre os novos gêneros estavam a pintura de paisagem, cujos mais famosos expoentes eram Georg Grimm, Giovanni Battista Castagneto, França Júnior e Antônio Parreiras. Outro estilo que ganhou popularidade nos campos da pintura e da arquitetura foi o ecletismo.

O Grito do Ipiranga (1888), Pedro Américo (1843-1905). 
Museu Paulista

FONTES:
  • Schwarcz, Lilia Moritz. In: Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos (em português). 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998;
  • Vainfas, Ronaldo. In: Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial (em português). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO


Após a Independência, a educação, anteriormente concebida como um dever do súdito, passou a ser compreendida como um direito do cidadão e um dever do Estado. Desde então, Tornava-se necessário dotar o país com um sistema escolar de ensino que correspondesse satisfatoriamente às exigências da nova ordem política, habilitando o povo para o exercício do voto, para o cumprimento dos mandatos eleitorais, enfim, para assumir plenamente as responsabilidades que o novo regime lhe atribuía. Esta aspiração, conquistou os espíritos esclarecidos e converteu-se na motivação principal dos grandes projetos de reforma do ensino no decorrer do Império.

A Assembleia Constituinte e Legislativa, reunida  em 1823, cuidou da instrução pública. Na Fala do Trono, em três de maio, o Imperador D. Pedro I declarou:

Tenho promovido os estudos públicos quanto é possível, porém, necessita-se para isto de uma legislação particular. Todas estas coisas devem merecer-vos suma consideração”.

Encarregada da elaboração dessa “legislação particular”, a Comissão da Assembleia apresentou dois projetos de lei: Tratado de Educação para Mocidade Brasileira e Criação de Universidades. Muito se discutiu sobre o número de Universidades, e também, sobre a respectiva localização. Finalmente aprovado, o projeto determinava a criação de duas Universidades, uma na cidade de São Paulo e outra na cidade de Olinda; de imediato, porém, haveria apenas dois cursos jurídicos. Educação como dever do Estado e graduação do processo educativo eram as ideias principais desse documento.
Por sua vez, a Comissão Constituinte, no tratamento da educação como matéria constitucional, acatou a ideia de um sistema de ensino para o Brasil, já defendida por José Bonifácio. Propunha-se, então, em âmbito nacional, uma organização sistemática de educação, desde as escolas de primeiras letras às universidades. Assim, a primeiro de setembro de 1823, a Comissão Constituinte apresentou à Assembleia o projeto de Constituição que, prevendo a difusão da instrução pública de todos os níveis, no Art. 250 dispunha:

Haverá no Império escolas primárias em cada termo, ginásio em cada comarca e universidades nos mais apropriados locais”.

O Art. 252 instituía, a liberdade de ensino, consignada nestes termos:

É livre a cada cidadão abrir aulas para o ensino público, contanto que responda pelos abusos”.

O regime constitucional efetivado na Carta de 1824 representou, inegavelmente, uma conquista. O poder moderador confiado ao Soberano. A ideia da educação como um direito do cidadão e como um dever do Estado saiu vitoriosa. Referente aos direitos e garantias civis, o Art. 179 postulava que a instrução primária fosse gratuita para todos os cidadãos, e que em colégios e universidades se ensinassem os elementos das ciências, belas-artes e letras.

O estado da educação popular pouco se alterou entre 1823 e 1826. Ainda em 1826, na tentativa de realizar algo mais amplo do que o previsto na Carta de 1824, a Comissão de Instrução Pública da Assembleia Legislativa cuidou da elaboração de um plano integral de ensino público. Esse plano abrangia todos os graus escolares e todos os aspectos de sua organização e administração. Nesse projeto de 1826, a educação nacional seria estruturada como um conjunto articulado de escolas, envolvendo estes quatro graus: pedagogias, liceus, ginásios e academias, sendo que o ensino dos liceus poderia, em vez de se articular com o dos ginásios, ser apenas prolongado em escolas subsidiárias. O ensino no 1º grau (pedagogias) compreenderia os conhecimentos necessários a todos, qualquer que fosse o seu estado ou profissão: arte de escrever e de ler, princípios fundamentais de aritmética, conhecimentos morais, físicos e econômicos. As meninas seriam igualmente admitidas nas escolas de 1º grau e a sua instrução seria a mesma e simultânea. Em 1827, um outro projeto deu origem à Lei de 15 de outubro, a seguir especificada. Também em 1827, por Lei de 11 de agosto, foram criados os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda.

A prescrição de gratuidade do ensino primário provocava a maior admiração dos estrangeiros que nos visitavam. A Lei de 15 de outubro de 1827, no que dizia respeito ao 1º grau de instrução. Determinava essa lei que: em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos deveriam existir, desde que necessárias, escolas de primeiras letras; além das escolas para meninos, deveriam existir também escolas para meninas; os professores fossem vitalícios, ingressando no magistério por concurso público. Prometida pelo governo a todos os cidadãos, a escola elementar teria este currículo: escrever, ler e contar (quatro operações, decimais e proporções), geometria prática, gramática da língua nacional, moral e doutrina da Religião Católica. Como livros de leitura teriam preferência a Constituição do Império e a História do Brasil. O ensino mútuo ou método lancasteriano surgiu no Brasil, desde 1820, e já se tomava providência a respeito de sua aplicação dadas as vantagens que poderia trazer para a rápida e pouco onerosa difusão do ensino. O método foi incorporado a um sistema racionalizado de organização da escola, envolvendo técnicas didáticas, arranjo de sala de aula com dimensões adequadas para cem ou mais alunos, uso de materiais de ensino apropriados e graduação cuidadosa de conteúdos a serem aprendidos.


Algumas escolas primárias e médias de iniciativa eclesiástica e os seminários episcopais, procedentes da primeira fase do período colonial, mais as escolas menores e as aulas régias originárias da reforma pombalina, e as recentes criações de D. João VI, compunham, quanto ao ensino militar e civil, profissional e artístico, o quadro geral da instrução pública no início do Império. Da Independência, em 1822, à reforma constitucional de 1834, esse quadro escolar foi enriquecido com a criação dos cursos jurídicos e com a estruturação dos cursos médico-cirúrgicos da Bahia e do Rio de Janeiro em Faculdades. Quanto aos estudos primários e médios, abriram-se escolas de primeiras letras. A Lei de 11 de novembro de 1831 havia determinado a criação de cadeiras de ensino secundário na capital e na vila mais populosa das comarcas das províncias do Brasil. O Seminário de Olinda foi transformado em Colégio Preparatório das Artes do curso jurídico.

O Ato Adicional à Constituição do Império, de 12 de agosto de 1834, foi o acontecimento que determinou efeitos mais duradouros e amplos na política educacional brasileira. Pela estrutura unitária do regime político-administrativo, segundo o Art. 15, n. 8, da Carta de 1824, cabia à Assembleia Geral

“[...] fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las”, sem qualquer restrição. Os Conselhos Provinciais só podiam formular projetos de lei que eram remetidos ao exame da Assembleia Geral. Desse modo, quanto à legislação do ensino, não havia nenhuma divisão de competências entre o governo do Império e os poderes regionais. Como resultado da vitória das tendências descentralizadoras, o Ato Adicional, reformando a Constituição, transformou os Conselhos em Assembleias Legislativas Provinciais, cujas decisões teriam força de lei, se sancionadas pelo Presidente das Províncias. O Art. 10 estabelecia os casos de competência das Assembleias Provinciais para legislar. No intuito de aliar o concurso mais direto das províncias à atuação dos poderes gerais no cumprimento da missão de instruir o povo e, assim, afastar as dificuldades que a centralização opunha à expansão do ensino nas províncias, o Ato Adicional, pelo § 2º do Art. 10, conferiu às Assembleias Legislativas provinciais o direito de legislar “[...] sobre instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê-la”. 

Assim, por esse dispositivo descentralizador (§ 2º, Art.10), ficava instituída a competência concorrente dos poderes gerais e provinciais no campo da instrução pública, o que vinha possibilitar a criação de sistemas paralelos de ensino em cada província: o geral e o local.

Quanto ao ensino público secundário, o poder central supervisionaria diretamente as aulas avulsas da Corte, o Colégio de Pedro II, as aulas preparatórias anexas aos cursos jurídicos de São Paulo e Olinda e, até certo ponto, o ensino ministrado nos seminários episcopais. Tendo o monopólio do ensino superior, o poder central exerceria indiretamente o controle do ensino secundário de todo o Império, por meio dos chamados  “exames de preparatórios”. Tais exames habilitavam para a matrícula nos cursos superiores aqueles que não cursavam o Colégio Pedro II. A partir do Ato Adicional, o panorama de educação secundária começou a modificar-se, surgindo os primeiros liceus provinciais graças à reunião de disciplinas avulsas existentes nas capitais das províncias: o Ateneu do Rio Grande do Norte, em 1835, o Liceu da Bahia e o da Paraíba em 1836. Outros liceus provinciais foram se instalando. A exemplo dos colégios franceses, o Regulamento, de 31 de janeiro de 1838, introduziu os estudos simultâneos e seriados no Colégio Pedro II, organizados em um curso regular de seis a oito anos de duração. O currículo do novo colégio compunha-se de: línguas latina, francesa, grega e inglesa, a gramática nacional e a retórica, a geografia e a história, as ciências naturais, as matemáticas, a música vocal e o desenho. O governo central propunha o Colégio de Pedro II como estabelecimento-modelo dos estudos secundários, tendo em vista nortear a iniciativa provincial que, pelo Ato Adicional de 1834, ficara com a mais completa autonomia administrativa e didática no campo do ensino primário e médio.

Na década de 1850, na opinião de muitos, a unidade nacional estava a exigir a uniformização do ensino em todo o país. A ação reformadora atingiu as Faculdades de Medicina e os cursos jurídicos, que passaram a se denominar Faculdades de Direito. O regulamento de Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, entre outras importantes providências, criou a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, órgão ligado ao Ministério do Império e destinado a fiscalizar e orientar o ensino público e particular dos níveis primário e médio, e estruturou em dois níveis – o elementar e o superior – a instrução primária gratuita. Além disso, previu um sistema de preparação do professor primário e estabeleceu normas para o exercício da liberdade de ensinar. De aplicação restrita ao Município da Corte, o Decreto 1.331A de 1854 teve uma repercussão nacional. Atendendo ao desejo expresso do governo, então vivamente empenhado em promover a uniformização do ensino em todo o Império, procuraram os presidentes de províncias, delegados do poder central, voltar as atenções das assembleias locais para as reformas realizadas na Corte. Graças a tais esforços, as principais medidas propostas pela reforma Couto Ferraz reproduziram-se na legislação de quase todas as províncias no decorrer dos anos 1850 e 1860.

A administração geral do ensino primário e secundário na Corte, de acordo com o regulamento de 1854, seria regida por um Inspetor Geral, com a colaboração do Conselho Diretor, composto de sete membros e de Delegados de distrito. Medidas rigorosas foram estabelecidas para o exercício do magistério público e particular. O ensino particular só poderia exercer-se com prévia autorização do Inspetor Geral, e com relatórios trimestrais dos estabelecimentos aos respectivos Delegados. Os diretores e professores dos estabelecimentos particulares ficariam igualmente obrigados a habilitar-se perante a Inspetoria da Instrução Pública, mediante a apresentação de provas de capacidade profissional e de moralidade. Pelo Regulamento de 1854, o ensino primário na Corte seria obrigatório. Nas escolas do 1º grau, de instrução elementar, o currículo compreenderia: instrução moral e religiosa, leitura e escrita, noções essenciais da geometria, princípios elementares da aritmética, sistema de pesos e medidas do município. Nas escolas do 2º grau, de instrução superior, o currículo abrangeria também: desenvolvimento da aritmética em suas aplicações práticas, leitura explicada dos Evangelhos e notícia de História Sagrada, os princípios das Ciências Físicas e da História Natural aplicáveis aos usos da vida, geometria elementar, agrimensura, desenho linear, noções de música e exercícios de canto, ginástica, e estudo mais desenvolvido do sistema de pesos e medidas.

Escola Polytécnica

Pelo Regulamento 1.331A de 1854, Couto Ferraz tentou ampliar a função dos estudos secundários, colocando-os na base de especializações técnicas. O curso do Colégio de Pedro II ficaria dividido em estudos de 1ª e 2ª classes: os primeiros forneceriam a cultura geral básica para as especializações técnicas, articulando-se com os cursos do Instituto Comercial e da Academia de Belas-Artes; os segundos, montados sobre os anteriores, preparariam para o ingresso nos cursos superiores. Inspirada no modelo prussiano das Realschulen. Em 1882, Rui Barbosa retomaria essa medida, propondo para o Colégio de Pedro II, ao lado do curso de ciências e letras, a instalação de seis cursos técnicos de nível médio – finanças, comércio, agrimensura e direção de trabalhos agrícolas, maquinistas, industrial, e de relojoaria e instrumentos de precisão, sobrepostos a uma escola primária média.

Ministro do Império, Carlos Leôncio de Carvalho, professor da Faculdade de Direito de São Paulo, com suas reformas de 1878 e 1879, não só modificou o ensino primário e secundário da Corte, mas, ainda, estabeleceu normas para o ensino secundário e superior, em todo o país. O Decreto, de 20 de abril de 1878, alterou a estrutura curricular do Colégio de Pedro II, introduziu a frequência livre e os exames vagos de preparatórios aos cursos superiores e, também, isentou os alunos acatólicos do estudo da religião, modificando o juramento exigido para a concessão do bacharelado em letras, a fim de torná-lo acessível aos bacharelandos acatólicos. O Decreto, de 19 de abril de 1879, instituiu a mais ampla liberdade para abrir escolas e cursos de todos os tipos e níveis. Qualquer cidadão, nacional ou estrangeiro, poderia lecionar o que quisesse.

Com referência ao curso superior, como princípio vital da reforma, vingou o “ensino livre”. Como a matrícula era facultativa, poderiam ser admitidos a exame todos aqueles que o requeressem. De acordo com o seu Art. 20, §6, não seriam marcadas faltas aos alunos, nem eles seriam chamados a lições e sabatinas. De acordo com o Decreto de 1879, o ensino primário na cidade do Rio de Janeiro, município neutro, abrangeria escolas primárias de primeiro e segundo graus. Com a duração de seis anos, de frequência obrigatória para meninos e meninas dos sete aos quatorze anos, as escolas do primeiro grau introduziriam em seu currículo “noções de coisas” e, também, ginástica. A instrução religiosa seria facultativa. Com professores particulares contratados, haveria ensino primário ambulante. Com a duração de dois anos, as escolas do segundo grau dariam continuidade às disciplinas do primeiro grau, introduzindo, além de outros conteúdos, noções gerais dos deveres do homem e do cidadão, noções de lavoura e horticultura, noções de economia social e de economia doméstica (meninas) e prática manual de ofícios (meninos).

Ao Parlamento brasileiro, Rui Barbosa apresentou dois Pareceres em 1882: um sobre a reforma do ensino secundário e superior e outro sobre o ensino primário. Este foi publicado apenas em 1883. Os Pareceres foram elaborados para servirem de subsídio à discussão do projeto de Reforma do Ensino Primário e Secundário do Município da Corte e Superior em todo o Império, em substituição à reforma instituída por Leôncio de Carvalho, em 1879. Esses Pareceres podem ser considerados um projeto de reforma global da educação brasileira. Como um verdadeiro tratado, compreendeu praticamente todos os aspectos da educação: filosofia, política, administração, didática, psicologia, educação comparada. Rui Barbosa fundamentou seu trabalho na análise quase exaustiva das deficiências do ensino no país e, também, no estudo da história das teorias e práticas educacionais das nações mais adiantadas, e ainda, nas contribuições teóricas dos mais eminentes educadores da época. Influenciado pelas ideias correntes no século XIX, que atribuíam fundamental importância à educação dentro da sociedade, Rui Barbosa preconizou a reforma social pela reforma da educação. Acreditava no poder da educação como meio para promover o progresso do homem e do país.

A escola popular, compreendida como instrumento de modernização por excelência, foi elevada à condição de redentora da nação. A favor de um ensino primário obrigatório, dos sete aos catorze anos, gratuito e laico, Rui Barbosa apregoava a substituição da escola de primeiras letras, pela escola primária moderna, com um ensino renovado e um programa enciclopédico, voltada para o progresso do país. A reforma do ensino primário deveria fundar, assim, uma nova realidade educacional. Com oito anos de duração, a nova escola primária ficaria dividida em três graus: o elementar e o médio, cada um com dois anos, e o superior com quatro. O dia escolar teria duração de aproximadamente seis horas, das quais eram destinadas cerca de quatro horas e trinta minutos para atividades de classe, se aí fossem incluídos os exercícios ginásticos.O elemento mais importante de toda a reforma era o método intuitivo, conhecido também como lições de coisas. Baseava-se num tratamento indutivo pelo qual o ensino deveria ir do particular para o geral, do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato. Tomar as lições de coisas como disciplina foi um equívoco da Reforma Leôncio de Carvalho. Trata-se, na concepção de Rui Barbosa, de um método intuitivo a atravessar todos os programas de ensino.

A reorganização do programa escolar seria uma decorrência imperiosa da adoção do método intuitivo. De acordo com as ideias predominantes na época, a ampliação do programa escolar teria como princípio a educação integral: educação física, intelectual e moral. Indissociáveis corpo e espírito, a educação integral deveria seguir as leis da natureza e a ciência seria o melhor meio para a disciplina intelectual e moral. Essa concepção de educação integral tornou-se a referência pedagógica norteadora da seleção dos conteúdos para a escola primária. Fundamentada em justificativas filosóficas e pedagógicas, a educação integral, acenando com uma nova cultura escolar para o povo, ampararia projeto de fundo político e social. Na organização do ensino primário brasileiro, em vários Estados.

Colégio Pedro II e Igreja de São Joaquim (1856). 
O templo foi demolido na reforma de Pereira Passos (1904)

As duas últimas décadas do Império constituíram um período de grande efervescência de ideias, de difusão de filosofias cientificistas e, sobretudo, de valorização da educação. Entre 1873 e 1888, realizaram-se no Rio de Janeiro as Conferências Pedagógicas, de iniciativa do Senador Manuel Francisco Correia. Até 1888, registraram-se um total de 50 conferências. As teses sobre ensino primário, propostas recebidas pela Comissão do Congresso, referiam-se a temas como: classificação das escolas primárias, medidas de inspeção, disciplinas a serem ensinadas, método e programas de ensino, liberdade de ensino, coeducação, obrigatoriedade do ensino primário, educação de adultos, educação de cegos e surdos-mudos, ensino primário nos municípios rurais. Houve oportunidade de pareceres sobre Jardim da Infância. Conferências efetuadas nesse evento foram publicadas em 1884.

O ensino secundário particular, no Brasil, atingiu seu apogeu nos anos de 1860 a 1890,
multiplicando-se pelo país escolas privadas elementares, profissionais e, sobretudo, secundárias. Além dos estabelecimentos com fins comerciais, muitas foram as iniciativas de associações beneficentes ou de entidades e cidadãos desinteressados que, gratuitamente, ofereciam ensino primário e secundário.

Os jesuítas, de volta ao Brasil em 1842, abriram colégios em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, de 1845 a 1886. O Colégio S. Luís era, de início, um internato, fundado em 1867, na cidade de Itú, pelo Pe José de Campos Lara. Nesse município, prosperou até 1917, data em que foi transferido para a capital de São Paulo. Chegaram ao Brasil, em 1883, os salesianos, de D. Bosco, desenvolvendo atividades fecundas no âmbito da educação secundária e técnico-profissional. Como educadores laicos, cujos colégios ganharam grande projeção, distinguiram-se: Abílio Cesar Borges, Barão de Macaúbas, Joaquim José Meneses de Vieira, João Pedro de Aquino, João Estanislau da Silva Lisboa e Ernesto Carneiro Ribeiro. A Escola Primária Neutralidade, para crianças de sete a quatorze anos, consagrou o ensino laico, de caráter enciclopédico.

Com João Alfredo, Ministro do Império, em 1874, a Escola Central do Rio de Janeiro transformou-se em Escola Politécnica. E, em 1875, foi criada a escola de Minas de Ouro Preto. Como última criação da Monarquia, em 1889, inaugurou-se o Colégio Militar. Em 1876, ao todo, 102 alunos receberam o grau de doutor; 78, o grau de bacharel; 58, o diploma de engenheiro. Constituindo o centro mais importante da vida profissional e intelectual da nação, o conjunto de escolas superiores no Império preparou toda uma elite de médicos, bacharéis e engenheiros. Na Fala do Trono de três de maio de 1889, na sessão solene de abertura da última sessão do Parlamento do Império, concentraram-se as aspirações em matéria educacional. Na oportunidade, o Imperador D. Pedro II, sugeriu a criação de um Ministério da Instrução Pública, a fundação de escolas técnicas, a instituição de duas universidades, bem como de faculdades de ciências e letras, em algumas províncias, e vinculadas ao sistema universitário.

O Imperador Dom Pedro II do Brasil aos 46 anos de idade
 e vestido com a Regalia Imperial do Brasil durante a Fala do trono, em 1872

Ainda resta a velha história que no Império não havia universidades, coisa que realmente era um (triste) fato, porém há um motivo para isso, pois no Brasil, da época do Império, havia o velho costume das famílias mais ricas de mandarem seus filhos para Universidades da Europa, Coimbra, Salamanca, Bologna, Sorbonne, Oxford, Cambrigde eram as favoritas. Como essa tradição era forte, foi objetivo do Imperador, antes de criar universidades, conseguir abolir o analfabetismo e conseguir instruir toda a população para que, assim, no futuro conseguisse "ter motivo" para incentivar as primeiras universidades.

Com o pronunciamento de D. Pedro II, em 1889, fechava-se o círculo das aspirações educacionais, inaugurado por D. Pedro I em 1823. Com efeito, completava-se a fase nacional da História da Educação Pública no Brasil, abrindo caminho ao período republicano que se caracterizaria pelos seguintes traços:

  1. regime de separação do Estado e igreja;
  2. laicismo e neutralismo escolar em matéria confessional: um passo adiante na senda da secularização do ensino;
  3. vitória do ensino livre e esforços posteriores no sentido da organização de um sistema escolar nacional

O Império tinha a tarefa de estruturar em bases democráticas a escola pública, de estabelecer a escola primária como escola comum, aberta a todos, e de transformar a escola secundária, de escola de elite e preparatória ao ensino superior, em escola formativa, articulada à primária.

Texto adaptado por: Junior Mattos
Sugestão de: Jefferson Silva