segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O MARQUÊS DO MARANHÃO

Lord Thomas Cochrane. Marquês do Maranhão

Cochrane foi um famoso capitão de fragata da Marinha Real durante as Guerras Napoleônicas. Foi chamado pelos franceses de ‘lobo do mar’

Lord Thomas Cochrane, após fundar a Marinha chilena e garantir a independência do país em uma audaciosa ação naval na costa do Pacífico, foi convidado por Dom Pedro I, em 1823, a comandar a nova Marinha brasileira, sob a patente de “primeiro-almirante”, recebendo duas vezes mais do que no Chile. Com o uso de subterfúgios e enganações, a sua marca registrada, ele proveu inestimável apoio naval para as vitórias brasileiras na Bahia, em Pernambuco, Pará e Maranhão. Suas ações asseguraram os sucessos brasileiros no Nordeste e no Norte, sendo nomeado marquês do Maranhão pelo imperador logo em seguida. Quando retornou a Portsmouth, em 1825, em uma fragata brasileira, deu-se a primeira saudação formal à Bandeira do Brasil em terras europeias. A fama do lorde britânico, entretanto, não é das melhores em terras brasileiras, e em especial no Maranhão.

O ex-senador José Sarney (PMDB-AP), em uma visita oficial a Londres, à época em que era presidente do Brasil, foi à Abadia de Westminster, onde Lord Cochrane está enterrado. Diz-se que o mesmo ali exclamou: “Corsário! Piso, e piso com gosto (em sua tumba)! É um sujeito o qual só merece o meu desprezo e asco”. Sarney estava, parcialmente, correto. Lord Cochrane foi um nobre escocês sem muitas posses, ávido por recompensas. Ele teria escrito ao seu irmão, em sua chegada ao Chile: “Tenho a perspectiva de fazer a maior fortuna que pode ser feita no nosso tempo, salvo a do Duque de Wellington”. Naquele tempo, ser recompensado em dinheiro era uma prática aceita pela Marinha britânica. Mas a busca por dinheiro iria manchar a reputação do lorde.

Cochrane foi um famoso capitão de fragata da Marinha Real durante as Guerras Napoleônicas. Foi chamado pelos franceses de “lobo do mar”. O seu pai foi um inventor e investidor escocês fracassado, deixando as economias da família em um estado crítico. O tio de Cochrane, capitão de fragata, auxiliou o seu ingresso na Marinha. Com as conquistas, vieram os inimigos, que as transformavam em recriminações e decepções. Eleito membro do Parlamento britânico, defendeu as suas causas radicalmente e criticou duramente a corrupção e a incompetência na Marinha. No entanto, a ele sempre faltaram tato e diplomacia.

Envolveu-se em um grande escândalo na Bolsa de Valores, em 1814. Alegou inocência, mas mesmo assim, foi preso e expulso da Marinha Real e da Ordem do Banho pelo príncipe regente. As suas campanhas no Chile e no Brasil, e depois na Grécia, renderam-lhe uma espécie de reabilitação. Cochrane só retornou à Marinha britânica em 1832, promovido ao posto de contra-almirante. A ele foi dado o comando das frotas da América do Norte e do Caribe em 1848, tendo a sua bandeira de almirante abaixada em 1851, quando tinha 75 anos.

Lord Cochrane, então conde de Dundonald, prosseguiu com as suas inovações e os seus experimentos, dentre eles a aplicação de motores a vapor para navios de combate (ele levou ao Pacífico o primeiro navio a vapor). Também buscou aplicar na Marinha britânica o uso de gás venenoso. Somente em 1857 recebeu os salários atrasados de sua campanha no Brasil — um montante de 34 mil libras. E, a apenas um dia do seu funeral, em 1860, o seu título da Ordem do Banho foi restaurado na Abadia de Westminster, sob o comando da rainha Vitória e do príncipe Albert.

O atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), pouco simpático ao clã dos Sarney, publicou recentemente no Diário Oficial maranhense um decreto removendo os nomes de todos os “políticos vivos” das instituições educacionais do estado, dos quais sete prestavam homenagem ao ex-presidente e ex-governador do estado, José Sarney. Lord Cochrane é mais lembrado hoje literariamente do que pelo seu controverso legado histórico. C. S. Forester baseou-se nas campanhas de Cochrane para algumas de suas novelas. Patrick O’Brian fez o mesmo. O filme “Mestre dos mares”, com Russell Crowe também baseia-se em Cochrane. O ex-presidente José Sarney, membro da Academia Brasileira Letras, assim como da Academia Maranhense, e romancista, entenderá a ironia.

Kenneth Maxwell é historiador

LINK ORIGINAL: oglobo.globo.com/opiniao/o-marques-do-maranhao-18695951#ixzz40xRYnjNl 

A MONÁRQUICA DRA. ALINE DE BEUVINK

"As vantagens da Monarquia Constitucional sobre a República são imensas e de diversa ordem"

- Pode especificar algumas vantagens da Monarquia sobre a República?

- As vantagens da Monarquia Constitucional sobre a República são imensas e de diversa ordem. Sintetizarei algumas que, do meu ponto de vista, sejam talvez as de maior relevância. Em primeiro lugar, a vantagem temporal: enquanto os que concorrem à Presidência da República pensam e trabalham segundo os ciclos eleitorais (de 4 ou 5 anos), tendo em vista medidas que sejam populares para lhes garantir as reeleições, os monarcas têm em consideração o futuro do país a longo prazo. Colocam os interesses do Estado acima dos seus próprios, o que não acontece na República. Nesta, demasiadas vezes precisam pagar favores aos amigos e àqueles que deram dinheiro para as campanhas, e que os ajudaram a conseguir esses lugares, aumentando a corrupção. A vantagem temporal tem em si uma outra, a da estabilidade: ter o mesmo Chefe de Estado permite uma estabilidade dentro do país, mas também fora, numa imagem de coesão e de unidade. Ora, aqui temos a terceira vantagem: a ideia de unidade da Nação.

Como o Rei está acima de qualquer partido, transmite a imagem de unidade e estabilidade do país, para além de neutralidade. É que, exactamente por haver esse distanciamento dos partidos, permite a imparcialidade no trato com os diferentes Governos, o que é infinitamente mais justo. E, claro, é indiscutivelmente mais barato! Não se gastam dinheiros públicos em eleições para a Presidência nem em reformas de ex-Presidentes. Quando as pessoas se queixam que, sob uma Monarquia, têm de sustentar uma Família Real, não se iludam. Numa República, não só têm de sustentar o Presidente e todo o seu grupo, como têm de continuar a sustentá-lo – a ele, e a todos os outros ex-Presidentes! – e às suas viúvas, bem como as despesas da sua “dignidade de ex-Chefe de Estado”. Ninguém se engane, é economicamente mais barato uma Monarquia que uma República para o erário público. Veja o caso de Portugal: compare o tamanho do meu país com o de Espanha. Compare o número populacional. Compare o número de membros da Família Real e o da Presidência Portuguesa.

- Admite-se que os Portugueses paguem as despesas de um Presidente da República que gasta o dobro da Família Real espanhola?

- Para além de ser economicamente mais barato, é também uma fonte de rendimento para o país. Quantos souvenirs se vendem com a imagem de uma Família Real e quantos com a imagem de um Presidente da República? Até o turismo da República Austríaca tira partido, e com extremo sucesso, da imagem da Imperatriz Sissi e da Família Imperial. Logo, é turisticamente mais proveitoso, também. Quanto rende para uma nação a imagem de uma Família Real? Veja o caso do Reino Unido. Há uma verdadeira máquina de turismo que permite ao Reino Unido usufruir de benefícios tirados com o merchandising feito à custa da imagem real, e isso também tem de ser contabilizado. Há a vantagem da força na representatividade do país. O rei não é ele próprio como indivíduo, ele consubstancia a história do seu reino, é quase a personificação do mesmo, pois a história da sua família confunde-se com a história da própria nação. Isso acarreta-lhe uma obrigação, talvez a mais importante de todas: a de ser o garante de valores. Como primeira família do país, a família real deve ser exemplar. As tradições e os valores são por ela unificados. Mas como são seres humanos e, daí, imperfeitos, podem cometer erros. A forma de os corrigirem serão, também, o exemplo para toda uma nação. Um mero político comete erros e, no fim do mandato, vai embora descansadamente com a sua reforma. Um rei, quando comete um erro, põe em xeque toda uma estrutura. Daí ser uma grande responsabilidade: é um trabalho de 24 horas, por 7 dias da semana, durante toda a vida. Mesmo nas férias.

- E, numa época em que se dá tanto valor a profissionais e à especialização na formação, não se vê que um rei é o profissional da representação de um Estado?

- Ele é educado para ocupar a posição de Chefe de Estado. Vive a sua vida em função dessa “profissão”. É formado, desde pequeno, nos assuntos do Estado. Não terá só a formação, mas também a experiência. E esta será, talvez, a maior de todas as vantagens da Monarquia. Quantos no mundo querem ocupar o lugar de Presidente por uma questão de prestígio e poder, e quantos o fazem porque amam verdadeiramente o país e sabem que são as pessoas indicadas para esse lugar? Por melhores que sejam as intenções de um presidente, ninguém poderá fazê-lo melhor do que um rei. Veja o caso da Bélgica. Quem é que permite manter a unidade? O rei, e não os “profissionais da política”. Quanto à questão do voto, que dizem ser a maior vantagem da República sobre a Monarquia, não se enganem. Ao contrário do que se pensa, o povo aclama o rei, ou seja, embora não votando nele, reconhece-o como seu chefe de Estado, o que lhe dá a legitimidade. É uma forma de eleição. Muitos casos há na História de revoluções populares que, não querendo um determinado representante de uma dinastia, escolheram outro. Sem voto. Eu vivo num país cujo chefe de estado foi eleito apenas por 23% da população votante. Como poderá isto ser a vontade de uma maioria?

Dra. Aline Gallasch-Hall de Beuvink, Doutorada em História, ex-Deputada da Assembleia Municipal de Lisboa pelo Partido Popular Monárquico, Presidente da Direcção da Associação de Defesa do Património de Lisboa e Membro da Comissão Política Nacional do Partido Popular Monárquico e Membro da Direcção Nacional da Causa Real. 

LINK ORIGINAL: (www.mundiario.com/) goo.gl/tU6bKE

sábado, 20 de fevereiro de 2016

SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA, PADROEIRO DO BRASIL

São Pedro de Alcântara, de nome de batismo Juan de Garabito y Vilela de Sanabria

Logo após a Independência, S.M. o Imperador Dom Pedro I entendeu que o Brasil precisava ter um Santo Padroeiro oficialmente autorizado por S.S. o Papa, embora ele, Dom Pedro I, já tivesse feito a Consagração do Brasil a Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, em sua vinda de São Paulo para o Rio, logo após o 7 de Setembro.

Assim, solicitou ao Papa que fizesse de São Pedro de Alcântara o Padroeiro do Brasil, tendo o Papa concordado.

Com o golpe de estado que resultou na proclamação da república, São Pedro de Alcântara foi discretamente esquecido, provavelmente porque seu nome lembrava o dos Imperadores e, além disso, mostrava o quanto havia de positiva ligação entre o Império e a Religião. Porém, seu nome ainda continuou, por muito anos a ser lembrado nos Missais mais tradicionais. E foi num destes Missais, mais tradicionais, que se encontra a Oração a São Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil, conforme consta no índice do Missal “Adoremus – Manual de Orações e Exercícios Piedosos” – Por Dom Frei Eduardo, O.F.M. – XX Edição Bahia – Tipografia de São Francisco – 1942.

É Padroeiro do Brasil, da Casa Imperial do Brasil, da Diocese de Coria-Cáceres, Estremadura, de Petrópolis e de San Pedro Alcántara.

 São Pedro, Sepulcro do Monastério Franciscano, 
Washington, Estados Unidos.

São Pedro de Alcântara, de nome de batismo Juan de Garabito y Vilela de Sanabria, nascido em Alcântara no ano de 1499 e falecendo em Arenas de San Pedro em 18 de outubro de 1562, foi um Frade Franciscano espanhol que fez grandes reformas na sua Ordem religiosa, a Ordem dos Capuchinhos, no Reino de Portugal.

Nasceu no seio de uma família Nobre. Estudou direito na Universidade de Salamanca, mas abandonou os estudos e tomou uma vida religiosa em 1515 no Convento de San Francisco de los Majarretes, perto de Valência de Alcântara, onde tomou o nome de frade Pedro de Alcântara. Foi ordenado em 1524, com 25 anos. Viajou até Portugal em 1539 para ajudar o seu parente Martín de Santa Maria Benavides a reformar uma das províncias Franciscanas. De 1542 a 1544, foi guardião e mestre de noviços em Palhais. Com a morte de Martín, em 1546, foi Pedro de Alcântara quem deu seguimento a seu trabalho, sendo, por isso, muito apreciado por S.M. o Rei Dom João III.

Logo estabeleceu-se na Serra da Arrábida e, aí, ajudou a fundar uma série de Mosteiros para os chamados Arrábidos (ou Capuchos, noutras zonas do país), nomeadamente o chamado Convento de Nossa Senhora da Arrábida. Escreveu toda a regra da comunidade lá perto, em Azeitão.

Em 1555, iniciou a reforma da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos mediante as regras "Alcantarinas", hoje conhecidas como de "Estrita Observância". Mais tarde, foram os Arrábidos que foram colocados no Convento de Mafra por S.M. o Rei Dom João V. Acabaram por ser expulsos de Portugal quando da implantação do liberalismo no país, sendo, então, reintegrados na Ordem de São Francisco.

Em 1557, estava no Reino de Portugal que tanto amava.


Era notável pregador e místico, amigo e confessor de Santa Teresa de Jesus a quem terá ajudado, em 1559, na tarefa de reforma da Ordem dos Carmelitas, a par de São João da Cruz. Escreveu o "Tratado da Oração e Meditação" que terá sido lido por São Francisco de Sales.

Foi beatificado em Roma pelo Papa Gregório XV em 18 de Abril, 1622, e canonizado por S.S. o Papa Clemente IX 28 de abril de 1669.

A Festa Litúrgica de São Pedro é comemorado em 18 de outubro, um dia após sua morte. Por ser a festa de São Lucas Evangelista celebrada em 18 de Outubro, o dia da festa de São Pedro foi a princípio atribuído a 19 de outubro, quando em 1670 foi incluído no calendário Católico Romano de Santos. Devido à importância supostamente limitada da festa de São Pedro em todo o mundo, essa foi removida em 1969 do Calendário Geral, deixando-a para ser incluída nos calendários locais se assim for desejado. Mas a inclusão de São Pedro de Alcântara, no Martirológio Romano como um dos Santos de 18 de outubro significa que, a ele ainda se pode ser dada as honras oficiais em toda parte e Católicos tradicionalistas ainda continuam a usar as versões anteriores a 1970 do Calendário Geral Romano, como permitido por S.S. o Papa Bento XVI em sua Carta Apostólica Summorum Pontificum (que estabelece os livros litúrgicos de 1962 como uma forma extraordinária do Rito Romano).

São Pedro de Alcântara é o Padroeiro da Adoração do Santíssimo Sacramento Noturna. Em 1826, foi nomeado Padroeiro do Brasil, a pedido do Imperador Dom Pedro I, e em 1962 (o quarto centenário da sua morte), da região espanhola de Extremadura. Ele também é venerado como Padroeiro de várias paróquias nos Estados Unidos e Filipinas. A cidade de São Pedro de Alcántara, na província de Málaga foi assim nomeada em homenagem a ele.

SALVE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA, PADROEIRO DO BRASIL!
DEUS SALVE O BRASIL!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O CASAMENTO REAL DO ANO

A Princesa Alix e o Conde Guillaume

Como anunciado na última sexta-feira, dia 12, a Princesa Alix de Ligne está noiva do Conde Guillaume de Dampierre. Sua Alteza é sobrinha do Príncipe Dom Luiz, Chefe da Casa Imperial do Brasil, e ocupa o nono lugar na Linha de Sucessão ao Trono e à Coroa do Brasil.

Tamanho é o prestígio dessa união, que a revista francesa “Point de Vue”, especializada em realeza e nobreza, em sua edição mais recente, traz uma cobertura do noivado. Na capa, com uma bela foto dos noivos, vem escrito: “Alix de Ligne et Guillaume de Dampierre – Le Marriage Royal de l’année” (Alix de Ligne e Guillaume de Dampierre – O casamento real do ano).

A edição traz uma entrevista com o casal, que pretendemos publicar, traduzida, assim que for possível. Por ora, segue um resumo:

“A Princesa Alix e o Conde Guillaume se conheceram em uma festa de boas-vindas oferecida ao Conde, em seu retorno após uma volta ao mundo de motocicleta, da qual Sua Excelência participou para angariar fundos para caridade.

Após estudar Administração na Escola de Negócios de Solvay (Bélgica), a Princesa Alix, apaixonada por pedras preciosas, estudou produção de jóias nos Países Baixos, França e Nova York. Atualmente, Sua Alteza trabalha para a renomada joalheria H.Stern, no Rio de Janeiro.

O Conde Guillaume é filho do fundador da Champagne Comte de Dampierre. Sua Excelência estudou Engenharia Mecânica na Alemanha e fez mestrado em Administração na ESPC Europe.

A Princesa Alix fala japonês, após apenas seis meses vivendo em Tóquio, enquanto o Conde Guillaume está aprendendo o português sem grandes dificuldades.

Sua Excelência foi à Bélgica no inverno passado, para pedir a mão da Princesa Alix a seu pai, o Príncipe Michel, 14º Príncipe de Ligne.

O casamento será celebrado entre os meses de junho e julho, verão europeu, na Igreja de St. Pierre de Beloeil, com a recepção oferecida no Castelo de Beloeil, propriedade ancestral da Casa Principesca de Ligne, na Província de Hainaut, na Bélgica. A Princesa Alix usará um vestido desenhado por Gerald Watelet, famoso estilista belga.

Após o casamento, o casal pretende continuar vivendo no Rio de Janeiro, no bairro do Leblon.”

TEXTO: CAUSA IMPERIAL


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O QUE FOI DE VERDADE A NOSSA MONARQUIA? OU: A REPÚBLICA DEU MESMO CERTO?



por RAFAEL HOLLANDA

Completaram-se 126 anos do golpe militar dado por setores positivistas das Forças Armadas que, contrariamente à vontade popular, instaurou a forma de governo republicana no nosso país, transformando a única democracia que existia na América do Sul em um estado policial onde os primeiros atos do novo governo foram:

1 – dissolver todos os partidos políticos existentes no país;

2 – colocar em um navio a família imperial e proibí-la em caráter vitalício de voltar à sua terra natal;

3 – fechar a Assembleia Geral, a Suprema Corte de Justiça e substituir suas funções por comitês das Forças Armadas e pelo ministério recém-nomeado;

4 – reprimir qualquer manifestação a favor da família real;

5 – ameaçar com prisão os donos dos jornais que se posicionassem contrários ao movimento.

A falta de noção, de compreensão dos valores nacionais do Brasil e de patriotismo imperavam na cabeça dos oficiais das armas que proclamaram a República naquele tempo. Deodoro da Fonseca chefiou o movimento por conta de uma razão passional, visto que ele perdeu para o então Senador gaúcho, Silveira Martins, o coração da Baronesa de Triunfo, uma bela fazendeira da região, enquanto era Presidente da Província do Rio Grande do Sul. Silveira Martins seria o escolhido naquela primavera de 1889 por D.Pedro II para suceder o Visconde de Ouro Preto no cargo de Primeiro-Ministro, o que enfureceu Deodoro e o fez juntar todas as suas forças, mesmo doente, para chefiar o movimento. Podemos dizer, em outras palavras, que um “rabo de saia” foi a principal motivação para que a República fosse proclamada no Brasil.

Se, como disse Aristides Lobo, “os brasileiros não compreenderam e assistiram bestializados À Proclamação da República, pensando que era uma parada militar”, mal compreenderiam a ideologia por trás do movimento republicano, baseado em uma estranhíssima filosofia que misturava traços de ciência política com racionalismo científico e teologia: o Positivismo.

Conhecida como “Religião da Humanidade”, pelo seu lema “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” e querida nas nossas forças armadas da época por justamente defender a instauração de um governo forte e centralizador para a consolidação do seu projeto, o seu fundador, Auguste Comte, era figurinha marcada nos círculos intelectuais europeus por conta da sua personalidade esquisita. Comte, assim como Deodoro, tinha a sua musa inspiradora: Clotilde de Vaux.

Nos escritos positivistas, Clotilde é colocada como a “Mãe Espiritual da Religião da Humanidade”, e o próprio Comte admitia que Clotilde era a sua principal motivação para a fundação do Positivismo e para propagar as suas ideias pelo mundo.

Com diretrizes confusas, prolixas e completamente utópicas, essa filosofia foi a escolhida para representar os anseios de um povo que, até hoje, pouquíssimo ouviu falar sobre ela e o que ela exatamente defende. O encantamento com essa utopia nas Forças Armadas era tamanho que  uma abreviação do seu lema foi colocada na bandeira republicana do Brasil: “Ordem e Progresso”, retirando a esfera armilar, a cruz e os ramos de açúcar e tabaco, que de fato representavam o Brasil e tinham um profundo significado para o seu povo. Alarmados e ao mesmo tempo achando a situação tremendamente caricata, integrantes da embaixada francesa enviaram um telegrama ao Itamaraty perguntando se os republicanos haviam declarado o Positivismo como a religião oficial do País. Ninguém entendia direito o que se passava naquela semana de Novembro de 1889.

Cabe ressaltar também que a bandeira republicana era tremendamente impopular. A grande maioria dos brasileiros achou a nova bandeira feia e sem significado exato. Alguns pensavam que o Brasil havia colocado o mundo na sua bandeira e a maioria não entendeu o lema. A bandeira só atingiu aceitação popular na Semana da Pátria de 1922, quando o povo finalmente se acostumou com ela.

Falando agora dos dados estruturais mais importantes, ao final as senhoras e os senhores poderão responder com clareza a pergunta que corresponde ao título deste artigo.

O Brasil, no Século XIX, era um dos Países mais respeitados do mundo. Tinha uma diplomacia vibrante, usada para fins nacionais e não para fins políticos. O Brasil, recém-fundado, acompanhou com cautela as disputas sangrentas entre os republicanos latino-americanos e, como manda a boa tradição conservadora, manteve prudência e continuou com a Monarquia como forma de governo, sempre buscando aprimorar suas instituições ao invés de destruí-las por interesses políticos como fizeram os nossos vizinhos.

Outro mito que é necessário desconstruir é o da questão da escravatura. Na semana do Plebiscito de 1993, o ator Milton Gonçalves, apoiador da República, foi à televisão dizer que a volta da Monarquia representaria a volta da Escravidão. Nada mais falso. A Família Imperial esteve na vanguarda na luta contra os escravocratas. D.Pedro I escreveu repetidos artigos na imprensa contra a escravidão, a Família Imperial alforriou todos os seus escravos, D.Pedro II usava o seu vencimento para comprar a libertação de escravos, além de ter enviado muitos escravos libertos para estudar no exterior e, finalmente, a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, símbolo máximo da igualdade de todos perante as leis e talvez o mais importante documento que versa sobre Direitos Humanos no País.

Enquanto isso, o Partido Republicano, que teve seus direitos amplamente assegurados durante todo o Segundo Reinado, era, em caráter majoritário, favorável à escravidão e a achava um meio interessante para impulsionar a economia.

Um partido nanico, o PR ficou famoso apenas em 1888, logo após a assinatura da Lei Áurea, quando os Senhores de Engenho, revoltados com a libertação dos escravos e por perder a sua mão de obra gratuita, fizeram um gigantesco lobby de financiamento ao Partido e a clubes republicanos e buscaram influenciar a Maçonaria, o que foi fundamental, sem dúvida, na ajuda para depor o regime que libertou os escravos do Brasil. O mais irônico de tudo é que no pouco conhecido Hino da Proclamação da República, composto pelo maestro Leopoldo Miguez,  existe um verso: “nós nem cremos que escravos outrora tenham havido em tão nobre País; hoje o rubro lampejo da aurora, acha irmãos não tiranos hostis” – o que dá a impressão de que os Republicanos foram os responsáveis por libertar os escravos e que instauraram, de imediato, uma república que livrou o Brasil de uma ditadura sanguinária. Mais falso do que isso apenas uma nota de três reais.

Vale a pena trazer à tona, a desconhecida carta da Princesa Isabel ao Visconde de Santa Victória, que tratava de um projeto conjunto do Governo de Sua Majestade com o banco do Visconde para indenizar todos os antigos escravos, fato que não ocorreu por conta da proclamação da República. A carta pode ser encontrada aqui. (OBS DA PÁGINA, ESTA CARTA, APESAR DE CONTEÚDO VERDADEIRO, É FALSA).

Outro ponto de suma importância a se tocar é o da economia. Gerida por economistas identificados com as ideias liberais, a economia do Brasil era uma das mais estáveis do mundo. O País, mesmo no período da guerra do Paraguai, não enfrentou nenhuma recessão na sua economia que tinha, naquela época, o mesmo tamanho da dos Estados Unidos. O Brasil era um exemplo de responsabilidade fiscal, tendo o Imperador D.Pedro II doado títulos da dívida brasileira. Se o Brasil tivesse mantido um crescimento vegetativo daquela época até hoje, seríamos já na segunda metade do século XX, um país de renda alta e com um elevado padrão de vida.

A inflação durante os 67 anos de Monarquia foi, em média, de 1,58% ao ano. O Brasil teve apenas 1 moeda, o Real (OBS DA PAG: o famoso RÉIS, que é Real no plural do português da época), e o salário mínimo (OBS DA PAG: MÍNIMO SALÁRIO, NÃO SALÁRIO MÍNIMO) equivalia a 22 gramas de ouro. Os monarquistas sabiam que uma moeda é parte da historia de um país e um dos símbolos da sua identidade e, por conta disso, deve ser preservada e gerida com prudência e dinamismo, o que já não ocorreu na República.

Em 126 anos, o Brasil teve 9 moedas, algumas que não duraram nem 1 ano de existência, quebrou 4 vezes, e registrou a cifra assustadora de 1.400.000.000.000% de inflação acumulada. A burocracia atingiu níveis estratosféricos, produzir se tornou um fardo, e o Brasil tem hoje a maior carga tributaria do hemisfério sul e o pior retorno de impostos do mundo. Obviamente que o sistema não era perfeito, mas funcionava perfeitamente bem dentro da medida do possível e, com toda a certeza, teria sido aperfeiçoado caso o Império fosse mantido até os dias de hoje.

Outro fator que diferenciava o Brasil dos seus vizinhos era a estabilidade política e o respeito pela democracia. O Brasil teve, durante os 67 anos de Império, dois Imperadores e 33 Primeiros-Ministros, sempre com alternância de poder entre os Partidos Liberal e Conservador. O Parlamento nunca foi fechado e funcionava a pleno vapor, com os parlamentares trabalhando de segunda a sexta e não, como é hoje na república, apenas de terça a quinta.

O calendário eleitoral era rigorosamente cumprido e o país nunca teve eleições adiadas ou antecipadas por conta de uma crise.

D.Pedro II apenas perdia para a Rainha Victoria em tempo de reinado. Enquanto isso, as Repúblicas recém-independentes que nos cercavam já tinham tido dezenas de Presidentes, Diretores-Supremos, Juntas Militares e Guerras Civis. Os parlamentos já haviam sido abertos e fechados diversas vezes, golpes de estado eram frequentes e os cofres estavam sempre vazios. O Império Brasileiro era tão democrático, estável e respeitoso para com os seus cidadãos que o Presidente da Venezuela em 1889, Rojas Paul, ao saber do Golpe de 1889, disse: “foi-se a única República do Hemisfério Sul.”

D.Pedro II nunca aumentou o seu salário, do qual usava parte, como já dissemos, para libertar escravos e financiar estudos de brasileiros no exterior. Fez apenas duas viagens ao ultramar e bancadas do seu próprio bolso, onde ficou na casa de amigos ou de hóspede em hotéis modestos, pois o respeito ao dinheiro do pagador de impostos era, como dizia o Imperador, fundamental. Em sua comitiva, ele levava somente a Imperatriz Consorte, três assessores e uma Dama de Companhia. Comparem isso com a comitiva suntuosa da Presidente Dilma em Roma que, no dia da investidura do Papa Francisco, ficou no hotel mais caro com o nosso dinheiro, gastando uma cifra absurda superior a R$ 200 mil.

Um ponto em que o Brasil podia se orgulhar era no que dizia respeito ao prestígio que o governo dava à ciência e à discussão de ideias. O Brasil foi (UM DOS) o primeiro(S) país do mundo a ter um telefone graças à amizade de D.Pedro II com Graham Bell; foi o segundo País a usar um selo postal. D.Pedro e José Bonifácio abriram centenas de Escolas Imperiais onde os alunos aprendiam música clássica, latim, francês, inglês e religião com professores que D.Pedro II trazia do estrangeiro, além do fato de que os alunos tinham de fazer, para passar de ano, uma prova oral para treinar sua capacidade de argumentação. D.Pedro II, inúmeras vezes, era o professor que arguia os alunos nestas provas orais. Os alunos mais premiados iam para o exterior estudar.

A Imprensa do Brasil era, seguramente, a mais livre do mundo. Observadores do Reino Unido e da França ficavam impressionados com o nível de liberdade de que os jornais gozavam no Brasil. Um enviado da Inglaterra uma vez comentou que se um jornal britânico tratasse a Rainha da mesma forma por que tratavam o Imperador D.Pedro II, seriam fechados imediatamente e seus donos responderiam por traição. Algo que jamais acontecia no Brasil, onde D.Pedro II, uma vez indagado sobre essa questão de deixar os jornais falarem o que bem entendessem e no teor que entendessem sobre ele, respondeu ao jornalista: “veja meu filho, imprensa é algo muito sério, é o pilar da democracia, e ela não deve ser combatida com ações estatais, deve ser combatida com mais imprensa.”

O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ter jornais e revistas de diferentes correntes politicas competindo entre si harmoniosamente e sem censura estatal. Existe uma história, também pouco conhecida, dando conta de que o dono de um jornal republicano, sem dinheiro para continuar a produção e para fazer um empréstimo em um banco, marcou uma audiência com o Imperador para pedir-lhe dinheiro. D.Pedro o recebeu, ouviu a historia e no final assinou um cheque dizendo: “tome isto e continue a publicar as suas ideias”.

Outro ponto importante a ser ressaltado era que as liberdades civis eram profundamente respeitadas: o Brasil, mesmo tendo a Religião Católica como oficial, assegurava constitucionalmente o direito de cada grupo religioso realizar seu culto, seja lá ele qual fosse. A monarquia gozava de alta popularidade entre os setores judaicos e entre os religiosos de matriz africana. Naquela época isto era uma inovação, visto que eram poucos os países no mundo que admitiam liberdade de culto.

O projeto nacional que a Monarquia traçou para o Brasil era até mesmo superior ao projeto que os pais fundadores traçaram para os Estados Unidos. José Bonifácio, o pai da nossa independência, escreveu um plano para o Imperador D.Pedro I que era da seguinte maneira: o Brasil seria uma Monarquia Constitucional Parlamentar, com um Poder Moderador exercido pelo Imperador para servir de freio e contrapeso aos outros 3 poderes, teria a mais plena liberdade econômica, religiosa e de imprensa e seria totalmente livre da escravidão assim que ficasse independente. Tal projeto só não foi aplicado em sua plenitude por conta dos Senhores de Engenho que, como classe produtiva do País, ameaçavam constantemente parar de produzir caso algo ameaçasse a eles e ao seu sistema escravista. Quando finalmente o Governo de Sua Majestade interferiu para libertar os escravos, em 1888, a elite se uniu às Forças Armadas e derrubou o Império.

A Constituição de 1824, inspirada pela Constituição Francesa de 1814, trazia a inovadora figura do Poder Moderador, a partir da qual o Imperador, acima de qualquer querela partidária, interesses financeiros ou parlamentares, servia como um agente neutro de equilíbrio entre os poderes. Era função do Imperador nomear, por exemplo, os Ministros da Suprema Corte e sancionar ou vetar a indicação do Primeiro-Ministro.

Como nós vimos, a República faz-de-conta, imbuída de uma crença que o povo pouco conhecia e financiada pelo que havia de pior na época do Brasil, destruiu um país que tinha um presente em progresso e um futuro promissor, destruiu o 14º maior império do mundo e a única democracia no hemisfério sul, em favor de um regime que nos deu 6 constituições, 3 ditaduras, 9 moedas. Éramos reconhecidos no mundo inteiro pela nossa Cristandade, o apego que o nosso governo tinha pela ciência, pela nossa estabilidade e pela sabedoria do nosso Imperador; hoje somos reconhecidos internacionalmente por dois fatores montados artificialmente pelo governo Vargas: o futebol e o carnaval ( ler o livro de Leandro Narloch, Guia politicamente incorreto da historia do Brasil).

A República pariu o populismo, pariu Getúlio Vargas e o seu fascismo, os regimes socialistas de João Goulart, Lula e Dilma, os generais de 1964, os “coronéis nordestinos” e tantos outros que marcam a nossa história como um exemplo de autoritarismo e uso do poder público para fins pessoais ou partidários.

O escritor Gustavo Nogy, nos brindou no dia de hoje com esse texto, na sua magistral e elegante prosa:

“Quando Dom Pedro II foi melancolicamente deposto e a república proclamada, o que se viu não foi apenas, ou principalmente, a troca de um sistema de governo por outro. Sistemas e regimes vêm e vão ao sabor das intempéries políticas, isso nunca foi propriamente novidade. Alguma coisa mais importante se perdeu.

O que se seguiu ao fim da monarquia foi uma sucessão de golpes e contragolpes, de revoluções e reacionarismos, da ascensão vertiginosa de oportunistas famintos de poder e, a depender das necessidades, de sangue, suor e lágrimas. A Constituição de 88, muito naturalmente, culminou no irônico coroamento dessa história fraturada: teríamos então um diploma para registrar todas as virtudes que já não conhecíamos.

Mas sobretudo: o fim da monarquia representa uma cisão histórico-cultural com o que somos originariamente. Desde então estamos à procura do que não sabemos ser. Se o brasileiro cotidiano um dia encontrasse na rua outro brasileiro – autêntico, meticuloso, indesculpável brasileiro –, não seria capaz de reconhecê-lo e passaria adiante, “vagaroso, de mãos pensas”.

O irresolúvel problema da identidade brasileira começa precisamente quando rompemos com Portugal – sua literatura, sua história, seus clamorosos erros – e nos reinventamos, ex nihilo, como selvagens inclassificáveis, monstrengos civilizacionais, novidades irreconhecíveis sob a harmonia carnavalesca das esferas.”

Tendo mostrado às senhoras e aos senhores tudo isto, façam-se a seguinte pergunta: a República deu mesmo certo?

*Rafael Hollanda é estudante de direito do Ibmec-RJ.

FONTE: institutoliberal.org.br/blog/o-que-foi-de-verdade-a-nossa-monarquia-ou-a-republica-deu-mesmo-certo/

EXTINÇÃO DE SUPERSALÁRIOS RENDERIA "UMA CPMF" AOS COFRES PÚBLICOS

"No outro regime (a monarquia) o parlamento era uma fábrica de estadistas,
 já na república... o congresso é um balcão de negócios."
Ruy Barbosa, um dos pais (desiludidos) da república

Caso a lei fosse de fato cumprida a economia para os cofres públicos chegaria a quase R$ 10 bilhões por ano.

Em plena crise econômica, governos federais, estaduais e municipais gastam rotineiramente cifras absurdas com pagamento de servidores que recebem acima do teto constitucional. Estimativas feitas por fontes do Ministério da Fazenda e do Congresso apontam que caso a lei fosse de fato cumprida a economia para os cofres públicos chegaria a quase R$ 10 bilhões por ano, considerando os governos federal, estadual e municipal. A cifra é similar ao montante que o governo pretende conseguir em 2016 com a recriação da CPMF, que ainda tem uma longa batalha para ser aprovada pelo Congresso Nacional.

Cálculos do governo federal, que levam em conta apenas o montante que a União economizaria são bem menores, mesmo assim apontam para uma possível "economia" de R$ 1 bilhão anual.

Ignorando a Constituição, alguns servidores ganham acima dos R$ 33,7 mil, salário do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que serve de referência para a definição do teto. Somente no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o setor responsável pelos pagamentos confirma que ao menos cinco servidores aposentados receberam, entre janeiro e dezembro de 2015, valores líquidos superiores a R$ 100 mil.

Com o início do ano legislativo, o projeto de lei 3.123/2015, que foi enviado pelo Executivo como uma das medidas de ajuste fiscal e pretendia acabar com os supersalários de servidores do Legislativo e do Judiciário, pode perder sua função com as alterações realizadas por parlamentares. O PL, que já está na pauta do Plenário e deve ser votado após as medidas provisórias que trancam a pauta, foi alterado por deputados durante as comissões e precisará de um novo relator na próxima etapa. A intenção inicial do governo era regulamentar o artigo da Constituição sobre o teto salarial aos funcionários públicos de todos os níveis.

Na avaliação do relator da matéria na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputado Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS) o projeto seria desnecessário caso os outros poderes resolvessem cumprir o que está estabelecido na Constituição. "Essa é uma prática que foi legalizada pelo judiciário", afirmou.

Levantamentos realizados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, no Ministério Público Federal, órgão responsável pela investigação da operação Lava-Jato, que engloba a Procuradoria-Geral República, mostram que mais de 50% dos procuradores e subprocuradores recebem acima do teto constitucional. Em alguns casos, a remuneração média de um subprocurador-geral da República foi de R$ 62 mil em 2015, já considerando o 13º salário e o adicional de férias, ou seja, quase o dobro do permitido em lei.

A maior brecha usada pelos servidores para receber os supersalários é a utilização de verbas indenizatórias. Os recursos não são considerados remuneração permanente e, além não serem passíveis de Imposto de Renda e contribuição previdenciária, também não exigem uma comprovação quanto a utilização de benefícios como auxílio-moradia.

Para o advogado e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Francisco Queiroz, a situação é tão absurda que, em meio à crise e a inflação alta, "a remuneração do Supremo deixou de ser teto e passou a ser um piso, e isso precisa ser repensado".

O advogado Diego Alonso, do escritório AFC Advogados, reconhece a imoralidade da situação, mas destaca que "por se tratar de direitos e garantias constitucionais, é um grande desafio aprovar o Projeto de Lei, levando-se em consideração os princípios do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada".

Na avaliação do relator do projeto, um ponto de partida para extinguir seria, no mínimo, começar a cobrar as notas fiscais das despesas que precisam de reembolso. "É preciso separar o que é indenizatório do que é remuneratório, não pode complementar salário com indenização", disse Marchezan.

No vermelho

Nos municípios e nos Estados, o teto do funcionalismo público é balizado pelos salários de prefeitos e governadores. Na esfera judicial destes entes federativos a referência para calcular o teto é de 90,25% do salário do presidente do STF. No entanto, há assim como na União, diversos casos que extrapolam este limite.

O Rio de Janeiro, comandado por Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), é um exemplo de um Estado que poderia melhorar suas contas aplicando a Constituição. De acordo com dados abertos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, até outubro de 2014, a remuneração média dos magistrados era de R$ 40 mil, ou seja, acima dos R$ 30,4 mil que deveria ser utilizado como teto neste caso.

Com o valor que governo economizaria caso os tetos fossem respeitados, 481 juízes a mais poderiam ser adicionados ao quadro do Tribunal. Em 2010, a remuneração média dos magistrados foi de R$ 50,7 mil. Se o teto constitucional fosse respeitado, o tribunal poderia receber cerca de mil juízes a mais.

Justificativas

Em resposta, o Ministério Público Federal afirmou que despesas de caráter indenizatório não estão sujeitas ao teto constitucional. O MPF lista como possibilidade de complemento de renda: ajuda de custo para mudança e transporte, auxílio-alimentação, auxílio-moradia, diárias, auxílio-funeral, indenização de férias não utilizadas, indenização de transporte, e outras parcelas indenizatórias previstas em lei.

Além dessas exceções, benefícios de caráter permanente como planos de previdência instituídos por entidades fechadas, benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também não fazem parte da regra.

O Ministério Público Federal argumenta ainda que há auxílios de "caráter eventual ou temporário", como plano de assistência médico-social e bolsa de estudo, que não recolhem Imposto de Renda e não podem ser considerados salários.

Já o Superior Tribunal de Justiça (STJ), os valores dos cinco aposentados que ganharam R$ 100 mil por mês no ano passado são relativos a períodos de licença-prêmio e de férias não usufruídas, "que foram convertidos em dinheiro quando os servidores se aposentaram, conforme prevê a lei". "Como são verbas indenizatórias, elas não estão sujeitas ao teto remuneratório constitucional", argumenta.

Por: Agência Estado
Publicado em: 14/02/2016 09:03

FONTE:
www.diariodepernambuco.com.br/app/outros/ultimas-noticias/46,37,46,14/2016/02/14/interna_politica,626900/extincao-de-supersalarios-renderia-uma-cpmf-aos-cofres-publicos.shtml

EM RITUAL, IMPERADOR ELENCAVA PRIORIDADES DO BRASIL

S.M. o Imperador Dom Pedro II do Brasil
Durante a cerimônia da Fala do Trono

Em 2 de fevereiro, primeiro dia do ano legislativo, a presidente Dilma Rousseff cumpriu o dever imposto pela Constituição e enviou ao Congresso Nacional a mensagem presidencial. Trata-se do documento em que o governo faz um balanço do ano que se encerrou e enumera as prioridades do país para o ano que se inicia.

O ritual é mais antigo do que se imagina. Foi Dom Pedro I quem o inaugurou, quase dois séculos atrás, em 1823. O documento se chamava Fala do Trono. Hoje, o presidente da república apenas remete a mensagem ao Poder Legislativo. No período Imperial, o Monarca comparecia ao Palácio Conde dos Arcos, a sede do Senado, no Rio, e proferia a Fala do Trono (OBS da pág. muito mais representativo) numa concorrida cerimônia, deixando claro o que esperava dos senadores e deputados naquele ano.

Na abertura dos trabalhos legislativos de 1826, por exemplo, Dom Pedro I pediu:

Deve merecer-vos sumo cuidado a educação da mocidade de ambos o sexos.

O Brasil oferecia escola apenas para os meninos. A palavra do Imperador foi decisiva. No ano seguinte, o Senado e a Câmara aprovaram uma lei determinando que se instalassem “escolas de primeiras letras” para meninas nas cidades mais populosas.

Dom Pedro II herdou a tradição das Falas do Trono. Em 1853, ele apresentou outra prioridade:

Recomendo-vos a criação de um banco, solidamente constituído, que dê atividade e expansão às operações do comércio e indústria.

Naquele momento, apenas bancos privados operavam no Império. O Banco do Brasil, fundado por Dom João VI em 1808, não suportara as polpudas retiradas feitas pela corte portuguesa antes do regresso para Lisboa e acabara indo à bancarrota em 1829. Faltava um banco estatal. Passados dois meses da Fala do Trono, os senadores e deputados avalizaram a criação do segundo Banco do Brasil, o mesmo que existe até hoje.


Nos nove anos entre a abdicação de dom Pedro I e a subida de dom Pedro II, os pronunciamentos foram proferidos pelos regentes, entre eles o Padre Feijó. Nas ocasiões em que o segundo monarca esteve fora do Brasil, a missão de falar aos parlamentares coube à Princesa Dona Isabel. Os discursos invariavelmente começavam com o vocativo “augustos e digníssimos senhores representantes da Nação”.


  • Patrimônio histórico

Pouco antes da queda da Monarquia, as folhas lidas pelos Imperadores e regentes foram encadernadas num volume único. Hoje amarelada pelo tempo, a versão original do livro Falas do Trono está sob a guarda do Arquivo do Senado, em Brasília, protegida numa sala com controle de temperatura e umidade.

Em dezembro, a Unesco (braço da ONU para educação, ciência e cultura) reconheceu o valor histórico do livro "Falas do Trono" e o incluiu na lista brasileira do Programa Memória do Mundo. Só entram na lista documentos e arquivos que sejam únicos ou raros, tenham grande significado social, mereçam ser difundidos e exijam cuidados de conservação para não se perderem.

No Brasil, a Unesco também reconhece, por exemplo, o diário das viagens de Dom Pedro II, o acervo documental da Guerra do Paraguai e os arquivos de Machado de Assis.

O Programa Memória do Mundo é repetido em vários países. Na Alemanha, a Unesco tombou a Bíblia de Gutenberg. Em Portugal, a carta de Pero Vaz de Caminha narrando a descoberta do Brasil.

A leitura das falas do trono leva a uma viagem panorâmica pelas quase sete décadas do Brasil monárquico. Além das prioridades para o ano, o soberano falava da situação interna do Império e das relações com outros países. Em 1826, Dom Pedro I citou a guerra pela província Cisplatina (atual Uruguai):

A província Cisplatina é a única que não está em sossego, pois homens ingratos e que muito deviam ao Brasil contra ele se levantaram e hoje se acham apoiados pelo governo de Buenos Aires, atualmente em luta contra nós. A honra nacional exige que se sustente a província Cisplatina, pois está jurada a integridade do Império.

  • Maioridade

Em 1831, Dom Pedro I abdicou e voltou para Portugal. O príncipe Dom Pedro II, com apenas cinco anos, não poderia ser Coroado. Instalou-se, então, um governo de regentes, que conduziria o Império até a maioridade. Na primeira Fala do Trono no período, os três regentes provisórios frisaram o fato de Dom Pedro II ser brasileiro, e não português como Dom Pedro I, o que permitiria a consolidação da Independência:

Não foi só solene esse dia [o da aclamação de Pedro II]. Ele se fez também memorável pelo contentamento geral e demonstrações não equívocas do intenso amor e respeito com que o povo saúda o seu novo monarca, ainda infante, genuíno brasileiro e sagrado objeto da sua patriótica veneração.

Na década dos regentes, as falas do trono abordaram as rebeliões que incendiavam o país. A Cabanagem, no Grão-Pará, e a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, foram citadas pelo padre Feijó em 1836. De acordo com ele, “o vulcão da anarquia” ameaçava “devorar o Império”.

Do Pará, faltam notícias modernas. Por bem ou por mal, será a cidade de Belém arrancada às feras que a dominam. A sedição [insurreição] de Porto Alegre foi tão rápida que em poucos dias compreendeu a província inteira. O governo tem deixado entrever aos sediciosos que, no caso de contumácia [insistência], porá em movimento todos os recursos para sujeitá-los à obediência.

As convulsões do período acabaram forçando a antecipação da maioridade de Dom Pedro II. Apostava-se na figura do jovem monarca como capaz de pacificar o Império. Em vez dos 18 anos, assumiu o poder aos 14, em 1840. Ele fez seu primeiro pronunciamento ao senadores e deputados no final daquele ano — as falas do trono eram proferidas também no encerramento do ano legislativo.

A resolução, por vós tomada e aplaudida pelos meus fiéis súditos em todo o Império, de apressar a época de minha maioridade, confio, senhores, que produzirá os mais salutares efeitos para a causa pública — disse.

  • Escravidão
A Guerra do Paraguai foi o tema dominante nas falas do trono entre 1865 e 1870. Em 1866, Dom Pedro II comemorava o avanço das tropas aliadas sobre o solo paraguaio:

Deploro profundamente as vidas preciosas sacrificadas nesta guerra, mas é indizível meu orgulho contemplando o heroísmo que acompanha o nome brasileiro e a glória que imortaliza a memória de tantos bravos. As bandeiras aliadas já tremulam no território inimigo. Espero ver em pouco tempo terminada a guerra.

A previsão não se confirmou. A guerra ainda se arrastaria por mais quatro anos.

A gradual eliminação da escravidão, o tema mais sensível da Monarquia, apareceu em diversas falas do trono. Chama a atenção o uso dos eufemismos. Diante dos parlamentares, Dom Pedro II se referia aos negros como “elemento servil”.

O elemento servil no Império não pode deixar de merecer oportunamente a vossa consideração, provendo-se de modo que, respeitada a propriedade atual e sem abalo profundo em nossa primeira indústria, a agricultura, sejam atendidos os altos interesses que se ligam à emancipação — afirmou ele em 1867.

O excessivo cuidado com as palavras tem explicação. Os ouvintes da fala do trono — senadores, deputados, ministros e nobres — eram, em grande parte, latifundiários, a quem não interessava a “emancipação do elemento servil”. Dom Pedro II não podia atropelar a classe social que dava sustentação ao Império. Os parlamentares aprovariam a Lei do Ventre Livre só em 1871. A Lei dos Sexagenários, em 1885. A Lei Áurea, em 1888.

O termo fala do trono não é apenas metafórico. O imperador lia o discurso de um trono posicionado com destaque no Palácio Conde dos Arcos. Era uma das poucas ocasiões em que dom Pedro II se paramentava com a coroa, o cetro, o manto e a murça feita de penas de papo de tucano.

Havia todo um cerimonial. Uma delegação de senadores e deputados recepcionava o monarca na porta do palácio. A Família Imperial era acomodada num camarote à direita do trono. Ao contrário de outros rituais, como o beija-mão, que acabaram sendo abandonados com o passar das décadas, a fala do trono resistiu até o fim do Império.

De acordo com Marcos Magalhães, historiador e consultor legislativo do Senado, o ritual das falas do trono foi importante na consolidação do Brasil, recém-emancipado, como nação:

Para se consolidar, uma nação precisa ser construída também no imaginário coletivo. As imagens e os rituais, como as falas do trono, são fundamentais nesse processo.

Até mesmo episódios hoje menores da história surgiam nas falas do trono. Em 1875, dom Pedro II comentou a Revolta do Quebra-Quilos, em quatro províncias do Nordeste. O Império havia adotado o sistema métrico, mas parte da população se recusou a abandonar as incontáveis e ultrapassadas medidas usadas desde a Colônia, como a braça, a légua, o grão e a onça.

Bandos sediciosos, em geral movidos por fanatismo religioso e preconceitos contra a prática do sistema métrico, assaltaram as povoações, destruindo os arquivos de algumas repartições públicas e os padrões dos novos pesos e medidas. Felizmente, sufocou-se de pronto o movimento criminoso.

  • Liberdade de imprensa
De acordo com o historiador da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Juarez José Tuchinski dos Anjos, autor de um estudo sobre as questões educacionais nas falas do trono, o tom dos pronunciamentos deixa transparecer que os dois monarcas tinham temperamentos quase opostos:

Dom Pedro I, que conduziu a Independência e enfrentou muita oposição, tinha um espírito centralizador e autoritário. Dom Pedro II, que chegou ao poder em meio a revoltas e agitações políticas, mostrava-se apaziguador e conciliador.

Isso fica claro na reação dos imperadores às críticas. Em 1829, dom Pedro I queixou-se aos parlamentares do excesso de liberdade de imprensa no Império e pediu que se reprimissem os “abusos” dos jornais. Dom Pedro II, ao contrário, sabia conviver com a imprensa hostil. Eram frequentes nas páginas da Revista Ilustrada charges mostrando o monarca senil, desinteressado da política e manipulado por seus conselheiros. Nem sequer as falas do trono escapavam da pena zombeteira da revista.

Pelas falas do trono, percebe-se a paixão que o segundo imperador nutria pelas novidades tecnológicas. Em 1872, anunciou que seria instalado um cabo telegráfico submarino conectando o Brasil à Europa. Ele chamou o telégrafo de “tão maravilhoso instrumento da atividade do nosso século”. Em 1873, comentou a participação brasileira na exposição universal de Viena, onde o Império exibiu seus “adiantamentos” e a “riqueza do território”.

Sempre que havia notícias na Família Imperial, elas eram anunciadas nas falas do trono. Em 1826, a imperatriz Leopoldina morreu. Dom Pedro I disse que uma “dor veemente” se apoderara de seu “imperial coração”. Quatro anos depois, ele comunicaria aos parlamentares que havia acabado de se casar “com a sereníssima princesa dona Amélia”. Em 1845, nasceu o primeiro filho de dom Pedro II, dom Afonso.

Este primeiro fruto com que o céu abençoou o meu imperial tálamo [casamento], enchendo de delícias o meu coração, já como pai, já como monarca, satisfez igualmente os ardentes votos de toda a nação brasileira, que me ama e sinceramente deseja a perpetuidade da dinastia do fundador do Império.

O Príncipe, porém, morreria com apenas 2 anos de idade. Em 1847, o Imperador deu a notícia aos parlamentares afirmando que seu “paternal coração” estava “ulcerado”. No final de 1885, a Imperatriz Teresa Cristina levou um tombo e quebrou um braço. Na abertura dos trabalhos do ano seguinte, dom Pedro II avisou que ela já se achava, “felizmente, restabelecida” e agradeceu os “testemunhos de afeto”.

As referências a Deus eram constantes. Em 1850, o Imperador afirmou que uma “febre epidêmica” se espalhava pelo litoral e pediu à “Divina Misericórdia” que livrasse “para sempre do Brasil semelhante flagelo”. Em 1860, ele disse que a grave seca que castigava parte das províncias do Norte — como se chamava o Nordeste — vinha diminuindo “graças à Providência Divina”.

O historiador Mauro Henrique Miranda de Alcântara, professor do Instituto Federal de Rondônia, fez um estudo sobre as referências à escravidão nas falas do trono. De acordo com ele, ainda há nesses pronunciamentos farta e inexplorada matéria-prima à espera dos pesquisadores:

Os historiadores que se dedicam ao Império sempre recorrem às falas do trono para buscar informações sobre pontos muito específicos, como a abolição da escravidão. Por um lado, há questões recorrentes nos pronunciamentos que ainda não foram esmiuçadas, como as epidemias e as secas. Por outro lado, falta uma pesquisa mais ampla, que esquadrinhe todo o conjunto das falas do trono.

Ricardo Westin | 02/02/2015, 15h05 - ATUALIZADO EM 06/02/2015, 15h24

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

PALAVRAS DE DOM DUARTE, DUQUE DE BRAGANÇA

S.A.R. o Príncipe Dom Duarte, 
Duque de Bragança, de jure, Rei de Portugal

"Terão, porventura, concluído que o oásis de paz no mundo quase se confundem com os espaços onde vigora a monarquia.

Terão verificado que a instituição real, qualquer que seja o cenário geográfico ou o estado de desenvolvimento socioeconômico, onde existe, é por excelência um instrumento nacional de coesão e de progresso.

Terão revisto na coroa o seu próprio princípio, a instituição familiar - a todos igualmente acessível - que lhes recorda a construção do estado, a dignidade e o equilíbrio institucionais, a salvaguarda da independência e o prestígio exterior.

Terão, finalmente, reconhecido que aquela instituição familiar é, em primeiro lugar, servida pelo Príncipe.

Não será excessivo dizer-se que as pessoas reais, reinantes ou não, têm por cultura, também familiar, a defesa dos valores permanentes dos seus povos. É neste ponto que se constata a excelência do governo monárquico, pois deixa claro que não há exílio nem outra pena que demova o rei do serviço da pátria, da defesa dos seus valores permanentes, isto é, da tradição, das várias identidades (espirituais, culturais e ambientais) que constituem a identidade nacional.

Os príncipes são educados para servir!"

Dom Duarte, Duque de Bragança - 1999 - Prefácio para o livro "Reis sem Reino" de RANCINAN, Gerard


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

COMO SURGE UMA FAVELA?

COMO?

Continuam as invasões em terrenos que pertencem ao Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O último censo dos invasores apontou quase seiscentas moradias (dobrou em 20 anos). A conivência do executivo e órgão de fiscalização, a inação do judiciário e o incentivo de políticos populistas vão tornando o problema cada vez mais caótico.

No futuro teremos uma nova Rocinha no que hoje é o Jardim Botânico.

A favelização do Rio de Janeiro não é algo idílico, fruto de livres e voluntarias trocas, como muitos libertários pensam. A historia e a realidade são mais duras, tristes e cruéis do que se pode pensar em uma "torre de marfim".

A crescente favelização é fruto do populismo, de arranjos políticos escusos, de leniência do judiciário e de um grande arco de alianças espúrias.

O tecido urbano favelizado interessa primordialmente aos políticos, pois assim criam currais eleitorais e áreas de influência. Essa é a razão pela qual muitos vereadores e deputados incentivam invasões.

Interessa também a a favelização um contingente de moradores que, confessadamente, preferem residir nestas áreas, pois assim se encontram desobrigados de determinados encargos típicos do asfalto (são comuns as ligações clandestinas de água e luz, inexistência de IPTU, etc...).

Neste sentido, esse mesmo contingente de moradores é beneficiário por certas políticas públicas que apenas retroalimentam o modelo urbano favelizado. É um triste jogo de conveniências.

O fenômeno da verticalização da Rocinha - com prédios de até 10 andares - exemplifica bem isso, pois não se trata de um problema de miséria, mas de "cultura da favelização".
Interessa ainda aos líderes comunitário (versão do pelego sindicalista) que se beneficia de certos "micropoderes" e favores e status na favela.

Do mesmo modo, as ONGs justificam suas existências e seus eternos "programas sociais" enquanto as favelas se perpetuarem. A razão de ser de muitas ONGs é a favelização.
A banda pobre da polícia ou os milicianos consegue seu "arreglo" de modo mais fácil em um ambiente favelizado, assim como os próprios criminosos se beneficiam da geografia estreita e sinuosa das favelas.

O judiciário é leniente em prover mandados de reintegração de posse e muitos processos se arrastam por décadas, tornando a favelização "fato consumado". Mesmo que se ganhe o mérito da causa, já não é mais possível a remoção de ninguém.
Existem ainda os problemas das áreas de proteção ambiental e das daquelas em que há perigo de deslizamento de encostas (morro do bumba, em Niterói, etc...)

Enfim, muitos são os fatores que contribuem para essa "cultura da favelização" no Rio de Janeiro. É preciso criatividade, determinação, diálogo e coragem para enfrentar o problema e romper com o modelo urbano favelizado.


Por Professor Rodrigo Mezzomo
Advogado (UFRJ), com pós-graduação em filosofia contemporânea pela PUC-RJ, Mestre em Direito (Mackenzie-SP) e Doutorando em Direito pela Universidade de Buenos Aires. Professor de Direito Processual Civil (Mackenzie-RJ).