segunda-feira, 31 de outubro de 2016

COMO FUNCIONA O PARLAMENTO INGLÊS?

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O Parlamentarismo é o sistema de governo do Reino Unido e tem uma forma bem peculiar de funcionamento: ele atua com a parceria entre realeza, nobreza e civis. Veja como funciona o Parlamento Inglês no post de hoje!

O Parlamento Britânico está localizado no Westminster Palace, também conhecido como Houses of Parliament. Ele fica às margens do Rio Tâmisa, bem pertinho da Abadia de Westminster – foi de lá, inclusive, que ele foi nomeado. Um dos maiores ícones de Londres, o Big Ben, está lá também, na Elizabeth Tower.

O Parlamento é formado pela Câmara dos Comuns (House of Commons) e pela Câmara dos Lordes (House of Lords). Anualmente, a Sala da Rainha, chamada de Queen’s Robing Room (na foto abaixo), é aberta para o pronunciamento da monarca.

Nas monarquias parlamentaristas, como é o caso do Reino Unido, temos o chefe de estado e o chefe de governo. O primeiro é o monarca, o Rei ou Rainha, que ganham a posição hereditariamente. O chefe de governo é o primeiro-ministro e ele responde por suas ações tanto ao parlamento quanto ao chefe de estado. 

Uma das principais funções do Parlamento é a criação das leis que regem o Reino Unido. A rainha apresenta a cada ano uma série de projetos de lei ou propostas para a criação de novas leis. Os parlamentares também apresentam suas propostas. A Câmara dos Lordes também funciona da mesma maneira, mas, para as leis serem aprovadas, as duas Câmaras precisam concordar com a versão final. Após o comum acordo, a lei recebe a aprovação da rainha para ser efetivada e coloca em prática.

Aquela história de que, no Parlamentarismo, “o Rei reina, mas não governa” não é bem verdade. Apesar de não fazer parte do Poder Executivo, a realeza tem um papel ativo no Legislativo e o verdadeiro poder de aprovar as mudanças necessárias para o bem-estar da população.

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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A nova História do Brasil


Pesquisadores destroem mitos e revelam o verdadeiro passado do Brasil: um país mais forte, mais complexo e bem mais humano do que ensinaram na escola

Por Leandro Narloch, autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" access_time 4 jan 2011, 22h00 - Atualizado em 26 out 2016, 10h40

O cenário deve estar quente na sua memória. Nos tempos em que o país era uma colônia de Portugal, só havia por aqui engenhos de cana-de-açúcar, as “plantations”, com centenas de escravos. Portugal passou séculos sugando as nossas riquezas. No século 16, o reino português já havia exterminado o pau-brasil, ganhando a madeira dos índios em troca de bugigangas; no século 18 ainda levou embora o ouro de Minas Gerais. Como todas as exportações brasileiras eram controladas por Portugal, o país ficou limitado a ser uma colônia agrícola. E aí, lembrou-se dessa imagem? Pode esquecê-la. Essa história está virando, literalmente, coisa do passado. Daqui para a frente, vai conviver com esta aqui: no século 18, a economia brasileira é maior que a de Portugal. O país é repleto de rotas interestaduais de comércio de ferramentas, roupas e alimentos, e ainda exporta, fora do controle do rei português, produtos para a Argentina e a costa africana. A descoberta do ouro ergue fortunas que ficam por aqui, tornando o Brasil capaz de ter investimentos para crescer mesmo em épocas de crise internacional. Os homens mais ricos (entre eles, negros e índios) constroem sua fortuna não como latifundiários, mas pelo comércio e emprestando dinheiro a juros. A maioria dos brasileiros é formada por homens livres que mantêm comércios ou pequenas fazendas. Esse novo passado tem sido descoberto por historiadores nos últimos anos. Dezenas de novos estudos apagam silhuetas tradicionais da história brasileira. E montam uma paisagem nova. Nas próximas páginas, conheça a nova história do Brasil.

Uma história mais tranquila
Grande parte da história que os brasileiros conhecem hoje, aquela que ainda está na maioria dos livros didáticos, foi criada (ou virou consenso) entre 1960 e 1980. Era um tempo mais tenso do que hoje. A Guerra Fria dividia os países, os governantes e os intelectuais entre comunistas e capitalistas. Na América Latina, as ditaduras militares calavam jornalistas e professores, torturavam e matavam dissidentes. Se no governo dominavam os capitalistas, a direita, nas universidades predominavam as ideias e os métodos de Karl Marx, o pai do comunismo científico. Para se opor à ditadura, era estimulante ressaltar histórias de dependência internacional, em que classes sociais lutavam entre si e que tinham as grandes potências como as vilãs. “Era uma leitura do passado que nos preparava para a revolução”, diz o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos.

Mas o tempo passou. As ditaduras caíram, assim como o Muro de Berlim e a União Soviética. Aos poucos, os pesquisadores ficaram um pouco mais longe das ideologias e passaram a tirar conclusões sem tanto medo de aderir a um ou outro lado da política. “A geração anterior foi muito marcada pela luta ideológica, exacerbada durante os governos militares. Divergências eram logo transpostas para o campo político-ideológico, com prejuízo para o diálogo e a qualidade dos trabalhos”, diz o historiador José Murilo de Carvalho, professor da UFRJ e um dos imortais da Academia Brasileira de Letras. “A nova geração de historiadores formou-se em ambiente menos tenso e polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente intelectual mais produtivo.”

A visão clássica do Brasil colonial nasceu com o intelectual paulista Caio Prado Júnior em 1933. No livro Evolução Política do Brasil, ele afirma que a sociedade brasileira era simples e desigual: “Nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o mercado europeu. Nada mais que isso”. Tudo girava em torno do latifundiário, que deixava só miséria por aqui. A teoria de Caio Prado fez um sucesso tremendo nas décadas seguintes.

Até que, nos anos 90, historiadores descobriram dados que não batiam com a teoria. Registros dos portos do Rio de Janeiro e de Salvador mostravam que, em épocas de crise econômica europeia, quando os preços de açúcar e algodão desabavam pelo mundo, no Brasil eles mudavam pouco. Mesmo quando as exportações do Rio de Janeiro diminuíram, a compra de farinha e charque do Rio Grande do Sul aumentava. Esses dados sugerem que havia um bom mercado consumidor no Brasil. Além disso, o testamento dos homens mais endinheirados mostrava que a maioria não fez fortuna exportando cana-de-açúcar, mas fabricando ferramentas ou emprestando dinheiro. Eles compravam fazendas só depois de ricos, para ganhar status de proprietários de terras e eventuais títulos de nobreza.

O mais recente estudo com essa nova visão virou o livro História do Brasil com Empreendedores, de Jorge Caldeira, lançado em 2009. Ele mostra mais um mito do Brasil colonial: a ideia de que só havia por aqui uma enorme massa de escravos e seus senhores. Em 1819, os escravos eram um quarto da população total, de 4,4 milhões de pessoas. E, entre os brasileiros livres, 91% deles não tinham escravos. “Com essa população, o Brasil tinha uma economia maior que a de Portugal”, diz Jorge Caldeira.

Os mitos do outro lado, os da direita, também estão com os dias contados. No caso da Guerra do Paraguai, glorificada pela caserna, hoje ninguém discute que os soldados negros foram entregues à própria sorte no campo de batalha, sendo os primeiros a morrer. Alguns, inclusive, foram à guerra como “substitutos”, no lugar de senhores de escravos que preferiram não arriscar a vida pelo país. Tiradentes, mártir usado como peça de proganda dos governos desde o início da República, teve sua participação na Inconfidência Mineira bem diminuída. Falando em República, hoje se reconhece que, logo depois que os militares a proclamaram, em 1889, o Brasil regrediu em diversos pontos. A censura à imprensa, por exemplo, foi um dos primeiros atos do proclamador em pessoa, o marechal Deodoro da Fonseca.

Mito 1
“A sociedade brasileira se dividia entre senhores e escravos”
Havia mais pessoas livres do que se imagina. No século 18, 40% da população era de escravos. No começo do 19, 25%. E alguns senhores trabalhavam com os negros, já que tinham poucos escravos.Mito 2
“Portugal apenas sugava nossas riquezas”
A montagem de engenhos e a exploração de ouro trouxeram riquezas para cá, criando um comércio ativo no Brasil. No fim do século 18, nossa economia era maior que a de Portugal.
Mito 3
“Os latifundiários eram as pessoas mais ricas”
Um navio negreiro valia mais que um engenho inteiro. Só 25% dos maiores testamentos eram de fazendeiros, o resto era de comerciantes, banqueiros e traficantes de escravos. Esses homens, para ganhar status, compravam terras no fim da vida.

Mito 4
“A Inglaterra fez o Brasil destruir o Paraguai”
Ao contrário do que se imagina, a diplomacia britânica tentou evitar o conflito. O país tinha investimentos no Brasil e no Paraguai, que ficariam em risco em caso de guerra.

Mito 5
“Aleijadinho era um deficiente físico grave que fez centenas de estátuas sozinho”
As famosas esculturas são provavelmente fruto de vários e talentosos artistas, que dividiam o trabalho entre si e tinham ajudantes. E a imagem dele como um homem desfigurado pode ser uma criação literária.

Mito 6
“Lampião lutava contra coronéis e latifundiários”
O rei do cangaço prestou favores a grandes coronéis do sertão. Ao mesmo tempo, ameaçava famílias pobres e executava operários que construíam estradas pelo interior do Nordeste.

Mito 7
“O Paraguai era uma potência latente”
Era o país mais atrasado do Cone Sul. O comércio exterior era 6 vezes menor que o do Uruguai, que tinha a metade da população.

Mito 8
“Canudos era uma sociedade igualitária”
A cidade de Antonio Conselheiro não pregava a reforma agrária. Como fora dali, havia miseráveis e pessoas mais ricas.

Mito 9
“Santos Dumont inventou o avião”
O inventor brasileiro foi um gênio. Mas os irmãos Wright voaram 3 anos antes dele e, em 1906, quando o 14 Bis decolou, já tinham um avião bem melhor. A grande aeronave do brasileiro é outra: o Demoiselle, de 1908, primeiro ultraleve da história.

Mito 10
“Os bandei­rantes eram desbravadores europeus”
Os bandeirantes eram filhos de índios com brancos, andavam quase nus e seguiam a cultura tupi-guarani.

Mito 11
“A banana e o coco são nativos do Brasil”
Essas frutas, assim como a jaca, a manga e o abacate e alguns animais, como os cães, não existiam no Brasil. Chegaram aqui a bordo das caravelas europeias.

Mito 12
“A feijoada foi criada com restos da Casa-Grande”
Ao contrário do que muita gente acredita, a feijoada tem origem europeia. Vem da tradição de misturar legumes com carnes, como o cassoulet, francês, feito com carne de porco e feijão branco.

Mito 13
“Os índios do Sudeste foram praticamente extintos “
Enquanto milhares de índios eram dizimados, outros decidiram deixar as aldeias e ir para as cidades, assimilando-se à população. Hoje, na média, 8% do genoma dos brasileiros tem origem indígena.

Mito 14
“Os índios não foram escravizados”
Principalmente durante os séculos 16 e 17, milhares de índios de todo o Brasil e do Paraguai foram levados a São Paulo como escravos. Como outras regiões também precisavam de trabalhadores, começaram a trazer escravos da África.

Mito 15
“Os quilombos lutavam contra a escravidão”
As comunidades lutavam pela liberdade de seu grupo. Mas é provavel que os membros poderosos tivessem escravos próprios.

Mito 16
“A Inglaterra foi contra a escravidão para criar um mercado consumidor”
A luta contra a escravidão na Inglaterra partiu de um movimento religioso e popular. Não passava pela cabeça dos homens de negócio ingleses acabar com a escravidão nas colônias britânicas na América.

Mito 17
“A maioria das fazendas tinha dezenas de escravos”
Os engenhos com muitos escravos eram raridade. No século 18, a maioria estava, em média, em plantéis pequenos, geralmente de 4 ou 5 pessoas.

Mito 18
“Os africanos viviam em tribos selvagens”
Enriquecidos com a venda de algodão, ouro e escravos, alguns reinos africanos ficaram poderosos. Havia por lá exércitos e cidades grandes.

Mito 19
“O samba é um ritmo puramente brasileiro”
O ritmo tem influências que não são do Brasil nem da África. Donga, o músico que gravou o primeiro samba, em 1917, montou bandas de jazz. Sinhô, o “rei do samba” nos anos 30, usava melodias europeias em suas canções.

Uma história destruidora
A história de qualquer país nasceu no berço do patriotismo. Na tentativa de construir um passado comum entre os habitantes e deixá-los orgulhosos do lugar onde viviam, surgiram relatos de grandes artistas e heróis, tradições milenares, mitos da fundação do país e datas nacionais. No Brasil, esse tipo de leitura da história surgiu principalmente com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), de 1838. O órgão teve uma importância gigantesca para o país. O próprio imperador dom Pedro 2º participava de suas reuniões, de onde saíram os primeiros grandes relatos da história brasileira, caso do Como Se Deve Escrever a História do Brasil, do naturalista Carl von Martius, de 1840, e História Geral do Brasil, escrito por Francisco Varnhagen em 1854. Por trás dessas obras, havia sempre uma moral edificante e uma tentativa de valorizar a pátria.

Esse modo de ver a história cria um vício: tudo passa a ser visto de forma parcial. Se alguém do seu país consegue mesmo um grande feito, tende a ganhar uma aura de herói. E ai de quem questionar seus feitos. A aura em torno de Santos Dumont no Brasil é um dos maiores exemplos disso. Aqui ele é o pai da aviação. E ponto final. No resto do mundo, engenheiros e historiadores consideram os irmãos americanos Orville e Wilbur Wright mais importantes para o pioneirismo das máquinas voadoras. E é fato. Não se trata apenas de esforço dos EUA em vender seus heróis. Ao contrário do que muita gente acredita no Brasil, os irmãos americanos voaram na presença de testemunhas antes de Santos Dumont apresentar o 14 Bis ao mundo. No dia 5 de outubro de 1905, fizeram um único voo de 39 minutos, percorrendo 38,9 quilômetros. Já o 14 Bis, em novembro de 1906, voou 220 metros de distância a uma altura máxima de 6 metros. E foi abandonado 5 meses depois, quando sofreu uma queda lateral e teve uma das asas despedaçadas. Se as últimas linhas despertaram em você alguma emoção mais quente, tenha calma. Ao contrário da história do século 19, a atual não se preocupa em criar ícones de heroísmo nacional e descrever grandes feitos. Na verdade, uma parte dos intelectuais de hoje se dedica a investigar como grandes lendas da história ganharam forma – e esse trabalho tende a destruir mitos consagrados.

Um exemplo lapidar dessa tendência é o livro Aleijadinho e o Aeroplano, publicado pela historiadora Guiomar de Grammont, da Universidade Federal de Ouro Preto, em 2008. A obra mostra como a imagem do escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, não veio de documentos históricos, mas da cabeça de um escritor.

A primeira biografia de Aleijadinho foi escrita pelo jurista e deputado mineiro Rodrigo Ferreira Bretas em 1858. Mesmo sem fontes e documentos para provar o que dizia, Bretas descreveu seu personagem com detalhes horripilantes. A partir dos 47 anos, o escultor teria sofrido de uma doença desconhecida, que o fizera perder os dedos, os dentes e curvar o corpo. Para poupar os passantes de topar com sua feiúra, o homem entocava-se em igrejas, separado do mundo com cortinas improvisadas. Para a historiadora, o mais provável é que a fonte de inspiração da biografia de Bretas eram personagens literários populares no século 19, como Quasímodo, o corcunda de Notre Dame do livro do escritor francês Victor Hugo. Os dois são impressionantemente parecidos. Como Aleijadinho, Quasímodo era um belo-horrível: apesar de ter uma aparência desfigurada, era capaz de boas ações. A descrição de Victor Hugo caberia muito bem a Aleijadinho: “A careta era o próprio rosto, ou melhor, a pessoa toda era uma horrível careta; entre os dois ombros, uma corcunda enorme da qual o contragolpe se fazia sentir na parte frontal de seu corpo; um sistema de coxas e de pernas tão estranhamente tortas que se tocavam apenas por meio dos joelhos”. O personagem de Bretas era tão fascinante que pegou. O biógrafo ganhou prêmios de dom Pedro 2º e virou sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

No começo do século 20, os modernistas viram em Aleijadinho a expressão da cultura mestiça brasileira, já que o escultor era filho de um português com uma escrava. O problema é que isso é uma das poucas coisas que se sabe mesmo sobre Antônio Francisco Lisboa. Não só a biografia escrita sem base em documentos e décadas depois de sua morte não ajuda como também há outro empecilho: não dá para saber quais obras realmente são dele. Não havia o costume de assinar esculturas naquela época. Mas a lenda em torno de seu nome ficou tão forte que Aleijadinho virou uma grife. E o número de obras atribuídas a ele explodiu. Na década de 1960, eram 160 esculturas; hoje são mais de 400. Pesquisadores consideram isso um exagero. Mas, ao que parece, a verdade não importa tanto. A aura vale mais. Só que a nova historiografia pode acabar com isso.

Uma história de baixo para cima
Por 3 séculos, os homens mais poderosos na vila que deu origem a Niterói, no Rio de Janeiro, eram os Souzas. Em 1644, Portugal concedeu a um rapaz chamado Brás de Souza o cargo de capitão-mor daquela aldeia. A justificativa era que se tratava de um “descendente dos Souzas, que sempre exercitaram o dito cargo”. O reino deu um argumento parecido 150 anos depois, quando outro Souza, Manoel, ganhou o cargo de capitão-mor. Segundo o órgão do reino português, o homem devia receber o posto porque tinha uma “ascendência nobre”. O curioso é que aqueles senhores bem-nascidos não eram descendentes de nenhum português com sangue azul. O primeiro Souza daquela região se chamava Arariboia. Era o líder da tribo dos temiminós que, no século 16, se aliaram aos portugueses para expulsar os franceses e os índios tupinambás do Rio de Janeiro. Depois da vitória, os índios ganharam um nome português e se instalaram por ali. Menos de 100 anos depois, seus descendentes já não se viam como índios: eram os Souzas.

Até pouco tempo atrás, a história do Brasil admitia só dois personagens indígenas: ou a vítima passiva ou o selvagem rebelde. Mas uma nova figura surgiu: o índio colonial, aquele que se mudou para as cidades e adotou um nome português. Isso aconteceu com os descendentes de Arariboia e com índios de todo o Brasil. Em Minas Gerais, despachos do governador mineiro mostram que muitos índios coropós, gavelhos e croás, que há até pouco tempo eram considerados extintos, se mudaram para as cidades para tentar lucrar com a corrida do ouro do século 18. Em São Paulo, censos de 1798 a 1803 mostram centenas de índios com endereço, nome português e profissão – havia agricultores, carpinteiros, músicos…

Outra paisagem que está mudando é a que retrata os bandeirantes, os sertanistas que exploravam o interior do Brasil em busca de ouro e índios que levavam a São Paulo como escravos. Nos quadros clássicos, eles aparecem fortes, bem-vestidos, submetendo os nativos à sua vontade. Imagens assim surgiram no século 19, 2 ou 3 séculos depois de os bandeirantes explorarem as florestas brasileiras. Escritores paulistas, na tentativa de criar um passado heróico para São Paulo, reverenciaram os bandeirantes e os descreveram à sua imagem e semelhança, sem influência indígena. “Era uma paisagem imaginada, já que não existem imagens deles anteriores a 1810”, diz o escritor Jorge Caldeira. Hoje, acredita-se que a diferença entre índios e bandeirantes fosse bem menor.

Se os bandeirantes tinham alguma roupa, ela se desfazia depois de poucos meses no meio do mato. Por isso, andavam provavelmente nus e descalços. Filhos de portugueses com mulheres nativas, eram mestiços. Muitos cresceram nas aldeias convivendo com tios, primos e irmãos índios. A maioria tinha várias mulheres, dando de ombros à vigilância dos jesuítas, que proibiam a poligamia. “Para a cultura tupi-guarani, um aliado tinha que ser parte da família. Era uma exigência dos líderes indígenas que os europeus tivessem mulheres índias. Isso favoreceu o surgimento de uma população profundamente miscigenada”, afirma Caldeira. Um bom exemplo de bandeirante-índio é Domingos Jorge Velho, que destruiu o Quilombo de Palmares em 1695. Filho de uma índia e de um português, ele cresceu entre aldeias. Ao chegar a Pernambuco para lutar contra Zumbi, teve problemas para se comunicar com as autoridades pernambucanas: ele não falava português, só tupi-guarani.

Essas descobertas são resultado de um novo jeito de ler a história indígena. Em vez de se concentrar nos relatos dos brancos, os pesquisadores passaram a olhar a história de baixo para cima, a partir de como os mais fracos (no caso, os índios) agiam e pensavam. Quando adotaram essa nova abordagem, os historiadores tomaram um susto. Perceberam que os índios não foram só vítimas. Também souberam se adaptar aos invasores e, principalmente, protagonizaram episódios fundamentais na história do Brasil. Algumas tribos tinham poder suficiente para negociar com os brancos, traçar estratégias e fazer sua vontade prevalecer. Isso também vale para as bandeiras e as guerras indígenas. “Certos conflitos europeus no Brasil também eram guerras de índios contra índios”, diz o professor Antonio Carlos Jucá, da UFRJ. Em 1565, por exemplo, o padre José de Anchieta estranhou que os tupinambás de repente tentaram ficar amigos dos colonos portugueses. Para o padre, o motivo da aproximação era estratégico, pois aqueles índios tinham um “desejo grande de guerrear com seus inimigos tupis, que se levantaram contra nós”.

Uma história com pessoas
Conheça 3 mulheres da história do Brasil: Joanna Baptista, Caetana e Bárbara Gomes de Abreu e Lima.

– Joanna Baptista foi uma mulher livre que, em 1780, em Belém do Pará, decidiu se vender como escrava. Cobrou, por si própria, 40 mil-réis em dinheiro e outros 40 mil em jóias e roupas. A venda foi registrada em escritura por um tabelião, na presença do comprador e de duas testemunhas. O documento conta que Joanna, doente, decidiu se tornar escrava porque “se achava sem pai nem mãe que dela pudessem tratar, e nem tinha meios para viver em liberdade, e para poder viver em sossego, empregando-se no serviço de Deus e de um senhor que dela tivesse cuidado e em suas moléstias a tratasse”.

– Em 1835, Caetana, escrava de uma fazenda de café de Rio Claro, em São Paulo, foi obrigada a casar com o escravo Custódio. No começo ela aceitou. Depois, bateu o pé e se recusou a dormir com o marido. Pediu ao seu dono, o capitão Tolosa, para anular o casório. O senhor da escrava topou. Contratou um advogado, que montou uma petição para a Justiça eclesiástica. Contrariando o machismo e a falta de direitos dos escravos daquela época, Caetana conseguiu anular seu casamento.

– Uma das pessoas mais ricas da vila mineira de Sabará no século 18 foi a ex-escrava Bárbara Gomes de Abreu e Lima. Dona de um casarão em frente à Igreja Matriz, ela tinha 7 escravos, revendia ouro e controlava negócios em diversas cidades de Minas e da Bahia. A herança incluía dezenas de saias, vestidos, joias e artefatos de metais preciosos.

Essas 3 mulheres dificilmente se encaixam em alguma lógica ou em teorias tradicionais da história do Brasil. Como pode uma pessoa livre querer virar vítima de um sistema cruel? Por que uma ex-escrava, depois de se libertar da escravidão, se tornaria dona de escravos? Casos como os delas, descobertos na última década por historiadores brasileiros e americanos, são exemplos de mais uma diferença da nova história do Brasil: tentar contar uma história com pessoas.

A geração anterior, que inspirou nossos livros didáticos, consideraria essas mulheres exceções. O método predominante lá atrás era montar teorias gerais, grandes esquemas para explicar as origens da sociedade brasileira. Nessa leitura do passado, sociológica, o que mais importava eram as dinâmicas das classes sociais e as relações econômicas entre os países. Indivíduos que não agiam conforme uma lógica de classes ficavam de fora dos livros.

Aos escravos e ex-escravos, só havia duas possibilidades de comportamento: ou eles eram submissos, vítimas eternamente passivas do sistema escravista, ou rebeldes que morriam lutando contra a escravidão. Nos últimos 20 anos, cartas comerciais, registros de cartório, testamentos e arquivos judiciais revelaram personagens mais complexos do que as teorias sociológicas mostravam. “Sabemos hoje que não havia apenas uma forma de responder à escravidão. Como pessoas inteligentes, cada escravo traçava suas estratégias”, diz o historiador Antonio Carlos Jucá de Sampaio, da UFRJ. Claro que eram estratégias limitadas a um contexto de total falta de direitos. Mas ainda assim cada um tinha sua maneira de exercer o pouco que tinha de livre-arbítrio de modo a obter uma vida menos ruim. “Isso explica por que, enquanto alguns escravos fugiam para os quilombos, outros ganhavam armas para cuidar das fazendas.”

Também veio à tona uma influência bem maior da África na escravidão brasileira. Capturando e vendendo escravos para os europeus, alguns reinos africanos ficaram riquíssimos. Um exemplo é o reino do Daomé, atual Benin. No século 18, havia por lá estradas, pontes vigiadas por guardas e cidades com 28 mil pessoas. As relações comerciais eram tão intensas que, em 1795, dois embaixadores do Daomé fizeram uma longa viagem diplomática à Bahia e a Portugal para negociar o monopólio da venda de escravos.

A América também funcionava como um abrigo de nobres africanos que perdiam disputas pelo poder. Foi assim que um príncipe africano chamado Fruku chegou ao Brasil. Mandado para cá como escravo, logo conseguiu comprar sua alforria. Mesmo exilado no Brasil, permaneceu atento à política do outro lado do Atlântico. Vinte anos depois, quando a situação política do Daomé melhorou para o seu lado, ele voltou à África para tentar reaver seu trono, dessa vez com o nome de “dom Jerônimo, o Brasileiro”.

Se você pudesse entrar num De Lorean do De Volta para o Futuro e viajar para 2 ou 3 séculos atrás, poderia, sim, topar com a imagem que os professores descrevem na escola, aquela do engenho de cana-de-acúcar com centenas de escravos. Mas também veria cenas diferentes. “Diversos estudos novos mostram que a maioria dos senhores tinha poucos escravos. Eram grupos pequenos”, diz Renato Marcondes, professor de história econômica da USP. Você ficaria surpreso ao perceber que alguns desses senhores eram negros. Sabe-se hoje que, em muitas vilas e cidades brasileiras, ex-escravos eram uma parte considerável dos donos de escravos. Em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, um terço dos donos de escravos era de negros. Em Santiago do Iguape, 46,5%. Mais: “Como o número de escravos era menor que o necessário, podemos supor que o dono da fazenda e seus filhos trabalhavam na roça ao lado dos escravos”, diz Bert Barickman, historiador da Universidade do Arizona e autor do livro Um Contraponto Baiano.

Nada disso suaviza o fato de que 4 milhões de africanos foram trazidos à força, ficando entregues aos castigos dos seus senhores. Mas uma história contada do ponto de vista das pessoas, não das ideologias, até deixa os absurdos mais claros: Isabel, uma escrava da Bahia, foi jogada viva, e grávida, numa fornalha porque contou para a mulher de seu dono que ele a traía, por exemplo. Crimes assim são uma vergonha eterna. Mas a criação de um passado fictício não irá vingá-los.

Para saber mais

Homens de Grossa Fortuna
João Luís Fragoso, Civilização Brasileira, 1998.

Aleijadinho e o Aeroplano
Guiomar de Grammont, Civilização Brasileira, 2008.

LINK ORIGINAL: https://goo.gl/wiD7RJ

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Carta aberta à direção do Colégio Pedro II


Viemos por esta carta aberta trazer a colação da sociedade brasileira, à diretoria do colégio Dom Pedro II e a quem mais interessar possa o seu veemente repúdio pelo ato ocorrido nas dependências de renomado e estimado educandário que hoje é regido pela esfera federal. Ato este, que reuniu ideólogos de esquerda, comunistas, anarquistas e tantos outros grupos totalitários em um ambiente que tem por única finalidade comportar um santuário do saber, tendo como escopo o burilamento dos estudantes e através deste desenvolvimento intelectual formar as futuras gerações do Brasil.

Não foi possível testemunhar este espetáculo dantesco sem nos pronunciarmos em prol daquilo que julgamos ser o certo. O colégio hoje, é mantido com o dinheiro dos contribuintes, e por tanto cabe aos responsáveis prestarem com os mesmos uma satisfação, haja vista, não ser da competência da esfera federal, tão pouco da reitoria do colégio desviar-lhe o âmago de sua finalidade primordial de capacitação de nossos jovens para abraçar a defesa de partidários, sejam eles da direita, da esquerda ou de centro. A questão que nos faz deitar ao papel estas poucas palavras inspiradas, não é apenas o fato do referido colégio tratar-se do Pedro II, mas o fato de encerrar em si mesmo uma instituição que nasceu para um único fim e vê-la agora ser prostituída por desideratos espúrios, dói não apenas em nós mas em toda a nação.

Que o regime vigente, prefere agrilhoar nossos jovens no ostracismo destrutivo da ignorância, já é senso comum. Mas mesmo para os padrões republicanos conseguiram transcender ainda mais as escalas abissais da imoralidade e da falta de comprometimento com o futuro nacional.

CONDENAMOS DE FORMA MUITO FIRME A REALIZAÇÃO DE TAL ATO NAS DEPENDÊNCIAS DA CENTENÁRIA INSTITUIÇÃO Colégio Pedro II E ESPERAMOS UMA RESPOSTA À ALTURA DA SUA DIREÇÃO.

Aos Brasileiros de bem, convidamos a todos a assinar esta manifestação de repúdio junto a nós.

Rafael de Orleans e Bragança,
Luiz Philippe de Orleans e Bragança,
Gabriel de Orleans e Bragança e
Pedro Alberto de Orleans e Bragança

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Monarquista, graças a Deus

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Não pretendiam os revolucionários republicanos reformar o que deveria ser reformado, mas refundar a história do país segundo novas bases e desvinculada do passado.

Poucas confissões causam mais espanto hoje em dia do que afirmar-se monarquista. É mais fácil para um jovem hodierno dizer aos pais que tem 12 identidades sexuais ativas e passivas do que observar num almoço de domingo, entre uma garfada e outra, a supremacia da monarquia. E, se elogiar o imperador dom Pedro II, corre o risco de ser ridicularizado ou, pior, tornar-se persona non grata para o dominical macarrão com frango.

Quando digo que sou monarquista, a seguir ao estupor e eventuais desmaios, sou alvejado por olhares de comiseração, escárnio ou lamento, a depender da classe econômica e do grau de escolaridade. Quanto mais altos a renda e o grau de escolaridade, maior é a desconfiança em relação à minha sanidade mental.

Em Portugal, pelo menos até a década de 1980, como nos informa o genial escritor Miguel Esteves Cardoso em crônica antiga publicada em A Causa das Coisas, “alguns magros milhões de portugueses” eram “dubitavelmente monárquicos”. O problema é que, imersos no dubitável, eram monarquistas inúteis à causa porque, quando puderam optar, votaram na república, transformando-se “tragicamente em republicanos úteis”.

"É mais fácil para um jovem dizer aos pais que tem 12 identidades 
sexuais do que se declarar monarquista"

No Brasil, quando puderam escolher, os monarquistas brasileiros fizeram em número reduzido o que deveria ter sido feito pela maioria: quase 7 milhões de bravos brasileiros votaram na monarquia. Os dados do plebiscito realizado em 1993 são reveladores: 16,5 milhões escolheram o parlamentarismo em vez do presidencialismo, cerca de 10 milhões de pessoas anularam o voto, 3,4 milhões votaram em branco e a abstenção total foi de 25,76%.

Ou seja, se em Portugal havia uma massa de portugueses “dubitavelmente monárquicos”, no Brasil tivemos uma massa de brasileiros “potencialmente monárquicos” que não foi tocada pela modesta e corajosa campanha pela volta da monarquia constitucional parlamentarista. Este que era o nosso sistema e regime de governo e foi derrubado por um infame golpe militar em 15 de novembro de 1889. Sim, aquele que aprendemos na escola ter sido uma proclamação. Não foi; foi golpe. Um golpe que inaugurou o golpismo em série que caracteriza a república presidencialista brasileira.

Os republicanos brasileiros do século 19, alguns dos quais carinhosamente apelidados de “jacobinos” – os revolucionários que tocaram o terror na França no século 18 –, derrubaram a monarquia e iniciaram um processo de revolução cultural que passava por destruir e sepultar todo o capital de experiência histórica, social e política do nosso Império. Não pretendiam os revolucionários republicanos reformar o que deveria ser reformado, mas refundar a história do país segundo novas bases e desvinculada do passado.

O resultado é conhecido: a monarquia foi ridicularizada, a história foi reescrita (primeiro pelos republicanos, depois pelos marxistas), os grandes nomes do passado foram enterrados e deliberadamente rechaçados e o que aprendemos hoje em dia sobre tão fascinante e grandioso período histórico é o casamento perfeito da ignorância com a caricatura.

O quadro, felizmente, começa a mudar aos poucos. O interesse sobre a monarquia é crescente, assim como a quantidade de brasileiros dispostos a cavar a história em busca do tesouro perdido. E a se questionar acerca das vantagens sobre a república presidencialista a partir do conhecimento das posições e das soluções da monarquia parlamentar sobre as mais diversas questões sociais, políticas e econômicas.

O mercado editorial também começa a despertar para o tema e tem aumentado o número de eventos especializados, como o Encontro Monárquico Conservador no qual fui palestrante e que foi realizado na capital do Ceará dias atrás pelo grupo São Thomas More, em parceria com o Círculo Monárquico de Fortaleza.

Num momento em que o parlamentarismo começa a ser debatido e a ganhar força política, nada mais justo do que considerar, como bem destacou Miguel Esteves Cardoso, a “questão bastante mais importante: a monarquia”.

LINK ORIGINAL: https://goo.gl/DHxkAB

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

SÃO LUIZ IX


No dia 25 de Abril de 2014 comemorou-se o 800º Aniversário do Nascimento de São Luiz IX - Rei de França.

No seu reinado a França viveu um excepcional momento político, económico, militar e cultural, conhecido como o "o século de ouro de São Luís". Houve um grande desenvolvimento da justiça real, passando o monarca a representar o juiz supremo.

Homem de grande piedade. A reputação de santidade e de justiça do soberano estava já estabelecida durante a sua vida, pelo que era regularmente escolhido como árbitro das desavenças entre os grandes do velho continente. O prestígio e o respeito na Europa por Luís IX seria mais devido a estas qualidades que pelo poderio militar. Para os seus contemporâneos, foi considerado o melhor exemplo de um príncipe cristão, primus inter pares (o primeiro entre iguais).

Dom Luiz, Dom Bertrand e Dom Antônio são descendentes em linha varonil direta de São Luiz IX.

Cascata Taunay na Floresta da Tijuca


A Cascatinha do Taunay ganhou esse nome graças ao pintor francês Nicolas Antoine Taunay, membro da Missão Francesa, trazida ao Brasil por Dom João VI em 1816, que decidiu ali construir, no ano seguinte, sua residência.

A casa que Taunay levantou, na área do atual estacionamento da Cascatinha, era inicialmente uma tosca cabana de pau-a-pique, que depois evoluiu para uma vivenda mais luxuosa.
Na Cascatinha, onde viveu com a mulher Adrienne Aimée ce os filhos Auguste Marie, Hippolite, Felix Emile e Adrianne, o artista francês iniciou uma plantação de café.

Quando, em 1821, Taunay decidiu voltar para a França com a esposa e a filha Adrianne, deixou a fazenda sob a responsabilidade de Auguste Marie. Três anos depois, com o falecimento de Auguste, o Sítio da Cascatinha passaria para as mãos de Felix Emile.

A ligação deste com a Floresta foi por toda a vida muito forte, tanto fisicamente, porque ali viveu e trabalhou, quanto familiar e afetivamente, tendo desposado a irmã do Barão d'Escragnolle, segundo administrador da tijuca.

Em 1860, Felix Emile foi contratado para abrir novo trecho inicial da estrada ligando o Alto da Boa Vista à Floresta da Tijuca.
Assim, o traçado que hoje liga a Praça Afonso Vizeu à Cascatinha ainda é o que foi executado por Taunay.
O trajeto antigo continua existindo. Parte dele ainda pode ser percorrido, saindo dos fundos do estacionamento da Cascatinha e indo dar na atual estrada, já bem próximo ao portão de entrada do Parque.

Felix Emile, um dos fundadores da Academia de Belas Artes, da qual foi o primeiro Diretor além de professor de Dom Pedro II, administrou a propriedade da família até 1868, ano no qual a Cascatinha foi finalmente desapropriada pela Fazenda Imperial.
Hoje nada mais existe do que foi um dia a propriedade dos Taunay, tendo sido a sede da fazenda da Cascatinha demolida no princípio do século XX.

No tempo em que Nicolas Antoine escolheu viver na Cascatinha havia, perto das Furnas de Agassiz no Rio Cachoeira que na época era bem mais caudaloso, uma grande queda d'água, conhecida por Cascata Grande. Daí o diminutivo para a Cascatinha que, à primeira vista, parece tão grandiosa.
Desde cedo a Cascatinha do Taunay despertou interesse nos viajantes em particular e nos artistas em geral, tendo sido pintada, desenhada, fotografada e cantada em prosa e verso sob quase todos os prismas possíveis.
Entre seus imortalizadores estão Rugendas, Arago, de La Touanne, Taunay e Marc Ferrez. Em 1872, no seu livro Sonhos d'ouro, José de Alencar fez, em forma de romance, uma ode ao lugar:

"Ha cascatas muito mais ricas e abundantes do que essa, não só na grande massa das águas como na vastidão e aspereza dos penhascos. Têm, sem dúvida, aspecto mais soberbo e majestoso, inspiram n'alma pensamentos mais graves e sublimes. A Cascatinha da Tijuca, porem, prima pela graça; não é esplêndida, é mimosa; em vez de pompa selvagem respira uma certa gentileza de moça elegante; bem se vê que não é filha do deserto; está a duas horas da Corte, recebe freqüentemente diplomatas, estrangeiros ilustres e a melhor sociedade do Rio de janeiro".

Hoje, já não é possível ver a Cascatinha em meio a tanta poesia. O lugar que antes de Alencar já tinha sido descrito por Rugendas como "agradável residência onde moram dois de seus filhos (de Taunay) numa solidão e sossego dignos de inveja, gozando da abundância de maravilhas de que a natureza foi pródiga aí" , agora abunda é de turistas com seus micro-ônibus e câmaras fotográficas.

Fonte: Trilhas do Rio, Pedro Cunha e Meneses, 1996.

JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO


Real Horto - Imperial Jardim Botânico, ou simplesmente Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Fundado em 1809, por S.A, o Príncipe Dom João. Na foto vemos a alameda de Palmeira Imperiais trazidas de outras partes do mundo e que foram aclimatadas no Brasil.

Símbolo do Império, a Palmeira Imperial era as vezes ofertadas as pessoas mais íntimas da Família Imperial.

Infelizmente a árvore plantada por Dom João VI foi fulminada por um raio em 1972. Desde então a "Palma Mater" do Jardim Botânico, foi substituída pela "Palma filia", que foi replantada no lugar.

As palmeiras obtidas clandestinamente por Luiz de Abreu Vieira e Silva, que as ofereceu a dom João VI.
Quando foi plantada por dom João VI, a primeira Roystonea oleracea (Palmae) brasileira passou a ser conhecida como palmeira-imperial.

A Palma Mater floresceu pela primeira vez em 1829. Deste exemplar plantado em 1809, descendem todas as palmeiras-imperiais do Brasil, daí sua denominação de Palma Mater.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

14 curiosidades sobre a república no Brasil

Quadro que retrata o famoso 15 de novembro
Quadro que retrata o famoso 15 de novembro

Desde 15 de novembro de 1889, o Brasil é governado por um sistema republicano. De lá para cá pode parecer um curto período, mas muita coisa aconteceu. Hoje, o Recreio irá mostrar 14 curiosidades sobre a República no Brasil, incluindo informações sobre os diferentes presidentes que já governaram essa nação continental.

#1 O primeiro golpe
Embora seja comumente chamado de “proclamação”, o movimento que deu início à república no Brasil pode ser facilmente caracterizado como um golpe de estado. O primeiro de tantos do período republicano. A explicação é fácil: sem apoio popular, os militares derrubaram um imperador e um sistema de governo legítimo, constitucional, que ali estava por aclamação popular, desde a independência.

O movimento republicano existia, mas não tinha adesão da população, e de maneira legal jamais conseguiria chegar ao poder.

“É golpe quando você tem uma movimentação política que coloca fim a um Estado legalmente constituído. A gente pode concordar ou não com a monarquia, mas era constitucional”, opina a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz.

#2 Diversidade
O Brasil já teve 37 Presidentes, de diferentes profissões e ideologias políticas. Isso contabilizando-se todos os governantes que já chegaram ao poder (excluindo então os que não tomaram posse, como Tancredo Neves), de forma ditatorial ou não.

#3 Democracia?

Contabilizando-se os presidentes que chegaram ao poder pelo voto direto, tivemos 25, incluindo os que chegaram ao mandato como vices, em substituição ao até então presidente por determinada razão.

#4 Instabilidade
Já se olharmos o número de presidentes eleitos pelo voto direto e que concluíram o mandato, esse numero cai para 11. Se contabilizarmos apenas os últimos 90 anos, apenas Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, Lula, FHC e Dilma (1º mandato) foram eleitos pelo povo e concluíram o mandato com êxito.

#5 O povo se amarra
Desde que foi aprovada a polêmica emenda da reeleição, no governo de Fernando Henrique Cardoso, todos os presidentes conseguiram se reeleger. Foram eles: o próprio FHC, Lula e Dilma (cassada).

#6 Teve bis
Em toda a história republicana do Brasil, dois presidentes já sofreram um processo de impeachment: Collor em 1992 (renunciou) e Dilma em 2016 (cassada).

#7 Coincidência?
Collor e Dilma foram os únicos presidentes do Brasil formados em economia.

#8 Instabilidade²
No período republicano, que já dura 127 anos, o Brasil já teve seis Constituições Federais: as de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, sendo a última delas a de 1988, ainda em vigor.

#9 Estabilidade
A maior potência mundial, os EUA, também uma república, acumula apenas uma carta magna desde sua independência. Como era o exemplo do Brasil da independência até o fim do Império, que funcionava com a Constituição de 1824, outorgada por Dom Pedro I.

#10 Crença… ou descrença
A maioria absoluta dos presidentes do Brasil foram católicos. Apenas Café Filho e o militar Ernesto Geisel tinham o protestantismo como religião. Não se sabe ao certo a posição religiosa de Dilma, recentemente impeachada. Michel Temer, atual presidente, é católico.

#11 Instabilidade³
A república no Brasil teve fases: a República Velha (1889-1930), a Era Vargas (1930-1945), o Regime Liberal Populista (1945-1964), o Regime Militar (1964-1985) e a Nova República (1985-atual).

#12 Herança

As cores verde-amarelo da bandeira do Brasil, mesmo que tenham adquirido oficialmente outros significados ao longo dos anos, teve sua temática derivada da época imperial, com a cor verde em referência à casa de Bragança, da qual fazia parte D. Pedro I, ao passo que a amarela simbolizaria a casa de Habsburgo, da qual fazia parte a imperatriz D. Leopoldina.

#13 Herança²
O brasão republicano, embora tenha sofrido reformulação mais brusca que a bandeira, também carrega símbolos adquiridos na monarquia, como o ramo de café e o de fumo.

#14 Experiência

A república brasileira já foi, por um curto espaço de tempo, parlamentarista. O povo, em plebiscito, porém, escolheu trazer de volta o sistema presidencialista.

LINK ORIGINALhttps://goo.gl/i2kjpy