quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O que têm em comum um herói dos quadrinhos e a rainha da Inglaterra?

 | Divulgação/Netflix
As ideias de dever e de responsabilidade são instrumentos poderosos para 
forjar pessoas e comunidades virtuosas

[26/12/2016]  [00h01]

Um tema que me fascina é como as ideias de dever e de responsabilidade são instrumentos poderosos para forjar pessoas e comunidades virtuosas. E não há elite natural que não esteja alicerçada nessas duas dimensões.

Duas séries que vi recentemente no (Deus abençoe o) Netflix apresentam o sentido de dever e de responsabilidade em abordagens distintas, mas com semelhante vigor. Em The Crown, a jovem Elizabeth descobre precocemente que a vida de rainha exige enormes sacrifícios em nome do dever de servir à nação. É de arrepiar a cena em que a sua avó, a rainha Mary, vestida de luto, curva-se diante da neta que virou rainha ao suceder o falecido pai, o rei George VI.

Os diálogos da rainha Elizabeth II com a mãe, com a avó, com o marido Philip, duque de Edimburgo, com o tio, duque de Windsor, e com Winston Churchill são uma aula acerca do doloroso processo de assunção à mais alta hierarquia da família real britânica. É, mais do que tudo, pedagógico.

Experimentei o fim de uma cultura em que era senso comum as pessoas assumirem os seus deveres

Vemos na primeira temporada da série como ela enfrentou os dilemas e desafios não sem sofrimentos, hesitações, dúvidas e resiliência. Se a criança é o pai do homem, como definiu o poeta inglês William Wordsworth, a jovem Elizabeth é a mãe da mulher que se tornou a rainha com o mais longevo e próspero reinado da história do Reino Unido (64 anos até agora).

A segunda série a lidar com os sentidos de dever e de responsabilidade é Luke Cage. Personagem ficcional da Marvel Comics, Cage, de forma distinta à rainha Elizabeth II, percebe que assumir o compromisso de combater o crime é um imperativo moral diante da degradação das pessoas e do lugar onde mora, o Harlem. O herói preto que mora num bairro de maioria preta e que se vê pressionado a lidar com a criminalidade do lugar.

Preso injustamente e espancado na prisão, Luke Cage foi salvo por um médico que o submeteu a uma experiência que lhe deu superpoderes. Uma vez fora da prisão e foragido da Justiça, Cage aprendeu com o amigo, conselheiro e dono de uma conhecida barbearia no Harlem, o ex-presidiário Henry “Pop” Hunter, que o homem às vezes é chamado a assumir determinadas obrigações perante os outros e sua comunidade. Mas foi somente depois de uma tragédia que ele percebeu que os novos atributos que via como maldição ganharam significado. Cage não foi ao dever, mas o dever foi a ele – e Cage assumiu a tarefa.

Tão distantes na forma, no conteúdo e na existência real, Luke Cage e a rainha Elizabeth II são dois personagens simbólicos oriundos de duas culturas (americana e inglesa) em que o senso comum ainda reconhece a soberania da responsabilidade sobre os direitos. Se essa relação for algum dia invertida, os reflexos serão dramáticos – como acontece no Brasil.

A propósito, puxando pela memória, não lembro de qualquer série brasileira recente, ou até mesmo de um filme, em que o sentido de dever e de responsabilidade fosse o elemento estrutural do pensamento e da ação dos protagonistas em relação às pessoas, à comunidade e ao lugar onde vivem. É um problema cultural e atual nosso? De fato, considerando que hoje só se fala em direitos, não em deveres. E, se só reconhecemos a existência de direitos, como poderia haver profissionais capazes de produzir séries e filmes em que esses temas fossem apresentados ou discutidos de maneira adulta?

Sem idealizar o passado, nas dimensões deste artigo, nem sempre o Brasil foi o que é hoje. Na minha infância e parte da adolescência, experimentei o fim de uma cultura em que era senso comum as pessoas assumirem os seus deveres e os pais assumirem a responsabilidade de educar os filhos – para ficar em dois exemplos.

É verdade que nem tudo é degradação e que o país melhorou em muitos aspectos, mas deixamos que virtudes fundamentais à formação de uma boa sociedade fossem esquecidas por falta de uso ou rejeitadas por serem “velhas”. Há de, neste momento, empreender um esforço de restauração do melhor que foi esquecido e lapidar o que de melhor foi mantido. Eis o nosso dever, eis a nossa responsabilidade.

Por Bruno Garschagen

LINK ORIGINAL: GAZETA DO POVO - https://goo.gl/4rMbDU

sábado, 21 de janeiro de 2017

O que é ser de primeiro mundo?

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"Do ponto de vista econômico diria que para os países que hoje são considerados de primeiro mundo na Europa isso significa manter um índice de desenvolvimento humano (IDH) da população alto. Para um europeu ter acesso a empregos para manter sua cultura, sua educação e seu lazer comensuráveis com suas belas cidades e altos poderes aquisitivos históricos é indispensável. 

Esse modelo Europeu é baseado na propriedade privada, na ação da iniciativa privada em um contexto de livre mercado. No entanto conta com alta intervenção do Estado através de regulamentação para garantir uma "economia social mercado" (vide o modelo alemão "ordo-liberalismo"). A idéia na Europa é dar garantias sociais mas sempre mantendo uma economia de mercado como base. 

Para os EUA, no entanto, essa definição não se aplica. Ser de primeiro mundo nos EUA é poder viver o sonho americano no qual qualquer um que trabalhe duro e honestamente poderá conquistar seus sonhos e acumular sucesso. Sem limites. Segue que qualquer um poderá destronar os barões da economia vigentes com ideias inovadoras sem obstruções senão os desafios naturais do mercado. 

O modelo norte americano também é baseado na propriedade privada, na iniciativa privada no comando da economia num contexto de livre mercado mas há uma diferença: há baixa intervenção do Estado (poucas garantias sociais). O resultado final também é um alto IDH. Mas há também a geração de uma infinidade de oportunidades de emprego e de negócios que, por consequência, mantém o desemprego baixo e limitam a necessidade de ter planos sociais estatais. 

O Brasil não segue nenhum dos dois modelos acima. Não temos direito a propriedade como um europeu ou um norte americano. Nossa iniciativa privada é extremamente regulamentada e tímida. Nossos mercados não são livres, são fechados e regulamentados. Temos alta tributação em tudo. Sofremos com controle de preços, com distorções da tributação em cascata e toda espécie de ineficiência de monopólios estatais. Nossa constituição, os grandes empresários, a classe política e a burocracia favorecem manter tudo isso como está pois se beneficiam do controle total da economia brasileira. 

O resultado final é o que sempre foi há algumas gerações de brasileiros: IDH de país medíocre e por consequência ainda não somos do primeiro mundo. Poderemos um dia ser de primeiro mundo? Sim. Nossa realidade mudará quando mudarmos as nossas idéias e dermos coragem para quem tem medo da mudança."

Dom Luis Phillipe e Orleáns e Bragança.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O QUE FAZ UM IMPERADOR?

 
S.M. o Imperador Dom Pedro II do Brasil

Além de seu papel constitucional (que você pode ver aqui: https://goo.gl/KhYNnF) e outros deveres, um ponto a se destacar é OBRIGAÇÃO do Imperador em visitar o país para verificar como anda a evolução de obras, funcionamento das instituições (escolas, hospitais e demais repartições públicas) e ver o "humor" do povo. Assim, o que vê de errado, logo trata de levar ao conhecimento dos políticos responsáveis (prefeitos, governadores e primeiro-ministro).

Um exemplo disso foi a visita de Dom Pedro II a Bahia, onde S.M. anotou em seu diário...

"6 de outubro [de 1859] - (...) As iluminações das casas que eu vejo daqui estão bonitas, e principalmente a do Forte do Mar que de dia parece um empadão. Está aí o depósito de pólvora, ameaçando a cidade, (...)".  

E, em visita, dias mais tarde, complementou:

"29 de outubro - Saí às 6 1/2 e fui ao forte de São Marcelo ou do Mar. Custou a atracar e quando a ressaca é forte não se pode fazê-lo. O forte é circular, com um fosso interno em parte ocupado por diversas plantas e um quintalzinho e que separa a muralha do corpo central, igualmente circular, e coberto por abóbada que ajunta água, numa cisterna. 

Tem trinta peças e igual número de praças CUJO ALOJAMENTO ASSIM COMO AS OUTRAS ACOMODAÇÕES SÃO MÁS, POR ACANHADAS E MUITO POUCO AREJADAS...   Encontrei a seguinte inscrição sobre o portão interno: 'Vascus? (não pude ler bem) Fernandes Cesar Menesius totius Brasiliae auspicatissimus Prorex hanc arcem fine coronavit anno octavo ab apprehenso claro et a Christo nato 1728' [Vasco Fernandes César Menezes, muito auspicioso Vice-rei de todo o Brasil, coroou esta cidade no oitavo ano de seu governo e no de 1728 do nascimento de Cristo]".  

E tem mais relatos como esse...

PEDRO II, Imperador do Brasil. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859-1860 (2ª ed.). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras e Expressões, 2003. 340 p. il.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

7 mentiras que você sempre acreditou ser verdade sobre a monarquia no Brasil


A imagem que você tem sobre a monarquia com certeza é um período feudal, um rei com trono de ouro, cavalos, enfim, os mitos que se criaram sobre a monarquia são muitos. Mas no artigo de hoje, vamos desmitificar alguns deles e mostrar pra você que a monarquia pode significar bem mais avanços do que você pode imaginar.

A seguir, você vai ficar conhecendo 7 mentiras que você sempre acreditou ser verdade sobre a monarquia.

1. Não existem eleições em uma monarquia

Esse é o maior dos mitos sobre a monarquia e é uma ideia que não passa de uma ilusão. Numa monarquia parlamentarista só não se vota para Chefe de Estado, que é o cargo ocupado por um monarca (da mesma forma que é no Canadá e no Japão por exemplo). No nosso atual sistema presidencialista, a chefia de Estado e de Governo ficam concentradas numa só pessoa, o presidente da República.

No parlamentarismo monárquico é diferente: o poder é dividido. Ao Chefe de Estado cabe o papel de representar seu país e servir como um moderador do sistema político em momentos de crise. Já a função de governar é papel do primeiro-ministro, que é o Chefe de Governo.

2. Monarquia é o contrário de democracia

Chegamos no maior mito de todos e que mais uma vez não passa de uma grande mentira. Basta ver por exemplo que, dos 10 países mais democráticos do mundo, segundo o Índice de Democracia da The Economist, 7 são monarquias. A maior democracia do mundo, a Noruega, é uma Monarquia. 

Talvez te surpreenda mais saber que o Reino Unido, em 16° lugar, se encontra à frente dos Estados Unidos, em 20° lugar no ranking, de acordo com os dados do último índice (2015) como mostra na fonte que colocamos no parágrafo acima.

3. Reis só servem de enfeite

Podemos dizer que um monarca atua em duas esferas de poder: a "auctoritas" e a "potestas". 

Pela "auctoritas", o poder indireto, o monarca, pela presença moral e sabedoria política como chefe de Estado supranacional e permanente, age inspecionando, influenciando, aconselhando e estimulando o Chefe de Governo e seus ministros. 

Pela "potestas", por sua vez - que é o poder direto e varia de Monarquia para Monarquia, de acordo com a Constituição de cada país -, o monarca exerce, por exemplo, o comando supremo das Forças Armadas, representa seu país no exterior, chefia o Conselho de Estado, sanciona as leis, nomeia e exonera o Governo, dissolve a Câmara dos Deputados, convoca eleições gerais, referendos e plebiscitos, nomeia o corpo diplomático, concede honrarias, indulto penal, dentre outros deveres. Seu papel, como se vê, não é meramente simbólico.

4. A monarquia brasileira por ter tradição católica, perseguiria outras religiões se fosse restaurada

É fato que a Família Imperial brasileira por tradição é católica apostólica e romana, mas a Monarquia é uma instituição que tem admiradores em todas as religiões, desde cristãos (católicos e protestantes) até umbandistas e espíritas. Nos tempos atuais, seria impensável um soberano perseguir adeptos de um culto que não é o seu.

O Imperador Akihito, do Japão por exemplo (ilustrado acima), é a mais alta autoridade da religião xintoísta e é tido como descendente direto da deusa Amaterasu, mas nem por isso persegue os milhares de brasileiros católicos que lá trabalham, ou os milhões de budistas que existem em seu país.

Em uma monarquia parlamentarista (que é bem diferente de uma absolutista), todas as religiões podem existir.

5. Monarquias são muito mais caras do que repúblicas

Apesar da divisão entre chefia de Estado e de Governo, uma Monarquia sai muito mais em conta para os cofres públicos do que uma República. De acordo com matéria recente do jornal O Globo, Dilma custava-nos o dobro do que a Rainha Elizabeth custa aos britânicos, mesmo com toda sua pompa.

A monarquia britânica não é a mais cara de todas: a holandesa galga o posto principal. Ainda assim, permanece mais barata do que a dispendiosa presidência da República brasileira.

6. A família imperial brasileira apoiava a escravidão

A escravidão foi uma ferida, um momento sem dúvida nenhuma muito triste na história do Brasil. A Família Imperial reconhecia isso, e a repudiava, ao contrário do que muitas vezes se imagina. Nosso primeiro Imperador, Dom Pedro I, declarou: "Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros".

Segundo a historiadora Isabel Lustosa, "D. Pedro I foi um governante muito à frente da elite brasileira do seu tempo". O Imperador desejava abolir de uma vez só a escravidão, mas sabia que não detinha meios para acabar com a desgraça da escravidão, a não ser convencendo a sociedade brasileira. Sua Majestade era, afinal, um monarca constitucional, e não um rei absolutista. 

Poucos brasileiros eram contra a escravidão naquele tempo, e menos ainda tinham coragem de se dizer contra ela. No Segundo Reinado, D. Pedro II tomou a dianteira na luta pela abolição, promovendo gradualmente, como propôs o pai, sua extinção, e publicamente: em 1850, por exemplo, ameaçou abdicar do Trono a menos que a Assembleia Geral declarasse o tráfico negreiro no Atlântico ilegal. 

O Imperador D. Pedro II nunca possuiu escravos! Sua filha, a Princesa Isabel, teve papel mais destacado ainda no processo. Seu envolvimento com o movimento abolicionista foi notável: além de ser a que assinou a lei áurea, muito antes disso, financiava grupos abolicionistas, era bastante envolvida com o quilombo do Leblon e sabemos, pelo testemunho insuspeito do engenheiro negro André Rebouças, que chegou a proteger mais de mil escravos fugidos em Petrópolis.

7. Se o Brasil voltar a ser monarquia, não vai existir impeachment para cargos públicos e o Brasil também vai voltar a ser colônia de Portugal

Essa confusão é mais difundida do que se imagina e claro, não passa de mais uma lenda. É preciso deixar claro: o Brasil separou-se de Portugal em 1822 e nasceu, enquanto nação independente, como uma Monarquia, o Império do Brasil e não como república.

Embora o primeiro Imperador tenha sido português, com o Império uma nova dinastia brasileira nasceu. Os herdeiros do Trono, porém, não são portugueses, mas sim brasileiros. Não confunda: Brasil Império e Brasil Colônia são duas coisas completamente diferentes.

Em relação ao impeachment, essa é talvez a mentira mais absurda de todas propagada por ai, uma vez que em uma monarquia parlamentarista, não há impeachment apenas para o cargo de chefe de estado, exercido pelo monarca que, mais uma vez vale lembrar, apenas faz parte do poder moderador para moderar os conflitos e crises no governo, sem qualquer participação direta nele.

Para todos os outros cargos há impeachment, desde o primeiro-ministro (cargo do chefe de governo) até deputados, senadores e inclusive vereadores, sem chance de voltar e oferecendo ao povo a chance de um novo parlamento completamente zerado com novas eleições.

LINK ORIGINAL: CURIOZONE - https://goo.gl/bA3A2z

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Monarquia? Inadmissível! Ditadura? Pode ser

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O mesmo partido que não é capaz de se levantar no Parlamento por respeito e cortesia para com o rei de Espanha, é capaz de dobrar a espinha e patrocinar votos de louvor a Fidel Castro.

3 de Dezembro de 2016, 6:51

O problema de o Bloco de Esquerda não ter aplaudido o rei de Espanha no Parlamento, e de José Soeiro ter andado a passear uma t-shirt com as cores republicanas, não está nem na falta de diplomacia, nem na indumentária infanto-juvenil do senhor deputado. O problema está no terrível contraste entre a postura do Bloco perante a vinda do rei Filipe de Espanha e perante a morte do ditador Fidel de Cuba. São esses dois pesos e essas duas medidas que são indignos e chocantes. Qualquer monarquia constitucional deveria merecer no Parlamento português um respeito político que nenhuma ditadura pode reclamar.

E, no entanto, o que aconteceu esta semana foi o contrário disso. O PÚBLICO inquiriu o Bloco acerca da sua atitude perante Filipe VI e a resposta foi a seguinte:

O Bloco de Esquerda valoriza a importância das relações entre o Estado português e o Estado espanhol. Mas mantém a posição de sempre, republicana, e não naturaliza relações de poder com base em relações de sangue e não em actos democráticos.

Sublinhe-se que também eu acredito que devem ser os votos, e não os genes, a decidir os representantes de um povo.

A contradição está na tão comovente defesa dos “actos democráticos” seis dias depois da morte de Fidel Castro, cujo currículo ao nível dos “actos democráticos” é uma folha em branco. Mas eis o que o Bloco de Esquerda escreveu sobre ele:

“Cuba foi o David que derrotou Golias, a miséria endémica suplantada por índices de desenvolvimento humano sem paralelo na América Latina, que extinguiu o analfabetismo e realizou prodígios na ciência e na saúde. (…) Fidel Castro, nos seus erros e nos seus feitos, foi um grande estadista cubano e assim será recordado. Na hora do seu desaparecimento, o Bloco de Esquerda saúda a sua memória.”

O mesmo partido que não é capaz de se levantar no Parlamento por respeito e cortesia para com o rei de Espanha, é capaz de dobrar a espinha e patrocinar votos de louvor a Fidel Castro. Sim, ele cometeu “erros”, mas há três palavras mágicas que nunca são referidas no comunicado do Bloco sobre Fidel: ditadura, democracia e liberdade. Vejam bem: o papel que a monarquia espanhola teve na transição do franquismo e na afirmação da democracia é completamente ignorado pelos bloquistas; mas Fidel, esse, já é um exemplo a ter em conta por todos os povos que buscam a libertação do jugo imperialista – como o povo português, imagino eu.

O Bloco, tal como o PCP e como demasiada gente nestes últimos dias, colocaram sem qualquer pudor a ideologia à frente da democracia. Se quem estiver no poder for da cor política certa, pode suspender-se a democracia não por seis meses, mas por 60 anos. Há dois argumentos aterradores que tenho escutado sem cessar. O primeiro é o índice de desenvolvimento humano de Cuba. Ao assinalarmos a falta de liberdade de expressão e de voto recebemos em troca argumentos sobre a excelência do sistema de saúde e a ausência de analfabetismo.

A liberdade, pelos vistos, compra-se: a partir de um certo nível de vida, as ditaduras tornam-se justificáveis. O segundo argumento é o de que os EUA e muitos países europeus são falsas democracias, ou ditaduras encapotadas. Estes argumentos demonstram que se caíssemos num regime musculado com a ideologia certa haveria um exército de gente capaz de o aceitar sem problemas. Por baixo das t-shirts coloridas há muitas cabeças escuras que têm tanto respeito pelo rei de Espanha como pela liberdade. E isso é francamente assustador.

LINK ORIGINAL: PUBLICO - https://goo.gl/LHkRuO