A dotação do Imperador era de 800 contos de réis anuais. Apesar de não ser nenhuma fortuna, foi mantida igual durante os 49 anos de reinado de D. Pedro II. Várias vezes o Parlamento propôs aumentá-la, mas sempre encontrou a resistência do Imperador, que declarou certa vez:
"Tenho querido que todas as minhas despesas corram por conta da dotação. Desde que ela foi votada, jamais quis nem quero que seja aumentada". Diria também: "Nada devo, e quando contraio uma dívida, cuido logo de pagá-la. A escrituração de todas as despesas de minha casa podem ser examinadas a qualquer hora. Não junto dinheiro".
Essa conduta foi uma constante na vida de D. Pedro II. O comprova um minucioso estudo de Maurílio Augusto de Almeida sobre sua viagem à Paraíba, em 1859:
"Todas as despesas havidas com a viagem à Paraíba e demais províncias correram por conta pessoal de D. Pedro II, como se o Imperador estivesse empreendendo uma excursão turística para regalo íntimo, como se não estivesse no desempenho de missão inerente às suas altas funções. Marcava-lhe o caráter este traço reconhecido até mesmo por seus adversários mais ferrenhos: Sua Majestade nunca se valeu de recursos públicos para custeio de despesas pessoais, limitando-se ao emprego dos estipêndios que lhe coubessem por direito."
Embora tivesse confiança nos empregados da Mordomia, o Imperador cuidava pessoalmente das contas da sua Casa. Uma vez por semana ia à Mordomia para examinar os balancetes e conferir os documentos de despesas. Uma vez, chegando ali, perguntou ao tesoureiro:
— Como vão os negócios da minha Casa?
— Vossa Majestade não sabe multiplicar.
— Isso é verdade. Só sei dividir.
Quando o Imperador chegou da Europa em 1888, o Conselheiro Miranda Rego, que era mordomo interino, apresentou-lhe as contas da gerência de sua Casa:
— Senhor, há um saldo de treze contos de réis a favor da Casa Imperial.
— Dê quanto antes essa quantia aos nossos pobres. Não quero que digam que eu entesouro dinheiro.
Assim procedia o monarca. Certo dia um funcionário veio comunicar-lhe que havia dezoito contos de réis de saldo em sua conta particular. Respondeu que não queria economias, e determinou que a soma fosse empregada na construção de uma escola na Fazenda Santa Cruz.
No dia 25 de maio de 1871, D. Pedro II partiu para sua primeira viagem à Europa, deixando como regente a Princesa Isabel. Concedida a licença, começaram na Assembléia os debates sobre como seria a viagem. Levanta-se o deputado Teixeira Júnior, e propõe:
— Já que nosso bem amado Imperador vai à Europa, ele precisa ir com certa folga financeira, para apresentar-se à altura de um Chefe de Estado do Império do Brasil. Proponho, pois, que se aprove a concessão de uma verba extra de dois mil contos de réis para o Imperador fazer condignamente sua viagem.
Levanta-se outro deputado, Melo de Morais, e diz:
— Dois mil contos de réis? Isso é muito pouco. Vamos votar o dobro, vamos dar quatro mil contos de réis para Sua Majestade poder comodamente ir à Europa.
E assim prosseguiram os debates. Quando soube disso, mandou logo o Imperador um bilhete ao Conselheiro João Alfredo, ministro do Império, nos seguintes termos:
"Espero que o Ministério se apresse em fazer desaprovar quanto antes semelhantes favores, que eu e minha filha rejeitamos. Respeito a intenção de todos, mas respeitem também o desinteresse com que tenho servido à Nação".
- XAVIER, Leopoldo Bibiano. Revivendo o Brasil-Império. São Paulo: Artpress, 1991. p. 40-41.
LINK ORIGINAL: DIGA SIM À MONARQUIA - https://goo.gl/WDvkhp
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