sexta-feira, 13 de julho de 2018

A INFÂNCIA E FORMAÇÃO DE UM PRÍNCIPE

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Segue relato de S.A.R. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, terceiro na linha de sucessão ao Trono, feito durante entrevista ao boletim “Herdeiros do Porvir”, acerca de sua infância e formação familiar em uma fazenda no norte do Estado do Paraná, junto aos seus pais e onze irmãos e irmãs:

Foi uma formação maravilhosa, apesar de toda dificuldade. Não tínhamos eletricidade em nossa fazenda de Jundiaí do Sul e o médico ficava a duas horas, e isso quando não chovia... Uma vida com a educação acima descrita [de acordo com os valores da Igreja e voltada para o serviço à Pátria], mas com total liberdade.

Saíamos o tempo todo a cavalo e apenas tínhamos os deveres da escola a cumprir. Os horários eram rígidos: café da manhã, almoço e jantar. Se chegasse atrasado, não almoçava. Dormíamos com os passarinhos e acordávamos com os passarinhos. A única escola em Cinzas era um grupo escolar. Os quatro primeiros anos do curso primário estudei em Cinzas e ia a cavalo.

Para nós foi um aprendizado formidável. Aprendemos com nosso pai o que era certo ou errado. A principal linha de meus pais era a formação católica, espinha dorsal de tudo que fazíamos. Tínhamos a liberdade de sair a cavalo, mas sempre dizíamos para onde: “Vou para a fazenda, para a administração, para a cidade”.

O bom desse quase isolamento na fazenda foi que nossa família ficou muito unida, num convívio muito intenso entre nossos pais e nós. Lembro-me de que muitas vezes saia com meu pai para ver o gado, as plantações, todo o desenvolvimento da fazenda, tanto eu quanto meus irmãos, algumas vezes a cavalo, outras no carro de meu pai, uma Rural Willys. Sinto pena de meus filhos, porque não tiveram, como eu, a oportunidade dessa vida de fazenda.

Outra coisa que aprendemos foi o respeito aos empregados, ao mesmo tempo em que éramos respeitados por eles. Na época, não havia rivalidade entre patrão e empregado. Os colonos eram considerados como que membros da família. Existia, entre todos, grande harmonia. Quando chovia, o carro atolava e chamávamos o trator para nos socorrer. Temos a foto da Primeira Comunhão de Dom Francisco: voltando para casa, o carro atolou e a roupa branca dele ficou toda suja de lama... Pescava com meus irmãos e colonos nos momentos de folga.

Sempre tivemos o exemplo de nossos pais nas dificuldades econômicas, mas sempre com esperança e fé na Providência Divina. Era admirável a fé de minha mãe, que sempre dizia: “Deus ajuda as famílias numerosas. Apesar das dificuldades, Deus está junto e ajuda”. Meus cinco irmãos mais novos nasceram na fazenda, e não em Casa de Saúde, graças à fé de meus pais.

Dom Luiz estudava, nessa época, na Alemanha, e quando vinha para a fazenda era uma grande festa. Tinha uma alegria contagiante e trazia presentes para todos, com aquela bondade que lhe é peculiar. Não foi muito correto de minha parte, mas quando eu estudava num colégio interno de Jacarezinho, simulei uma gripe, para que papai me levasse para casa, pois estava louco para ver Dom Luiz... Infelizmente, logo tive que voltar ao colégio, mas só a felicidade de vê-lo por instantes valia a pena. Ele vinha uma vez por ano e, para nós, era verdadeiro júbilo.

Foto: S.A.R. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança (o segundo menino da direita para esquerda) e seus três irmãos mais próximos em idade, SS.AA.RR. os Príncipes Dom Fernando, Dom Francisco e Dom Alberto de Orleans e Bragança, durante momento de lazer na Fazenda Santa Maria, então residência da Família Imperial Brasileira, em 1962.

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