Com o objetivo de melhor conhecer as províncias do vasto império brasileiro, demarcar a presença do governo no lugares mais remotos ao norte da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (Capital do Império), fortalecer a monarquia e preservar a unidade nacional que resultou no Brasil de hoje, o imperador Dom Pedro II passou quatro meses viajando pelo País no ano de 1859.
No próximo dia 24, véspera de Natal, faz 155 anos que Dom Pedro II pisou em solo paraibano. Passou cinco dias em missão oficial. Foi uma viagem considerada curta, em relação ao tempo que ele passou na Bahia e em Pernambuco, embora nunca um governante brasileiro tenha passado tantos dias na Paraíba.
Os presidentes que visitaram o Estado nos séculos XX e XXI, nunca passaram mais do que dois dias no Estado. Tampouco ficaram por aqui em tempo de festa tão importante como o Natal.
Dom Pedro II por aqui esteve, no século XIX, e, além da Capital da Província, visitou engenhos em Bayeux e Santa Rita. Foi a Cabedelo, Pilar e Mamanguape. Entre Bayeux e Santa Rita, visitou os engenhos Maraú, Tibiri e Santo Amaro.
Parahyba, Capital da Parahyba do Norte, sábado, 24 de dezembro de 1859, 16h30. O Vapor APA, navio da Marinha do Brasil, atracou no Porto do Capim, no rio Sanhauá. A bordo, estavam o imperador Pedro II, a imperatriz Teresa Cristina, o médico Motta Maia e uma vasta comitiva formada por ministros, conselheiros, militares e serviçais, num total aproximado de 50 pessoas. Foi a primeira e única visita do imperador ao território da Parahyba do Norte.
A comitiva imperial foi recebida com entusiasmo, aplausos, vivas e muita empolgação pelo povo e por autoridades. O casal imperial recebeu um crucifixo das mãos do Padre Chacon, visitador da Província. Dom Pedro recebeu também as chaves da cidade, entregues pelo presidente da Câmara de Vereadores, Francisco Alves de Souza Carvalho, segundo o médico e historiador paraibano Maurílio Augusto de Almeida, autor do livro “Presença de D. pedro II na Paraíba”.
Dom Pedro II, a imperatriz e os demais membros da comitiva passaram a noite de Natal na Capital Província, que fora preparada, meses antes, para a ilustre visita. Depois de uma longa caminhada pelas principais ruas da pequena Capital, Dom Pedro II e todos da comitiva chegaram ao Palácio do Governo, onde se acomodaram. Às 21h, conta Maurílio de Almeida, o presidente da Província, Ambrósio Leitão da Cunha, ofereceu um jantar na sala de refeições, onde estavam Dom Pedro, Dona Teresa Cristina, o chefe de polícia, o ministro do império e o senador Frederico de Almeida, entre outros convidados.
À meia noite, Dom Pedro II, Dona Teresa Cristina, o presidente da Província e o restante da comitiva se dirigiram à Igreja da Conceição- a Capela Imperial-, ao lado do Palácio, para assistir à Missa do Natal, celebrada pelo cônego José de Melo, o capelão do Império, que também veio à Parahyba.
Conventos e igrejas
Nas primeiras horas da manhã do dia de Natal de 1859, um domingo, o imperador Pedro II, o presidente da Província da Parahyba, Ambrósio Leitão da Cunha, e outras pessoas da comitiva foram ao Porto do Capim, embarcaram no navio APA e rumaram para Cabedelo. O imperador foi conhecer a Fortaleza de Santa Catarina. Visitou o povoado e retornou à Capital às 11h.
À tarde, visitou as igrejas do Rosário, das Mercês e da Misericordia, os conventos de São Francisco e São Bento, e a ponte sobre o rio Sanhauá. “Ao amanhecer do dia 25 de dezembro, Dom Pedro II foi a cavalo até o Porto do Capim, entrou no navio APA com o presidente e outras pessoas e seguiu para Cabedelo. Foi recebido em festa pelo povo”, narra o livro de Maurílio de Almeida.
“Em Cabedelo, o imperador andou pelo Lazareto da Ilha da Restinga, uma área destinada a receber pessoas que chegavam de navio, para evitar que trouxessem doenças ou adoecessem. O Lazareto era um órgão do governo”, contou o jornalista Otinaldo Lourenço de Arruda Melo, acrescentando que o imperador retornou á Capital no período da tarde, onde visitou igrejas e conventos.
“À noite, após jantar no Palácio, ele foi visitar a cadeia e reclamou da comida servida aos presos. Depois, quis saber como os presos eram tratados e comeu bananas. Achou a cadeia ótima, exceto a construção e a falta de água”, acrescentou Otinaldo.
A viagem a Pilar aconteceu no dia 26, uma segunda-feira. “Ele foi a Pilar acompanhado de homens da Guarda Nacional, e do presidente da Província. Parou no engenho Santo Amaro, em Bayeux. Depois, seguiu com destino ao engenho Tibiri, em Santa Rita. Também visitou o engenho deMaraú, então pertencente a José Teixeira de Vasconcelos, posteriormente Barão de Maraú, avô do ex-prefeito de Santa Rita, Marcus Odilon Ribeiro Coutinho”, disse Otinaldo Lourenço.
O imperador chegou a Pilar antes do previsto e nada tinha sido preparado, ainda, para recepcioná-lo. Enquanto preparavam algo para ele comer, Dom Pedro deitou-se numa rede e descansou. O governador, segundo Otinaldo Lourenço, mandou prender Herique Lins, então responsável pela cidade, pelo descaso em relação à visita do imperador. Mas o próprio Pedro II mandou soltá-lo, assumindo a culpa pela antecipação da chegada ao povoado.
Dormiu em Pilar e, no dia 27, a comitiva seguiu para Mamanguape, a cidade mais próspera e rica da Província, depois da Capital. Em Mamanguape, ele foi ovacionado. No dia 30, o imperador deixou a Parahyba por volta das 8h. Seguiu para as Províncias de Alagoas e Sergipe.
Começo pela Bahia
No dia 11 de setembro de 1859, durante o encerramento da 3ª sessão da 10ª Legislatura da Assembleia Geral na Corte, o imperador comunicou a pretensão de visitar as Províncias localizadas ao norte da Capital do Império: Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Parahyba. As demais Províncias do Norte e do Centro-Oeste seriam visitadas em outra ocasião.
A viagem começou pela Bahia e se estendeu a Pernambuco, as duas Províncias mais importantes. De Pernambuco, Dom Pedro II seguiu para a Paraíba, onde passou o Natal com a imperatriz, Teresa Cristina. Antes, em 1845, segundo Maurílio de Almeida, ele tinha visitado as províncias do Sul: Santa Catarina, São Pedro do Rio Grande do Sul e São Paulo.
Conforme ficou registrado, em português da época, o imperador disse, em seu discurso, no encerramento da 10ª Legislatura da Assembleia Geral da Corte, que queria conhecer melhor as Províncias do Império, “cujos melhoramentos moraes e materiaes são alvo dos meus constantes desejos, e dos esforços do meu governo”.
“Decidi visitar as que ficão ao norte do Rio de Janeiro, sentindo que a estreiteza do tempo que medea entre as sessões legislativas me obriguem a percorrer somente as Províncias do Espírito -Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Parahyba”, acrescentou em português arcaico. O imperador morreu sem realizar o sonho de visitar o Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Pará e Amazonas, entre outras províncias.
Como sabia que a Parahyba era uma Província palpérrima e que enfrentava dificuldades financeiras, Dom Pedro II enviou a importância de 4 contos de réis para que o Governo preparasse a visita. Depois, enviou mais 3 contos porque o dinheiro inicial foi insuficiente. Com o que já tinha investido nas melhorias feitas no Palácio, os gastos somaram quase 7 contos, uma fortuna para a época. (ABS)
Palácio foi recuperado
A população da Cidade da Parahyba e o governador da Província ficaram sabendo da visita do imperador no dia 5 de setembro de 1859, por meio de um aviso imperial. Segundo historiadores, a palpérrima Capital da longínqua Província precisava se preparar para a visita do ilustre monarca.
Para tanto, a Assembleia Provincial aprovou a lei número 30, de 3 de outubro daquele ano, que disponibilizou crédito ilimitado para que o presidente mandasse comprar o que fosse necessário para proporcionar bem estar aos visitantes. O crédito foi aprovado porque os 7 contos enviados do Rio de Janeiro não foram suficientes para as despesas.
Segundo relatório elaborado pelo ex-presidente da Província, Ambrósio Leitão da Cunha, o crédito aprovado pela Assembleia foi destinado à compra de móveis, reparo no telhado do Palácio, compra de cortinas, louça e alimentos. Tudo fora adquirido na vizinha e mais desenvolvida Província de Pernambuco. O presidente mandou recuperar o Palácio, a Igreja do Colégio, onde hoje está o mausoléu do ex-presidente João Pessoa. (ABS)
Mamoré
O presidente da Paraíba era o paraense Ambrósio Leitão da Cunha, que recebeu o título de Barão da Mamoré, depois da visita do imperador à Parahyba. Ambrósio era advogado e juiz de Direito. Nasceu em Belém (PA) em 21 de agosto de 1825. Ele também foi deputado geral, e senador do Império do Brasil de 1870 a 1889. Além de presidente da Parahyba, foi presidente de Pernambuco, do Pará, do Maranhão (quatro vezes) e da Bahia. Assumiu o governo da Parahyba no dia 4 de junho de 1858 e ficou no cargo até 13 de abril de 1860. (ABS)
Caminhada entre o Porto do Capim e o Palácio do Governo
Monarquista convicto, o jornalista e historiador paraibano Otinaldo Lourenço de Arruda Melo disse que o imperador, a imperatriz, os ministros e demais membros da comitiva foram muito bem recebidos na Cidade da Parahyba naquele dia 24 de dezembro de 1859.
O governador da Província, Ambrósio Leitão da Cunha, que tinha assumido o mandato no dia 4 de junho, foi surpreendido com um aviso imperial comunicando a visita de Dom Pedro II e fez tudo o que era possível para proporcionar uma recepção à altura da importância do soberano.
Dom Pedro II, conforme Otinaldo Lourenço, chegou à Cidade da Parahyba às 16h30h do dia da véspera do Natal. “Ele, a imperatriz, o médico, os ministros e os demais membros da comitiva desembarcaram do navio APA no ancoradouro do Porto do Capim, no Varadouro”, disse Otinaldo.
“O imperador tinha 33 anos e seguiu a pé, com a comitiva (subindo ladeiras), do Porto do Capim, seguindo pela Rua da Areia, Rua Duque de Caxias, Ponto de Cem Réis, até o Palácio do Governo da Província, hoje Palácio da Redenção, sede do Governo do Estado”, acrescentou Otinaldo Lourenço.
Segundo ele, o povo acompanhou a comitiva pelas ruas da Capital. E em frente ao Palácio, outra multidão aguardava a comitiva imperial dando vivas ao imperador. Dom Pedro, Dona Teresa Cristina e demais membros do governo imperial se hospedaram no Palácio, que fora totalmente reformado e preparado para o acontecimento histórico, segundo Otinaldo Lourenço.
A Capital da Província, segundo o médico e historiador Maurílio de Almeida, que pesquisou, escreveu e lançou em 1975 um livro sobre a “Presença de D. Pedro II na Paraíba”, tinha 25 mil habitantes no ano de 1859. Era uma cidade pequena, pobre e atrasada, conforme narra Maurílio de Almeida, que fala em “aglomerado urbano pequeno, pobre e dos mais atrasados”, com 35 ruas, travessas e becos nas partes alta e baixa.
A parte alta tinha, segundo Maurílio, 17 ruas. As principais eram as ruas Nova, da Misericórdia, da Matriz, das Mercês, da Cadeia, das Trincheiras e o Largo do Erário. Na parte baixa, conhecida como Varadouro, estavam outras 16 ruas, travessas e becos. As principais ruas: das Convertidas, do Varadouro, da Areia, do Império, da Viração, do Quartel e das Flores.
Maurílio Almeida escreveu em sua obra que “todas as despesas efetuadas com a viagem à Paraíba e as demais Províncias correram por conta pessoal do D. Pedro II, como se o imperador estivesse empreendendo uma excursão turística para regalo íntimo, como se não estivesse no desempenho de um dever inerente às suas funções conspícuas”.
Ainda segundo Maurílio Almeida, não possuindo dinheiro suficiente para os custos da viagem, Dom Pedro II, teria feito empréstimos pessoais. O primeiro teria sido de 20 contos de réis.
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