sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

EXEMPLO DE SOBERANO

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S.M. o Imperador Dom Pedro II do Brasil

Durante a segunda viagem do Imperador Dom Pedro II ao exterior, em julho de 1877, inaugurava-se em Londres a “Caxton Exhibition”, exposição organizada em honra de William Caxton, pelo quarto centenário da sua introdução da imprensa na Inglaterra, tendo ele publicado “Dictes and Sayings of the Philosophers” em novembro de 1477, o primeiro livro impresso no País. Dom Pedro II nutriu grande interesse pela exposição, sendo um dos primeiros dos mais de vinte mil visitantes, que a prestigiaram nos dois meses de duração.

Anos antes, em 1872, no balneário de Cannes, na França, Dom Pedro II havia conhecido o então Primeiro Ministro do Reino Unido, William Ewart Gladstone, tendo-o recebido em audiência em seus aposentos, se estendendo a conversa em um passeio, tomando todo o dia do Imperador. Por ocasião de sua visita a Londres, em 1877, os dois se reencontraram, no dia da inauguração da Exposição, em 1º de julho, desta vez com Gladstone como líder do governo de oposição. Os dois novamente ficaram em conversa por praticamente todo o dia.

Mais tarde naquele mesmo dia, o estadista Gladstone fez um discurso no banquete ao qual estavam presentes a Rainha Vitória, o Príncipe de Gales e toda a Família Real Britânica, porém não o Imperador do Brasil. Nesse discurso, ergueu o brinde protocolar – o chamado brinde da lealdade – à sua Soberana e ao futuro Rei da Inglaterra. Normalmente, nenhum outro brinde se poderia fazer. Contudo, Gladstone pediu licença, dizendo estar certo da aprovação não só da Rainha e de seu filho, mas de todos os presentes, pois desejava saudar o Imperador do Brasil.

O jornal The Times, no dia seguinte, assim resumia as palavras do brinde de Gladstone:

“Esse homem – e posso falar com mais liberdade por estar ele ausente – é um modelo para todos os soberanos do mundo, pela sua dedicação e esforços em bem cumprir seus altos deveres. É um homem de notável distinção, possuidor de raras qualidades, entre as quais uma perseverança e uma capacidade de trabalho hercúleas. Muitas vezes começa seu dia às quatro horas da manhã, para terminá-lo tarde da noite. Atualmente, essas dezoito ou vinte horas de atividade diária, ele as emprega através do mundo, e em esforços constantes para adquirir conhecimentos de todo o gênero, que saberá aproveitar no regresso à pátria. E continuará, assim, a promover o bem-estar de seu povo.”

Neste momento, irromperam-se os aplausos gerais da Família Real Britânica e dos demais convidados do banquete. O célebre estadista William Gladstone continuou o discurso proferindo as palavras finais, seguidas dos mais calorosos aplausos:

“É o que chamo, senhoras e senhores, um grande, um bom Soberano, que, pelo seu procedimento no alto cargo que ocupa, é um exemplo e uma bênção para a sua raça! Bebo à saúde de Sua Majestade, o Imperador do Brasil!”.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Orgulho de quê? Pesquisa Ibope revela que orgulho de ser brasileiro está em baixa

Mapa do Brasil

POR LAURO JARDIM25/12/2016 06:05

O refrão "sou brasileiro, com muito orgulho..."  ainda é cantado aqui e ali em jogos da seleção (da seleção de Tite, bem entendido), mas nas ruas nunca esteve tão em baixa.

É o que constata uma pesquisa inédita feita pelo Ibope em todo território brasileiro entre os dias 8 e 12 de dezembro.

Em 2001, ainda nos tempos de FH, aqueles que declaravam ter "muito orgulho" eram 58% da população; hoje, são 34%.

Quem tinha "pouco" ou "nenhum" orgulho, em compensação, passou de 19% para 30% dos brasileiros neste período.

LINK ORIGINAL: O GLOBO - https://goo.gl/sH599L

ISSO AQUI É BRASIL!

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

SOBRE A FORMAÇÃO DOS PRÍNCIPES

A Família Imperial do Brasil

Desde logo é necessário considerar a existência do inegável factor da predisposição hereditária. A família do Príncipe — mesmo naqueles casos em que não é reinante — tem atrás de si uma longa série de gerações especializadas no desempenho da alta função de reinar. E como é sabido, há muitas aptidões que se transmitem por hereditariedade, como se pode constatar em famílias onde predomina a tendência para a carreira médica, diplomática, musical, militar, etc. Assim, de um Príncipe que descende de uma família há 200, 500 ou 1000 anos reinante, pode-se razoavelmente esperar que tenha maior aptidão para o ofício de governar, do que uma pessoa que não tem nesse domínio quaisquer antecedentes.

Visto o factor da hereditariedade, considere-se agora o da educação

Desde criança, o Príncipe é cuidadosamente preparado para as funções que um dia deverá desempenhar. O seu pai, escolhe a dedo os mestres encarregados de lhe ministrarem os conhecimentos necessários, vigia atentamente o seu aproveitamento e instrui-o pessoalmente nos princípios da arte de governar e nos segredos de Estado. Mesmo aqueles Príncipes que são filhos de pais não-reinantes e a quem está vedada, portanto, a possibilidade de terem “aulas práticas” pela participação em despachos ministeriais ou em sessões do Conselho de Estado, podem sempre aprender o ofício de reinar no exemplo vivo da família e dos seus antepassados. “As lições da História — escreve José María Pemán — são, na casa do Príncipe, experiências de família […]. O Príncipe respira, desde que nasce, um ambiente que a todo o momento é aprendizagem e ensino para a sua função.”

Tudo isso lhe confere uma bagagem muito especial e completa, a qual naturalmente lhe dá maiores probabilidades de ser bem sucedido como Chefe de Estado, do que um improvisado presidente republicano. Ademais, quando sobe ao trono, o Príncipe não é um desconhecido que aparece subitamente na cena política. Desde que nasce, toda a nação o conhece e tem os olhos postos nele. Sabendo disso, também ele, por sua vez, aprende a conhecer a importância transcendente de todos os seus actos e a ampla repercussão que têm os seus bons ou maus exemplos. A sua condição, portanto, pede um enorme esforço de vigilância sobre si mesmo, pede disciplina, pede renúncia a muitos prazeres, a muitas diversões e a muitas liberdades que qualquer outra pessoa pode ter. Inevitavelmente, daqui vem um sentido de responsabilidade que o cidadão comum nunca poderá alcançar, porque vem da circunstância do nascimento e porque é gravada na alma do Príncipe desde a mais tenra infância.

– Artigo escrito pelo Senhor José Filipe Sepúlveda da Fonseca.

A CARRUAGEM DE D. PEDRO II

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O Museu Imperial de Petrópolis reinaugurou, depois de mais de um ano de restauro, a berlinda usada por D. Pedro II em sua coroação, no casamento de suas filhas e na abertura e fechamento da Assembleia Geral do Império.

O veículo, para ser puxado por oito cavalos, foi construído em 1835 pela empresa britânica Pearce & Countz, que permanece até hoje como fornecedora da Casa Real inglesa. Sua estrutura é formada principalmente de madeira e ferro; compõem a decoração detalhes em prata, madeira entalhada e folhada a ouro, couro, cristal, bordados e galões em fios dourados, estofamentos e revestimentos em veludo. De inigualável beleza, o povo a batizou de “Monte de Prata”, devido à predominância deste metal.

Coordenou o projeto a artesã Eliane Zanatta, responsável pelo Laboratório de Conservação e Restauração do museu. Segundo ela, “o trabalho foi elaborado a partir de um projeto de pesquisa minucioso e detalhado, sobre a história da berlinda, bem como o contexto histórico, social, político e cultural em que ela se insere”. De acordo com Eliane, “foram realizadas pesquisas dos materiais e das técnicas que fizeram parte da manufatura do objeto, integrando campos disciplinares distintos, como biólogos, conservadores, engenheiros, historiadores e historiadores de arte, restauradores e profissionais artesãos especialistas em metais e bordados”.

É necessário realçar que os trabalhos foram realizados na Galeria de Restauro do próprio Museu Imperial, por especialistas formados por esta instituição. A experiência adquirida será empregada na reforma e recuperação de incontáveis outros objetos de arte que compuseram o cotidiano da Corte brasileira.

– Artigo escrito pela Senhora Hayley Ribeiro de Barros e publicado na edição de número 34 do boletim “Herdeiros do Porvir”.

PRÍNCIPE DOM LUIZ: LEGITIMIDADE E PREPARO


“Uma verdadeira Monarquia não pode ser implantada pelo golpe de força de um grupo, mas deve vir, organicamente, da aspiração de conjunto da Nação. Aspirações dessas ocorrem na vida dos povos em diferentes circunstâncias, o mais das vezes, pela irremediável falência de uma situação anterior. 

No Brasil de hoje, há um profundo descontentamento, patenteado aqui nas recentes e surpreendentes manifestações de rua, um grande anseio por algo diferente, algo melhor, algo que já existiu e que perdemos... 

Quando esse anseio se tornar majoritário, a Monarquia, acabada expressão política da Civilização Cristã, poderá ser restabelecida no Brasil, de modo estável e benfazejo. Quando isso se dará, só Deus Nosso Senhor o sabe, mas, creio, bem antes do que poderia parecer à primeira vista.”

Sua Alteza Imperial e Real Príncipe Dom Luiz, Chefe da Casa Imperial e legítimo Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

EXEMPLO DE GOVERNANTE

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A Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 9, nº 101, de fevereiro de 2014 - periódico da Biblioteca Nacional (órgão criado e estruturado pela Monarquia e administrado atualmente pela república) - na sessão Almanaque, página 85, cita:
"O bolso furado do Imperador

Em tempos de escolher governantes, é bom estar atento às relações que os homens públicos mantêm com o dinheiro do povo. Um exemplo a ser lembrado é o de D. Pedro II. O Imperador esteve no trono brasileiro por quase 50 anos, e nunca aceitou aumento na sua dotação, isto é, o salário. Pouco depois de ser coroado, ainda com 14 anos, tratou de extinguir cargos públicos que considerava inúteis (por exemplo, a Guarda Imperial, depois recriada, já na República, com o nome de Dragões da Independência). Além de pagar do próprio bolso estudos de brasileiros no exterior – que foram estudar arte, medicina e engenharia, com a condição de retornar ao Brasil e aplicar aqui seus conhecimentos – doava recorrentemente parte do salário a obras de caridade (ou para gastos de guerra). Pagava também viagens pelo país, e fazia empréstimos para viajar para o exterior. Quando morreu, exilado, em 1891, não havia amealhado fortuna. Ao contrário, deixou dívidas.

Em ‘D. Pedro II’, de José Murilo de Carvalho"

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

LEMBRANÇAS DO CONDE D’EU


Em 1921, quando visitou o Brasil pouco antes de sua morte, o Conde d’Eu foi recepcionado e acompanhado pelo historiado Max Fleiuss, que deixou narrados alguns episódios ocorridos na ocasião:

“No Palace Hotel, onde se achava hospedado, assisti a várias cenas que lhe confirmavam a estupenda memória. Certa manhã foi visitá-lo um cavalheiro da família Miranda Montenegro. Ao entrar, fez uma reverência. O Conde encarou-o, e de pronto chamou-o pelo nome de batismo, e nos disse havê-lo conhecido menino, na fazenda de seus pais, contando pitorescamente vários incidentes, um dos quais foi a passagem numa pequena ponte carcomida, do que resultou um banho nada confortável.

Outra visita foi a de um ancião de grandes barbas brancas, calças da mesma cor e um fraque antigo. Ao vê-lo, o Conde abraçou-o com enternecimento e, pondo-lhe a mão na cabeça, exclamou:

– Cá está ela!”

Era uma depressão produzida por uma bala, na Batalha de Campo Grande. O velho chorou de prazer.

* * *

“O Conde d’Eu insistiu em visitar o Palácio Guanabara, que fora a residência oficial da Princesa Isabel e dele. Ao se aproximar, comentou:

– Como está mudado!

Descendo do automóvel, ficou diante do portão, silencioso, estático, os olhos molhados, rolando saudosamente à direita e à esquerda, como numa evocação. Depois, voltou-se. O seu olhar estendeu-se por toda a Rua Paissandu, e ele caminhou para as três palmeiras do começo da rua:

– Está aqui! São estas! São estas! Estas três foram plantadas por Isabel. E aquelas outras foram plantadas por mim.”

* * *

“Pediu-me que o levasse à Igreja da Glória.

Ao chegarmos ao pátio do templo tradicional, a igreja estava de portas fechadas. Um homem varria a escadaria exterior. Saltei do automóvel e pedi permissão para entrarmos.

– Agora não é possível, patrão.

Insisti alegando que estava ali o Conde d’Eu. Ao ouvir o nome de Sua Alteza, o varredor arregalou os olhos, e a vassoura caiu-lhe das mãos. O homem sumiu-se, e minutos depois a porta da igreja abria-se. Entramos. O templo estava vazio, mudo, mergulhado numa penumbra que era escuridão para os nossos olhos acostumados à claridade exterior. O Conde encaminhou-se para o altar-mor, e ali ficou, num esforço de pupilas, a olhar para o altar-mor. Subitamente, para nossa surpresa, a igreja iluminou-se. É que o varredor correra a avisar o sacristão, e a surpresa da luz fora um gesto gentil do sacristão, para com o marido da Redentora.”

- Baseado em trechos do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O FUNERAL DE DOM PEDRO II

Dom Pedro II, após ter servido o Brasil por 58 anos, dos quais 10 através na Regência e 48 de forma efetiva; o Maior dos Brasileiros, faleceu modestamente, em um hotel parisiense.

Acometido de grave doença pulmonar, Dom Pedro II morreu ainda jovem para os padrões atuais. Contava com 66 anos, mas a aparência de muito mais velho. Suas responsabilidades, as preocupações, a vida pública havia lhe imposto tal aparência. Carregava em sua face o Brasil.

Em 1891, na França, Paris, no exílio, Dom Pedro II, dias antes realizou um longo passeio pelo rio Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o Hotel Bedford, à noite, sentiu-se resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia.

Em 04 de dezembro de 1891, França, Paris, o estado de saúde de D. Pedro II rapidamente piorou

Em 05 de dezembro de 1891, França, Paris, na madrugada, as 00:35 horas, em seu quarto do Hotel Bedford, acompanhavam o Imperador, sua filha Dona Isabel com o esposo Conde D’Eu e os filhos Príncipes: Dom Pedro de Alcântara, Dom Luiz, Dom Antonio e os filhos da Princesa Dona Leopoldina com o Duque de Saxe, Dom Pedro Augusto e Dom Augusto, além de inúmeros brasileiros que moravam em Paris ou que para lá foram seguindo-o no exílio.

Em um suspiro final Pedro II disse a todos:

Deus que me conceda esses últimos desejos – 
paz e prosperidade para o Brasil…

- Falecendo em seguida.

- Morre Dom Pedro II em Paris, França, no exílio.
- Era 05 de dezembro de 1891.

D. Pedro II era admirado em todo o Mundo, e somente neste dia 05 de dezembro havia chegado ao Hotel Bedford mais de 2 mil telegramas prestando as condolências à Família Imperial.

Poucas horas após a morte de Pedro II, milhares de pessoas compareceram ao Hotel Bedford, dentre elas, o Presidente do Conselho, Freycinet e os ministros da Guerra e da Marinha da França.

Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.

"É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria".

Dom Pedro II foi vestido em uniforme de Almirante da Armada do Brasil, com as medalhas e fitas das quais era dignitário, segurando o crucifixo em prata de lei, enviado pelo Papa Leão XIII.

O corpo foi colocado em três caixões:
- O primeiro de chumbo forrado em cetim embranquecido, com tampa em cristal;
- O segundo, de nobre carvalho envernizado;
- O terceiro, o de carvalho forrado de veludo negro.

O presidente francês Sardi Carnot, que estava em viagem pelo sul do país, enviou todos os membros da Casa Militar para prestarem homenagens ao falecido monarca.

A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima, mas acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Estado.

Na França, Paris, enquanto o governo francês queria prestar homenagens de chefe de estado ao Imperador, a representação diplomática do Brasil, na França, tentava convencer o governo francês a não fazer isso, pois poderia ferir suscetibilidades dos governantes republicanos brasileiros.

O governo brasileiro, dos republicanos golpistas, tentou, em vão, impedir que a França fizesse o funeral do Imperador como Chefe de Estado, rogando para que a bandeira Imperial não fosse hasteada e que os símbolos antigos não fossem respeitados.
De nada adiantou o governo francês prestou honras grandiosas a Dom Pedro II e a Família Imperial.

Embora republicano, o governo francês tinha a maior consideração pelo Imperador do Brasil porque ele fora o primeiro Chefe de Estado a prestigiar a França, visitando-a oficialmente, após a derrota para a Prússia em 1870. Para evitar incidentes políticos, o Governo decidiu que o enterro seria oficialmente realizado pelo fato do Imperador ser grã-cruz da Legião de Honra, mas com as pompas devidas a um monarca. Como última homenagem formal, o governo francês do Presidente Sadi Carnot, resolveu mesmo oferecer a Dom Pedro II um funeral de Chefe de Estado.

A reação da imprensa no exterior foi simpática ao monarca:

O jornal New York Times elogiou Pedro II, considerando-o:
O mais ilustrado monarca do século” e afirmando que 
tornou o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser”.

The Herald escreveu:
Numa outra era, e em circunstâncias mais felizes, ele seria idolatrado e honrado por seus súditos 
e teria passado a história como ‘Dom Pedro, o Bom”.

The Tribune afirmou que 
seu “reinado foi sereno, pacífico e próspero”.

The Times publicou um longo artigo:
Até novembro de 1889, acreditava-se que o falecido Imperador e sua consorte fossem unanimemente adorados no Brasil, devido a seus dotes intelectuais e morais e seu interesse afetuoso pelo bem-estar dos súditos [...] 
Quando no Rio de Janeiro ele era constantemente visto em público; e duas vezes por semana recebia seus súditos, bem como viajantes estrangeiros, cativando a todos com sua cortesia”.

O Weekly Register, por sua vez:
Ele mais parecia um poeta ou um sábio do que um imperador, mas se lhe tivesse sido dada a oportunidade de concretizar seus vários projetos, 
sem dúvida teria feito do Brasil um dos países mais ricos do Novo Mundo”.

O periódico francês Le Jour afirmou que 
ele foi efetivamente o primeiro soberano que, após nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou de nós. A França lhe saberá ser agradecida”.

O The Globe asseverou que ele 
era culto, ele era patriota; era gentil e indulgente; tinha todas as virtudes privadas, 
bem como as públicas, e morreu no exílio”.

Em 06 de dezembro de 1891, França, Paris, milhares de personalidades compareceram a cerimônia realizada na Igreja de la Madeleine. Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande repercussão que tivera a morte do Imperador", negaram qualquer manifestação oficial.

No Brasil, Rio de Janeiro, após ter sido noticiada a morte do Imperador, os jornais da Rua do Ouvidor e as casas comerciais haviam hasteado a bandeira a meio pau, o que provocou conflitos com a polícia e o novo governo republicano instituído, que queria obrigar a retirada das bandeiras daquela posição.

Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de D. Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa", apesar dos esforços do governo para abafar. Houve manifestações de pesar em todo o Brasil; comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos. Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime monárquico".

O povo manifestou-se solidário com as homenagens ao Imperador D. Pedro.

Em 07 de dezembro de 1891, de acordo com o dr. João Mendes de Almeida, em artigo escrito:

A notícia do passamento de S. M. o Imperador D. Pedro II vem pôr à prova os sentimentos da nação brasileira com a dinastia Imperial. A consternação tem sido geral”.

“A República se calou diante da força e do impacto das manifestações”.

Em 08 de dezembro de 1891, França, Paris, à noite, os caixões contendo o corpo de Pedro II saíram do Hotel Bedford com destino a Igreja da Madeleine. Oito militares franceses transportaram os caixões, cobertos pela bandeira imperial, sendo assistidos por mais de cinco mil pessoas.

A carruagem utilizada fora à mesma dos enterros do Cardeal Morlot, do Duque de Morny e de Adolphe Thiers.

Os Presentes ao Funeral

Em 09 de dezembro de 1891, França, Paris, muito cedo, ocorreu o féretro, apesar da chuva incessante e do vento frio, verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madaleine, milhares de personalidades da época compareceram a cerimônia.

Além da Família Imperial Brasileira, estavam presentes:
Don Amadeo, ex-rei da Espanha,
Don Francis II, ex-rei das Duas Sicílias,
Dona Isabel II, ex-rainha da Espanha,
Luís Philippe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia.

Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente francês Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês.

Quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram.
Entre os presentes, estavam:
Eça de Queiroz, Alexandre Dumas, fils, Gabriel Auguste Daubrée, Jules Arsène Arnaud Claretie, Marcellin Berthelot, Jean Louis Armand de Quatrefages de Bréau, Edmond Jurien de la Gravière, Julius Oppert, Camille Doucet e outros.

Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como: Turquia, China, Japão e Pérsia, com a exceção do Brasil.

Os correspondentes dos jornais Daily Telegraph e do Dauily Mail escreveram que havia tanta gente nos funerais de D. Pedro II quanto nos de Victor Hugo.

Só se notou a ausência de um representante do governo brasileiro.

Apesar da chuva e temperatura extremamente baixa, cerca de 300.000 pessoas assistiram ao evento pelas ruas de Paris. A formação militar francesa, composta por 80.000 homens, todos em uniforme de gala, prestou honras ao Imperador. Os cavalos, os tambores das bandas de música e as bandeiras traziam ornamentos negros de luto. Os caixões foram levados em cortejo até a estação de trem, de onde partiria para Portugal.
 .
As Mensagens

Duas carruagens levavam quase 200 coroas de flores.
Nelas, estavam escritas mensagens homenageando o Imperador, tais como:

“A D. Pedro, Vitória R.I.”,

“Dos Voluntários da Pátria ao grande Imperador 
por quem se bateram Caxias, Osório, Andrade Neves e tantos outros heróis.”,

“Um grupo de brasileiros estudantes em Paris.”,

“Tempos felizes em que o pensamento, a palavra e a pena eram livres, 
que o Brasil libertava povos oprimidos...” 
Barão de Ladário, Marquês de Tamandaré, , Rodolfo Dantas, Joaquim Nabuco e Taunay

“Ao grande brasileiro benemérito da Pátria e da Humanidade. Ubique Patria Memor.” 
Barão do Rio Branco

“Os Rio-Grandenses ao rei liberal e patriota.” 

“Um negro brasileiro em nome de sua raça”.

O caixão foi levado em cortejo até a estação de trem de Paris, de onde partiu para Portugal. O governo republicano do Brasil não esteve representado, mas vários republicanos golpistas ou não, estavam presentes.

Portugal - Lisboa

A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças, entre os de sua madrasta D. Amélia e de sua esposa, a Imperatriz D. Theresa Cristina.

Em todos os locais que os caixões passaram, tanto na França, quanto como na Espanha, e por último, em Portugal, foram realizadas homenagens.

Como sempre, com a exceção do Governo brasileiro republicano golpista. No Brasil, a polícia foi enviada para impedir manifestações públicas de pesar, “provocando sérios incidentes [...] enquanto o povo se solidarizava com os manifestantes”.

No mesmo dia no Rio de Janeiro, uma reunião popular com o objetivo de homenagear o falecido imperador foi realizada, tendo sido organizada pelo Marquês de Tamandaré, Visconde de Ouro Preto, Visconde de Sinimbu, Barão de Ladário, Carlos de Laet, Alfredo d'Escragnolle Taunay, Rodolfo Dantas, Afonso Celso e Joaquim Nabuco.

Até mesmo os antigos adversários políticos de Pedro II elogiaram o monarca deposto, mesmo que “criticando sua política, ressaltavam sempre seu patriotismo, honestidade, desinteresse, espírito de justiça, dedicação ao trabalho, tolerância, simplicidade”.

Quintino Bocaiúva, um dos principais líderes republicanos, falou:
O mundo inteiro, pode-se dizer, tem prestado todas quantas homenagens tinha direito o Sr. Dom Pedro de Alcântara, conquistadas por suas virtudes de grande cidadão”.

Alguns “membros de clubes republicanos protestaram contra o que chamaram de exagerado sentimentalismo das homenagens", vendo nelas manobras monarquistas. Foram vozes isoladas.

Os brasileiros se mantiveram apegados a figura do imperador popular a quem consideravam um herói e continuaram a vê-lo como o Pai do Povo personificado. Esta visão era ainda mais forte entre os brasileiros negros ou de ascendência negra, que acreditavam que a monarquia representava a libertação.

O fenômeno de apoio contínuo ao monarca deposto é largamente devido a uma noção generalizada de que ele foi "um governante sábio, benevolente, austero e honesto"

Esta visão positiva de Pedro II, e nostalgia por seu reinado, apenas cresceu a medida que a nação rapidamente caiu sob o efeito de uma série de crises políticas e econômicas que os brasileiros acreditavam terem ocorridas devido a deposição do Imperador. Ele nunca cessou de ser considerado um herói popular, mas gradualmente voltaria a ser um herói oficial.

Surpreendentemente fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do Imperador no exílio. Eles elogiavam Pedro II, que era visto como um modelo de ideais republicanos, e a era imperial, que acreditavam que deveria servir de exemplo a ser seguido pela jovem república.

No Brasil, as notícias da morte do Imperador "causaram um sentimento genuíno de remorso entre aqueles que, apesar de não possuirem simpatia pela restauração, reconheciam tanto os méritos quanto as realizações de seu falecido governante."

Fontes:

Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);

Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II (Rio de Janeiro: J. Olympio);

Martins, Luis (2008). O patriarca e o bacharel 2ª ed. (São Paulo: Alameda);

Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador – D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ESPECIAL DOM PEDRO II: O ABOLICIONISTA

Paço Imperial quando da Abolição da escravatura

A vitória diplomática sobre o Império Britânico e a vitória militar sobre o Uruguai em 1865, seguida da bem-sucedida conclusão da guerra com o Paraguai em 1870, resultou no que foi chamado de "era dourada" e apogeu do Império brasileiro. Os anos de 1870 foram bons anos para o Brasil e a popularidade do imperador era maior do que nunca. Progressos foram feitos tanto na esfera política quanto na social e todos os segmentos da sociedade foram beneficiados com as reformas e pela prosperidade nacional crescente. A reputação internacional do Brasil melhorou consideravelmente graças a sua estabilidade política e potencial de investimento. O império era visto como uma nação moderna e progressista sem equivalente nas Américas, com a única exceção dos Estados Unidos. A economia começou rapidamente a crescer e a imigração floresceu. Estradas de ferro, navegação e outros projetos de modernização foram adotados. Com "a escravidão fadada à extinção e outras reformas projetadas, as perspectivas de 'avanços morais e materiais' pareciam vastas".

Em 1870, poucos brasileiros eram contrários à escravidão, e ainda menos brasileiros opunham-se publicamente a ela. Pedro II era um dos poucos que o faziam, considerando a escravidão "uma vergonha nacional". O imperador nunca possuiu escravos. Em 1823, escravos formavam 29% da população brasileira, mas essa porcentagem caiu para 15,2% em 1872. A abolição da escravatura era um assunto delicado no Brasil. Escravos eram usados por todos, do mais rico ao mais pobre. Pedro II desejava por fim à escravidão gradualmente para pouco impactar a economia nacional. Ele conscientemente ignorava o crescente prejuízo político à sua imagem e à monarquia em consequência de seu suporte à escravidão.

O imperador não tinha autoridade constitucional para diretamente intervir e por um fim na escravidão. Precisaria usar todas seus esforços para convencer, influenciar e ganhar suporte entre os políticos para atingir sua meta. Seu primeiro movimento público contra a escravidão ocorreu em 1850, quando ameaçou abdicar a menos que a Assembléia Geral declarasse o tráfico negreiro no Atlântico ilegal.

Após a fonte estrangeira do fornecimento de novos escravos ter sido eliminada, Pedro II dedicou sua atenção no começo dos anos 1860s em remover a fonte restante: a escravidão de crianças nascidas como escravos. A legislação foi feita através de sua iniciativa, mas o conflito com o Paraguai atrasou a discussão da proposta na Assembléia Geral. Pedro II abertamente pediu a gradual erradicação da escravidão na Fala do trono em 1867. Foi pesadamente criticado, e seu movimento foi condenado como "suicídio nacional". Opositores frequentemente diziam que "a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação" Por fim, foi decretada a lei "Lei do Ventre Livre" em setembro de 1871, sob a qual todas crianças nascidas de mulheres escravas após aquela data eram consideradas livres.

FONTES:

Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: POPULARIDADE

Dom Pedro II cercado pelo povo em comemoração a vitória na Questão Christie

No fim de 1859, Pedro II partiu em viagem as províncias ao norte da capital, visitando Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Após quatro meses, ele retornou em fevereiro de 1860. A viagem foi um grande sucesso, com o imperador sendo alegre e calorosamente recepcionado em todos os lugares.

A primeira metade dos anos 1860 viu paz e prosperidade no Brasil. Liberdades civis foram mantidas. Liberdade de expressão existia desde a independência do Brasil e continuou a ser defendida com veemência por Pedro II. O imperador encontrou em jornais da capital e das províncias uma forma ideal de manter conhecimento da opinião pública e da situação em geral da nação. Outra maneira de monitorar o Império foi através de contato direto com seus súditos. Uma oportunidade para isto era durante as audiências públicas regulares nas terças e sábados, onde qualquer pessoa de qualquer classe social (inclusive escravos) poderiam ser admitidos e apresentar suas petições e estórias. Visitas a escolas, colégios, prisões, exibições, fábricas, quartéis, e outras aparições públicas apresentavam mais oportunidades a ele de reunir informação em primeira mão.

A tranquilidade desapareceu quando o cônsul britânico no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, quase iniciou uma guerra entre sua nação e o Brasil. Christie, que acreditava na diplomacia das canhoneiras, enviou um ultimato contendo exigências abusivas provenientes de dois incidentes menores ocorridos no fim de 1861 e começo de 1862. O primeiro foi o naufrágio de uma barca comercial na costa do Rio Grande do Sul que resultou no saque de sua carga pela população local. O segundo foi a prisão de dois oficiais britânicos embriagados que causavam distúrbios nas ruas do Rio.

O governo brasileiro se recusou a ceder, e Christie enviou ordens para que navios de guerra britânicos capturassem embarcações mercantes brasileiras como indenização. A Marinha do Brasil foi preparada para o conflito iminente, foi ordenada a compra de artilharia costeira, assim como de encouraçados e as defesas nas costas tiveram permissão para atirar contra qualquer navio de guerra britânico que tentasse capturar embarcações mercantes brasileiras. Pedro II foi a maior razão da resistência do Brasil, ele rejeitou qualquer sugestão para que o país cedesse. A resposta veio como surpresa para Christie, que mudou seu tom e propôs um acordo pacífico através de arbitragem internacional. O governo brasileiro apresentou suas demandas e, ao ver a recusa do governo britânico, cortou relações diplomáticas com o Reino Unido em junho de 1863.

FONTES:

Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: O ESTUDANTE

livros começaram a ser representados de maneira prominente em seus retratos, 
uma referência a seu papel como defensor da educação

"Nasci para consagrar-me às letras e às ciências", o imperador comentou em seu diário pessoal em 1862. Ele sempre teve prazer em ler e encontrou nos livros um refúgio para a sua posição. Sua habilidade para relembrar trechos que havia lido no passado era notável. Os interesses de Pedro II eram diversos, e incluíam antropologia, geografia, geologia, medicina, Direito, estudos religiosos, filosofia, pintura, escultura, teatro, música, química, poesia e tecnologia. No final de seu reinado, havia três livrarias em São Cristóvão contendo mais de 60.000 livros. Sua paixão por linguística o levou por toda a vida a estudar novas línguas, e ele era capaz de falar e escrever não somente em português, mas também em latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi. Tornou-se o primeiro brasileiro fotógrafo quando adquiriu uma câmera de daguerreótipo em março de 1840. Criou um laboratório fotográfico em São Cristóvão e outro de química e física. Ele também construiu um observatório astronômico no paço.

A erudição do imperador surpreendeu Friedrich Nietzsche quando ambos se conheceram. Victor Hugo falou dele: "Senhor, és um grande cidadão, és o neto de Marco Aurélio", e Alexandre Herculano o chamou de um "príncipe cuja opinião geral o considera como o primeiro de sua era graças à sua mente dotada, e devido à sua constante aplicação desse dom para as ciências e cultura." Tornou-se membro da Royal Society, da Academia de Ciências da Rússia, das Reais Academias de Ciências e Artes da Bélgica e da Sociedade Geográfica Americana. Em 1875 foi eleito membro da Académie des Sciences francesa, uma honra dada anteriormente a somente dois outros chefes de estado: Pedro, o Grande e Napoleão Bonaparte. Pedro II trocou cartas com cientistas, filósofos, músicos e outros intelectuais. Muitos de seus correspondentes se tornaram seus amigos, incluindo Richard Wagner, Louis Pasteur, Louis Agassiz, John Greenleaf Whittier, Michel Eugène Chevreul, Alexander Graham Bell, Henry Wadsworth Longfellow, Arthur de Gobineau, Frédéric Mistral, Alessandro Manzoni, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e James Cooley Fletcher.


Pedro II cedo percebeu que tinha a oportunidade para utilizar seu conhecimento que havia acumulado em uso prático para o benefício do Brasil. O imperador considerava a educação como de importância nacional e era ele mesmo um exemplo do valor do aprendizado. Ele comentou: "Se não fosse imperador, gostaria de ser um professor. Não conheço tarefa mais nobre do que direcionar as jovens mentes e preparar os homens de amanhã." A educação também colaborou no seu objetivo de criar um sentimento de identidade nacional brasileira. Seu reino viu a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para promover pesquisa e preservação nas ciências históricas, geográficas, culturais e sociais. A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional e o Colégio Pedro II também foram fundados, o último servindo como modelo para escolas por todo o Brasil. A Imperial Escola de Belas Artes, estabelecida por seu pai, recebeu maior apoio e fortalecimento. Utilizando sua lista civil, Pedro II providenciou bolsas de estudo para brasileiros frequentarem universidades, escolas de arte e conservatórios musicais na Europa. Ele também financiou a criação do Instituto Pasteur, assim como a casa de ópera Bayreuth Festspielhaus de Wagner, além de outros projetos semelhantes. Seus esforços foram reconhecidos tanto em casa quanto no exterior. Charles Darwin falou dele: "O imperador faz tanto pela ciência, que todo sábio é obrigado a demonstrar a ele o mais completo respeito."

FONTES:

Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);

Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: CASAMENTO


O fim da regência facciosa estabilizou o governo. Com um legítimo monarca no trono, a autoridade foi revestida numa única e clara voz. Pedro II percebia o seu papel como o de um árbitro, mantendo seus conceitos pessoais de lado para não afetarem o seu dever de desemaranhar disputas políticas partidárias. O jovem monarca era dedicado, realizando inspeções diárias pessoais e visitas a repartições públicas. Seus súditos eram impressionados com a sua aparente auto-confiança, apesar de que sua timidez e falta de desenvoltura eram vistas como defeitos. Seu jeito reservado de falar apenas uma ou duas palavras a cada vez tornavam conversações diretas extremamente difíceis. Sua natureza taciturna era manifestação de uma prevenção quanto a relações próximas que tinha origem nas experiências de abandono, intriga e traição que vivenciou na infância.

Por trás das cenas, um grupo de servos palacianos de alto nível e notáveis políticos tornaram-se conhecidos como "Facção Áulica" (e também "Clube da Joana") por estabelecerem influência sobre o jovem imperador (e alguns eram de fato próximos, como Mariana de Verna). Pedro II foi usado com maestria pelos áulicos para eliminar seus inimigos (reais ou imaginários) através da remoção de seus rivais. Acesso a pessoa do monarca por políticos rivais e as informações que este recebia eram cuidadosamente controladas. Uma rodada contínua de negócios de governos, estudos, eventos e aparições pessoais, utilizadas como distrações, mantiveram o imperador ocupado, isolando-o efetivamente e impedindo-o de perceber a extensão do quanto estava sendo explorado.

Preocupados com a taciturnidade e imaturidade do imperador, os áulicos acreditavam que um casamento poderia melhorar o seu comportamento e sua personalidade. O governo do Reino das Duas Sicílias ofereceu a mão da Princesa Teresa Cristina. Um retrato foi enviado e este revelava uma jovem e bela mulher, o que levou Pedro II a aceitar a proposta. Eles foram casados por procuração em Nápoles em 30 de maio de 1843. A nova Imperatriz do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de setembro. Ao vê-la pessoalmente o imperador aparentou estar claramente decepcionado. A pintura que havia recebido era claramente uma idealização; a Teresa Cristina real era baixa, um pouco acima do peso, coxa e apesar de não ser feia, também não era bonita. Ele fez pouco para esconder sua desilusão. Um observador afirmou que ele deu às costas a Teresa Cristina, outro disse que ele estava tão chocado que precisou sentar, e é possível que ambos tenham ocorrido. Naquela noite Pedro II chorou e reclamou para Mariana de Verna, "Eles me enganaram, Dadama!" Foram necessárias horas para convencê-lo de que o dever exigia que ele seguisse em frente com o matrimônio. Uma celebração nupcial, com a ratificação dos votos tomados por procuração e o conferimento de uma benção nupcial, ocorreu no dia seguinte, 4 de setembro.

Por volta de 1846 Pedro II já havia amadurecido fisica e mentalmente. Ele não era mais o jovem inseguro de 14 anos idade que se permitia levar por boatos, por sugestões de complôs secretos, e outras táticas manipuladoras. Ele cresceu num homem, que com 1,90 m de altura, olhos azuis e cabelos loiros, era descrito como belo. Com seu crescimento, suas fraquezas desapareceram e suas qualidades de caráter vieram a tona.

Ele aprendeu não só a ser imparcial e dedicado, mas também cortês, paciente e sensato. A medida que ele começou a exercer por completo sua autoridade, suas novas habilidades sociais e dedicação no governo contribuíram grandemente para a eficiência de sua imagem pública. O historiador Roderick J. Barman o descreveu: "Ele mantinha suas emoções sob disciplina férrea. Ele nunca era rude e nunca perdia a cabeça. Ele era excepcionalmente discreto com as palavras e cauteloso na forma de agir."

FONTES:


  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
  5. Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
  6. Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
  7. Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: MAIORIDADE


A posição de Araújo Lima era precária segundo a opinião de Barman: "Ele não tinha caráter nem habilidade para impor sua autoridade, enquanto suas tentativas de tomar o controle pareciam arrogantes, a usurpação de uma posição que pertencia ao imperador somente". Ainda de acordo com o historiador, a "geração de políticos que assumira o poder na década de 1830, após a abdicação de D. Pedro I, havia aprendido por amarga experiência as dificuldades e os perigos do governo. Em 1840, eles haviam perdido toda fé em sua capacidade de governar o país por conta própria. Aceitavam D. Pedro II como uma figura de autoridade cuja presença era indispensável à sobrevivência do país".

Os Liberais levaram diretamente para a povo brasileiro a disputa sobre a redução da maioridade, incitando-o a pressionar os políticos. Os brasileiros apoiaram a redução e até criaram canções populares sobre o assunto. Pedro como imperador era, de acordo com Antonio Carlos Olivieri, "o símbolo vivo da unidade da pátria [...] Essa posição lhe dava, aos olhos da opinião pública, uma autoridade maior que qualquer regente". Os Conservadores não eram contra o plano Liberal, com ambos (incluindo Araújo Lima, que inevitavelmente perderia seu cargo) querendo encerrar o período da regência. O regente perguntou ao imperador o que ele achava sobre a questão da maioridade, com Pedro respondendo "Não tenho pensamento sobre isso", continuando, "Eu já ouvi sobre isso, porém não dei muita atenção".

Uma multidão de três mil pessoas foi para o Senado exigir a declaração da maioridade. Os "defensores de uma maioridade precoce reuniram-se no Senado e aprovaram uma moção, assinada por 17 senadores (dentre 49) e 40 deputados (dentre 101), convocando o imperador a assumir plenos poderes". Um delegação de oito políticos, liderados por Antônio Carlos de Andrada, foi para o Paço de São Cristóvão perguntar a Pedro se ele aceitava ou recusava a declaração da maioridade. O imperador pediu a opinião de Itanhaém, frei Pedro Mariana e Araújo Lima (membros da Facção Áulica), que o convenceram a aceitar a proposta para impedir novas desordens pelo país. Pedro anos depois diria que os Liberais se aproveitaram de sua imaturidade e inexperiência. Ele timidamente respondeu "Sim" quando perguntado se desejava que a idade da maioridade fosse reduzida, e depois "Quero já" quando perguntado se preferia que ela entrasse em efeito naquele momento ou que se esperasse até seu aniversário de quinze anos em dezembro.

No dia seguinte em 23 de julho de 1840, a Assembleia Geral formalmente declarou que Pedro havia alcançado a maioridade. Uma multidão de oito mil pessoas se reuniu para testemunhar o ato. Durante à tarde o jovem imperador fez o juramento de seu cargo na câmara do Senado. Pedro foi aclamado uma segunda vez pela nobreza, forças armadas e o povo. "Desta vez não houve o pânico e choro de 1831. Havia apenas um menino jovem e tímido dividido entre a fascinação do poder e o medo de um novo mundo que, inesperadamente, estava sendo aberto a ele". A "declaração da maioridade de D. Pedro II provocou euforia geral. Um sentimento de libertação e renovação uniu os brasileiros. Pela primeira vez, desde meados da década de 1820, o governo nacional do Rio de Janeiro contava com aceitação geral".

Pedro foi aclamado, consagrado e coroado imperador em 18 de julho de 1841. Ele usou um robe branco que tinha pertencido ao seu avô Francisco I, um pálio laranja feito de penas de um galo-da-serra-do-pará (uma homenagem aos pássaros e caciques indígenas brasileiros) tecido especialmente para o imperador por índios tiriós e um manto verde bordado com ramos de cacau e tabaco, símbolos do Império do Brasil. Depois de ser ungido ele recebeu as Joias Imperiais: a Espada (que pertencia a seu pai) o Cetro (feito de ouro puro com uma serpe na ponta, símbolo da Casa de Bragança), a Coroa Imperial (especialmente feita para a coroação com joias tiradas da coroa de Pedro I) a Orbe e a Mão da Justiça.

Proclamação da Assembleia Geral ao povo sobre a maioridade:

"Brasileiros!

A Assembleia Geral Legislativa do Brasil, reconhecendo o feliz desenvolvimento intelectual de S.M.I. o Senhor D. Pedro II, com que a Divina Providência favoreceu o Império de Santa Cruz; reconhecendo igualmente os males inerentes a governos excepcionais, e presenciando o desejo unânime do povo desta capital; convencida de que com este desejo está de acordo o de todo o Império, para conferir-se ao mesmo Augusto Senhor o exercício dos poderes que, pela Constituição lhe competem, houve por bem, por tão ponderosos motivos, declará-lo em maioridade, para o efeito de entrar imediatamente no pleno exercício desses poderes, como Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Brasileiros! Estão convertidas em realidades as esperanças da Nação; uma nova era apontou; seja ela de união e prosperidade. Sejamos nós dignos de tão grandioso benefício.
Paço da Assembleia Geral, 23 de julho de 1840"

Além de tirar do poder a Regência Una do Partido Conservador, a coroação de D. Pedro II permitiu a estabilização política do país, centralizando as atenções na figura do jovem imperador. Das revoltas regenciais que ainda subsistiam, a Balaiada terminou em 1841 e a Farroupilha em 1845.

FONTES:


  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
  5. Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
  6. Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
  7. Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: INTRIGAS NA CORTE


Pedro só poderia exercer suas prerrogativas constitucionais assim que alcançasse a maioridade dos dezoito anos, porém isso ocorreria apenas em 2 de dezembro de 1843. A possibilidade de reduzir a maioridade foi apresentada pela primeira vez pelos Conservadores em 1835. O liberal Diogo Antônio Feijó foi eleito o único regente em 12 de outubro de 1835 depois do Ato Adicional de 1834 ter acabado com a regência em triunvirato. Na opinião de Roderick J. Barman, faltava para o regente a "visão, a flexibilidade e os recursos necessários para reger o Brasil sob as condições prevalecentes desde a morte de D. Pedro I e a aprovação do Ato Adicional".

Feijó renunciou do posto em 1837 e o conservador Pedro de Araújo Lima (posterior Marquês de Olinda) foi eleito como substituto. Um dos principais objetivos de Araújo Lima era restaurar o respeito da autoridade imperial, dessa forma "cerimônias e práticas tradicionais que cercavam o monarca, suspensas desde a abdicação de D. Pedro I, foram restabelecidas". A "campanha para incutir deferência e respeito ao jovem imperador encontrou pronta aceitação por todo o Brasil".

Os Liberais temiam que seus adversários se perpetuassem no poder e também começaram a defender a redução da maioridade. Eles viram a oportunidade de que o imperador "pudesse ser manipulado por quem quer que o levasse ao poder" dada sua idade e inexperiência. Os Liberais se aliaram com os antigos restauracionistas, agora liderados por Antônio Carlos de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada, irmãos do ex-tutor José Bonifácio (que havia morrido em 1838). O projeto de lei proposto pelos Conservadores no Senado para reduzir a maioridade foi derrotado por 18 votos contra 16 em 17 de maio de 1840. Diferentemente de seus rivais, os Liberais eram inescrupulosos ao ignorar as leis para alcançar seus objetivos e decidiram declarar imediatamente Pedro maior de idade. Para conseguirem isso eles precisavam do apoio das três pessoas mais poderosas da corte imperial: Mariana de Verna, Paulo Barbosa da Silva e Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho (depois Visconde de Sepetiba).

Aureliano Coutinho era o Ministro da Justiça e tinha conseguido nomear Paulo Barbosa (amigo de seu irmão Saturnino de Sousa e Oliveira Coutinho) para a posição de mordomo-mor. Foi Paulo Barbosa que chamou Itanhaém para ser o tutor do imperador e o frei Pedro Mariana para ser o supervisor. Ele achava que ambos se submeteriam a seus interesses. Mariana de Verna, antiga supervisora, mãe postiça e governanta de Pedro II, era estimada tanto por Aureliano Coutinho quanto por Paulo Barbosa. Sua filha havia se casado com um dos sobrinhos do mordomo. Os três "gostavam de poder e influência em benefício próprio, interpretavam qualquer oposição a seu domínio como ofensa pessoal e eram implacáveis na defesa de sua posição na corte".

A aliança entre "Aureliano, D. Mariana e Paulo Barbosa com o Marquês de Itanhaém como seguidor, rapidamente assegurou-lhes o domínio sobre os assuntos da Corte e Casa". Ficou impossível avançar quaisquer propostas ou decisões sem que eles as aprovassem, enquanto que o grupo apenas "seguia seus próprios interesses e os de seus amigos". O trio e seus seguidores ficaram conhecidos como "Facção Áulica" ou "Clube da Joana" (nomeada por causa da casa de campo de Paulo Barbosa nas margens do rio Joana, onde eles costumavam se encontrar). A aliança deles com os Liberais evoluiu como consequência de Bernardo Pereira de Vasconcellos, um dos ministros de Araújo Lima, que desejava retirar Itanhaém e seu inimigo Paulo Barbosa da Casa Imperial.

FONTES:


  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
  5. Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
  6. Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
  7. Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: EDUCAÇÃO

Francisca, Pedro e Januária

A educação de Pedro começou quando ainda era herdeiro do trono, aprendendo aos cinco anos a escrever e falar em português. Seus primeiros professores foram Mariana de Verna e o frei Antônio de Arrábida. Ele já tinha vários professores quando se tornou imperador. Dentre eles estavam Félix Émile Taunay (pai de Alfredo d'Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay) e Luís Alves de Lima e Silva (posterior Duque de Caxias e filho do regente Francisco de Lima e Silva), que respectivamente lhe ensinaram francês e esgrima, e com quem o monarca acabou desenvolvendo amizades e admirações duradouras. Pedro passava o dia inteiro estudando, com apenas duas horas reservadas para recreação. Ele costumava acordar às 6h30min, começava seus estudos às 7h e seguia até às 22h, indo então para a cama. As disciplinas eram diversas, incluindo línguas, história, filosofia, astronomia, física, geografia, música, caça, hipismo e esgrima.

Um grande cuidado foi tomado para que Pedro não seguisse o exemplo do pai nas questões de educação, caráter e personalidade. Durante sua vida o imperador também aprenderia a escrever e falar em latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, occitano e tupi-guarani. Sua paixão pela leitura permitia que assimilasse qualquer informação. Não era um gênio, mas era inteligente e tinha facilidade em acumular conhecimento.

Como monarca constitucional, sua educação foi acompanhada de perto pela Assembleia Geral, que exigia de Itanhaém relatórios sobre o progresso dos estudos do imperador. Pedro durante essa época foi mantido ignorante sobre os eventos que ocorriam fora do palácio, incluindo questões políticas. As notícias que acabavam chegando a ele e suas irmãs eram sobre as mortes de parentes. Eles foram informados em dezembro de 1834 sobre a morte de Pedro I. Alguns meses depois em junho de 1835 seu avô Francisco I, que havia mostrado grande interesse em seus netos, também faleceu. Essas perdas aproximaram o imperador e suas irmãs e fortaleceram seu sentimento de família, apesar da falta dos pais.


Pedro teve uma infância solitária e infeliz. Era considerado precoce, dócil e obediente, porém chorava frequentemente e muitas vezes nada parecia agradá-lo. Ele "não foi criado na luxúria e tudo era muito simples". Suas irmãs não podiam acompanhá-lo em muitas ocasiões e o imperador tinha permissão para encontrá-las só depois do almoço, porém durante apenas uma hora. Pedro tinha alguns amigos de mesma idade, mas apenas um permaneceu com ele até a idade adulta: Luís Pedreira do Couto Ferraz (depois Visconde de Bom Retiro). Era tratado com carinho por Mariana de Verna e Rafael, que costumava carregá-lo em seus ombros e permitia que o monarca se escondesse em seus aposentos para fugir dos estudos. Pedro estava cercado por criados durante a maior parte de seu tempo, e eles só podiam conversar com o menino se ele lhes dirigisse a palavra. O ambiente em que o imperador cresceu o transformou em uma pessoa tímida e carente, que via nos "livros outro mundo onde ele podia se isolar e se proteger". Por de trás da "pompa da monarquia, da aparência autossuficiente, deve ter vivido um homem infeliz".

FONTES:


  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II (Rio de Janeiro: J. Olympio);
  5. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: TUTELA


Pedro I havia selecionado três pessoas que ficariam encarregadas dos cuidados de seus filhos. O primeiro era seu amigo José Bonifácio de Andrada e Silva, a quem ele nomeou como tutor, posição que posteriormente foi confirmada pela Assembleia Geral. A segunda era Mariana de Verna, que ocupava a posição de aia desde o nascimento de Pedro II. E a última pessoa era Rafael, um afro-brasileiro que havia lutado na Guerra da Cisplatina. Este último era um empregado do Paço de São Cristóvão em quem Pedro I muito confiava e pediu para cuidar de seu filho – um encargo que Rafael cumpriu pelo resto da vida. São Cristóvão foi a principal residência de Pedro II durante sua infância. A princesa Paula adoeceu seriamente no final de 1832 (provavelmente de meningite) e morreu três semanas depois em 16 de janeiro de 1833. A perda da irmã reforçou o sentimento de abandono que o jovem imperador e suas outras duas irmãs já sentiam.

José Bonifácio foi destituído de seu posto pela Assembleia Geral em dezembro de 1833. Ele "não tolerava qualquer desafio à sua onipotência como tutor. Ele rapidamente guardava ressentimento daqueles que tentassem disputar suas prerrogativas ou questionar seus poderes, e sua atitude ditatorial ameaçava fortes interesses da corte. Ele se indispôs particularmente com D. Mariana de Verna Magalhães, que, como primeira-dama dos aposentos do imperador e apoiada por inúmeros parentes, há vários anos exercia considerável influência nos assuntos da corte". Sua relação com a regência de cunho liberal tornou-se insustentável por causa de sua liderança na facção restauracionista que buscava a volta de Pedro I como regente do império até a maioridade de Pedro II. A Assembleia Geral acabou selecionando Manuel Inácio de Andrade, Marquês de Itanhaém, como o substituto na posição de tutor.

Itanhaém foi escolhido porque era considerado submisso e facilmente manipulável. O novo tutor mostrou-se um homem de inteligência mediana, mas honesto. Ele era sábio o bastante para dar uma extraordinária educação para o jovem imperador. Itanhaém teve uma "grande influência no pensamento e personalidade democrática do Pedro II". Foram mantidos os professores que já davam aulas para Pedro e suas irmãs sob José Bonifácio. A exceção foi o frei Pedro de Santa Mariana e Sousa, que foi nomeado para a posição de aio no lugar do frei Antônio de Arrábida (que também havia sido tutor de Pedro I). A supervisão geral do imperador ficou a cargo de frei Pedro Mariana, assumindo pessoalmente as aulas de latim, religião e matemática. Ele foi uma das poucas pessoas fora da família imperial por quem Pedro II tinha grande afeição.

Dentre os preceitos que Itanhaém e Pedro Mariana procuraram incutir no jovem imperador estavam: que todos os seres humanos devem ser considerados como iguais, que ele deveria procurar ser imparcial e justo, que criados públicos e ministros de estado devem ser cuidadosamente vigiados, que ele não deveria ter favoritos e que sua preocupação sempre deveria ser para o bem-estar público. Ambos tinham como objetivo "criar um monarca humano, honesto, constitucional, pacifista, tolerante, sábio e justo. Ou seja, um governante perfeito, integralmente dedicado a suas obrigações, acima de quaisquer paixões políticas e interesses particulares". Itanhém mais tarde chamou Cândido José de Araújo Viana (posterior Marquês de Sapucaí) para ser um dos instrutores de Pedro II, com ele e o monarca também se dando bem.

FONTES:

  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II (Rio de Janeiro: J. Olympio);Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras).

ESPECIAL DOM PEDRO II: NASCIMENTO E PRIMEIROS ANOS

Alegoria ao nascimento de Dom Pedro II

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga nasceu às 2h30min do dia 2 de dezembro de 1825 na cidade do Rio de Janeiro, província do Rio de Janeiro, Império do Brasil, após um trabalho de parto que durou mais de cinco horas. Seu nome, assim como o de seu pai, era uma homenagem a São Pedro de Alcântara. Ele automaticamente recebeu o título honorífico de "Dom" como membro da realeza brasileira.

Seu pai era o imperador D. Pedro I do Brasil, filho do rei D. João VI de Portugal, e assim o menino era membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança portuguesa. Sua mãe era a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, filha do imperador Francisco I da Áustria e irmã mais nova da arquiduquesa Maria Luísa, Duquesa de Parma e segunda esposa de Napoleão Bonaparte. Através de sua mãe Pedro era primo direto dos imperadores Francisco José I da Áustria e Maximiliano do México. Dentre seus ancestrais mais distantes destacam-se os reis Carlos I da Espanha e Luís XIV da França.

No dia de seu nascimento Pedro foi apresentado a membros do governo reunidos no Paço de São Cristóvão pelo veador da imperatriz o brigadeiro-general Francisco de Lima e Silva. Tinha apenas 47 cm de altura e foi considerado uma criança frágil e enferma. Ele herdou a epilepsia de seus parentes espanhóis da Casa de Bourbon, apesar dela desaparecer por completo durante sua adolescência. Pedro foi batizado alguns dias depois em 9 de dezembro. Sua madrinha foi sua irmã mais velha D. Maria da Glória enquanto o padrinho foi seu próprio pai.

Era considerado um estrangeiro pela lei portuguesa por ter nascido depois do reconhecimento da independência do Brasil. Porém sua irmã Maria da Glória, tendo nascido antes da independência, pôde ascender ao trono português em 28 de maio de 1826 como Maria II depois da abdicação de Pedro I (que também foi o rei Pedro IV de Portugal). Ele se tornou o herdeiro da coroa brasileira e Príncipe Imperial como o único filho legítimo de Pedro I, sendo reconhecido como tal em 6 de agosto de 1826.


Pedro I convidou D. Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (posterior Condessa de Belmonte) para assumir a posição de aia de seu filho. Mariana de Verna era uma viúva portuguesa considerada uma mulher culta, honrada e gentil. Pedro II a chamava de "Dadama" pois não conseguia pronunciar corretamente quando criança a palavra "dama". Entretanto, ele continuou a chamá-la dessa maneira até já adulto por afeição e por considerá-la uma mãe postiça. Como era comum dentre a realeza dessa época, ele não foi amamentado por sua mãe. Em vez disso, a imigrante suíça Marie Catherine Equey (do Morro do Queimado, atual Nova Friburgo) foi escolhida como sua ama de leite.

Maria Leopoldina morreu em 11 de dezembro de 1826 quando Pedro II tinha um ano de idade, poucos dias depois de ter abortado um bebê menino. Pedro cresceria e não teria nenhuma memória da mãe, sabendo apenas aquilo que as pessoas comentavam sobre ela. De seu pai "não retinha uma imagem clara".

Pedro I se casou novamente dois anos e meio depois com a princesa Amélia de Leuchtenberg. Pedro passou pouco tempo com a madrasta, que acabaria por deixar o país dois anos depois. Mesmo assim eles tiveram uma relação bem próxima e mantiveram-se em contato por cartas até a morte dela em 1878. Tão forte foi a influência de Amélia no príncipe que ele até sua morte a considerou como sua mãe e quando adulto "a mulher ideal, a quem ele sempre buscou, era morena, vivaz e inteligente, e notadamente mais velha do que ele". Pedro I abdicou da coroa em 7 de abril de 1831 depois de um longo conflito contra liberais federalistas. Ele e a esposa imediatamente partiram para Portugal a fim de reconquistar a coroa de Maria II, que havia sido usurpada por D. Miguel. Deixado para trás junto com as irmãs mais velhas, o Príncipe Imperial assim se tornou o imperador Pedro II.


FONTES:

  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
  5. Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
  6. Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
  7. Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

POR QUE OS PRÍNCIPES SÓ SE CASAM COM PRINCESAS?

S.A. o Príncipe Dom Antonio de Orleáns e Bragança, 3º na linha sucessória, 
com sua esposa, Dona Christine de Ligne.

Haveria alguma razão para os príncipes só se casarem com princesas?

Na Idade Média, quando o feudalismo estava em pleno vigor, era menos demarcada a diferença entre as Casas reais e as grandes Casas feudais. Reis e príncipes casavam-se então sem nenhuma dificuldade com filhas de grandes senhores feudais. Pouco a pouco, entretanto, foi-se generalizando, entre as Casas soberanas do Continente europeu, o costume de seus membros só se casarem com princesas.

Há, sem dúvida, algumas vantagens dignas de nota, nesse costume.

A primeira delas, apontou-a o Dr. João Camillo de Oliveira Tôrres quando salientou que, casando os membros da Família reinante só com membros de outras Casas estrangeiras de mesmo nível, os monarcas em via de regra não têm parentes próximos para favorecer nos respectivos países. E com isso se evita um mal endêmico das repúblicas, que é o nepotismo, a tendência para favorecer os próprios parentes.

Outra vantagem que se aponta para tais casamentos é que eles favoreciam notavelmente as relações diplomáticas entre países. Os reis procuravam casar seguindo uma política de alianças que fosse conveniente ao seu país. De maneira que até num ato eminentemente da vida privada, como é o casamento, o que fazia um soberano era servir ao bem comum.

Nos últimos dois séculos, o costume de só casarem príncipes com princesas adquiriu particularmente força de lei consuetudinária em muitas dinastias. E é muito explicável que assim tenha ocorrido.

Explicável, por quê?

É explicável como mecanismo de defesa das dinastias contra a perda da noção da própria missão histórica.

Em consequência da disseminação, por todo o Ocidente, dos erros da Revolução Francesa, produziram-se repúblicas em série, destronando-se dezenas de Casas soberanas, e mesmo nas dinastias remanescentes dos sucessivos furacões que abalaram a ordem europeia, a influência igualitária e antimonárquica da Revolução deixou marcas profundas.

Ora, para as dinastias, ainda que destronadas e ainda que banidas de sua pátria, era fundamental dever de consciência se conservarem sempre preparadas para, a qualquer momento em que as chamassem de volta as respectivas nações, atender imediatamente a esse chamado. Para isso, precisavam absolutamente – era para elas questão de sobrevivência – não perder a noção da própria missão histórica.

Nessas circunstâncias, quando toda a tendência avassaladora impelia os príncipes e princesas a se diluírem na alta e na média burguesia, é compreensível que os chefes de Casa zelosos tenham fechado questão na observância estrita de um costume que já tendia a se tornar lei consuetudinária. A se abrirem exceções nesse ponto, os casamentos desiguais se transformariam em regra geral e, ao cabo de poucas gerações, a dinastia teria perdido inteiramente a noção de sua missão.

Assim, repetimos, o que antes era um costume mais ou menos generalizado passou a ser um requisito fundamental para a fidelidade à própria missão histórica.

Muito se falou – e, sobretudo, muito se exagerou – no passado a respeito das supostas taras das dinastias reinantes. Na sua sabedoria, a Igreja, já bem antes da generalização de tais temores, recomendava evitar casamentos entre parentes muito próximos. Mas nunca levou esses temores ao ponto verdadeiramente obsessivo a que parecem levá-lo certos objetantes antimonárquicos, que só vêem nas dinastias raças degeneradas, repletas de taras e heranças mórbidas. Não é o caso de nos estendermos aqui sobre esse assunto, que para ser convenientemente explanado, exigiria um desenvolvimento que as dimensões deste trabalho não comportam.

Limitemo-nos a uma constatação de fato.

Existe em teoria genealógica uma noção um tanto convencional, mas muito definida, de família. Entende-se por família o conjunto dos descendentes de um varão determinado, até que esses descendentes se reduzam a um único varão que morre sem deixar descendentes varões. Numa família, a tendência natural é ir-se abrindo um leque; ao cabo de quatro, cinco, seis gerações, há um número maior ou menor de varões; depois, pouco a pouco eles tendem a ir diminuindo, e acabam por se extinguir. Por linhas femininas, evidentemente, prossegue a sucessão do gênero humano, mas já em outras famílias que não aquela. Quanto maior a “eugenia” de uma família, mais duradoura ela é, evidentemente. Quanto menor, mais rapidamente ela tende a decair, e vai-se fechando o leque, até que morre o último varão e se extingue a família.

A duração média de uma família, sabe-se também por estudos genealógicos, é de cerca de trezentos anos, mais ou menos dez a doze gerações. Ora, a grande maioria das dinastias europeias tem mais do que isso: os Capetíngios, por exemplo, são uma dinastia que tem mais de um milênio. Descendem de Hugo Capeto, que subiu ao trono da França em 987. Os Capetíngios varões, ainda hoje, são muitas dezenas, espalhados por várias Casas, a do Brasil, a de Portugal, a da França, a da Espanha, a das Duas-Sicílias, a de Parma, a de Luxemburgo. É uma família que está pujante, muito longe de se extinguir.

Os Wittelsbach, da Casa Real da Baviera, já eram Duques da Baviera em 907, ou seja, 80 anos antes da coroação de Hugo Capeto... É uma família que tem pelo menos 1.100 anos.

Serão essas famílias decadentes? Como pretendê-lo?

- Trecho do livro “Parlamentarismo, sim! Mas à brasileira, com Monarca e Poder Moderador eficaz e paternal”, de autoria do Prof. Armando Alexandre dos Santos.


Foto: SS.AA.RR. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, Príncipe do Brasil e terceiro na linha de sucessão ao Trono, e sua esposa, a Princesa Dona Christine de Ligne de Orleans e Bragança, Princesa do Brasil, nascida na Casa Principesca de Ligne, a mais prestigiosa da nobreza do Reino da Bélgica. Na foto, Suas Altezas chegam ao casamento do Grão-Duque Hereditário Guillaume de Luxemburgo com a Condessa belga Stéphanie de Lannoy, em 2012; ambos os noivos primos próximos da Princesa Dona Christine.

D. Pedro I: aclamação, sagração e coroação


No dia 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro, grande parte da população receberia D. Pedro (1798-1834), que retornava da província de São Paulo, aplaudindo o momento da aclamação daquele que, de regente, se transformou em Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Pelas ruas e vielas da malha urbana da corte tropical, misturavam-se o repique dos sinos e os gritos entusiasmados da população, que acorreu à região. Em meio à rotina do dia a dia, as conversas fervilhavam junto aos mercados ou às lojas de comércio a varejo. Depois de ser aclamado, conforme a tradição em Portugal, o príncipe, em cerimônia envolvida em pompa e circunstância, foi sagrado e coroado, no dia 1º de dezembro de 1822, como D. Pedro I.

Nesse mesmo dia, para comemorar a data, o monarca criou a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul – como símbolo do poder imperial –, a primeira genuinamente brasileira. Seu desenho buscou inspiração nos modelos franceses. Porém, o nome escolhido baseou-se na posição geográfica do agora Império do Brasil, do qual se observa a grande constelação do Cruzeiro do Sul. A Ordem, nesse dia, foi distribuída premiando brasileiros e estrangeiros com participação relevante na vida política do Brasil até aquele momento. Coube aos condecorados ofertar alguma joia de valor, como doação, destinada à manutenção dos menos favorecidos.

Em 1829, o imperador criou a Imperial Ordem da Rosa, desejando perpetuar a memória de seu segundo casamento real, com D. Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais, Duquesa de Leuchtenberg (1812-1873). Segundo estudiosos, seu desenho era de autoria de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), inspirado no tecido com motivo de rosas que a futura imperatriz vestia ao desembarcar na cidade do Rio de Janeiro. Tal honraria passou a ser distribuída como prêmio aos militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguiam por sua fidelidade ao imperador e por serviços prestados ao Império do Brasil. De 1829 a 1831, D. Pedro I, durante o seu reinado, concedeu 189 insígnias, e D. Pedro II (1825-1891), 14.284.

Jean-Baptiste Debret criou, também, outros símbolos imperiais, como as armas e a bandeira. O artista integrou o grupo conhecido pelo nome de Missão Artística Francesa, composto por artistas reconhecidos em seu meio e que vieram para o Brasil, “uma colônia até então fechada aos estrangeiros – sobretudo franceses – e com imensas possibilidades de comércio, mercado e artes”, no dizer da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.

Apesar de tantas alegrias e de tantas expectativas após a Independência, organizar uma arquitetura política que conciliasse as diversas forças condutoras do processo de emancipação de Portugal não era simples. Naqueles primeiros dias e nos anos seguintes, a tarefa que se apresentava era a de organizar o nascente Estado, mantendo-o imperial, sob a dinastia da família real dos Bragança.

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domingo, 27 de novembro de 2016

A intelectualidade negra do Império

Antes da Abolição, editores e homens de letras descendentes de escravos 
desempenharam papel social importante

MAURICIO PULS | ED. 249 | NOVEMBRO 2016

Em novembro de 1831, o tipógrafo negro Francisco de Paula Brito (1809-1861) comprou a livraria de seu primo, o mulato Silvino José de Almeida, e a transformou em uma das maiores editoras do Segundo Reinado. Entre seus acionistas figurou o próprio d. Pedro II, que em 1851 lhe concedeu o título de impressor da Casa Imperial. A importância de Paula Brito não se limitou a seu êxito empresarial: ele imprimiu um dos primeiros periódicos em defesa dos direitos dos negros e, mais tarde, publicou as primeiras obras dos escritores Teixeira e Sousa e Machado de Assis.

Como explica Rodrigo Camargo de Godoi em sua tese Um editor no Império: Francisco de Paula Brito (1809-1861), defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) em 2014 e agora publicada em livro pela Edusp, a trajetória do editor não é um caso isolado: “Há toda uma intelectualidade negra que se forma no fim do século XVIII e no início do século XIX, integrada por figuras como o jurista Antonio Pereira Rebouças e o político Francisco Jê de Acaiaba Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha. São filhos e netos de escravos que se afastaram do cativeiro, ascenderam socialmente e ocuparam cargos em áreas que vão da medicina até o jornalismo e a política”.

A integração dos afrodescendentes à elite cultural do Império nunca foi fácil, pois o preconceito fechava muitas portas. Na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, diversos professores (como Avellar Brotero e Veiga Cabral) não escondiam suas tendências racistas – tanto assim que foi apenas em 1879 que um negro, José Rubino de Oliveira, conseguiu se tornar professor da instituição. A resistência, contudo, foi diminuindo com a expansão do estrato de afrodescendentes livres.

O percentual de escravos na população diminuiu bastante durante o século XIX, em parte pelas restrições crescentes ao tráfico negreiro, em parte pela expansão de outras relações de trabalho. Em 1818, segundo o historiador Jacob Gorender, no livro O escravismo colonial, de 1978, os cativos ainda representavam 50,5% da população. Esse percentual declinou para 34,5% em 1850 e atingiu 15,2% em 1872. Nesse último ano, de acordo com o professor da Unicamp Sidney Chalhoub (A força da escravidão, 2012), os negros e mulatos livres representavam 42,7% da população. À época, de cada quatro negros três eram livres. Muitos deles se destacavam nas instituições de ensino, nas artes e sobretudo na imprensa, como mostra Ana Flávia Magalhães Pinto em sua tese “Fortes laços em linhas rotas: Literatos negros, racismo e cidadania na segunda metade do século XIX”, defendida no IFCH-Unicamp em 2014 e que recebeu menção honrosa do Prêmio Capes de Teses em 2015.

Que fatores possibilitaram o aparecimento desses intelectuais negros em uma sociedade ainda cindida pelo trabalho escravo? Segundo Ana Flávia, os esforços dos descendentes de africanos para superar as barreiras colocadas ao exercício da cidadania tiveram de se valer dos canais de poder e prestígio então vigentes. Como argumenta o crítico Roberto Schwarz em seu livro Ao vencedor as batatas (1977), em uma sociedade fundada nas relações de dominação pessoal (senhor-escravo), a distribuição dos cargos públicos e dos benefícios do Estado dependia de favores pessoais prestados pelos detentores do poder. A distribuição desses favores, contudo, não se processava apenas por meio “de relações verticais, hierarquizadas, de proteção pessoal”. Segundo Chalhoub, havia também “redes horizontais”, integradas por muitos indivíduos, que agiam de forma mais ou menos coordenada: “Por exemplo, quando começou a atuar como jornalista, Machado de Assis atendia a muitos pedidos de resenhas para divulgar livros de colegas iniciantes”.

Dentre as redes de sociabilidade, uma das mais conhecidas é a maçonaria. Ligia Fonseca Ferreira, professora do programa de pós-graduação em letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e organizadora da edição crítica de Com a palavra, Luiz Gama: Poemas, artigos, cartas, máximas (2011), observa que dois importantes intelectuais negros, o advogado Luiz Gama e o escritor José Ferreira de Menezes, aderiram à Loja América, em São Paulo, fundada em 1868. Dois anos depois, a instituição já mantinha uma escola noturna de primeiras letras com 214 alunos: “Eles recebiam libertos e alforriados na escola. E, dada a carência de bibliotecas na cidade, criaram também uma biblioteca aberta à população”, diz Ligia. De acordo com ela, o próprio Luiz Gama atuou como professor na escola, e algumas classes funcionavam na casa dele.

Além da maçonaria, os partidos políticos também desempenharam um papel essencial. Enfrentando uma concorrência acirrada de livreiros franceses como Baptiste Louis Garnier, o editor brasileiro Paula Brito deveu parte do seu sucesso a alianças com os políticos liberais em fins da década de 1830 e com os conservadores de 1840 até o fim da vida. Como mostra Rodrigo Godoi, seus contatos políticos permitiram que ele fosse agraciado com os serviços de africanos resgatados de navios negreiros apreendidos. Esses trabalhadores (que na prática pouco se distinguiam dos escravos) eram entregues a particulares, que em troca deveriam vesti-los e alimentá-los. Como explica Godoi em seu livro, “receber tais concessões refletia antes de tudo o prestígio social […], tornando-se sinônimo de favor político”.

Mas a emergência da intelectualidade negra não se apoiou apenas em conexões com as classes proprietárias, sustenta Ana Flávia. “É comum explicar a ascensão de pessoas como Luiz Gama, José do Patrocínio e Machado de Assis a partir da identificação da presença de algum medalhão como protetor”, afirma a pesquisadora. “Sem negar a importância da lógica do favor entre ‘senhores’ e ‘livres dependentes’, a pesquisa tem me permitido acessar outras redes de proteção tão importantes quanto essas.” Ana Flávia destaca os casos de Arthur Carlos, Ignácio de Araújo Lima e Theophilo Dias de Castro, envolvidos com a edição dos jornais A Pátria e O Progresso, primeiros exemplares da imprensa negra em São Paulo, e que eram vinculados às irmandades de Nossa Senhora do Rosário e de Nossa Senhora dos Remédios. Segundo Ana Flávia, cada indivíduo muitas vezes participava de diversas associações ao longo da vida: “Vicente de Souza, que estou pesquisando no pós-doutorado, participou de mais de 50 organizações, religiosas, políticas e literárias. Ele tem vínculos com a maçonaria e o positivismo. Era abolicionista, republicano e socialista. Vários líderes do movimento operário no Rio de Janeiro nas décadas de 1890 eram negros”.

Paula Brito criou uma espécie de clube, a Sociedade Petalógica, que se reunia em sua livraria para discutir assuntos da atualidade. Entre seus integrantes estavam os políticos Visconde de Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos), Eusébio de Queiroz e Justiniano Rocha, os escritores Joaquim Manuel de Macedo, Teixeira e Sousa e Machado de Assis, o jornalista Augusto Emílio Zaluar e o ator João Caetano. Segundo escreveu Machado de Assis na crônica Ao acaso, publicada em 1865, na Petalógica se conversava sobre tudo, “desde a retirada de um ministério até a pirueta da dançarina da moda”. Era um “campo neutro” no qual o estreante em letras se encontrava com o conselheiro, e o cantor italiano dialogava com o ex-ministro.

Neto de negros libertos que se alfabetizaram ainda no século XVIII, Paula Brito teve acesso às letras ainda muito jovem, o que permitiu que ele se tornasse tipógrafo em 1824. Também compunha poesias (um de seus poemas, a “Ode à imprensa”, foi escrito diante de dom Pedro II no Paço Imperial) e, após comprar a livraria de seu primo, passou a imprimir dezenas de jornais. Foi ele quem publicou um dos primeiros periódicos da imprensa negra no Brasil, O mulato ou O homem de cor, que criticava a ausência dos afrodescendentes nos cargos públicos.

Uma vez inseridos em redes de sociabilidade, intelectuais negros conseguiam abrir caminho para outros. Paula Brito deu emprego a Teixeira e Sousa, do qual publicou Cânticos líricos em 1841 e O filho do pescador, o primeiro romance brasileiro, em 1843. Paula Brito também publicou os primeiros poemas e artigos de Machado de Assis em seu jornal Marmota Fluminense. Segundo Godoi, com Paula Brito nasceu no Brasil a figura do “editor moderno, aquele que compra o manuscrito e o publica”. Em uma época em que as editoras costumavam publicar traduções piratas de autores estrangeiros, ele decidiu comprar textos e direitos de autores nacionais.

Esses intelectuais, porém, eram alvo de muitas críticas. Alguns estudiosos, como o historiador Humberto Fernandes Machado (autor da tese “Palavras e brados: A imprensa abolicionista do Rio de Janeiro, 1880-1888”), afirmam que jornalistas como José do Patrocínio tinham “uma postura paternalista, conciliadora e reformista”, sintonizada com os interesses dos senhores. Acusações semelhantes eram feitas já no século XIX a Machado de Assis pelo gramático negro Hemetério José dos Santos. Na opinião de Ana Flávia, considerações desse tipo esquecem o fato de que os intelectuais negros eram obrigados a dialogar com um público muito diversificado, que incluía tanto senhores de escravos refratários a qualquer concessão quanto abolicionistas radicais.

Para Chalhoub, os intelectuais negros ganharam maior visibilidade a partir da década de 1870 porque o abolicionismo se tornou uma causa generalizada, agregando intelectuais de diferentes tendências (liberais, conservadores, republicanos). Mas, após o fim da escravidão, “houve um silenciamento do legado da escravidão: o regime republicano foi em grande medida criado em reação à percepção de que a Coroa, ao se aliar à luta contra a escravidão, prejudicara os interesses da cafeicultura”. A partir daí, a intelectualidade negra começou a perder espaço.

Projetos
1. Fortes laços em linhas rotas: Experiências de intelectuais negros em jornais fluminenses e paulistanos no fim do século XX (nº 2009/09115-0); Modalidade Bolsa no País – Doutorado; Pesquisador responsável Sidney Chalhoub (IFCH-Unicamp); Beneficiária Ana Flávia Magalhães Pinto; Investimento R$ 126.751,52.
2. Operários das letras: Escritores, jornalistas e editores no Rio de Janeiro (1850-1920) (nº 2014/19669); Modalidade Bolsa no País – Pós-doutorado; Pesquisador responsável Sidney Chalhoub (IFCH-Unicamp); Beneficiário Rodrigo Camargo de Godoi; Investimento R$ 182.696,80.

Livro
GODOI, R. C. de. Um editor no Império: Francisco de Paula Brito (1809-1861). São Paulo: Edusp, 2016, 392 p.

LINK ORIGINAL: REVISTA PESQUISA - https://goo.gl/vixkJs