sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ESPECIAL DOM PEDRO II: INTRIGAS NA CORTE


Pedro só poderia exercer suas prerrogativas constitucionais assim que alcançasse a maioridade dos dezoito anos, porém isso ocorreria apenas em 2 de dezembro de 1843. A possibilidade de reduzir a maioridade foi apresentada pela primeira vez pelos Conservadores em 1835. O liberal Diogo Antônio Feijó foi eleito o único regente em 12 de outubro de 1835 depois do Ato Adicional de 1834 ter acabado com a regência em triunvirato. Na opinião de Roderick J. Barman, faltava para o regente a "visão, a flexibilidade e os recursos necessários para reger o Brasil sob as condições prevalecentes desde a morte de D. Pedro I e a aprovação do Ato Adicional".

Feijó renunciou do posto em 1837 e o conservador Pedro de Araújo Lima (posterior Marquês de Olinda) foi eleito como substituto. Um dos principais objetivos de Araújo Lima era restaurar o respeito da autoridade imperial, dessa forma "cerimônias e práticas tradicionais que cercavam o monarca, suspensas desde a abdicação de D. Pedro I, foram restabelecidas". A "campanha para incutir deferência e respeito ao jovem imperador encontrou pronta aceitação por todo o Brasil".

Os Liberais temiam que seus adversários se perpetuassem no poder e também começaram a defender a redução da maioridade. Eles viram a oportunidade de que o imperador "pudesse ser manipulado por quem quer que o levasse ao poder" dada sua idade e inexperiência. Os Liberais se aliaram com os antigos restauracionistas, agora liderados por Antônio Carlos de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada, irmãos do ex-tutor José Bonifácio (que havia morrido em 1838). O projeto de lei proposto pelos Conservadores no Senado para reduzir a maioridade foi derrotado por 18 votos contra 16 em 17 de maio de 1840. Diferentemente de seus rivais, os Liberais eram inescrupulosos ao ignorar as leis para alcançar seus objetivos e decidiram declarar imediatamente Pedro maior de idade. Para conseguirem isso eles precisavam do apoio das três pessoas mais poderosas da corte imperial: Mariana de Verna, Paulo Barbosa da Silva e Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho (depois Visconde de Sepetiba).

Aureliano Coutinho era o Ministro da Justiça e tinha conseguido nomear Paulo Barbosa (amigo de seu irmão Saturnino de Sousa e Oliveira Coutinho) para a posição de mordomo-mor. Foi Paulo Barbosa que chamou Itanhaém para ser o tutor do imperador e o frei Pedro Mariana para ser o supervisor. Ele achava que ambos se submeteriam a seus interesses. Mariana de Verna, antiga supervisora, mãe postiça e governanta de Pedro II, era estimada tanto por Aureliano Coutinho quanto por Paulo Barbosa. Sua filha havia se casado com um dos sobrinhos do mordomo. Os três "gostavam de poder e influência em benefício próprio, interpretavam qualquer oposição a seu domínio como ofensa pessoal e eram implacáveis na defesa de sua posição na corte".

A aliança entre "Aureliano, D. Mariana e Paulo Barbosa com o Marquês de Itanhaém como seguidor, rapidamente assegurou-lhes o domínio sobre os assuntos da Corte e Casa". Ficou impossível avançar quaisquer propostas ou decisões sem que eles as aprovassem, enquanto que o grupo apenas "seguia seus próprios interesses e os de seus amigos". O trio e seus seguidores ficaram conhecidos como "Facção Áulica" ou "Clube da Joana" (nomeada por causa da casa de campo de Paulo Barbosa nas margens do rio Joana, onde eles costumavam se encontrar). A aliança deles com os Liberais evoluiu como consequência de Bernardo Pereira de Vasconcellos, um dos ministros de Araújo Lima, que desejava retirar Itanhaém e seu inimigo Paulo Barbosa da Casa Imperial.

FONTES:


  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras);
  5. Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870) 1 (Belo Horizonte: Itatiaia);
  6. Olivieri, Antonio Carlos (1999). Dom Pedro II, Imperador do Brasi (São Paulo: Callis);
  7. Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2ª ed. (São Paulo: Companhia das Letras).

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