sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ESPECIAL DOM PEDRO II: TUTELA


Pedro I havia selecionado três pessoas que ficariam encarregadas dos cuidados de seus filhos. O primeiro era seu amigo José Bonifácio de Andrada e Silva, a quem ele nomeou como tutor, posição que posteriormente foi confirmada pela Assembleia Geral. A segunda era Mariana de Verna, que ocupava a posição de aia desde o nascimento de Pedro II. E a última pessoa era Rafael, um afro-brasileiro que havia lutado na Guerra da Cisplatina. Este último era um empregado do Paço de São Cristóvão em quem Pedro I muito confiava e pediu para cuidar de seu filho – um encargo que Rafael cumpriu pelo resto da vida. São Cristóvão foi a principal residência de Pedro II durante sua infância. A princesa Paula adoeceu seriamente no final de 1832 (provavelmente de meningite) e morreu três semanas depois em 16 de janeiro de 1833. A perda da irmã reforçou o sentimento de abandono que o jovem imperador e suas outras duas irmãs já sentiam.

José Bonifácio foi destituído de seu posto pela Assembleia Geral em dezembro de 1833. Ele "não tolerava qualquer desafio à sua onipotência como tutor. Ele rapidamente guardava ressentimento daqueles que tentassem disputar suas prerrogativas ou questionar seus poderes, e sua atitude ditatorial ameaçava fortes interesses da corte. Ele se indispôs particularmente com D. Mariana de Verna Magalhães, que, como primeira-dama dos aposentos do imperador e apoiada por inúmeros parentes, há vários anos exercia considerável influência nos assuntos da corte". Sua relação com a regência de cunho liberal tornou-se insustentável por causa de sua liderança na facção restauracionista que buscava a volta de Pedro I como regente do império até a maioridade de Pedro II. A Assembleia Geral acabou selecionando Manuel Inácio de Andrade, Marquês de Itanhaém, como o substituto na posição de tutor.

Itanhaém foi escolhido porque era considerado submisso e facilmente manipulável. O novo tutor mostrou-se um homem de inteligência mediana, mas honesto. Ele era sábio o bastante para dar uma extraordinária educação para o jovem imperador. Itanhaém teve uma "grande influência no pensamento e personalidade democrática do Pedro II". Foram mantidos os professores que já davam aulas para Pedro e suas irmãs sob José Bonifácio. A exceção foi o frei Pedro de Santa Mariana e Sousa, que foi nomeado para a posição de aio no lugar do frei Antônio de Arrábida (que também havia sido tutor de Pedro I). A supervisão geral do imperador ficou a cargo de frei Pedro Mariana, assumindo pessoalmente as aulas de latim, religião e matemática. Ele foi uma das poucas pessoas fora da família imperial por quem Pedro II tinha grande afeição.

Dentre os preceitos que Itanhaém e Pedro Mariana procuraram incutir no jovem imperador estavam: que todos os seres humanos devem ser considerados como iguais, que ele deveria procurar ser imparcial e justo, que criados públicos e ministros de estado devem ser cuidadosamente vigiados, que ele não deveria ter favoritos e que sua preocupação sempre deveria ser para o bem-estar público. Ambos tinham como objetivo "criar um monarca humano, honesto, constitucional, pacifista, tolerante, sábio e justo. Ou seja, um governante perfeito, integralmente dedicado a suas obrigações, acima de quaisquer paixões políticas e interesses particulares". Itanhém mais tarde chamou Cândido José de Araújo Viana (posterior Marquês de Sapucaí) para ser um dos instrutores de Pedro II, com ele e o monarca também se dando bem.

FONTES:

  1. Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 (Stanford: Stanford University Press);
  2. Besouchet, Lídia (1993). Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira);
  3. Bueno, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática);
  4. Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II (Rio de Janeiro: J. Olympio);Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras).

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