Pois nestes últimos dias, resolvi me debruçar sobre a história dos partidos políticos brasileiros e fazer o mesmo. Como não sou historiador, nem cientista político, o desenho pode apresentar falhas. No entanto, ajudou-me a organizar as ideias e reconhecer melhor em qual terreno e contexto se inserem alguns partidos atuais. Na dúvida, veja o quadro acima.
– Brasil Império e República Velha
Não existia uma união nacional nesta época, com os quadros sendo formados dentro dos Estados (o Partido Republicano Paulista, o Mineiro, e o Riograndense, de Júlio de Castilhos, por exemplo). Estes dominaram o palco principalmente a partir da Proclamação da República e estabelecendo a política do ‘café com leite‘, com paulistas e mineiros se revezando no poder.
É preciso compreender que neste período não havia o sufrágio universal. Ou seja, mulheres e pobres não iam às urnas. Portanto, as referências políticas eram pessoas da elite social.
– Era Vargas
Com a implantação do Estado Novo (nada mais do que uma ditadura populista), viu as oposições se radicalizarem entre extrema-direita e extrema-esquerda: Ação Integralista Brasileira (AIB), que defendia um governo fascista; e Aliança Nacional Libertadora (ANL), formada por integrantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Aliás, este último, conhecido como ‘Partidão’, foi o primeiro viés de esquerda na política nacional, fundado ainda em 1922, acabou sendo tornado ilegal por muitos dos governos que assumiram o país. Apesar de fortes revoluções organizadas por essas duas frentes, Vargas manteve-se na presidência até 1945.
Voltaria eleito cinco anos depois, mas antes ainda foi o avalizador de dois partidos que seriam fundados: PSD (Partido Social Democrático) e PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – pelo qual se filiou. No espectro oposto, surgiria a UDN (União Democrática Nacional), uma herdeira dos Partidos Conservador e Liberal. Seria a principal oposição ao governo getulista até seu suicídio em 1954.
– Ditadura Militar
Permitia-se apenas a adesão a duas vertentes: MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Era como se, de uma hora para outra, a política nacional voltasse ao período do Brasil Império, onde vigoravam apenas os liberais e conservadores.
Os quadros da centro-esquerda foram forçados ao exílio (como o petebista Leonel Brizola), enquanto os da extrema-esquerda assumiram a ilegalidade para criar grupos armados – ALN (Aliança Libertadora Nacional), MR8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), entre outros.
– Reabertura política
Com o desprestígio da ARENA, surgiu o PDS (Partido Democrático Social), que passaria a abrigar aqueles políticos que governaram sob o guarda-chuva militar, como José Sarney. O MDB, por sua vez, foi quem surfou a onda da abertura política, sendo a cara da recente democracia brasileira.
Velhos partidos, como PCdoB, PSB e PTB também foram reativados, mas já desvirtuados das ideologias que os havia fundado.
– Coligações e fisiologismo
Do gigantesco PMDB, surgiria principalmente o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Do PT, acabariam migrando vertentes radicais de esquerda, como PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), PCO (Partido da Causa Operária) e mais recentemente PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). O impeachment de Collor em 1992, no entanto, influenciaria ainda mais o fisiologismo na vida democrática brasileira.
A troca constante de partidos – como do então vice-presidente Itamar Franco, que chegaria ao seu 5º partido ao assumir a presidência (PTB, MDB, PL, PRN e PMDB) – denunciava a falta de fidelidade a uma raiz ideológica. Além disso, o sistema presidencialista de coalizão insuflou as coligações antes inimagináveis. O ‘tucano’ Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, ex-MDB, coligou com o PFL (dissidência do PDS e ARENA) para vencer as eleições de 1994 e 1998.
Já o petista Lula uniu-se com o PL para fazer o mesmo em 2002 e 2006. Quando que os liberais do Brasil Império imaginariam que seus herdeiros políticos um dia uniriam forças com trabalhadores de movimentos sindicais?
Da fusão dessa coligação improvável, por exemplo, saiu o atual SD (Solidariedade), que tem como presidente o deputado Paulinho da Força Sindical – um ex-petista, que se tornou uma das principais bases de apoio ao recente impeachment de Dilma Rousseff.
Outra obra do fisiologismo é o recém criado Rede Sustentabilidade, capaz de abrigar a fundadora Marina Silva, ex-PT e PV (Partido Verde); Randolfe Rodrigues, ex-PSOL; Miro Teixeira, ex-PP, PDT e PROS (Partido Republicano da Ordem Social); e João Derly, ex-PCdoB. Isso sem falar no PSC (Partido Social Cristão), herdeiro do antigo PDC extinto pela ditadura militar, mas que já lançou a pré-candidatura de Jair Bolsonaro, um entusiasta do regime militar.
Mas talvez o ‘filho mais bastardo’ da política brasileira seja o PR (Partido da República), nascido da fusão entre PL e PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) – pensado e criado pelo ultranacionalista Enéas Carneiro, primo distante do integralista Plínio Salgado. Mesmo assim, não exitou em coligar com o PT nas eleições de Dilma.
Sendo assim, à esta altura, onde ninguém mais sabe quem é o inimigo ou amigo na trincheira, urge uma reforma na política brasileira. Ou sigam degustando essa sopa de letrinhas promíscuas e indigestas.
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