No fim do século XVIII, um grande número de escritores, intelectuais, reis e artistas conheceram países da Europa Oriental e Oriente Médio, como a Grécia, Turquia, Líbano, Síria, Palestina, Egito e Arábia Saudita. O Imperador do Brasil na época, D. Pedro II (1825-1891), visitou o Egito em 1871, e em 1876 visitou o Líbano, a Síria e a Palestina.
D. Pedro II era um grande admirador da literatura e da cultura árabe, chegando mesmo a conhecer a língua árabe quando estudou no Brasil com um arabista alemão.
O Imperador esteve no Líbano acompanhado de sua esposa Dona Tereza Christina Maria e de uma comitiva de aproximadamente 200 pessoas (Barões, Viscondes, Damas...), vindo da Grécia no navio “Aquiíla Imperial”, de bandeira verde e amarela.
Hospedou-se no “Hotel Belle Vue” em Beirute e, munido de uma égua branca e uma mochila, percorreu o país dos cedros. Esta visita, de uma alta autoridade brasileira em tal época, pode ser considerada de grande valor histórico, apesar de a mesma ter sido em caráter turístico e científico.
Em sua estada no Líbano, de 11 a 15 de novembro de 1876, o Imperador escreveu ao seu amigo, o diplomata francês Joseph Gobineau, que ficara em Atenas, Grécia: “Tudo vai bem... A partir de hoje começa um mundo novo. O Líbano ergue-se diante de mim com seus cimos nevados, seu aspecto severo, como convém a essa sentinela da Terra Santa...” (Arquivo Histórico de Estrasburgo – França).
Em Beirute, D. Pedro II visitou o Colégio Protestante Sírio (fundado em 1866, e que, mais tarde, tornou-se a Universidade Americana de Beirute), o Colégio Francês dos Jesuítas (fundado em 1875 e que veio a ser a Universidade Saint Joseph) e outras instituições.
Encontrou-se com grandes mestres das ciências e da literatura, dentre os quais o famoso gramático de língua árabe Ibrahim Al-Yazigi, que lhe ofereceu vários livros em árabe ornados com palavras dedicatórias (tais livros encontram-se hoje no Museu Imperial de Petrópolis-RJ); visitou o grande Professor Cornelius Van Dyck, do qual assistiu uma aula sentado em meio aos alunos, dentre os quais estava Nemi Jafet, intelectual pioneiro da emigração para o Brasil.
Em Bkerké, visitou o Patriarca da Igreja Maronita, Boulos Mass’ad (1854-1890). Em Baabda, visitou o Governador-Geral Rouston Pacha Mariani (1854-1883). Em seguida, o Imperador continuou sua viagem em direção ao Vale do Bekaa, a grande planície fértil do país, chegando à cidade de Chtaura. Naquela época a viagem era feita em carruagens da “Sociedade Otomana da Estrada de Beirute a Damasco”, fundada em 1861. O trajeto foi efetuado com muitas paradas, principalmente em Sofar e Chtaura.
Ao chegar no alto da Cordilheira do Monte Líbano (Daher Al-Baida), escreveu em seu diário: “Felizmente a chuva tinha cessado, clareando o tempo de modo a gozar da vista magnífica da planície de Bekaa”.
A caravana era guiada pelos irmãos Antonio e Melhem Ward, libaneses maronitas de Beirute. Neste percurso de sua comitiva, escoltado por soldados, um deles seguindo à frente portando uma longa lança com a bandeira verde e amarela, o Imperador encontrou-se com vários camponeses e a eles falou da nova terra chamada Brasil, um vasto país fértil onde já se encontrava um pequeno número de libaneses vindos da Europa e do Egito.
Atravessando o Vale de Chtaura rumo a Baalbeck, passou por várias cidades, dentre elas Zahle, chegando ao seu destino a noite, quando escreveu em seu diário: “...a entrada nas ruínas de Baalbeck, à luz de fogaréus e lanternas, atravessando por longa abóbada de grandes pedras, foi triunfal e as colunas tomavam dimensões colossais”.
O Imperador visitou os templos de Júpiter, de Vênus e observou tudo, mediu, tomou notas e por fim escreveu: “Saindo de Baalbeck, onde deixei meu nome com a data na parede do fundo do pequeno templo (Templo de Baco), está cheio de semelhantes inscrições, lendo-se logo depois da entrada estas palavras: “Comme le monde est bête!!!”.
Deixando Baalbeck, dirigiu-se para Damasco, Síria, observando: “Reparei melhor para a planície, que apesar de coberta de seixos, é aproveitada para trigo e vinhas sobretudo. Perto de Baalbeck nasce o antigo Orontes, que vai banhar a Antioquia... A noite passada, encheram-se os cabeços dos montes de neve e que belo efeito produziram, vistos do fundo do grande templo, ou por entre as 6 colunas.”
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O Imperador ficou encantado com o dinamismo do povo libanês e disse:
“Gostaria de ver o maior número de vocês no Brasil, prometo recebê-los bem e tenham certeza de que retornarão prósperos”, o que realmente aconteceu. Hoje são mais de seis milhões de libaneses e descendentes no Brasil e cerca de 60 mil líbano-brasileiros residentes no Líbano.
Dois países amigos e com fortes laços humanos.
É interessante saber também que em Alexandria, Egito, encontra-se uma Igreja Greco-Melquita Católica (Rito Bizantino) dedicada a São Pedro, construída por um emigrante libanês no Egito, Conde Miguel Debbane (1806-1872) e Cônsul Honorário do Brasil em Alexandria. A igreja foi construída em 1868 em honra de Dom Pedro II, e em 1871 o Imperador visitou Alexandria e a igreja. Ainda nos dias de hoje as missas são celebradas em memória do Imperador do Brasil Dom Pedro II e do Conde Miguel Debbane.
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LINK ORIGINAL - GAZETA DE BEIRUTE: https://goo.gl/ay71wk
Artigo brilhante. Parabéns !
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