quinta-feira, 25 de maio de 2017

MENSAGEM DO SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA

S.A.I. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleáns e Bragança

[Publicamos a mensagem que S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, dirigiu aos brasileiros por ocasião do Sesquicentenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1972. Transcrevemos o referido documento a partir da cópia publicada pela revista “Catolicismo”, em sua edição de setembro de 1972, e reproduzida no livro “Dom Pedro Henrique, o Condestável das Saudades e da Esperança”, do Prof. Armando Alexandre dos Santos.]

A LIÇÃO DA INDEPENDÊNCIA

Longe de se repelirem, tradição e progresso harmoniosamente se completam. Com efeito, o verdadeiro conceito de tradição nada tem de arcaizante, pois representa o acervo de ensinamentos acumulado de geração em geração, ou ainda o próprio ato de comunica-los. Assim, na vida social dos povos, podemos chamar tradição à conservação e à transmissão de conhecimentos, normas e práticas, através dos tempos, cujo conteúdo forma, no mundo ocidental, a ordem civil estabelecida pelo Cristianismo. Que de mais belo e nobre do que essa transmissão pluriforme de valores espirituais figurada na “tocha que o corredor a cada revezamento confia às mãos de outros, sem que a corrida pare ou arrefeça sua velocidade” (Pio XII, Alocução ao patriciado e à nobreza romana, janeiro de 1944, “Dirscorsi e Radiomessaggi”, vol. V, pp. 179-180)!

Por onde se vê que não há progresso estável que não se baseie numa sólida tradição. Que seria de qualquer ramo científico, por exemplo, que, para progredir, não se alicerçasse no acervo dos conhecimentos já adquiridos, isto é, em uma tradição?

O Brasil é um País em franco e inegável desenvolvimento, e está fadado a um progresso ainda muito maior, não somente pelo dinamismo de seu povo, como também pelos imensos recursos naturais com que o dotou a Providência Divina.

Mas a condição indispensável desse desenvolvimento, o penhor de que ele será estável, duradouro e sempre benéfico, é de se fazer na continuidade do passado, isto é, dentro da linha da gloriosa tradição história de nossa Pátria. E a esse respeito a Independência contém uma grande lição: desligamento político em relação a Portugal, ela não foi uma ruptura com a tradição portuguesa, mas se fez na continuidade dessa tradição:

– pela continuidade da Dinastia de Bragança;

– porque o Brasil independente permaneceu fiel à tradição política recebida de Portugal;

– porque, apesar de atritos episódicos, inerentes à separação, continuaram vigorosos os laços culturais e afetivos que ligavam o Brasil a Portugal. Brasileiros e portugueses sempre se trataram como irmãos, do que foi mais uma prova eloquente a participação pessoal do Presidente Américo Tomás nas comemorações do Sesquicentenário da Independência, acompanhado até o Rio de Janeiro os veneráveis despojos daquele que a proclamou.

* * *

Dentre as tradições de que o Brasil de hoje é cioso portador, avulta a que é representada pela continuidade da Fé. Fiel às suas origens, deve ele saber preservar essas tradições, defendendo-as sobretudo contra seus adversários atuais, que são a tentação de um desenvolvimento preponderantemente material e a sedução por ideologias enlouquecidas: o comunismo escravizador e a contestação anárquica.

Necessário se torna fazer com que os valores espirituais autênticos progridam tanto entre nós, que se mostrem capazes de dirigir esse promissor surto de desenvolvimento material a que estamos assistindo, obrigando, ao mesmo tempo, a retrocederem para os antros de onde saíram aquelas ideologias espúrias, que tentam esgueirar-se no meio de nosso povo.

Eis os ferventes votos que hoje dirijo à Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, na qualidade de herdeiro e continuador do legado espiritual da Casa de Bragança, no qual se inscrevem como valores primaciais a firme adesão à Religião Católica Apostólica Romana e a continuidade da tradição, rumo ao glorioso futuro que a Providência chama este País que meu augusto Trisavô fez independente há cento e cinquenta anos.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

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O revisionismo histórico da Guerra do Paraguai recebeu impulso de fato em 1968 a publicação da obra "A Guerra do Paraguai – Grande negócio!" do escritor Leon Pomer onde alegou que a guerra ocorreu por interesse único da Grã-Bretanha (recentemente Pomer reconheceu que a Grã-Bretanha não teve participação alguma).

Na obra, em tantas outras publicadas no período, o Paraguai é apresentado como um país socialista e igualitário, além de extremamente moderno, rico e poderoso. Seu governante, Solano López, seria uma espécie de líder visionário, anti-imperialista e socialista que buscava tornar seu país livre das influências imperialistas estrangeiras.

A Grã-Bretanha, supostamente receosa deste modelo autônomo e temendo que pudesse vir a servir de exemplo para os países vizinhos, tratou de ordenar que o Brasil, Argentina e Uruguai, simples "marionetes", destruíssem o Paraguai, exterminando praticamente toda a população paraguaia conseqüentemente.

Tal visão (também considerada simplista, além de apelativa por resumir-se ao denuncismo emocionado para esconder a falta de evidências empíricas) desencadeada por historiadores de "esquerda marxista" foi fruto das situações da época em que surgiu.

Havia um desejo não só de transformar o Paraguai numa espécie de precursor de Cuba (que ao invés de ter combatido o imperialismo norte-americano, teria agido contra o imperialismo britânico), mas, também de prejudicar a imagem dos heróis da guerra cultuados pelos regimes ditatoriais militares de então que os perseguiam.

Tal visão propagada pela historiografia de esquerda, que ainda é ensinada na maior parte das escolas dos países latino-americanos, carece de qualquer tipo de provas concretas, dados ou evidências empíricas.

Contudo, os efeitos da visão historiográfica revisionista do conflito foram impactantes, pois diversas gerações de latino-americanos (principalmente brasileiros, argentinos e uruguaios) vieram a observar seu passado de uma forma pessimista e a desprezarem os vultos históricos de seus países. Tais efeitos foram ainda mais sentidos no Paraguai, onde a versão revisionista foi assumida como doutrina oficial de Estado, ainda mais depois da transformação de Solano López em herói sem defeitos.

O historiador Francisco Doratioto esclarece o tema:

Culpar a Grã-Bretanha pelo início do conflito satisfaz, nas décadas de 1960 a 1980, a distintos interesses políticos. Para alguns, tratava-se de mostrar a possibilidade de construir na América Latina um modelo de desenvolvimento econômico não dependente, apontando como um precedente o Estado paraguaio dos López. 

Acabaram, por negar essa possibilidade, na medida em que apresentaram a potência central - a Grã-Bretanha - como onipotente, capaz de impor e dispor de países periféricos, de modo a destruir qualquer tentativa de não-dependência. 

Como resultado, o leitor desavisado, ou os estudantes que aprenderam por essa cartilha, podem ter concluído que a história de nosso continente não se faz ou não se pode fazer aqui, pois os países centrais tudo decidem inapelavelmente. Os latino-americanos, nessa perspectiva, deixam de ser o sujeito de sua própria história, ou, de outro modo, vêem negado seu potencial de serem tais sujeitos.”

A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional.

A guerra era umas das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus governantes, tendo por bases informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo em potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses.

A guerra era vista por diferentes ópticas: para Solano López era a oportunidade de colocar seu país como potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, graças a aliança com os blancos uruguaios e os federalistas argentinos, representados por Urquiza; para Bartolomeu Mitre era a forma de consolidar o Estado centralizado argentino, eliminando os apoios externos aos federalistas, proporcionando pelos blancos e por Solano López; para os blancos, o apoio militar paraguaio contra argentinos e brasileiros viabilizaria impedir que seus dois vizinhos continuassem a intervir no Uruguai; para o Império, a guerra contra o Paraguai não era esperada, nem desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao litígio fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação, e permitira depor Solano López.

Dos erros de análise dos homens de Estado envolvidos nesses acontecimentos, o que maior conseqüência teve foi o de Solano López, pois seu país viu-se arrasado materialmente no final da guerra. E, recorde-se, foi ele o agressor, ao iniciar a guerra contra o Brasil e, em seguida, com a Argentina”

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A situação política está tão crítica que até a grande imprensa, que sistematicamente ridiculariza a Monarquia Brasileira e a ideia de restauração, tem aberto espaço para o assunto e para os descendentes da Família Imperial. A Janela de Overton está, finalmente, sendo deslocada.

Dessa vez foi a Folha de S.Paulo que repercutiu a nota publicada ontem pelo chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Luiz Gastão Maria José Pio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança e Wittelsbach.

Com a grandeza que o caracteriza, Dom Luiz diz que a "Família Imperial está disposta a cooperar na busca das soluções ponderadas que sejam uma saída para a crise que angustia os brasileiros". E nos alerta contra as "soluções mágicas e imediatistas de salvadores da pátria".

Dois trechos da nota são reveladores da estatura e lucidez do trineto de Dom Pedro II e da tradição hoje perdida dos grandes homens do Império:

"O momento, carregado de muitas incertezas, exige antes de tudo grande vigilância e argúcia, a fim de não permitir que comoções momentâneas conduzam a nação para choques que só interessam aos que buscam semear a discórdia e retalhar o Brasil, inclusive em seu território."

"Nos últimos dias o Brasil entrou numa das etapas mais agudas da crise que o assola gravemente. É uma profunda crise moral, de valores, ideológica, com dramáticos reflexos institucionais e até econômicos. Não escapa a um observador atento da realidade que uma série de movimentações, propostas e artimanhas oportunistas tentam semear o clima de desconcerto e de caos nesse cenário, alimentando soluções mágicas e imediatistas de salvadores da pátria, bem ao estilo do republicanismo vigente".

E quando vocês lerem ou ouvirem falar de acordão entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva para a substituição imediata de Michel Temer, façam como eu: acordão desde que quem assuma o poder seja Dom Luiz e a Monarquia Parlamentar Constitucional seja restaurada. Todo o resto é arranjo do presidencialismo de coalização e a manutenção da revolução permanente.

domingo, 21 de maio de 2017

SÃO TOMÁS DE AQUINO: A MONARQUIA É O REGIME MAIS NATURAL


O mais bem ordenado é o natural; pois, em cada coisa, opera a natureza o melhor. E todo o regime natural é de um só. Assim, na multidão dos membros, há um primeiro que move, isto é, o coração; e nas partes da alma, preside uma faculdade principal, que é a razão. Têm as abelhas um só rei [rainha], e em todo o universo há um só Deus, criador e governador de tudo.

E isto é razoável.

De facto, toda a multidão deriva de um só. Por onde, se as coisas de arte imitam as da natureza, e tanto melhor é a obra de arte quanto mais busca a semelhança do que é da natureza, importa seja o melhor, na multidão humana, o governar-se por um só.

São Tomás de Aquino in «Do Reino ou Do Governo dos Príncipes ao Rei do Chipre».

RESUMÃO DA RÉ-PÚBLICA BRASILEIRA


6 CONSTITUIÇÕES FEDERAIS
1891
1934
1937
1946
1967
1988

9 MOEDAS
Reis: até 1941
Cruzeiro: 1942
Cruzeiro Novo: 1967
Cruzeiro: 1970
Cruzado: 1986
Cruzado Novo: 1989
Cruzeiro: 1990
Cruzeiro Real: 1993
Real: 1994

6 VEZES CONGRESSO FECHADO
1891
1930 ~ 34
1937 ~ 46
1966
1968 ~ 69
1977

6 GOLPES DE ESTADO
1889 ~ 2016
1930 ~ 34
1937 ~ 45
1945
1955
1964 ~ 85

1 PLEBISCITO IGNORADO
Venda de armas: 2005

13 PRESIDENTES QUE NÃO CONCLUÍRAM O MANDATO
Deodoro: 1891
Afonso Penha: 1909
Rodrigues Alves: 1918
Washington Luís: 1930
Júlio Prestes: 1930
Vargas: 1945 e 1954
Carlos Luz: 1955
Jânio Quadros: 1961
João Goulart: 1964
Costa e Silva: 1969
Tancredo Neves: 1985
Collor: 1992
Dilma: 2016

31 PRESIDENTES NÃO ELEITOS DIRETAMENTE (também considerando posse de interinos)
Deodoro: 1889*
Floriano Peixoto: 1891*
Prudente: 1894*
Campos Sales: 1898*
Rodrigues Alves: 1902*
Afonso Penha: 1906*
Nilo Peçanha: 1909*
Fonseca: 1910*
Venceslau: 1914*
Rodrigues Alves: 1918*
Delfim Moreira: 1918*
Epitácio: 1919*
Arthur: 1922*
Washington Luis: 1926*
Júlio Prestes: 1930*
Vargas: 1930
José Linhares: 1945
Café Filho: 1954
Carlos Luz: 1955
Nereu Ramos: 1955
Ranieri Mazilli: 1961
João Goulart: 1961
Castelo Branco: 1964
Costa e Silva: 1967
Médici: 1969
Geisel: 1974
Figueiredo: 1979
Tancredo Neves: 1985
José Sarney: 1985
Itamar Franco: 1992
Michel Temer: 2016

*Presidentes do Período da República Velha marcado pelas fraudes eleitorais e o coronelismo.

31 REVOLTAS E GUERRILHAS
Golpe Republicano: 1889
Primeira Revolta de Boa Vista: 1892-1894
Revolta da Armada: 1892-1894
Revolução Federalista: 1893-1895
Revolta de Canudos: 1893-1897
República de Curani: 1895-1900
Revolução Acreana: 1898-1903
Revolta da Vacina: 1904
Segunda Revolta de Boa Vista: 1907-1909
Revolta da Chibata: 1910
Guerra do Contestado: 1912-1916
Sedição de Juazeiro: 1914
Greves Operárias: 1917-1919
Levante Sertanejo: 1919-1930
Revolta dos Dezoito do Forte: 1922
Revolução Libertadora: 1923
Coluna Prestes: 1923-1925
Revolta Paulista: 1924
Revolta de Princesa: 1930
Revolução de 1930: 1930
Revolução Constitucionalista: 1932
Revolta Mineira: 1935-1936
Intentona Comunista: 1935
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto: 1937
Revolta das Barcas: 1959
Golpe Militar: 1964
Luta Armada: 1965-1972
Guerrilha de Três Passos: 1965
Guerrilha do Caparaó: 1967
Guerrilha do Araguaia: 1967-1974
Revolta dos Perdidos: 1976

sábado, 20 de maio de 2017

OS 200 ANOS DO CASAMENTO REAL

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Há 200 anos, no dia 13 de maio de 1817, casaram-se, por procuração, o Príncipe Real de Portugal, Brasil e Algarves, Dom Pedro de Alcântara de Bragança, e a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, da Casa de Habsburgo.

O noivo era filho do Rei Dom João VI, Soberano do recém-criado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que já despontava como uma futura grande potência, e da Rainha Dona Carlota Joaquina. A noiva, filha do Imperador Francisco I da Áustria, último Soberano do Sacro Império Romano-Germânico, chefe da mais importante Dinastia da Cristandade, e da Imperatriz Maria Teresa.

A cerimônia de casamento foi celebrada na Igreja de Santo Agostinho, localizada em Viena, próxima ao Palácio Imperial de Hofburg, de onde, desde o século XIII, os Imperadores administravam os vastos domínios dos Habsburgo. Na ocasião, o noivo foi representado pelo Arquiduque Carlos da Áustria, tio da noiva, que comandara as tropas do Exército Imperial na guerra contra Napoleão Bonaparte. A data escolhida, marcava o 50° aniversário do Rei Dom João VI.

A nova Princesa Real só chegaria ao Rio de Janeiro, sede do Império Português desde 1808, no dia 5 de novembro, sendo recebida com grandes festejos não só por seu marido e pela Família Real, mas por toda a população carioca – que, traduzindo os sentimentos de todos os brasileiros e portugueses, dava as boas-vindas à nobre dama que vinha unir seu destino ao de seu novo lar e de seu povo.

Não demorou para que a Princesa Real se apaixonasse pelo Brasil e pelos brasileiros, sentimento que compartilhava com seu marido, nascido em solo português, mas acolhido pelo Brasil e criado como brasileiro desde a infância. Com o retorno do Rei e da Rainha para Portugal, em 1821, o jovem Casal permaneceu aqui, com o Príncipe Real nomeado Regente do Reino do Brasil.

Abraçando por completo a nacionalidade brasileira, o Príncipe e a Princesa Reais logo se puseram à frente do movimento independentista, pois reconheciam que o Brasil, como o filho que atinge a maioridade e deixa a casa paterna, deveria se separar da Pátria-Mãe Lusa, mas conservando a tradição monárquica luso-brasileira e permanecendo uno no território, na cultura, na língua e na fé.

Sendo assim, a 2 de setembro de 1822, a Princesa Real, Regente interina na ausência de seu marido, assinou o decreto de Independência do Brasil, no Rio de Janeiro. Cinco dias depois, 7 de setembro, em São Paulo, o Príncipe Real deu seu imortal Grito do Ipiranga. O Brasil estava independente. Éramos uma Nação. Uma Nação que, no dia 12 de outubro, aclamou aquele jovem Casal como seu Imperador e sua Imperatriz, coroando seu novo Soberano a 1º de dezembro.

Como não poderia deixar de ser, a Bandeira do Brasil reúne o Verde dos Bragança e o Amarelo dos Habsburgo, demonstrando perpetuamente que nossa Independência foi um trabalho conjunto de todos os heróicos brasileiros de 1822, sob a alta liderança de seus Pai e Mãe Fundadores, Dom Pedro e Dona Leopoldina.

Deste insigne Casal nasceu o ramo brasileiro da Dinastia Bragantina, a Família Imperial do Brasil, que há quase 200 anos, a exemplo de seus ancestrais, vem se dedicando incansavelmente a servir à Pátria e ao povo, quer seja na Monarquia, no Exílio ou na República.

AVE IMPÉRIO
AVE PEDRO
AVE LEOPOLDINA

13 DE MAIO

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O Monarca e sua Família são independentes, imparciais e apartidários, condições que garantem o hígido cumprimento do Poder Moderador; no entanto, sob nenhuma hipótese podem se isentar das causas justas e caras ao povo que representam e pelo qual são responsáveis, atuando como fomentadores e representantes do caminho certo a ser seguido. Assim, graças a Deus, foi no Brasil.

Em 13 de Maio de 1888, a Princesa Imperial Dona Isabel, na qualidade de Regente do Império, coroou a causa pela qual sua Família advogou desde o princípio: a abolição do espúrio instituto da escravidão.

Uma das tantas provas? A primeira página do "Livro de Ouro da Câmara Municipal de Petrópolis", de 1884 (cuja reprodução se encontra na arte que acompanha esta publicação). Nele consta o registro de doações feitas espontaneamente para emancipação dos escravos da região.

A Princesa Imperial assina, juntamente ao seu esposo, "SS.AA. Conde e Condessa d'Eu", assinatura que somente tomaria após o exílio. Já o Imperador Dom Pedro II, resguardando ainda mais sua imagem de possíveis ataques, em primeiro lugar assina: "Um Brasileiro".

Essas assinaturas, na realidade, não escondem aqueles que doaram as maiores quantias, somadas em 1 Conto de Réis, mas reforçam a justiça promovida pelo Imperador, sua filha-herdeira e seu genro.

A Família Imperial do Brasil nunca se eximirá de lutar pelas causas justas e morais que consideram as corretas para os rumos de nosso povo e grande Nação, dos quais é a primeira servidora.

No júbilo apoteótico da assinatura da Lei Áurea, o Barão de Cotegipe saudou a Princesa Imperial Regente, antecipando o que viria a acontecer dentro de pouco mais de um ano, como retaliação pelo ato:

"Vossa Alteza redimiu uma raça, mas perdeu o trono."

A Princesa, respondendo ao Barão, prontamente disse, formulando, no fundo o dever de um Monarca frente às causas que deve advogar para o benefício de seu povo:

"Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil!"

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Primeira página do Livro de Ouro da Câmara Municipal de Petrópolis, 
mostrando as doações feitas pelo Imperador e pelo Casal Imperial.
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Jovita Alves Feitosa (Tauá, 8 de março de 1848 - Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1867) foi uma voluntária que quis lutar na Guerra do Paraguai.

Jovita alistou-se, atendendo à campanha dos Voluntários da Pátria que se fazia em todo o país, aos 17 anos de idade, travestida de homem - para tanto tendo cortado os cabelos e usado vestes masculinas. Conseguiu enganar os policiais, porém, foi delatada por uma mulher que logo reconheceu os traços femininos.

Ao ser levada para interrogatório policial, chorou copiosamente e manifestou o desejo de ir lutar nas trincheiras, com a mão no bacamarte.Não queria ser auxiliar de enfermeira, pois, se assim o desejasse poderia fazê-lo. Dizia querer vingar “a humilhação passada por seus compatriotas nas mãos dos desalmados paraguaios”.

Foi aceita no efetivo do Estado, após o caso chamar a atenção de Franklin Dória, então presidente da Província do Piauí, que lhe incluiu no Exército como 2º Sargento. Recebeu fardamento e embarcou com o corpo de voluntários.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, Jovita tornou-se personalidade pública e notória. Todos buscam conhecer a mulher que queria ir à guerra. Na capital imperial foi entrevistada numa das salas do quartel do campo de aclamação.

Dois meses depois de chegar ao Rio de Janeiro, Jovita Feitosa teve seu embarque negado pelo Ministro da Guerra, que julgou sua condição de mulher incompatível com o serviço no fronte de batalha.

Caiu em profunda depressão, após ser abandonada pelo amado, o engenheiro inglês, Guilherme Noot. Aos 19 anos de idade, em 1867, cometeu suicídio com uma punhalada no coração.

Em 27 de março de 2017, o nome de Jovita Alves Feitosa foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, em virtude da Lei Nº 13.423/2017.

sexta-feira, 19 de maio de 2017


O Imperador Dom Pedro I era avesso ao protocolo que era imposto pela Corte Imperial. Nesse rígido sistema, que caía em extremo desuso, encontravam-se os servidores diretos do Soberano, nobres e pessoas próximas ao Imperador, que desempenhavam funções de criados sem receberem nada pelo serviço, meramente pela honra de servir ao Monarca. Estas pessoas ilustres e próximas ao Sua Majestade desempenhavam funções triviais, porém rígidas e extremamente específicas, como Barbeiro, Varredores, Camarista, Guarda-Roupas do Imperador, etc.

Em julho 1823, ao sofrer uma queda de seu cavalo, durante uma de suas muitas cavalgadas esportivas, o Imperador bateu violentamente suas costas em barro seco, fraturando duas costelas. Dessa forma, acometido por fortes dores, ficou restrito, até a recuperação total, em seu leito.
Conta-se que o Monarca, ignorando todo o cerimonial imposto pelo protocolo daqueles que lhes prestavam serviços, dirigiu-se ao seu médico, o Dr. Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto, Cirurgião da Imperial Câmara e assistente de Sua Majestade o Imperador, pedindo-lhe um copo d'água, pois estava com muita sede.

O médico foi prontamente impedido pelo servidor cuja função era o de Copo d’Água do Imperador. Após realizar um bochecho, e precisando expelir a água, o Imperador demonstrou este desejo. Sua Majestade por ninguém foi atendido, ficando todos imóveis diante da situação. Então, o Dr. Guimarães Peixoto, para não tomar função de algum ilustre amigo do Soberano, gerando possíveis rancores, debochadamente indagou em voz alta:

- E quem é o “Vaso do Imperador”!?

Diante da tragicômica cena, em que dentre tantas funções protocolares específicas não havia esta, deixando Sua Majestade desamparado em um momento de necessidade, pelo receio de um tomar a posição do outro, o Imperador e seu médico desataram a gargalhar.

O Dr. Guimarães Peixoto acompanhou a recuperação de Sua Majestade por pouco mais de um mês. E devido a sua competência, recebeu, no mesmo ano, o título de Cirurgião-Mor do Império, e, em 23 de fevereiro de 1825, o de Conselheiro de Estado. Próximo à Família Imperial, o médico participou dos partos da Imperatriz Dona Leopoldina, tendo sido por suas mãos trazido à luz o futuro Imperador Dom Pedro II, sendo, por este feito, agraciado com a Imperial Ordem de Cristo.

Talentoso médico, o Imperador Dom Pedro I financiou de seu próprio bolso sua formação acadêmica em Paris, reconhecendo a pureza de suas intenções, para onde partiu o médico em 1827. Até o fim de sua formação, em 1831, o Soberano financiou integralmente seus estudos.

Suas teses e descobertas médicas causaram sensação na Europa. Em reconhecimento, foi agraciado com a Imperial Ordem da Rosa. De volta ao Brasil, em 1833, lecionou Cirurgia na Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro e foi o primeiro Diretor e Professor de Cirurgia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tendo nesse ano salvado a vida do jovem Imperador Dom Pedro II. Por este feito, a Assembleia Geral lhe ofereceu uma recompensa pecuniária, que ele respeitosamente recusou.

O Conselheiro Dr. Guimarães Peixoto aceitou o título de Primeiro Médico do Imperador e da Família Imperial pela Regência. Em 1841, foi feito Oficial-Mor da Casa Imperial e, no seu último ano de vida, 1845, o Imperador Dom Pedro II o agraciou com o título de Barão de Iguaraçu. Gradualmente, as posições honoríficas e protocolares dos servidores do Soberano, já em desuso no Primeiro Reinado, foram sendo extintas, restando apenas aquelas estritamente essenciais.

- Baseado em trecho do livro "Dom Pedro I", de Isabel Lustosa.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Igreja de Curitiba guarda tesouro doado por Dom Pedro II

Um dos sinos tem o brasão do império timbrado em uma das laterais. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
A igreja do Orleans recebeu, em 1880, 3 presentes do imperador durante sua visita ao Paraná

No alto da torre da igreja de Santo Antonio de Orleans, às margens da BR 277, estão guardados dois sinos da época em que o Brasil ainda era império. Há 137 anos, durante uma visita ao Paraná, Dom Pedro II teria doado os objetos, junto a uma imagem de Santo Antônio, à colônia polonesa que, mais tarde, deu origem ao bairro de Orleans.

Depois de haver passado alguns dias em Curitiba, ele partiu para o interior do Paraná com a imperatriz Teresa Cristina e sua comitiva. A visita do imperador ao Estado foi bem documentada pelos jornais da época. O próprio Dom Pedro também mantinha um diário em que fez diversas anotações sobre a viagem. Nenhum desses documentos menciona a doação dos sinos e de uma imagem de Santo Antônio à igreja. A falta de papéis, porém, nada significa para os moradores de Orleans.

Paulo Oberzut e os sinos que conhece desde a infância. Foto: André Rodrigues

Nascido e criado no bairro, Paulo Oberzut, 62 anos, conta que a história dos sinos vem sendo passada de geração em geração nas famílias Rugoski e Kulik, das quais faz parte. O sorridente morador conta que, em 1880, quando passou pelo local rumo a Ponta Grossa, a comitiva real deteve-se em Orleans. “O nome da colônia foi dado em homenagem ao genro de Dom Pedro, Filipe de Orleans, o Conde d’Eu. Por isso ele se interessou em conhecer o lugar”, conta Oberzut.

Com a simpatia do imperador conquistada pelo nome da colônia, os poloneses pediram ajuda para a construção da igreja. Dom Pedro prometeu, então, que enviaria dois sinos e uma imagem de Santo Antônio. Oberzut explica que os colonos “pensavam que ia demorar muito para a igreja ter, de fato, a imagem e os sinos prometidos, mas, apenas alguns meses depois, chegaram os presentes”.

O perfil de Dom Pedro II e um timbre que afirma que o sino foi produzido em 1861. Foto: André Rodrigues

Embora a doação não tenha sido oficialmente documentada, dois, dos três sinos da igreja, têm timbres de Dom Pedro II. Essas marcas viraram uma espécie de lenda na comunidade, já que nem todos podiam subir à torre para vê-las pessoalmente. Oberzut narra uma história de quando ele ainda era criança e estudava no colégio que ficava em frente à igreja. Ele conta que as freiras responsáveis pelo colégio estavam em dúvida sobre a veracidade da procedência do sino. Sem ter como subir à torre por causa das vestes que usavam, elas pediram ao menino um favor.

“Ela me mostrou uma moeda e uma folha, então passou um lápis em cima e disse: você chegue lá no sino, com muito cuidado, e faça no timbre como eu fiz na moeda”, conta ele. Segurando-se como podia nas vigas de madeira que formam o pequeno campanário, ele tirou o decalque das insígnias para mostrar às irmãs.

“Acho que foi dessa maneira que as irmãs viram o timbre, isso há mais de 50 anos. Lembro que tirei, talvez não perfeitamente, porque eu era um piá, né?”, diverte-se. Encantadas com a prova da história, elas cobraram dele o decalque do outro sino. “Mas o outro é mais difícil de tirar, porque tem uma viga bem na frente. Eu sentia tanta dificuldade que não tirei do outro sino e elas reclamaram.”

Um dos sinos tem o brasão do império timbrado em uma das laterais. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

O padre Fabiano Spisla, que está na paróquia há seis meses, lamenta que poucos moradores conheçam o passado e as curiosidades da igreja e da comunidade. “Quando eu chego a um local para trabalhar, eu gosto de conhecer as histórias. Quando cheguei aqui, fui perguntar o porquê do nome do bairro e ninguém sabia. Descobri tudo pela internet, inclusive sobre os sinos”, afirma.

Mas os sinos não são a única história interessante da igreja. Oberzut mostra, por exemplo, que a estação de número nove da Via Sacra teve seu número escrito errado. Em vez do algarismo romano IX, correspondente ao nove, os pintores escreveram VIV, correspondentes ao cinco e ao quatro. “Eles somaram o cinco e o quatro e puseram lá. Quando criança eu olhava e pensava ‘poxa, as irmãs querem que a gente aprenda os algarismos romanos, mas quem fez isso aqui não sabe fazer’”, diz ele, arrematando a frase com uma gostosa gargalhada.

Sinos da igreja Santo Antônio de Orleans. Os sinos foram uma doação de Dom Pedro ainda no período do Império. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

Ele também aponta um desenho que representa a unção dos enfermos, perto do altar. Um dos pintores da igreja teria aproveitado a oportunidade para fazer um autorretrato. “Os pintores da igreja residiam na casa dos meus avós, que eram os Rugoski. Minha mãe dizia ‘pois eu lembro bem, pois ele morava junto com a gente. Ele se autorretratou’.”

Ele diz que faz o possível para manter essas e outras histórias vivas, contando-as a seus filhos e netos, mas se entristece porque nem todos têm a mesma preocupação. Agora, padre Fabiano quer retomar esses registros para a posteridade. “Nós vamos tentar repassar essas coisas. A gente tem que resgatar nosso passado. Se ninguém guarda, tudo isso se perde.”

Sinos da igreja Santo Antônio de Orleans. Os sinos foram uma doação de Dom Pedro ainda no período do Império. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

LINK ORIGINAL: GAZETA DO POVO - https://goo.gl/OVLluh

domingo, 14 de maio de 2017

A ABOLIÇÃO DESCRITA, POR MACHADO DE ASSIS

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"Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu, o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem o favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto".

Foto: Paço Imperial, 13 de maio de 1888.

sexta-feira, 12 de maio de 2017


... Numa visita ao Rio de Janeiro, François D’Orléans, Príncipe de Joinville e filho caçula do Rei dos Franceses, encantou-se com a adolescente Dona Francisca, então com 14 anos. Mais tarde, numa visita dois anos depois, casou-se com a Princesa.

Ele deixou registrada sua visão sobre o rapaz, esse "rapaz" era Dom Pedro II, segundo ele tinha a altura de sua perna, o futuro Imperador, de fato, tinha apenas 13 anos na época: “calado, observador, educado e de olhar muito triste melancólico”.

... A bela Chica de Bragança e Habsburgo tinha irresistíveis “olhos de corsa”, embora não tenha causado entusiasmos de pronto, apaixonou o futuro esposo, de todas as irmãs era essa a mais bela. A outra irmã, Dona Januária, casou-se com o Conde D’Áquila, irmão da futura Imperatriz Dona Teresa Cristina.

D. Paula, a terceira irmã do imperador, faleceu com 10 anos de idade, provavelmente vítima de meningite.

... A Condessa de Barral foi primeiramente contratada para adaptar a bela, porém tímida, Francisca às elaboradas exigências de etiqueta e sociabilidade da refinada e esnobe corte francesa. A região de Joinville, em Santa Catarina, fazia parte do dote de seu casamento, daí o nome com o qual ficou posteriormente conhecida, o casal principesco passou a ser proprietário dessas terras, todavia, nunca lá estiveram.

A NOBREZA DE ALMA DA REDENTORA


Mulher muito à frente de seu tempo, profundamente piedosa e caridosa, exemplo de cristã, a Princesa Dona Isabel jamais coadunou com o racismo que entranhava a sociedade de seu tempo e sempre foi defensora da abolição da escravatura.

Em 1868, a então Princesa Imperial do Brasil, em visita a Caxambu, dançou com João Pedro Américo de Mattos, mulato escuro, dono da casa onde se hospedara; mais tarde, em sua residência no Rio de Janeiro, o Paço Isabel, dançou com André Rebouças, engenheiro negro. Ambos a venerariam até o fim da vida. Seu séquito continha damas “leite, café com leite e café”, criticaria o Embaixador da França.

Após o golpe de 15 de novembro de 1889 e o exílio que lhe foi imposto pela República, Sua Alteza, já Chefe da Casa Imperial do Brasil, no ateliê onde fazia seus vestidos, para tirar suas medidas e acertar as bainhas, dava sempre preferência a Marie Mbane, uma costureira senegalesa, educada na França, com quem sempre procurava conversar. 

Em 1895, a Redentora escreveu ao Monsenhor José Sarto, Patriarca de Veneza, para felicitá-lo, ao saber que ele havia aprovado, depois de uma entrevista, a entrada de uma negra sudanesa num convento das Irmãs Canossianas. Como Sua Alteza, Monsenhor Sarto mostrava não ter preconceito de raça. Este Patriarca se tornaria o Papa Pio X, hoje São Pio X; a negra sudanesa, Santa Josefina Bakhita. 

- Baseado em trecho da palestra “Quem foi a Princesa Isabel?”, proferida pelo Prof. José Ubaldino Motta do Amaral durante Sessão Solene da Câmara Municipal do Rio de Janeiro em homenagem aos 126 da assinatura da Lei Áurea, em 20 de maio de 2014.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A Galeota de Dom João

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A Galeota Real, também denominada como Galeota de D. João VI, é uma pequena galé, um tipo de embarcação movido a remos. Por vezes é confundido com o iate Galeota Imperial, de duas rodas, com propulsão a vapor, que após a proclamação da República Brasileira, foi rebatizado como iate Quinze de Novembro e, posteriormente, como iate Silva Jardim.

Inspirada na Galeota Grande e na Saveira Dourada, que atendiam a Família Real Portuguesa em Lisboa, a Galeota Real foi construída em 1808 por determinação do conde da Ponte, nos estaleiros do Arsenal da Capitania da Bahia em Salvador, para o serviço particular do Príncipe Regente, no contexto da transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821). Foi transportada para o Rio de Janeiro no ano seguinte (1809).

Em 28 de Março, foram mandados receber, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, 23 "algarves" (remadores reais, naturais da província do Algarve), que tinham vindo em um dos navios da esquadra, para serem empregados no serviço da galeota, sob as ordens do patrão-mor do Arsenal. Estes homens envergavam um uniforme especial, em que se destacavam capacetes de prata.

Na Corte, atendeu aos deslocamentos da Família Real pela baía de Guanabara, tendo recebido a Princesa D. Leopoldina e, posteriormente conduzido a Família Real à embarcação que a transportou de volta a Portugal, em 25 de abril de 1821.

Sem similar no continente americano, foi utilizada até aos primeiros governos da República Velha. Entre outros personagens, transportou o então Presidente da República Argentina, Dr. Julio Roca, quando de sua visita ao Rio de Janeiro (1899) e o Presidente eleito da República Argentina, Dr. Roque Sãens Peña e sua comitiva em visita ao Brasil, 1910. Realizou a sua última viagem em Setembro de 1920, no desembarque da família real da Bélgica, que chegou ao Rio de Janeiro a bordo do Encouraçado São Paulo.

À época da gestão do Almirante Protógenes Pereira Guimarães à frente do Ministério da Marinha (1931-1935), foi formulada uma proposta de serrá-la ao meio e remeter uma das metades para o Museu Histórico Nacional.

Após muitos anos conservada no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, quando da criação do Espaço Cultural da Marinha, no centro histórico do Rio, foi previsto um espaço próprio para a sua exposição, onde, restaurada e inscrita num módulo temático, se constitui em uma das principais atrações permanentes.

Com casco de madeiras nobres, tem 24 metros de comprimento, tendo sido propelida primitivamente por 22 remos (onze em cada bordo), posteriormente aumentados para 30. Na popa, possui um camarote forrado de veludo, ricamente decorado, e, na proa, a carranca de um dragão, símbolo da Casa de Bragança.

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Barretina de Remador da Galeota Imperial, feito com tecido e prata.

Os marinheiros remadores que portavam esta barretina eram em número de sessenta na Galeota Imperial. Além destes, a tripulação contava com um oficial superior que exercia a função de piloto. A referida Galeota foi construída na Bahia, logo após a chegada do Príncipe Regente D. João. Alguns anos mais tarde, foi utilizada pelos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II e, no princípio da República, chegou a participar de ocasiões de destaque. Hoje encontra-se no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro.

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Acervo Museu Histórico Naconal
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Medalha Comemorativa pelo Casamento de D.Pedro II, Imperador do Brasil e a Princesa D.Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias

A morte do último Imperador

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A bela e, para sua época, atrevida infanta Dona Maria Eulália (1864-1958), filha da Rainha Dona Isabel II da Espanha e do Duque de Cádiz, registrou em suas memórias a morte do nosso D. Pedro II, amigo de sua família, no hotel Bedford, em Paris, em outubro de 1891.

A Princesa espanhola diz que tinha voltado à capital francesa quando a prima, a Princesa Dona Isabel do Brasil, mandou um recado informando que o pai estava passando mal, com problemas pulmonares... Quando D. Pedro II morreu, dia 5, estavam no quarto apenas Dona Eulália, a Princesa Dona Isabel e seu marido, o Conde d'Eu.

Em suas memórias, a infanta conta que sua mãe, a Rainha Dona Isabel II, “sempre tão comedida em suas expressões”, ao entrar no quarto não acreditou que o grande amigo estivesse morto.

— Protestava, bradando que o Imperador estava vivo, que não podia estar morto com uma fisionomia tão tranquila, e que íamos enterrá-lo vivo. Foi preciso a presença de dois médicos de sua confiança para convencê-la da dolorosa verdade.

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Rainha Dona Isabel II de Espanha

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A Princesa Dona Maria Eulála
A Casa de Banho de Dom João VI, também conhecida como Museu da Limpeza Urbana, é um museu localizado no bairro do Caju, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

O museu é um casarão do início do século XIX de nove cômodos e alpendre, de propriedade do negociante de café Antonio Tavares Guerra. A construção adquiriu certa fama por D. João VI, após a instalação da família real portuguesa no Rio de Janeiro, ter a usado para tomar banhos de mar na região, atual bairro do Caju, que, à época, desfrutava de uma paisagem natural intocada.

Com isso, o casarão passou a chamar-se "Chácara Imperial Quinta do Caju". O Caju era um balneário, com muitos terrenos preservados à volta e banhado por uma Baía de Guanabara ainda limpa. Os banhos de mar de D. João VI foram uma recomendação médica para curar a infecção da mordida de um carrapato. Além disso, à época, o trajeto percorrido da residência da corte no Paço de São Cristóvão até o Caju era concluído sem dificuldades.

Em 1938 o casarão foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e só em 1996 o prédio foi definitivamente restaurado com o auxílio da Comlurb, passando a abrigar o "Museu da Limpeza Urbana".

O lápis azul do imperador

Delfim-pedroII-MHN - Delfim da Câmara

No Império, implantou-se, a partir da Constituição de 1824, uma Monarquia Constitucional em terras tupiniquins. Havia três poderes que regiam a nação, tais como foram concebidos no século anterior por Montesquieu: Legislativo, Executivo e Judiciário. No entanto, Dom Pedro I instituiu ainda um quarto poder: o Poder Moderador, o qual deveria ser exercido pelo imperador no intuito de regular as relações entre os poderes e impedir trapaças e injustiças.

Na época, isso rendeu algumas chacotas, vindas da Inglaterra e de alguns grupos políticos que apelidaram nosso governo de “parlamentarismo às avessas”. Riam-se da interferência considerada demasiada do imperador em assuntos que competiam a outros poderes. Jocosidades à parte, já no governo de Dom Pedro II, o exercício do Poder Moderador se dava de forma interessante, em especial no que toca às nomeações de ministros, governadores de províncias e outros cargos.

Sempre que traziam indicações de nomes selecionados pelos eminentes senadores do império, D. Pedro observava um a um e passava a colher informações sobre cada candidato a fim de verificar se não teria um passado maculado por qualquer tipo de corrupção. Havendo indícios, ou seja, mesmo sem provas diretas dos fatos, o imperador, como medida cautelar, sublinhava os nomes suspeitos com um lápis azul, excluindo qualquer possibilidade de ocupação de cargo público por alguém desonesto.

Rui Barbosa, ferrenho defensor da República e Ministro da Fazenda do governo do Marechal Deodoro da Fonseca, anos após a derrubada do regime monárquico se lamentaria de ter defendido e lutado pela República, afirmando que o Império era uma “escola de estadistas”, enquanto a República se tornara uma “praça de negócios”.

De lá para cá, o mundo mudou, mas a “herança mercantil” da República “onde tudo se negocia”, permaneceu. Assistimos ao comércio de ideologias, projetos e até mesmo de valores. Vivemos em tempo de “panpartidarismo”, onde já não se consegue definir o que é esquerda ou direita. Cristalizou-se a mesma confusão do início da República e, nesse quesito ela deve ser elogiada, porque é sempre coerente: começou negociando tudo e segue fazendo o mesmo até hoje.

Ética, moral, honra, são palavras gastas pela profanação que sofrem constantemente. E seguirão sofrendo, porque ventos contrários sopram contra o Brasil, em especial depois da recente aprovação do Decreto 8.243, vindo a lume no último dia 23 de maio e no qual a presidente cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), supostos instrumentos para proporcionar e estender a participação direta dos cidadãos e grupos sociais nas decisões de governo.

Aparentemente o projeto seria uma resposta às manifestações ocorridas no meio do ano passado, porém, na prática é uma ação que viola o sistema democrático de governo implementado pela Constituição de 1988. O pior disso tudo é que esses projetos acabarão (se o decreto for acolhido pelo STJ) por amplificar a voz de grupos sociais e organizações subvencionadas pelo próprio partido da presidente e de também de outros partidos e grupos afinados com suas propostas.

Legislar por decreto não é algo novo, aliás, o velho discurso de que os movimentos sociais “são os legítimos representantes dos interesses do povo” fazem parte da cartilha bolchevique tão apreciada em nossos “democráticos” vizinhos latino-americanos, como a Venezuela e a Bolívia.

Que nomes de nossa política o lápis azul de Dom Pedro II riscaria hoje? Restaria alguém? A retidão do imperador brasileiro sirva de exemplo a nós cidadãos. D. Pedro, embora caluniado como “absolutista”, era tão democrático que permitiu que falassem abertamente contra ele e que contestassem publicamente suas decisões, a ponto de se chegar à derrubada da monarquia.

Ofereceram-lhe a possibilidade de matar os revoltosos, mas ele se recusou e resignou-se para não derramar sangue brasileiro. Hoje o que se diz democrático, age de forma absoluta e o que se pensava no passado, ser absoluto, agia democraticamente. A dialética da História nos ensina a distinguir bem as coisas.

Luiz Raphael Tonon, professor de História e Filosofia, gestor do Núcleo de Teologia do IFE Campinas.

Artigo originalmente publicado no jornal Correio Popular, 18/07/2014, Página A2 – Opinião.

Imagem: Pedro II aos 49 anos de idade, 1875, de Delfim da Câmara (scan de Museu Histórico Nacional, Coleção Museus Brasileiros, edição Banco Safra).
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A desconhecida história de uma rua que foi, sem nunca ter sido. Que você jura que tem a ver com a Princesa Isabel, mas os heróis são outros, Antonio Vinagre, Batista Campos, Eduardo Angelin. Você que passa todos os dias por ela, não sabe o que representa para a história do Pará. Se não fosse pelo 13 de maio, o destino desta terra poderia ter sido muito diferente. Você que sempre acreditou que realmente a Rua 13 de maio no bairro da Campina era uma homenagem a Lei Áurea e a libertação formal dos escravos, assinada pela Princesa Isabel, vai saber de um lado desconhecido desta data.

Entre 1835 e 1836 Belém foi o Teatro da Guerra da Cabanagem. Um levante Popular, com participação de alguns formadores de opinião que rebelou-se contra o tratamento dado a província pelo governo regencial do Rio de Janeiro, tornando-se uma das mais graves revoltas dessa época, quando o Brasil estava , efetivamente sendo formado.

A ameaça era tão séria que em 7 de janeiro de 1835, os rebeldes atacaram e tomaram Belém, a capital da província em apenas um dia. Em agosto de 1835, os rebeldes invadiram a cidade novamente. O hoje bairro da Campina foi o palco de muitas dessas lutas que se estendeu por nove dias, encerrando após a retirada das tropas legalistas da cidade.

O momento mais culminante dessa batalha foi o Embate dos Mercedários. Na época, o convento da Igreja das Mercês era um depósito de pólvora e armas, o que seria crucial para os cabanos. Durante o embate 800 cabanos morreram na ação, entre eles o líder Antônio Vinagre.

Depois da evacuação das tropas regenciais, já no ano seguinte, Belém foi sitiada e bombardeada até 13 de maio de 1836, data da expulsão definitiva dos Cabanos de Belém, quando as tropas legalistas retomaram a capital, ainda restando o fim da guerra pelo interior da província até 1840.

Guarda em uma de suas esquinas, outro patrimônio que deveria receber melhor atenção de você. O Arquivo Público, montado ali em 1901, um dos mais importantes do Brasil, que já deveria estar digitalizado, mas ainda espera por uma reforma para que volte a funcionar.

O 13 de maio da rua, marca a derrota Cabana. Um movimento que poderia ater feito do Pará um novo país, com uma história diferente do que se conhece hoje. Marca uma data trágica e um momento único da memória desta cidade, esquecida entre camelôs, comércio popular, e falta de lembranças.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTES

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S.A.I. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleáns e Bragança
Chefe da Casa Imperial

[Publicamos o belo e emocionante discurso proferido por S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, no dia 12 de agosto de 1972, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ao tomar posse da cadeira n° 28 da Academia Brasileira de Artes. Transcrevemos o referido discurso a partir da transcrição publicada no livro “Dom Pedro Henrique, o Condestável das Saudades e da Esperança”, de autoria do Prof. Armando Alexandre dos Santos.]

Senhor Professor Nestor de Figueiredo e demais membros da Academia Brasileira de Artes; Senhores representantes do poder público; minhas Senhoras e meus Senhores.

Sinto-me bastante comovido pela honraria que me outorgastes, incluindo o meu nome de modesto aquarelista entre pessoas altamente dotadas, fazendo coincidir esta posse no dia do aniversário da Academia e, apraz-me consignar, no ano em que o Brasil comemora os seus 150 anos de independência política.

Falar-vos de minha vida seria ocioso, mas quero ressaltar o fato de ter nascido brasileiro em solo francês, banida que fora minha família pelos acontecimentos de 1889. Na ocasião, meu inesquecível Bisavô, o Senhor Dom Pedro II, em virtude da mudança do regime, teve de deixar em horas a Pátria estremecida que o embalara na infância e que ele governara quase cinquenta anos com sabedoria.

Assim, em conseqüência do fato consumado, retirou-se para a Europa em companhia de todos os membros de sua família e de alguns poucos súditos fieis e, no triste navio Alagoas, que o levou, compartilhava do amargo exílio meu saudoso Pai, o Senhor Dom Luiz de Bragança, no verdor de seus onze anos. Posso garantir-vos, senhores acadêmicos, jamais houve uma casa tão brasileira como nosso Castelo d’Eu ou a residência de Boulogne-sur-Seine, onde nasci em 13 de setembro de 1909! No agreste inverno europeu, eu, meus irmãos e primos, invejávamos os mais velhos que puderam viver no clima ensolarado da nossa Pátria distante.

Minha Avó Dona Isabel, que o testemunho de seus contemporâneos e o voto da posterioridade cognominaram de A Redentora, e meu Avô, o Conde d’Eu, o vencedor de Campo Grande e Peribebuí, foram as pessoas que, em companhia de meus Pais, impregnaram em meu espírito juvenil o amor à Pátria longínqua. Bem cedo fiquei privado desse carinhoso convívio, pelos sucessivos falecimentos de meu Pai, vítima de insidiosa moléstia adquirida nos campos de batalha do Yser, e de meus Avós paternos. Completaram minha educação minha Mãe, a Princesa Dona Maria Pia, graças a Deus ainda viva, e seus Pais, os representantes do ramo napolitano da Casa de Bourbon, Condes de Caserta.

Meu casamento mais tarde, com a Princesa Dona Maria da Baviera, mãe de nossos doze filhos e companheira de mais de 35 anos, foi o coroamento da educação cuidadosa que me ministraram.

Finda a Segunda Guerra Mundial e removidas as naturais dificuldades, mudamo-nos definitivamente para o Brasil, onde procurei integrar-me na sua vida comum, respeitando as instituições vigentes sem abrir mãos de direitos inalienáveis dos meus antepassados. A profissão que adotei, agricultor, não me impediu de fazer incursões no terreno da pintura, já que outros exemplos me vieram no sangue.

E venho ingressar nesta insigne Academia Brasileira de Artes exatamente na cadeira no 28, cujo patrono é o saudoso Professor Henrique Bernardelli, chileno de nascimento mas brasileiro de adoção.

Aluno brilhante da Academia Imperial de Belas Artes, destacou-se pelos seus méritos na Exposição Internacional de Paris, de 1889, na Exposição Geral do Rio de Janeiro e em inúmeros Salões. São de sua lavra as alegorias existentes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional e neste Museu Nacional de Belas Artes.

Artista extremamente fecundo foi este Bernardelli, irmão de Rodolfo, escultor notável e seu companheiro fiel até no repouso final.

Paisagista, retratista, pintor de gênero e de natureza morta, bolsista por conta própria na Europa, professor emérito, viveu intensamente os seus 78 anos de vida.

A maior parte de sua renomada arte se encontra neste palácio, neste teto que doravante será também meu. Maternidade, Messalina, Tarantela, óleos, pastéis, aquarelas, desenhos e estudos, são obras primorosas que as gerações se sucedem admirando.

Quis o destino me antecedesse nesta cadeira o membro fundador Álvaro Moscoso, verdadeiro fidalgo no saber e no gosto. Com algumas demonstrações de sua arte própria, fez-se cercar de jóias que sua sensibilidade exigia. Sua residência, acolhedora para os outros cultores do belo, foi verdadeiro museu, onde exibia peças que sua capacidade de diferenciação adquirira em inúmeras viagens pelo vasto mundo.

Minha indicação unânime para esta Academia excede de muito ao pouco que tenho ambicionado e avulta, na recepção que me ofereceis, a saudação erudita do Professor Gerson Pompeo Pinheiro, a quem não regateio agradecimentos pela dedicação aos vultos de minha família que fizeram história.

Ao digníssimo Presidente Professor Nestor de Figueiredo, a meus companheiros de Academia, aos senhores representantes de entidades governamentais e, toca-me o coração, aos excelentes amigos e servidores da minha Casa aqui presentes, o meu muito obrigado.


Foto: S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, em sua posse como membro da Academia Brasileira de Artes.

terça-feira, 9 de maio de 2017

"Prezado Cacá Diegues.

Sou filho de alemães, nascido no Rio de Janeiro, e amo a nossa terra. Fico contente sempre que vejo alguém enaltecendo o nosso povo miscigenado, tanto na sua genética como na cultura. A roximidade
do 13 de maio é uma época apropriada para lembrarmos a história. Permito-me apenas discordar de você em alguns pontos.

O evento merece sim ser festejado. Vejo a citação, de forma isolada, de que o Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão como uma forma de atentar contra a nossa autoestima. Fomos sim o último, mas talvez os melhores neste processo. Os EUA levaram 88 anos, a contar da sua independência a eliminar por lei a escravidão, e mesmo assim, isso custou uma sangrenta guerra civil. A partir de 1822, o Império levou 66 anos para votar e assinar a Lei Áurea. E tudo foi feito progressivamente seguindo os trâmites democráticos, sem guerra.

Após o fim do tráfico negreiro em 1850, a lei conhecida como Do Ventre Livre, que foi árduamente negociada pelo grande Visconde do Rio Branco, e assinada em 28 de setembro de 1873 pela Princesa Regente, obviamente foi um tiro mortal para a instituição do trabalho escravo. Concordo com você quanto à lei do sexagenário, como a que livrou os latifundiários do sustento dos velhos. Mas, em decorrência da primeira lei, além das inúmeras alforrias estimuladas pela Familia Imperial, em 1888 o número de escravos era residual, mais concentrados nas lavouras decadentes do Rio de
Janeiro e do Espírito Santo.

É também uma avaliação correta sua, de que o atraso do Brasil para entrar na era industrial teve tudo a ver com o fim tardio do trabalho escravo. Havia a consciência disso, indiscutivelmente. Não foi à toa que D. PedroII atraíu imigrantes europeus e árabes para introduzir aqui outras formas de produção. Após do 13 de maio, já estava redigida a Lei Senador Dantas, que previa a distribuição de terras e investimentos em educação para os recém-libertos. Havia também a corrente que queria a indenização nos negros. Mas os latifundiários pretendiam, ao contrário, indenizações pelas perdas de suas propriedades humanas.

Os mesmos que se vingaram apoiando o golpe militar positivista de 1889. Este, perpetrado apenas 18 meses após a assinatura da Lei Áurea, enterrou a Lei Senador Dantas, e estendeu a situação de semi- escravidão do povão pobre até a ditadura de Vargas. Infelizmente ainda hoje há discriminação
racial entre nós. Mas também neste aspecto fomos melhor que nossos irmãos do norte. Lá, na década de 1960 ainda existia banheiro só para negros, segregação dentro de coletivos, universidades etc.

Para finalizar, quero lembrar que o filme Joaquim é pura ficção. A história da Inconfidência Mineira e de Tiradentes foi hipertrofiada pelos republicanos, que queriam elaborar um herói nacional não ligado à monarquia. O movimento mineiro rebelde ao pagamento de impostos, não tinha a menor chance de levar à independência do Brasil como um todo. Talvez conseguisse separar um pequeno segmento. O Joaquim José (Tiradentes) é uma figura obscura. Versões recentes contam que enforcaram um mendigo em seu lugar. Ele mesmo foi embarcado secretamente para a Europa. onde morreu de velho. No geral um artigo muito bom.

Atenciosamente,
Bruno Hellmuth
médico

domingo, 7 de maio de 2017

Paz e Prosperidade para o Brasil...

S.M. o Imperador Dom Pedro II do Brasil

No exílio, em 1891, um certo dia Dom Pedro II realizou um longo passeio pelo rio Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o hotel Bedford à noite, sentiu-se resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia. O estado de saúde de Pedro II rapidamente piorou até a sua morte às 00:35 da manhã do dia 5 de dezembro de 1891. Suas últimas palavras foram:

"Deus que me conceda esses últimos desejos — paz e prosperidade para o Brasil."

Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: "É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.

A Princesa Dona Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima, mas acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Estado. No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimônia realizada na Igreja de la Madeleine.

Além da Família Imperial, estavam: Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia. Também estavam presentes o Presidente Sadi Carnot, o Presidente dos Estados Unidos, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase todos os membros da Academia Francesa, Dr. Freud, Thomas Edison, Graham Bell, Pasteur, Friedrich Nietzsche entre tantos intelectuais da época e todos da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram. Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como Turquia, China e Pérsia.

Em seguida o caixão foi levado em cortejo até a estação de trem, de onde partiria para Portugal.

Apesar da chuva incessante e da temperatura extremamente baixa, milhares de pessoas assistiram ao evento ao som da multidão gritando “Viva o Imperador”, “Viva o Magnânimo” e “Viva Pedro Cidadão”.

A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Bragança em 12 de dezembro.

Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande repercussão que tivera a morte do Imperador", negaram qualquer manifestação oficial. Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos".
Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime monárquico".

Na imagem vemos Dom Pedro II em seu leito de morte, 6 de dezembro de 1891: o livro embaixo do travesseiro sob sua cabeça simboliza que, mesmo após a morte, sua mente descansa sobre o conhecimento.


sábado, 6 de maio de 2017

A IMPERATRIZ E AS CIÊNCIAS


Mulher superior ao seu tempo, a Imperatriz Dona Leopoldina trouxe ao Brasil missões científicas, prestigiou a vinda de sábios, tais como Emanuel Pohl e von Martius, que pode ser considerado o primeiro estrangeiro a revelar o Brasil à Europa.

Apaixonada pelas Ciências Naturais, especialmente Botânica e Mineralogia, a então Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, antes de vir para o Brasil, por ocasião de seu casamento com o então Príncipe Real de Portugal, Dom Pedro de Alcântara, enviou à sua frente uma delegação de cientistas, pintores, jardineiros e um taxidermista, enquanto a própria jovem nubente ficou a estudar a história e a geografia do Brasil e de Portugal, bem como a aprender o português, elaborando para si própria um extenso vade mecum.

Pode-se imaginar o quanto a jovem e recém-casada Princesa Real, ao chegar ao Brasil, deve ter se encantado pelas fauna e flora exóticas de seu novo lar. Foi, sem a menor sombra de dúvida, um caso de amor à primeira vista entre a futura Imperatriz e a Pátria que viria a adotar como a sua própria. 

- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

A APOSENTADORIA DO DUQUE DE EDIMBURGO


Repercutiu no mundo todo a notícia, na última quinta-feira, de que, às vésperas de completar 96 anos de idade, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, consorte da Rainha Elizabeth II do Reino Unido, irá se aposentar, não mais desempenhando compromissos públicos a partir de agosto, no outono europeu.

No mesmo dia, a imprensa britânica divulgou os números impressionantes gerados pelo trabalho de Sua Alteza desde 1952, quando sua esposa ascendeu ao Trono: foram mais de 22 mil compromissos oficiais. Se convertermos os compromissos em dias, descontando os finais de semana, o Duque de Edimburgo trabalhou o equivalente a todos os dias úteis dos últimos 65 anos. E os mais desinformados ainda perguntaram: “Está se aposentando do que?”...

A Rainha, de 91 anos, continuará cumprindo com seus deveres constitucionais e oficiais; afinal, não existe aposentadoria para Sua Majestade, pois o seu é um trabalho para a vida toda – não se pode quebrar o juramento solene de servir aos seus povos, feito perante Deus, antes de ser ungida pelos óleos sagrados, em sua cerimônia de coroação, na Abadia de Westminster, relíquia das glórias do medievo cristão.

Entretanto, é natural que a Soberana, conforme avançar em idade, delegue cada vez mais funções aos seus herdeiros diretos, seu filho e neto, o Príncipe de Gales e o Duque de Cambridge. Está aí um dos aspectos mais importantes da Monarquia: continuidade, com uma família servindo perpetuamente à nação e sendo exemplo e espelho das melhores virtudes de seu povo.

Ao Duque de Edimburgo, desejamos um bom e merecido descanso.

Foto: S.M. a Rainha Elizabeth II do Reino Unido e S.A.R. o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

DO PRÍNCIPE PARA O PRESIDENTE, A CARTA

(esq) O Presidente Médici e o Chefe da Casa Imperial, o (dir) Príncipe Dom Pedro Henrique

A carta enviada por S.A.I o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, ao então Presidente, General Emílio Garrastazu Médici, no dia 20 de maio de 1971. O Príncipe agradeceu as honras prestadas aos seus avós, SS.AA.II. a Princesa Dona Isabel e o Conde d’Eu, por ocasião da transferência de seus restos mortais para a Catedral de Petrópolis.

Curiosidade, o Chefe da Casa Imperial se utiliza do “pluralis majestatis” (plural majestático), referindo-se a si mesmo na primeira pessoa do plural (nós); tal privilégio é reservado a Soberanos, Papas e Bispos, aos dois últimos, simbolizando o fato dessas altas figuras representarem Deus na Terra e, no caso dos Soberanos, representantes máximos de seu povo.

O referido documento consta no livro “Dom Pedro Henrique, o Condestável das Saudades e da Esperança”, de autoria do Prof. Armando Alexandre dos Santos.

Segue a carta:

"Senhor Presidente,

Ainda sob a forte emoção vivida por ocasião das tocantes homenagens tributadas à memória da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, nossos avós, vimos, na qualidade de Chefe da Casa Imperial do Brasil, apresentar a Vossa Excelência nossos profundos agradecimentos, pedindo torná-los extensivos à Excelentíssima Senhora Dona Scyla Médici.

Sensibilizaram-nos as honras de Chefe de Estado e de Comandante-em-Chefe prestadas aos ilustres mortos, na oportunidade de trasladação de seus despojos para o jazigo definitivo, na Capela Imperial da Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.

A pompa, a ordem e o brilho das cerimônias bem demonstraram o alto conceito em que são tidos pelo atual Governo do País os grandes vultos de nossa História.

Foram atos de reparação histórica e de justiça àqueles que consagraram suas vidas ao serviço do Brasil. Comoveram a todos, participantes e assistentes, e em especial a nós, descendentes da “benigna Senhora e do valoroso Soldado”, cujas venerandas imagens conservamos vivas na memória, bem como suas palavras de amor e de saudade para com a Pátria longínqua.

Pedindo permissão para divulgar esta carta, expressamos o testemunho de nossa consideração à pessoa de Vossa Excelência.

Pedro Henrique de Orleans e Bragança
Rio de Janeiro, 20 de maio de 1971.
Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Emílio Garrastazu Médici
Palácio do Planalto
Brasília – DF


Foto: os Ramos dinástico e não-dinástico da Família Imperial do Brasil reunidos na Casa da Princesa, em Petrópolis, quando do traslado dos restos mortais de SS.AA.II. a Princesa Dona Isabel e o Conde d’Eu para a Catedral de São Pedro de Alcântara; em destaque, no centro, S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, acompanhado de sua esposa, S.A.I.R. a Princesa Consorte do Brasil, Dona Maria da Baviera de Orleans e Bragança, e filhos, incluindo o primogênito, S.A.I.R. o então Príncipe Imperial do Brasil, Dom Luiz de Orleans e Bragança (atual Chefe da Casa Imperial do Brasil), e de sua irmã, S.A.R. a Princesa Dona Pia Maria de Orleans e Bragança, Condessa René de Nicolaÿ pelo casamento; à esquerda do Chefe da Casa Imperial, seu primo, S.A.R. o Príncipe Dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança, acompanhado de sua esposa, S.A.R. a Princesa Dona Esperanza de Bourbon-Sicílias de Orleans e Bragança, filhos e irmãos, SS.AA.RR. o Príncipe Dom João de Orleans e Bragança, a Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança, Condessa de Paris e Rainha “de jure” da França pelo casamento, e a Princesa Dona Thereza de Orleans e Bragança, Senhora Ernesto Martorell y Calderó; no canto direito, encostado à mureta, S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança, então Príncipe da Beira e atual Duque de Bragança e Chefe da Casa Real de Portugal, sobrinho do Príncipe Dom Pedro Gastão.

Quando o governo é patrão e cliente


A publicidade movimentou R$ 129,9 bilhões em 2016, segundo o Ibope. 3,4% desse robusto investimento, combustível das mídias impressas e eletrônicas, saíram dos cofres públicos. Quase o dobro do dinheiro consumido pelas fabricantes de cerveja, que travam uma disputa intensa de mercado.

Serviço público de comunicação é, em qualquer país civilizado, sinônimo de prestação de contas. Só no Brasil é sinônimo de multiplicação de contas. Prefeitos, governadores e presidentes – de todas as épocas e correntes – gastam dinheiro demais divulgando programas sociais ordinários, taxas de juros de bancos públicos e produtos de quinta categoria de estatais que inexplicavelmente não foram extintas quando os militares deixaram o poder.

A relação entre os veículos de comunicação e seus anunciantes é naturalmente conflituosa. Semanas atrás, quando SBT, Record e RedeTV! deixaram de ceder seus sinais para NET, SKY e Claro, o “Jornal da Band” exibiu uma longa matéria a favor das operadoras de TV por assinatura. Quem está no rol de anunciantes do “Jornal da Band”? Uma das operadoras envolvidas na pendenga com SBT, Record e RedeTV!.

A influência dos anunciantes está diretamente relacionada à qualidade do nosso capitalismo. O Brasil ocupa a 140ª no ranking das economias mais abertas do mundo. Até a China, governada pelo partido comunista, e o possante Tadjiquistão estão na nossa frente. Temos poucas empresas no mercado. E pouquíssimas empresas capazes de comprar espaços na TV. As fabricantes de brinquedos, por exemplo, têm capacidade de investimento, mas não podem vender nada porque os institutos alana da vida decidiram por nós. Quem ocupa esse espaço?

De 2000 para cá, o gasto publicitário do governo federal, maior de todos os paquidermes, cresceu substancialmente. FHC, Lula e Dilma aproveitaram a máquina para atormentar humoristas, jornalistas e pressionar empresários. O tucano relata, com orgulho, as conversas com Octávio Frias de Oliveira, publisher da Folha, na série “Diários da Presidência”. Boris Casoy, âncora há 30 anos, compara o PT à ditadura. Não é ideologia. É oportunismo.

Michel Temer não é melhor político que FHC, Lula e Dilma. Nem tem chances de vencer a eleição de 2018. É, porém, o mais familiarizado com a máquina. Com a reforma da previdência em xeque, arrumou duas entrevistas na TV aberta para pontificar sobre as belezas da nova regra da aposentadoria. Com certeza vai arrumar mais duas. Ou três. Basta querer.

Ou amadurecemos e entendemos, de uma vez por todas, que a ingerência estatal fica ainda mais perigosa quando as fontes de financiamento são escassas ou teremos gente bem pior pontificando sobre regras bem mais dramáticas daqui dois anos.

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ATENTADO CONTRA D. PEDRO II

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"Representava-se ontem no Sant'Anna a "Escola dos Maridos", tradução de Arthur Azevedo, e nos intervalos apresentava-se ao público a prodigiosa violinista Giulietta Dionesi. S.M. o Imperador, que desejava conhecer a tradução, tanto que supondo-o impressa mandara procurá-la pelas livrarias, aproveitou o ensejo de ir ao teatro.

O Sant'Anna achava-se repleto: platéia e camarotes ocupados por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente que de ordinário a freqüenta. No camarote imperial achavam-se, além de SS. MM. o Imperador e a Imperatriz, SS. AA. a Sra. Princesa Imperial e o Sr. D. Pedro Augusto e camaristas de semana. O espetáculo correu na melhor ordem. A atitude do povo era de todo o ponto pacífica e cortês. Nem se quer se poderia suspeitar que houvesse ali o elemento de desordem que mais tarde se revelou.

Terminado o espetáculo, o povo que enchia o teatro procurou as saídas. A família imperial dirigiu-se para a porta, indo na frente a Sra. Princesa Imperial, seguida de Sua Magestade o Imperador, que dava o braço a Sua Magestade a Imperatriz e do Sr. Príncipe D. Pedro.

O povo encostado para os lados, abria caminho a SS. MM., em silêncio. Ao chegarem ao vestíbulo do teatro, de um pequeno grupo de pessoas de baixa classe partiu um grito estentórico: "Viva o partido republicano". O Imperador parou imediatamente. Começou então uma confusão extraordinária. Grande número de pessoas prorompeu em vivas ao Imperador, acercando-se dele. As senhoras, tomadas de pânico, precitavam-se para o interior do teatro, de onde refluiam, empurradas pela onda dos que saiam. O tumulto generalizara-se: tanto na rua do Espírito Santo, como no largo do Rocio, nas circanias do teatro, vivas desencontrados se ouviram. Finalmente, pôde S.M. tomar o carro, seguindo acompanhado do piquete, que o guardava de espadas desembainhadas.

Ao passar, porém, pela frente da Maison Moderne, foram disparados três tiros de revólver na direção do carro que o conduzia. Asseguram-nos que um desses tiros quase alcançou o Sr. D. Pedro Augusto.

Felizmente S.M. o Imperador passou incólume. O sentimento da mais profunda indignação pintou-se em todos os semblantes dos que foram testemunhas desse baixo atentado. (...)" - Novidades, 16 de julho de 1889.

"Ontem à noite quando terminava o espetáculo no teatro Sant'Anna quando SS. Magestades Imperiais, SA. Princesa e SA. o Príncipe D. Pedro Augusto se dirigiam para o carro, um pequeno grupo de desordeiros levantou vivas à República. Travou-se então um conflito que pouco durou pois foi abafado pela intervenção do público sensato que também se retirava do teatro.

Quando o coche imperial seguia para a praça da Constituição, um indivíduo teve a leviandade de disparar um revólver evadindo-se em seguida para um estabelecimento próximo.

Pouco depois, porém, foi preso pelo povo um homem que se supõe ser o autor do atentado. À hora em que escrevemos esta ele sendo interrogado na 1a estação policial." - Diário do Commércio, 16 de julho de 1889.

SS. MM. e S.A. Imperial e S.A. o Príncipe D. Pedro, com seu séqüito, se retiravam do teatro Sant'Anna, à meia-noite de ante-ontem, quando no meio de um grupo que se achava à porta do mesmo teatro partiu um viva à República. Abafado esse viva sob palavras e vivas à monarquia, a D. Pedro II e à família Imperial, gerais e estrepitosos, houve um ligeiro conflito, que mais susto causou do que teve resultados funestos.

No meio desse tumulto, e aclamados pela multidão, puderam os Augustos espectadores tomar o seu coche e retirar-se com sua comitiva e guarda. Apesar, porém, da retirada de SS. MM. e AA.., a agitação continuou por algum tempo e propagou-se pela vizinhança do teatro.

Quando mais forte era o tumulto ouviu-se a detonação de um tiro de revólver, que foi dado próximo ao carro de SS. MM. quando este partia em direção do Paço da Cidade.

Grande foi a confusão que causou esse atentado, que ninguém podia prever nem esperar, o que deu lugar a ser impossível, na ocasião, prender-se o criminoso, que evadiu-se, aproveitando-se do barulho e ocultando-se no meio da grande multidão que estava no local.

Entretanto, o agente da polícia Paulino Alberto de Magalhães capturou o espanhol Ramon Gonçalves Fernandes sobre que caiam as suspeitas da autoria do crime. Em seu poder não foi encontrada arma alguma, nem foram suficientes as provas contra ele, pelo que foi posto em liberdade ontem de manhã.

Quando procediam as autoridades às primeiras diligências chegou ao seu conhecimento que era conhecido o autor do atentado, que havia sido visto pelo Sr. Antônio José Nogueira, empregado do Maison Moderne.

Por essas indicações, das 2 para as 3 horas da madrugada, o 1o delegado de polícia, Dr. Bernardino Ferreira da Silva conseguiu prender, em um bonde da Companhia de Botafogo, na rua de Gonçalves Dias, Adriano Augusto do Valle, que fôra acusado de ter disparado os tiros de revólver." - Diário do Commércio, 17 de julho de 1889.

"Ao terminar o espetáculo de ontem no teatro Sant'Anna, quando saíam suas magestades, houve um grande movimento de povo dando vivas à República uns e outros à monarquia, sendo em frente a Maison Moderne disparados alguns tiros.

Nós os republicanos nada temos com essas arruaças, que devem ser levadas somente à conta da polícia disfarçada e da guarda criada para garantia do trono." - República Brazileira, 16 de julho de 1889.

" (...) O desacato que sofreu o chefe do estado, alquebrado pelos anos e pela moléstia, junto à santa senhora que o acompanhava só pode ser levado à conta da loucura daqueles que a todo transe procuram indispor e vilipendiar o nosso partido. Apelamos para o próprio imperador, e ele, que com cosciência nos diga, se julga que haja nesta terra um "verdadeiro republicano" que seja capaz de atentar contra a sua vida! Revolucionários, sim, assassinos, nunca!" - República Brazileira, 17 de julho de 1889.

"Causou a mais viva impressão a notícia da deplorável ocorrência de ontem à noite, às portas do teatro Sant'Anna e suas circumvizinhanças.

Um grupo, quando o Imperador saía do teatro em companhia de sua augusta família, levantou vivas à república, o que produziu a maior confusão no povo, que em desafronta de Sua Magestade levantou vivas ao imperador.

Sua Magestade embarcou em seguida no seu coche, que partiu a trote largo, e afirmam várias pessoas que, no momento de passar aquele por defronte da Maison Moderne, ou Stat-Coblentz, ouviu-se a detonação de um tiro.

Este fato deu à ocorrência o vulto de um atentado, que comoveu profundamente a opinião.(...)

Não podemos acreditar que houvesse a intenção de atentar contra a pessoa do Imperador. Repugna a índole do nosso povo; não se conforma com os nossos sentimentos a premeditação de tal crime, contra o soberano que aboliu de fato a pena de morte. (...)" - Cidade do Rio, 16 de julho de 1889.

"Ontem, quando se retirava do teatro Sant'Anna, terminado o espetáculo, foi sua magestade obrigada a parar à porta de saída.

Grande multidão de indivíduos achava ali postada e dentre ela partiu um grito sedicioso. Sua Magestade parou e no mesmo instante viu-se cercado por todos tantos o acompanhavam.

Ao passar o carro em frente à Maison Moderne, ouviu-se a detonação de alguns tiros. Fácil é de imaginar-se o tumulto produzido por este fato.

O piquete de cavalaria, que gurdava a carruagem imperial, marchou em disparada, acompanhando-a pela rua da Carioca, por ter o cocheiro fastigado os animais, afastando-os do lugar tumultuoso.

A polícia compareceu imediatamente e foram dadas várias ordens para conhecer-se qual o autor do atentado, até então desconhecido.

Intimadas várias pessoas para virem à Polícia, conseguiu por fim o dr. Bernardino Ferreira, 1o delegado, conhecer a verdade, por denúncia de um cavalheiro. (...)

A população brasileira foi hoje dolorosamente impressionada, tomando-se da mais justa indignação pelo estúpido atentado cometido ontem, à noite, contra Sua Magestade o Imperador, quando este retirava-se com Sua Magestade a Imperatriz do teatro Sant'Anna.

Era o sr. D. Pedro II o único soberano deste século contra quem não tinha havido atentado de espécie alguma e isso abonava principalmente a brandura do coração brasileiro e dos nossos costumes.

Infelizmente, houve ontem um atentado que não podemos atribuir senão à inconsciência de quem o praticou: ou loucura ou embriaguez, pois, por honra do partido republicano, não acreditamos que tal ato dele partisse. Esse triste acontecimento é ainda uma das consequências da profunda anarquia que lavra nos espíritos do Brasil, onde todas as noções de direito, dever e liberdade acham-se completamente obliteradas." Gazeta da Tarde, 16 de julho de 1889.