terça-feira, 14 de agosto de 2018

SOTAQUES

O "R" caipira do interior de SP, MT, MG, PR e SC deve-se aos indígenas que aqui moravam não conseguiam falar o "R" dos portugueses, não havia o som dessa letra em muitos dos mais de 1200 idiomas da região.

Então na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal. A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta) e frecha (flecha).

Com a chegada de italianos à SP o sotaque do paulistano incorporou o R vibrante atrás dos dentes, porta como "porita", e em alguns casos até incorporando mais Rs: carro como "caRRRo", se quem fala for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros com bastante influência italiana.

O R falado no RJ deve-se ao fato de que quando a Corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da garganta, como: "PaRRRRi".

A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, o importou seu som de R dos franceses. Do mesmo modo a Realeza trouxe o "S" chiado dos cariocas.

As regiões Norte e Sul receberam a partir do século XVII imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S também vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Pará, 4ª maior população portuguesa no Brasil à época, o que fez os paraenses também incorporarem o chiado.

Já Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhois e depois alemães e italianos, toda essa mistura resultou num sotaque sem chiamento.

Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimulando uma pronúncia mais pausada de vogais como o E, para que se fizessem entender, dando origem ao folclórico "leitE quentE".

Em Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso preservou-se o sotaque de Cabral, não sendo incomum os moradores falando de um "djeito diferentE". Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E até "hodje os cuiabanos tchamam feijão de fedjão".

Junto com os 800 mil escravos também foram trazidos seus falares, e sua influência que perdura até hoje em se comer o R no final das palavras: Salvadô, amô, calô e a destruição de vogal em ditongos: lavôra, chêro, bêjo, pôco, que aparece em muitos dialetos africanos.

A falta de plurais, o uso do gerúndio sem falar o D (andano, fazeno), a ligação de fonemas em som de z (ozóio, foi simbora) e a simplificação da terceira pessoa do plural (disséro, cantaro) também são heranças africanas.

do livro "Mapa Linguístico do Brasil" de Renato Mendonça e da Superinteressante desse mês.

Por - Daniela Andrade

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Sino Real, o maior do mundo

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O gigantesco Sino Real é mantido no Kremlin, no mesmo local que o seu companheiro da realeza, o Canhão do Tsar. Embora jamais tenha sido tocado, o som que produziria foi simulado recentemente com a ajuda de computadores.

Havia na Rússia uma piada popular sobre o Canhão do Tsar, que nunca disparou um tiro sequer, o Sino Real (também conhecido como Sino do Tsar), que jamais fora tocado. Tudo indica, porém, que o canhão foi, sim, disparado em determinado, mas o som da campainha nunca foi ouvido mesmo. Ainda assim, a história do sino gigantesco continua única e impressionante.

O Sino Real foi produzido no século 18, e ainda é o sino do mundo. Com peso superior a 200 toneladas e mais de 6 metros de altura, sua estrutura pode ser dividida em peças “menores” que, mesmo assim, ainda pesam mais de 11 toneladas cada.

O maior de todos

A decisão de criar esse gigantesco sino para o Kremlin foi feita pela imperatriz Anna Ioannovna em 1730. Na época, havia tradição de produzir enormes sinos para serem exibidos no coração de Moscou, e o sino solicitado por Anna Ioannovna era o terceiro do tipo. O primeiro Sino Real foi criado no início do século 17, porém, foi danificado por fogo; o segundo foi feito no meio do mesmo século, sob o tsar Aleixo 1º, mas teve um destino semelhante ao cair e quebrar durante outro incêndio, em 1701. Os restos desse segundo sino foram, no entanto, usados ​​na criação do atual Sino Real.

É por isso também que o sino sobrevivente é muito maior que seus antecessores. O primeiro pesava entre 17 e 35 toneladas – embora não pareça tão grande, quando comparado ao sino atual, cabe lembrar que era preciso 24 pessoas apenas para mover o martelo. O sino que substituiu o primeiro pesava, por sua vez, 130 toneladas.

Para Anna Ioannovna, porém, nem mesmo o segundo era suficientemente grande, e ela ordenou que o próximo fosse mais de uma vez e meia maior que o antecessor.

100 anos no poço

Foi decidido convidar um especialista estrangeiro para fundir o sino. Um famoso artesão francês foi escolhido para o trabalho, mas assumiu que se tratava de piada quando lhe disseram o peso e o tamanho do sino. Diante da recusa, recorreu-se a especialistas da própria Rússia – Ivan Motorin e seu filho Mikhail.

Um enorme poço, com 10 metros de profundidade, foi cavado perto do Kremlin, criando espaço para produzir o sino. Após um ano e meio de preparação, os trabalhos enfim começaram em 1735. Durante o processo, Ivan Motorin morreu, e o projeto continuou sob a supervisão de seu filho.

Como os dois sinos anteriores, o Sino Real pegou fogo; ao contrário dos demais, porém, isso aconteceu antes mesmo que o sino fosse concluído ou instalado. O incidente aconteceu em 1737, quando, em resultado de um incêndio, o sino caiu dos suportes em que estava apoiado, e um pedaço dele se desprendeu.

Depois disso, o sino permaneceu no poço por 100 anos, porque os engenheiros não conseguiam pensar em uma forma de removê-lo. No início do século 19, o tsar Alexandre 1º ordenou que uma escada fosse construída até o sino para que os curiosos pudessem observá-lo. O sino havido sido habilmente decorado, com figuras da imperatriz Anna e tsar Aleixo gravadas. Foi somente na década de 1830 que o famoso arquiteto francês Auguste de Montferrand, responsável pela construção da Catedral de Santo Isaac, em São Petersburgo, desenvolveu um plano para tirar o Sinal Real do poço. Após ser enfim removido, o sino foi colocado em um pedestal no Kremlin.

Sino sem som

Sugeriu-se que o pedaço do sino que havia quebrado pudesse ser soldado, sendo possível usá-lo para sua finalidade original. Essas ideias, no entanto, foram rejeitadas quando soube-se que o sino não seria capaz de tocar normalmente devido ao dano.

Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia usou um programa para criar o som que o Sino Real produziria. Para fazer a simulação, foram usados dados como espessura, forma, movimento e materiais do sino.

O CANHÃO CZAR


O Canhão do Tsar (também conhecido como Tsar Pushka) merece seu nome pomposo, já que é o maior canhão do mundo. Esta peça de artilharia real foi construída para defender o Kremlin e permanece no local há mais de 400 anos. Há rumores de que o canhão nunca foi usado, mas não é verdade.

O Canhão do Tsar do Kremlin de Moscou foi incluído no Livro dos Recordes Guinness como a maior bombarda (arma medieval usada para atirar pedras grandes) por calibre do mundo. Ele foi construído para atirar balas de canhão de 800 kg e pesa quase 40 toneladas, sendo necessários 200 cavalos para transportá-lo.

O calibre do canhão é de 890 milímetros. Há armas de artilharia maiores, como o Morteiro Mallet, do Reino Unido, e o Pequeno David, dos Estados Unidos, ambos com 914 milímetros. Mas essas armas são morteiros, não canhões, e isso significa que o Canhão do Tsar do Kremlin é uma peça de artilharia inigualável.

É preciso lembrar ainda que os morteiros foram produzidos nos séculos 19 e 20, com o uso de uma tecnologia (relativamente) moderna, enquanto o Canhão do Tsar foi feito em bronze e data de 1586. O canhão foi feito pelo especialista Andrei Tchokhov em Moscou.

Tchokhov construiu o canhão durante o reinado do tsar Teodoro 1º, filho de Ivan, o Terrível. Há uma imagem do tsar no barril de pólvora, onde ele é retratado com uma coroa na cabeça e um cetro em uma das mãos, montado em um cavalo. Há uma inscrição acima da figura do tsar que diz “A graça de Deus, Tsar e Grande Duque Fiodor Ivanovitch, Autocrata da Grande Rússia”. Há outros dois rótulos, um que fala sobre quem fez o canhão e outro que especifica que foi feito a pedido do tsar.

Há uma teoria de que o canhão recebeu este nome por causa da imagem do tsar. No entanto, acredita-se que o nome na verdade está ligado ao tamanho descomunal da arma, algo que era extraordinário para a época.

O canhão já disparou um tiro?

Algumas pessoas dizem que Tchokhov criou o canhão para impressionar estrangeiros com o suposto poder de Moscou, e não para ser usado como uma arma de verdade. Segundo esta teoria, o canhão não foi criado para ser usado e nunca disparou um tiro.

No entanto, em 1980, enquanto o canhão era restaurado, foi inspecionado por especialistas da Academia de Artilharia. Eles encontraram resíduos de pólvora e chegaram à conclusão de que o canhão havia disparado ao menos uma vez.

A informação sobre o modo como o canhão foi usado também contradiz a teoria de que foi produzido apenas para fazer propaganda. O canhão foi montado em uma estrutura especial e colocado na Praça Vermelha. Ele deveria ser usado para defender o acesso ao Kremlin a partir do leste, mas nunca foi usado em um combate verdadeiro. No século 18, o canhão foi levado para o arsenal do Kremlin.

Durante a Invasão Napoleônica em 1812, houve um incêndio em Moscou e a carruagem de madeira do canhão foi destruída. Mais tarde, a estrutura atual, de ferro, foi colocada no lugar. Foi nessa época que as balas do canhão que hoje ficam em frente à arma foram feitas. Essas balas são meramente decorativas e são muito grandes para ser usadas, mesmo no Canhão do Tsar.

LINK ORIGINAL: RUSSIA BEYOND

A CASA IMPERIAL DO BRASIL

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A Casa Imperial do Brasil tem origem no dia 12 de outubro de 1822, quando da aclamação do Príncipe Dom Pedro de Alcântara de Bragança, até então Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e Regente do Brasil, como Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, após ter proclamado a nossa Independência, a 7 de Setembro daquele ano, às margens do Ipiranga, em São Paulo.

Os Imperadores do Brasil, bem como seus antecessores, os Reis de Portugal, eram membros da Sereníssima Casa de Bragança, reinante em nossa Pátria-Mãe Lusa desde 1640. Portanto, durante os reinados do Imperador Dom Pedro I e de seu filho, o Imperador Dom Pedro II, a Dinastia imperante no Brasil foi a Casa de Bragança. Nossa última Soberana bragantina teria sido a Princesa Dona Isabel, filha e herdeira do Imperador Dom Pedro II, impedida de se tornar Imperatriz pelo golpe de 15 de novembro de 1889, que instaurou a República no Brasil, contra a vontade popular.

A Princesa Dona Isabel foi desposada, a 15 de outubro de 1864, na Capela Imperial do Rio de Janeiro, pelo Príncipe Gastão de Orleans, Príncipe do Sangue da França e Conde d’Eu, neto do Rei Luís Filipe I dos Franceses. Sendo assim, os filhos do casal, nascidos a partir de 1874, constituíram a Casa de Orleans e Bragança, um ramo, plenamente independente e soberano, da Casa de Bragança e da Casa de Orleans, e integrando o todo da milenar Dinastia Capetíngia, fundada quando Hugo Capeto foi eleito Rei dos Francos, no ano de 987.

Sucedeu diretamente à Princesa Dona Isabel, como Chefe da Casa Imperial, no dia 14 de novembro de 1921, seu neto, o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, que, por sua vez, foi sucedido por seu primogênito, o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, que é, desde 5 de julho de 1981, o Chefe da Casa Imperial do Brasil. Seus imediatos herdeiros dinásticos são seus irmãos, o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, e o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, casado com a Princesa Dona Christine de Ligne, com quem tem dois filhos dinastas, o Príncipe Dom Rafael e a Princesa Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança.

Também são dinastas uma das irmãs do Chefe da Casa Imperial, a Princesa de Ligne, Dona Eleonora de Orleans e Bragança – casada com Michel, 14º Príncipe de Ligne, Chefe da mais importante Família nobre do Reino da Bélgica, irmão da Princesa Dona Christine –, e seu filho, o Príncipe Hereditário Henri de Ligne.

Ao membros dinastas da Casa Imperial somam-se os seus parentes, irmãos, sobrinhos e primos, que optaram, voluntariamente, por renunciar aos seus direitos sucessórios, a fim de fazerem casamentos não-dinásticos, ou seja, contrair matrimônio com cônjuges não-titulados ou sem paridade nas titulações. As respectivas esposas desses Príncipes, bem como seus descendentes, também são membros da Casa Imperial.

Portanto, consideramos que todo o conjunto da descendência varonil, principesca e legítima da Princesa Dona Isabel e do Conde d’Eu integra a Casa Imperial do Brasil, e todos esses Príncipes e Princesas, dinastas ou não, devem respeito e deferência ao Chefe da Casa Imperial, Imperador “de jure” do Brasil, representante máximo da tradição monárquica brasileira e suprema autoridade no que tange à nossa Monarquia, nos termos dos Artigos 11 e 98 da Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824.

Foto –

Membros da Família Imperial do Brasil reunidos no Castelo de Beloeil, no Reino da Bélgica, por ocasião do casamento, celebrado a 18 de junho de 2016, de S.A. a Princesa Alix de Ligne com o Conde Guillaume de Dampierre.

Impossibilitado de comparecer, S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, foi condignamente representado por seus irmãos e imediatos herdeiros dinásticos, S.A.I.R. o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, e S.A.R. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, acompanhado de sua esposa, S.A.R. a Princesa Dona Christine de Ligne de Orleans e Bragança, e filhos, SS.AA.RR. o Príncipe Dom Rafael e as Princesas Dona Maria Gabriela e Dona Amélia de Orleans e Bragança, esta última acompanhada do marido, o Sr. James Spearman.

Também presentes, outros irmãos e cunhados do Chefe da Casa Imperial: S.A.R. a Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança (1944-2017); S.A.R. a Princesa de Ligne, Dona Eleonora de Orleans e Bragança, mãe da noiva, junto ao seu marido, S.A. Michel, 14º Príncipe de Ligne, e filho, S.A. o Príncipe Hereditário Henri de Ligne; SS.AA.RR. o Príncipe Dom Fernando e a Princesa Dona Maria da Graça de Orleans e Bragança e suas filhas, S.A.R. a Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Conde Alexander de Stolberg, e SS.AA.RR. as Princesas Dona Maria da Glória e Dona Luiza de Orleans e Bragança; SS.AA.RR. o Príncipe Dom Alberto e a Princesa Dona Maritza de Orleans e Bragança e seus filhos, SS.AA.RR. os Príncipes Dom Pedro Alberto e Dom Antonio Alberto e as Princesas Dona Maria Beatriz e Dona Ana Thereza de Orleans e Bragança; S.A.R. a Princesa Dona Maria Thereza de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Fidalgo Johannes Hessel de Jong, e dos filhos, o Fidalgo Johannes Pedro e a Fidalga Maria Pia de Orleans e Bragança de Jong; e S.A.R. a Princesa Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Dr. João Marcos Pilli.

Ainda, outras sobrinhas do Chefe da Casa Imperial: S.A.R. a Princesa Dona Ana Luiza de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Sr. Paulo Ibrahim Mansour, e do filho mais velho, o Sr. Guilherme de Orleans e Bragança Mansour; S.A.R. a Princesa Dona Maria Carolina de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Sr. Nuno de Carvalho Moreira, e dos filhos, o Sr. Joaquim Pedro e a Srta. Maria Sofia de Orleans e Bragança Moreira; S.A.R. a Princesa Dona Maria Elisabeth de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Dr. Pablo Trindade de Souza; S.A.R. a Princesa Dona Maria Eleonora de Orleans e Bragança; S.A.R. a Princesa Dona Maria Thereza de Orleans e Bragança, acompanhada de seu então noivo, hoje marido, o Sr. Guilherme dos Santos Zanker; Dona Maria Antonia de Orleans e Bragança, acompanhada do marido, o Sr. Eduardo de Carvalho Moreira, e dos filhos, os Srs. Eduardo de Orleans e Bragança Carvalho Moreira Filho e Manuel de Orleans e Bragança Carvalho Moreira; e Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, acompanhada de seu então noivo, hoje marido, o Sr. Michael Anthony Whyte.

25 ANOS DO PLEBISCITO: A VITÓRIA MORAL DA MONARQUIA

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Contou-se na imprensa internacional que, assustado com o crescimento da Monarquia nas pesquisas do Plebiscito sobre a Forma e Sistema de Governo, que completa hoje 25 anos, o então Presidente da República, Itamar Franco, que sucedeu o Presidente Fernando Collor de Melo após o seu impeachment, retirou de seu escritório no Palácio do Planalto o quadro do primeiro Imperador do Brasil, Dom Pedro I, e “trocou com toda pressa” por um busto de mármore de outro herói da Independência, provavelmente José Bonifácio de Andrada e Silva, para “exorcizar” o crescimento monárquico.

A República no Brasil nasceu com uma promessa que demorou 104 anos para se cumprir. Recém-proclamado, o Governo Provisório instalado pelo Golpe Militar de 15 de novembro de 1889, em seu primeiro decreto, estabeleceu que a escolha final sobre a forma de governo então proclamada aguardaria o pronunciamento definitivo do voto da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular.

O regime monárquico no Brasil caiu devido a um golpe de Estado, o qual não teve apoio da população civil e enfrentou grande resistência, tardia ao ter pego o País desprevenido. Tal resistência, hoje se assume, custou milhares de vidas. A reação do Governo Provisório foi, no entanto, rápida – pouco mais de um mês após o golpe, outra medida, o Decreto 85-A, de 23 de dezembro de 1889, vedou projetos tendentes a abolir a forma republicano-federativa, tendo sido incluído na Constituição de 1891, em forma de cláusula pétrea. O efeito prático dessa cláusula era o impedimento da restauração monárquica no Brasil, feita de maneira legal, por meio do sufrágio universal. Cláusulas pétreas similares a essa foram incluídas nas Constituições brasileiras posteriores, calando os monarquistas e o movimento monárquico.

Com o fim do regime militar, em 1985, seguiu-se a abertura democrática e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para 1987. Sob a ameaça de nova inclusão de cláusula pétrea calando os monarquistas na nova proposta constitucional, o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, em nome dos monarquistas brasileiros, apelou para Assembleia Nacional Constituinte que não negasse a liberdade à ação monarquista: “Não lhes seja negada agora, Srs. Constituintes, a liberdade que V. Exas. se gloriam de ver reconhecida a toda a Nação.”

Com as elucidações fornecidas aos Constituintes pelo Chefe da Casa Imperial e a atuação de ousados monarquistas junto à Assembleia, a cláusula pétrea não vingou na Constituição de 1988 e por suas disposições transitórias foi convocado o Plebiscito para 7 de setembro de 1993.

Mesmo diante de todos os empecilhos impostos pelo Estado, a começar pela cédula mal formulada, passando pela antecipação do pleito, como a mudança da data de 7 de Setembro, Dia da Pátria, data magna para os monarquistas, para 21 de abril, feriado de Tiradentes, data favorável aos republicanos, e tantos outros que geraram desigualdade de posições, a Monarquia Parlamentarista recebeu 13,4% dos votos válidos. Uma vitória moral, após mais de 104 anos de silêncio imposto aos defensores do regime monárquico.

Pesquisas informais, realizadas por portais da Internet, como o Terra em 2013, em lembrança aos 20 anos do Plebiscito, pelo "Financial Times", o gigante e prestigiadíssimo jornal britânico de negócios, e pela apresentadora Mariana Godoy, da RedeTV!, ambas realizadas no ano de 2016, mostram a Monarquia Parlamentarista com uma aceitação entre 65% a 80% dos Brasileiros.

O crescimento monárquico que vemos hoje, além do resultado de admirável atuação espontânea popular e de lideranças que se organizam livremente, mas sob as diretrizes essenciais da Casa Imperial, é fruto também da atuação imprescindível do Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 à 1981, que manteve viva a esperança monárquica nos corações dos brasileiros e de seu filho primogênito e sucessor, o Príncipe Dom Luiz, nosso atual Chefe da Casa Imperial, que permitiu que tal esperança tivesse os meios de florescer sozinha, com a degradação a olhos vistos da forma republicana de governo no Brasil.

Talvez, com tamanho crescimento espontâneo, os atuais governantes do Brasil devessem estar mais preocupados do que o antecessor, Itamar Franco. Resta saber: será que o quadro do Imperador Dom Pedro I continua no escritório da Presidência no Planalto?

Foto: S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, em material da época do Plebiscito de 1993.

“TEMOS UM CONDE D’EU!”

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O Príncipe Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleans, Neto da França*, que viria a se casar com a Princesa Dona Isabel, a Redentora, herdeira do Trono do Brasil, nasceu no dia 28 de abril de 1842, no Castelo de Neuilly, localizado nos arredores de Paris, e foi o primogênito dos quatro filhos e filhas do Príncipe Luís de Orleans, Duque de Nemours, e de sua esposa, a Princesa Vitória de Saxe-Coburgo e Koháry.

Membro da Família Real Francesa, Sua Alteza pertencia à Casa de Orleans, ramo-cadete da Casa de Bourbon, que, por sua vez, integrava o todo da Dinastia Capetíngia, originada na figura de Hugo Capeto, eleito Rei dos Francos em 987. Além da Família Real Francesa, também são Capetíngios a Família Imperial do Brasil, as Famílias Reais da Espanha e das Duas Sicílias, a Família Grã-Ducal de Luxemburgo e a Família Ducal de Parma.

Ao ver o neto que havia acabado de nascer, o Rei Luís Filipe I dos Franceses, jubiloso, exclamou: “Temos um Conde d’Eu!”, conferindo, assim, o título que o Príncipe Gastão usaria, com toda galhardia e nobreza, pelo resto da vida, nos grandes salões do Brasil e da Europa e nos campos de batalha no Marrocos e no Paraguai, ainda que, ao longo dos anos, tenha recebido os títulos de Príncipe Imperial e, depois, Príncipe Consorte do Brasil, decorrentes de seu casamento.

Retrato: S.A.R. o Príncipe Gastão de Orleans, Conde d’Eu e Neto da França, aos cinco anos de idade, em 1847.

– Baseado em trecho do livro “Maldita Guerra”, do Prof. Dr. Francisco Doratioto.

[*] Neto da França (Petit-fils de France, em francês) e Neta da França (Petite-fille de France) são os títulos usados pelos filhos daqueles intitulados como Filho da França (Fils de France), ou seja, os filhos dos Reis da França (ou do Chefe da Casa Real Francesa), ao passo que as filhas têm o título de Filha da França (Fille de France). O primogênito e herdeiro do Soberano é intitulado Delfim da França (Dauphin de France, em francês), e seus filhos têm o título de Filho (a) da França, não Neto (a). Já a filha mais velha do Rei tem o título de Senhora Real, ou Madame Royale, em francês. Todos tinham o tratamento de Alteza Real.

NOBREZA DE ALMA E SIMPLICIDADE

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Em 24 de novembro de 1868, a Princesa Imperial do Brasil, Dona Isabel de Bragança, e o Príncipe Dom Gastão de Orleans, Conde d’Eu, seu marido, visitaram a cidade mineira de Baependi, hospedando-se no palacete do Comendador José Pedro Américo de Matos, que era pessoa muito rica e muito benquista na cidade. No entanto, por ser mulato, procurava não frequentar as festas sociais, para evitar constrangimento a certas damas da sociedade, especialmente nos bailes. Notara mesmo certa resistência, quando se tratava de dançar com algumas delas.

Como anfitrião do Casal Imperial, era-lhe impossível deixar de comparecer ao grande baile de homenagem que a cidade ofereceu a Suas Altezas. Mas enquanto todos se divertiam com a primeira dança, uma quadrilha, o Comendador permaneceu alheio, olimpicamente indiferente e distraindo-se em contemplar, ora os dançarinos, ora a multidão que se comprimia na rua.

À Princesa Imperial não passaram despercebidas a situação e a atitude do Comendador. Quando a orquestra iniciou a primeira valsa, o Conde d’Eu tomou a Princesa Imperial pela mão, levou-a ostensivamente e ofereceu-lha como par. A Princesa Imperial sorria, fitando-o. E o sorriso era de tal modo um convite irrecusável, que ele logo se refez da surpresa, iniciando com ela aquela primeira valsa. Tal foi a estupefação, que durante alguns instantes o par dançou sozinho.

Depois dessa bela atitude do Casal Imperial, todas as atenções se voltaram para o Comendador. Mas, a uma dama das mais elegantes, que insinuara sentir imenso prazer em tê-lo como par, ele respondeu:

– Não, minha senhora, muito obrigado. Queira desculpar-me, mas quem dançou com a Princesa não pode mais dançar com outra mulher.

Esse gesto de nobreza repetiu-se no Palácio de São Cristóvão, com o famoso engenheiro negro André Rebouças. O historiador Luís da Câmara Cascudo comenta:

“A gratidão do Dr. Rebouças ficou brilhantemente provada a 16 de novembro de 1889, quando voluntariamente se exilou, embarcando junto com a Família Imperial.”

– Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

ISABEL

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O nome Elisheva é de origem hebraica, e significa “aquela que é consagrada a Deus”. Desse antigo nome, originaram-se o germânico Elisabeth, o inglês Elizabeth, o francês arcaico Isabeau e o atual Isabelle, os italianos Elisabetta e Isabella, o russo Yelizaveta, o húngaro Erzèbet, o eslavo Alsbietta e, claro, o nosso português Isabel.

Todos eles prestam culto a Santas da Igreja que, nascidas de linhagens régias, viveram vidas voltadas à caridade: Isabel, prima da Virgem Maria, cujo filho, São João Batista, saudou Nosso Senhor Jesus Cristo quando ambos ainda estavam nos ventres de suas Mães; Isabel da Hungria (1207-1231), Duquesa da Turíngia pelo casamento e primeira penitente da Ordem Franciscana a ser canonizada; e Isabel de Portugal (1271-1336), nascida Infanta de Aragão, esposa do Rei Dom Diniz I de Portugal.

Em 1978, quando nasceu a primeira de suas três filhas, o Príncipe Dom Fernando e a Princesa Dona Maria da Graça de Orleans e Bragança lhe deram o nome de Isabel, Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança (hoje, Condessa Alexander de Stolberg pelo casamento), que recebeu este nome por ser sobrinha e afilhada de outra Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança (1944-2017), esta, filha do Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981.

Aliás, o Príncipe Dom Pedro Henrique nutria um carinho todo especial pela netinha que levava o nome de sua veneranda avó, a Princesa Dona Isabel, a Redentora. Sua filha, a Princesa Dona Isabel, também havia recebido esse nome em homenagem à sua madrinha, a prima-irmã de seu pai, outra Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança (1911-2003), que foi Condessa de Paris e Rainha “de jure” da França, pelo casamento com seu primo, o Príncipe Henrique de Orleans, Conde de Paris e Chefe da Casa Real Francesa.

Inclusive, a Condessa de Paris havia sido nomeada em homenagem à sua avó paterna, também sua madrinha, a própria Redentora, Princesa Dona Isabel de Bragança (1846-1921), àquela altura Chefe da Casa Imperial e Imperatriz “de jure” do Brasil.

Por sua vez, esta também recebera seu prenome como forma de homenagear sua avó e madrinha, a Rainha Maria Isabel das Duas Sicílias (1789-1848), nascida Infanta da Espanha, mãe da Imperatriz Dona Teresa Cristina.

E a Família Imperial Brasileira descende diretamente de Santa Isabel de Portugal, que era sobrinha-neta de Santa Isabel da Hungria.

E assim vão 229 anos de uma bela tradição familiar, aguardando pelo nascimento da próxima Princesa Dona Isabel.

- Baseado em artigo escrito pelo Prof. Bruno da Silva Antunes de Cerqueira.

Foto: S.A.I. a Princesa Dona Isabel de Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, com sua neta e afilhada no colo, S.A.R. a Princesa Dona Isabel de Orleans e Bragança, futura Condessa de Paris.

A CARTA AOS CONSTITUINTES DE 1987

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[Publicamos a Carta que, no Dia da Pátria, 7 de setembro de 1987, S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, dirigiu aos Deputados e Senadores da Assembleia Nacional Constituinte que elaborava a atual Constituição Brasileira (a 6º da República), pedindo-lhes que, em um momento chamado de Abertura, em que se dava liberdade até aos comunistas e guerrilheiros mais extremados, também fossem garantidos os direitos políticos dos monarquistas, calados e perseguidos por uma cláusula pétrea que figurara em todas as Constituições republicanas até então. Foi por meio desse documento de enorme valor histórico, político e literário, que hoje os monarquistas podem atuar, livremente e cada vez mais fortes e visíveis, em prol da restauração da Monarquia no Brasil.]

São Paulo, 7 de setembro de 1987.

Senhores Constituintes,

É na condição de Chefe da Casa Imperial do Brasil que tenho o prazer de me dirigir a V. Exas., e o faço neste 7 de setembro que transcorre numa conjuntura história realmente digna de nota. De um lado, já estamos a poucos meses do 100º aniversário da libertação dos escravos, e a dois anos apenas do centenário da proclamação da República; de outro lado, o Brasil se encontra presentemente numa encruzilhada decisiva, como talvez nunca tenha havido em sua História.

– I –

1822-1987 – CONTINUIDADE DA AÇÃO HISTÓRICA DA CASA IMPERIAL

Posso afirmar com ufania que, nos 67 anos de regime monárquico, como nos quase 100 anos de vigência do regime republicano, a Família Imperial aproveitou todas as oportunidades ao seu alcance para bem servir o Brasil. E que sempre o fez dentro da mais estrita legalidade.

Seja-me dado mencionar, a esse propósito, vários fatos significativos, posteriores à proclamação da República e muito conhecidos a seu tempo no Brasil, mas que o correr dos anos, agitados pelo torvelinho do viver moderno e pela dramaticidade das crises e guerras internacionais, fez esquecer gradualmente.

O EXEMPLO DE D. PEDRO II

A inteira disponibilidade para o serviço da Pátria, e ao mesmo tempo a observância meticulosa às leis vigentes, já caracterizaram a conduta de meu trisavô, D. Pedro II, no decurso do breve tempo em que sobreviveu ao golpe de 15 de novembro.

É clássica a página de Affonso Celso, narrando seu último encontro com o velho Monarca, num hotel modesto de Versailles:

“A palavra de D. Pedro II (...) palpitava de ardor, a que o seu venerando aspecto, a sua autoridade moral, os nobres impulsos a que obedecia, comunicavam eloquência irresistível.

“– Quanto a voltar, continuou (...), se me chamarem estou pronto. Seguirei no mesmo instante e contentíssimo, visto ser útil ainda à nossa terra. Mas se me chamarem espontaneamente, notem. Puseram-me para fora... Tornarei se se convencerem de que me cumpre tornar. Conspirar, jamais. Não se coaduna com a minha índole, o meu caráter, os meus precedentes. Seria a negação da minha vida inteira. Nem autorizo ninguém a conspirar no meu nome ou no dos meus.” (“O Imperador no Exílio”, 2º edição, p. 57).

... SEGUIDO POR SUA FILHA, A PRINCESA ISABEL

A mesma linha de conduta deliberou seguir minha bisavó, a Princesa Isabel, que jamais incentivou nem autorizou qualquer tentativa de restauração monárquica por meios violentos. Sendo de piedade notória, ela continuou concorrendo com o valor de suas preces para que nosso País prosseguisse nas vias gloriosas da Civilização Cristã, rumo à peculiar grandeza – também cristã – que ela sabia ser o destino de nossa Pátria.

Por outro lado, interpôs ela toda a sua influência junto aos meios eclesiásticos da França, onde vivia com seu esposo, o Conde d’Eu, para que no célebre santuário do Sagrado Coração de Jesus, erguido em Paray-le-Monial, centro de convergência de piedade dos católicos de todo o mundo, estivesse presente o Brasil, por uma placa impetratória que ficou aposta a um dos muros desse lugar sagrado.

Igualmente foi por iniciativa dela, e por seu intermédio, que o Episcopado brasileiro enviou, em 1901, uma súplica ao Papa Leão XIII, pedindo a proclamação do dogma da Assunção de Maria Santíssima.

Encaminhando ao Pontífice a mensagem dos Bispos do Brasil, escrevia minha bisavó: ‘Longe de minha Pátria, sinto-me feliz ao menos por trabalhar pelo que nela pode fortificar a Fé’ (carta de 6-6-1901).

Dessa forma, o Brasil juntava sua voz ao clamor universal dos fieis, para que mais um título de glória da Santa Mãe de Deus fosse solenemente proclamado pela Igreja. Quase meio século depois, a 1º de novembro de 1950, Pio XII houve por bem definir, como dogma de Fé, a Assunção Corpórea de Maria aos céus.

Generosa e caritativa que era, a Princesa Isabel destinava parte de seus apenas suficientes recursos ao socorro dos pobres e doentes. Os pedidos que lhe chegavam do Brasil, muito numerosos, eram preferencialmente atendidos, com discrição e solicitude.

... E TAMBÉM PELO CONDE D’EU E POR SEUS FILHOS

Ele fez questão de educar num acendrado amor à nossa Pátria seus três filhos. Isso explica que, declarada a Primeira Guerra Mundial, dois deles que se encontravam em condições de combater se inscrevessem sob a bandeira inglesa, na persuasão de que, cedo ou tarde, o Brasil haveria de ingressar no conflito, e que dessa maneira eles se antecipavam no serviço de sua terra.

Meu bisavô, o Conde d’Eu, lembrado dos saudosos anos em que, como Marechal do Exército brasileiro, comandara nossas tropas na Guerra do Paraguai, não hesitou em inscrever-se na guarda cívica em que se alistavam franceses de idade avançada, dispensando assim o serviço de jovens que podiam acorrer aos campos de batalha. Era com emoção – ele confessou em carta ao historiador Max Fleiuss – que ele esperava o momento em que as tropas brasileiras chegariam à Europa, para se juntarem aos exércitos aliados.

O “PRÍNCIPE PERFEITO”: INTENSO ANELO DE VISITAR O BRASIL

Meu avô, o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, apesar de já casado e pai de três filhos, serviu nas linhas avançadas da frente belga, participou ativamente de diversas batalhas e veio a falecer, em março de 1920, com apenas 42 anos de idade, em conseqüência de um reumatismo ósseo contraído nas trincheiras do Yser. Por seu desempenho heroico foi citado em ordem do dia do Exército francês e condecorado, a título póstumo, pela França, pela Bélgica e pela Inglaterra.

Durante as operações bélicas, frequentemente ia, a serviço, ao quartel general de seu primo, Alberto I, o Rei dos Belgas. Nas conversas que então com este mantinha, mostrava meu avô um tão alto espírito cívico e patriótico, que “o Rei Cavaleiro” – como era chamado Alberto I – dele disse ser o mais perfeito Príncipe da Europa. Daí ficar ele conhecido, no Brasil, como “o Príncipe Perfeito”.

Já antes da Guerra, em 1907, seu zelo patriótico se manifestara durante a malograda viagem ao Brasil, empreendida com a esperança de visitar a nossa Pátria. Impedido de desembarcar no Rio de Janeiro pelo governo Affonso Pena – que se baseou em parecer de Ruy Barbosa –, meu avô recebeu a bordo incontáveis visitas de brasileiros, e pôde novamente contemplar, saudoso, o panorama incomparável da baía de Guanabara, o qual haveria de descrever nas páginas emocionantes de “Sob o Cruzeiro do Sul”.

Tal foi a repercussão que teve em nosso País esse livro, que seu autor chegou a ser candidato à vaga aberta na Academia Brasileira de Letras pela morte do Almirante Barão de Jaceguai. E apesar do insuspeito voto favorável de Ruy Barbosa, em razão de circunstâncias políticas, sua eleição não se concretizou.

Frustrada assim a razão principal da viagem, prosseguiu meu avô seu peregrinar por outros países da América do Sul – Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai – com o seu coração e o melhor de suas atenções permanentemente voltados para as fronteiras do Brasil. E não encontrou sossego senão quando, devendo deslocar-se de Puerto Suárez, na Bolívia, à localidade paraguaia de Bahia Negra, conseguiu licença para percorrer uma parte do rio Paraguai que atravessava o território mato-grossense. A licença, porém, foi-lhe concedida com o prévio compromisso de honra de não tomar vapor que arvorasse a bandeira nacional, e de não desembarcar em solo pátrio. Com dor de alma, meu avô cumpriu conscienciosamente ambas as condições.

Quanto a seu irmão mais moço, o Príncipe D. Antonio, também ele faleceu ainda em serviço militar, num avião caído perto de Londres, ao final do conflito.

A PRINCESA ISABEL E O PAI DA AVIAÇÃO

Enquanto esses fatos transcorriam, a Princesa Isabel ocupava o pouco que lhe restava viver, pensando com saudades no Brasil, e mantendo larga correspondência com pessoas de sua amizade que ela deixara aqui ao ser exilada. Seus salões estavam sempre abertos para os inúmeros brasileiros que a procuravam em suas residências de Boulogne-sur-Seine e do Castelo d’Eu.

Muito relacionado com a Família Imperial no exílio foi, por exemplo, Santos Dumont, o Pai da Aviação. Sentia-se minha bisavó ufana por ver um brasileiro vencer o desafio da navegação aérea. E estendia a ele o sentimento maternal que tinha por todos os brasileiros: preocupava-se pelo inventor, rezava fervorosamente por ele quando de seus arriscados vôos nos céus de Paris, e tinha especial gosto em lhe mandar saborosos farnéis, para que se alimentasse, no parque de Bagatelle, sem precisar interromper os treinamentos.

RETORNO À PÁTRIA SAUDOSA

Em setembro de 1920, uma benemérita decisão do Presidente Epitácio Pessoa revogou a “lei do banimento”, e autorizou a trasladação, para o Brasil, dos restos mortais de D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina.

As condições de saúde de minha bisavó – a essa altura já muito precárias – não mais lhe permitiram atravessar o Oceano, como desejava. Mas acompanhando os veneráveis despojos veio o Conde d’Eu, juntamente com D. Pedro de Alcântara, dileto que filho que a Guerra poupara. Aqui permaneceram até fevereiro de 1921.

A 14 de novembro do mesmo ano, expirava tranquilamente no Senhor a Princesa Isabel. A gratidão e as bênçãos do elemento servil libertado lhe foram, com certeza, de grande valia aos pés do trono de Deus.

No ano seguinte, viajaram os meus novamente ao Brasil, a convite do mesmo Presidente Epitácio Pessoa, a fim de participarem das comemorações do centenário de nossa Independência, sendo recebidos, por aquele insigne estadista, com expressivas manifestações de seu apreço, enquanto Chefe de Estado, e de seu valioso devotamento enquanto ardoroso brasileiro, bem como por sua nobre esposa, D. Mary Pessoa.

Tornando as circunstâncias possível que aqui voltassem a residir novamente os membros da Família Imperial, foram estes regressando, com gáudio de alma, à sua Pátria, e hoje aqui vive toda a descendência masculina de D. Pedro II.

MEU PAI, AGRICULTOR, CHEFE DE FAMÍLIA E ARTISTA – ANTES DE TUDO BRASILEIRO DE ACENDRADO AMOR À PÁTRIA

Meu Pai, D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança, primogênito do Príncipe D. Luiz, nasceu em 1909, no exílio, e foi batizado com água levada do Chafariz do Largo da Carioca. Herdou ele diretamente de sua avó, a Princesa Isabel, a Chefia da Casa Imperial do Brasil, uma vez que seu pai já era falecido quando a Redentora encerrou seus dias. Chegado ao Brasil, dedicou-se desde logo à agricultura, que exerceu com empenho no Paraná e depois no Estado do Rio de Janeiro.

D. Pedro Henrique tinha plena consciência de que, se não era oportuno que desenvolvesse aqui um papel político, restava-lhe porém um grande papel de ordem social a desempenhar. Pois a sociedade brasileira como um todo – incluída nessa designação todas as classes sociais – sempre conservou admiração e respeito para com a Família Imperial, o que se pode afirmar, sem distinção de colorido político, tanto dos brasileiros republicanos, quanto dos que continuaram fieis à causa monárquica.

Meu Pai deu ao Brasil o exemplo, não tão freqüente em nosso País e em nossos dias quanto seria de desejar, de um chefe de família modelar, que com sua esposa, minha Mãe, a Princesa D. Maria da Baviera de Orleans e Bragança, nos ensinou – a mim e aos meus onze irmãos e irmãs – que nós, mais ainda do que quaisquer outros brasileiros, temos pesadas obrigações para com a Pátria, e devemos estar dispostos a servi-la em qualquer campo e em qualquer momento que isso nos seja pedido.

Sendo dotado de notável sensibilidade artística, meu Pai passou os últimos anos de vida em seu atelier, empenhado em pintar aquarelas sobre motivos de arquitetura tradicional brasileira. Pode-se dizer que ele foi um dos propulsores da sadia tendência que hoje se faz notar em certos meios culturais e artísticos brasileiros, no sentido de valorizar e preservar a assim chamada “memória nacional”.

Até falecer, em 1981, prosseguiu ele a mesma linha de conduta que caracterizaram seus antecessores. Sem embargo da inalterável disposição de servir o Brasil, manteve modelar observância das leis vigentes, e se absteve sistematicamente de toda tentativa de perturbação da ordem legal em nome de um sentimento monárquico por certo muito legítimo e digno de respeito, mas cuja efetividade política deveria ser guardada para dias melhores.

A FAMÍLIA IMPERIAL INTEGRADA NO BRASIL DE NOSSOS DIAS

Foi nesse espírito que, à uma, a Família Imperial participou das cerimônias de trasladação dos despojos da Imperatriz D. Leopoldina, para o monumento nacional do Ipiranga, em 1954; da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, para a Catedral de Petrópolis, em 1971; do Imperador D. Pedro I para o monumento do Ipiranga – onde tanto merecia repousar o proclamador da nossa Independência – em 1972, durante os festejos do sesquicentenário da Independência; e, em 1982, dos restos da Imperatriz D. Amélia, e de sua filha, a Princesa D. Maria Amélia, também para o Ipiranga. Uma abstenção da Família Imperial poderia deslustrar as cerimônias, conferindo-lhes um caráter político que reavivasse discórdias sobre as quais o tempo havia deixado cair a sua pátina. De modo algum a Família Imperial quereria contribuir para que um efeito desses se produzisse. Sem qualquer ressentimento pelo passado, associou-se às autoridades que então exerciam o poder, na oração por aqueles ilustres mortos, e na participação das cerimônias comemorativas que elas haviam organizado.

– II –

MEU CONSEQUENTE APELO AOS SRS. CONSTITUINTES

Essa sequência de fatos, com os respectivos pormenores, ajuda-me a externar como sinto as circunstâncias em que presentemente se encontra o nosso País. E como me acho obrigado, por um dever de honra, a tomar a atitude que agora tomarei.

O BRASIL EM UM CONJUNTO DE CRISES, E A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

O Brasil atual se está debatendo não propriamente numa crise, mas numa convergência de crises de ordens diversas – morais, sociais, econômicas – que constituem um só torvelinho o qual vai agitando a Nação de ponta a ponta. A esse conjunto de crises não falta sequer a crise religiosa, ocasionada por divergências que se pronunciam, infelizmente, em nível mundial na Santa Igreja, e vão repercutindo cada vez mais em nossa população tão católica.

Nunca, em seus 165 anos de vida independente, o País esteve numa encruzilhada tão decisiva. Do rumo que ele tomar agora – e, permitam-me os Srs. Constituintes que o diga, do rumo no qual o guiarem V. Exas. – dependerá não só o futuro próximo do Brasil, mas também, em uma perspectiva histórica de mais longo prazo, todo o grandioso porvir que o espera nos séculos vindouros.

ANTE A EVENTUALIDADE DE PLEBISCITO SOBRE A FORMA DE GOVERNO

É precisamente nessa emergência – a qual eu vinha acompanhando com natural reserva, mas profundamente atento – que recebo a comunicação de que brasileiros em número não pequeno, tendo à sua testa a figura relevante do Deputado Cunha Bueno (PDS-SP), apresentaram um abaixo-assinado à Assembleia Nacional Constituinte, no qual, abstração feita de questões dinásticas, pedem um plebiscito a respeito da forma de governo que deva ser adotada em nosso País, cabendo três opções: a República Presidencial, a República Parlamentar e a Monarquia Parlamentar. Esse referendo seria realizado em 1993, após terem os propugnadores de cada forma de governo podido, com toda liberdade inerente às atuais instituições, defender junto à opinião pública suas idéias.

De mais de um lado foi-me solicitado minha opinião sobre esse abaixo-assinado, promovido por beneméritas entidades dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, e ao mesmo tempo a manifestar à Constituinte minha solidariedade com ele.

O que equivale a dizer que uma parcela dos monarquistas e, mais amplamente, dos brasileiros, deseja que eu me manifeste.

Argumentam eles que a presente conjuntura me pede mais do que a reserva que as circunstâncias haviam indicado aos meus maiores. Reunida a Assembleia Nacional Constituinte, está ela investida, segundo a doutrina jurídica vigente, de poderes soberanos. E, no exercício desses poderes, pôs-se ela ao alcance de todos os brasileiros para lhes ouvir a voz e lhes conhecer os anseios.

Na condição de continuador de linhagem tão intimamente unida à História da Pátria, e por isso mesmo destinada ao serviço desta por um liame de natureza histórica e afetiva superior até mesmo a quaisquer cogitações políticas, consideram esses abnegados brasileiros que, neste momento, não me devo calar. E bem vejo que lhes assiste toda a razão.

Este é o motivo pelo qual, Srs. Constituintes, eu me dirijo a V. Exas., a fim de lhes manifestar alguns desejos apresentados com simpatia e apreço.

EM MEIO À CONVULSÃO UNIVERSAL, OS ANSEIOS DE UM POVO CRISTÃMENTE ALTANEIRO E BOM

Estou persuadido de que nosso povo, altaneiro, religioso e bom, nada tem de comum com as vozes enganadoras que de todas as partes se levantam, fazendo ouvir sentimentos de discórdia e anseios de convulsão.

Não é em direção ao que elas apontam que o Brasil deve rumar. A medida em que a dureza das circunstâncias internacionais presentes vai acirrando os ânimos, o povo brasileiro resiste ao convite universal para a concorrência, para a rivalidade e para um desfecho de proporções apocalípticas. E lhe resiste, não só porque tal é o seu interesse – e, bem entendido, é seu direito incontestável – mas porque ele é cristão e bom, e em todas as circunstâncias o primeiro impulso de sua alma é a procura da concórdia, sob o bafejo do afeto.

UNIDADE E CONTINUIDADE HISTÓRICA BRASILEIRAS, AMEAÇADAS POR EXORBITANTE INTERPRETAÇÃO DO PASSADO

Não permitam, Srs. Constituintes, que por razão alguma se dilacere em disputas artificiais e acres nossa unidade nacional. O que indubitavelmente se daria caso se consentisse no retalhamento de nosso País para a formação de como que “nações” encravadas na nossa, portadoras de uma herança étnica e cultural apresentada como se, em muitos de seus aspectos, fosse insusceptível de integração harmônica no Brasil. A tal o convidam teólogos e sociólogos, pensadores sem tino, entre os quais não falta até quem malsine a hora em que as caravelas com a Cruz de Cristo abordaram nosso litoral, trazendo com os missionários as benções, as promessas e as riquezas espirituais da Civilização Cristã. E quem ademais vê como transgressores do direito de propriedade dos povos que aqui estavam, os bravos lusos que, ao ocuparem as imensidões ermas de nosso território, cumpriam o preceito divino “Crescei e multiplicai-vos, povoai toda a terra” (Gênesis, I, 28).

Proteção ao querido povo indígena, manutenção de suas características, tudo isto lhes desejo para que, sem se dissolverem na Pátria comum, sejam elementos positivos para a caracterização dessa fraternal soma de raças e de povos que é chamado a ser o Brasil.

A LUTA DE CLASSES, VIA QUE O BRASIL INTEIRO REJEITA

Igualmente recuso-me a ver nas relações entre capital e trabalho uma liça de atritos cada vez mais agressivos. Injustiças as há onde quer que existam homens. E cumpre que todos – os legisladores quiçá mais do que ninguém – tratem de as extirpar. A erradicação das injustiças não pode, porém, ter como rota a luta de classes, em que elas se acirram, e caminham para se tornar fratricidas. Isto, de alto a baixo de sua estrutura sócio-econômica, os brasileiros o querem. A luta de classes não é substâncias das relações capital-trabalho, mas sim a degenerescência delas. Sobram-nos os recursos para com sagacidade, firmeza e prudência, aperfeiçoar cada vez mais – no âmbito da propriedade privada e da livre iniciativa, aprimoradas pela observância das respectivas funções sociais – relações inspiradas pela justiça e pela caridade cristãs. O que peço a V. Exas. é a colaboração de todos para essa meta comum.

Há nisto uma utopia, poderão objetar, rindo-se, patrícios nossos inspirados por influências alienígenas.

Mas minha resposta é que se o Estado não extravasar de suas atribuições, se ele defender a propriedade privada e a livre iniciativa, se ele favorecer a caridade e se, sobretudo, ele franquear ao trabalho dos pobres seu latifúndio imenso de terras devolutas, ser-lhe-á possível resolver uma questão social que tantos se empenham em pintar com cores exageradamente negras, para apresentá-la como irremediável sem uma convulsão sócio-econômica.

REFORMAS INJUSTAS E LIBERTICIDAS – TEMERÁRIO MINGUAMENTO DAS ATRIBUIÇÕES DAS FORÇAS ARMADAS

A liberdade... quanto se fala dela! E quantos pensam caminhar em direção a ela, mas de fato andam rumo à tirania! A partir do momento em que o Poder Público, por sucessivas reformas – agrária e urbana, esta última tanto aplicada a bens fundiários quanto a indústrias comerciais – esteja investido do suposto direito de desapropriar a preço vil quaisquer terras, imóveis urbanos ou empresas do País, quem, no Brasil, continuará a ser verdadeiramente livre?

E se porventura se retirarem a nossas Forças Armadas sua natural atribuição de garantir a ordem interna, a quem se dará liberdade, senão à mazorca e até à revolta?

Não é o caso de entrar em pormenores. Esses poucos pontos, a que aludo como que de passagem, bem indicam o rumo geral que desejo para nossa Pátria.

A LIBERDADE DE AÇÃO MONARQUISTA, NUM BRASIL EM QUE ATÉ A PROPAGANDA COMUNISTA É LIVRE

E esta liberdade que desejo a todos, desejo-a também para aqueles dentre os brasileiros que se voltam para mim neste momento, com especial esperança de apoio e de orientação.

Não lhes seja negada agora, Srs. Constituintes, a liberdade que V. Exas. se gloriam de ver reconhecida a toda a Nação, e isto a tal ponto que, mesmo a homens que se destacaram na luta por vezes cruenta da mais extremada esquerda, ela é reconhecida. E lhes são franqueadas funções das mais altas no Estado.

Assim, aos que seguem a linha de pensamento pacífica, ordeira, impregnada de espírito de colaboração como são os monarquistas, não sejam vedados na nova Constituição direitos iguais aos que são concedidos aos mais impetuosos dentre os comunistas.

Com efeito, estou persuadido de que há todas as razões para admitir que o regime monárquico atua, de per si, do modo mais eficaz para ajudar o Brasil a que saia com felicidade do conjunto de crises que ameaçam submergi-lo. E penso que, para todos os brasileiros animados por tal persuasão, é um direito e é um dever atuar no sentido de que esse regime se estabeleça no Brasil.

Estou de acordo, pois, em que devemos pedir à atual Constituinte que não inclua, no futuro texto constitucional, a “cláusula pétrea” que foi fixada na Constituição de 1891. Essa cláusula proibia, como sabem V. Exas., que fosse objeto de consideração do Legislativo qualquer proposta de modificação da forma republicana de governo (art. 90, § 4º). O mesmo dispositivo foi inexplicavelmente repetido pelas Constituições de 1934 (art. 178, § 5º), de 1946 (art. 217, § 6º) e pela de 1967, atualmente em vigor (art. 47, § 1º). Essas Constituições, que reconheciam a todos os brasileiros, sem distinção, o direito de manifestar livremente o seu pensamento, de fato faziam uma distinção, excluindo uma categoria deles. Eram os monarquistas, impedidos discriminatoriamente de organizarem e de trabalharem legalmente para a vitória de sua causa por via eleitoral.

O “APARTHEID” IDEOLÓGICO CONTRA OS MONARQUISTAS CONTRADIZ O REGIME REPUBLICANO

Esse singular “apartheid” ideológica se torna, no Brasil de hoje, tanto mais incoerente quanto o regime de Abertura foi constituído sob o lema da repulsa a todas as discriminações e “apartheids”. A manutenção da referida “cláusula pétrea” no Brasil não tem, portanto, a menor razão de ser.

Quando o Império era vigente, aliás, tal discriminação não se suportaria contra os republicanos, que aqui gozavam de toda a liberdade. Se coisa diversa acontecesse, muitos dentre os próprios monarquistas haveriam de cerrar fileiras em torno de seus adversários políticos, para que tal liberdade lhes fosse concedida.

Como explicar que o regime republicano – o qual se pretende ainda mais cioso das liberdades do que o regime monárquico – tolha entretanto à causa monárquica o direito de existir no coração de muitos brasileiros, de se propagar e de disputar ante o País livres as preferências para si mesmo? Não é isto amordaçar o País, impedindo-o de escolher seus rumos quando e como ele quiser?

A “CLÁUSULA PÉTREA”: PARA OS MONARQUISTAS, AMORDAÇAMENTO DISCRIMINATÓRIO, PARA OS REPUBLICANOS, DESPRESTÍGIO

À vista das circunstâncias aqui expostas apresento, pois, à Assembleia Nacional Constituinte este pedido: que em nossa nova Carta Magna não seja mantida a “cláusula pétrea” que consta do Substitutivo ao Projeto de Constituição atualmente em tramitação (art. 92, § 4º, II).

A ser recusada a liberdade a que temos direito, que resultaria disso? Para os próprios republicanos, apenas desprestígio aos olhos da opinião mundial. Pois ficaria patente que, decorrido quase um século da proclamação da República, esta última ainda não sente arraigo popular suficiente para ser coerente consigo mesma e enfrentar sem apreensões a oposição monárquica. O que a mostraria consciente de que esse espírito monárquico ainda lateja no fundo do coração de incontáveis brasileiros.

Por outro lado, a inocuidade da aludida discriminação se revela pelo próprio fato de que, em 1987, quase nos umbrais do século XXI, ainda a solução monárquica se apresenta à Constituinte como uma eventualidade. Como uma eventualidade para a qual olha com esperança, ou com uma interrogação carregada de simpatia, um crescente número de brasileiros. Não prova isso, mais do qualquer outro argumento, o quanto foi contraproducente aquela medida de rigor? Por que mantê-la então?

* * *

Na esperança de que V. Exas., Srs. Constituintes, ponderem os argumentos aqui expostos e tomem em consideração esses meus anelos, manifesto-lhes desde já meu agradecimento. Incontáveis brasileiros, monarquistas ou não, não compreenderiam da parte de V. Exas. outra atitude. E não só eles hoje, mas a História amanhã, não lhes regatearão aplausos se V. Exas., coerentes consigo mesmas, reconhecerem a liberdade de ação dos brasileiros monarquistas.

Peço a Deus que ilumine os Srs. Constituintes, para que dotem nosso País de uma Constituição realmente condizente com os sagrados direitos e os altos interesses de nossa Pátria.

Luiz de Orleans e Bragança

OS VOLUNTÁRIOS NO EXÍLIO IMPERIAL

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Após o golpe de 15 de novembro de 1889, que implantou a República no Brasil contra a vontade popular, a Família Imperial Brasileira foi forçosamente exilada. A bordo do vapor Alagoas, que levou o Imperador Dom Pedro II e sua Família para a Europa, seguiram também outras personalidades, que decidiram se auto-exilar, por amizade e respeito ao Soberano deposto.

Foram o Conde de Mota Maia, médico da Casa Imperial e amigo pessoal do Imperador; o Barão e a Baronesa de Loreto, esta última, Dona Maria Amanda Lustosa Paranaguá Dória, amiga de infância da Princesa Imperial Dona Isabel; o Barão e a Baronesa de Muritiba, que foram, respectivamente, o último Procurador do Império e Dama do Paço Imperial; e o engenheiro negro e abolicionista André Rebouças, que teve seus estudos pagos pelo Imperador e com quem o Soberano passava horas conversando.

Esses “exilados voluntários”, junto a outros brasileiros que chegaram depois, e outros que já se encontravam na Europa, formavam uma espécie de Corte Imperial informal no exílio. Outros tantos monarquistas fiéis, que permaneceram no Brasil, serviam como canal de comunicação entre a Família Imperial e os brasileiros, como os membros do Diretório Monárquico do Brasil, organizado, em 1890, pelo Visconde de Ouro Preto, último Presidente do Conselho de Ministros do Império.

A “Lei do Banimento” (Decreto número 78-A, de 21-12-1889), que proibia os membros da Família Imperial de retornarem ao Brasil, foi revogada em 1920, pelo então Presidente da República, Dr. Epitácio Pessoa (Decreto número 4.120, de 3-9-1920). Entretanto, devido a dificuldades da ordem prática, causadas justamente por esse banimento injusto – se não inconstitucional, e que foi o mais longo exílio político da história do Brasil –, a Família Imperial permaneceu vivendo em situação de exílio até 1945.

Foto: Dona Maria José Velho de Avelar Vieira Tosta, Baronesa de Muritiba (sentada), junto a S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, então Chefe da Casa Imperial do Brasil, sua mãe, S.A.I.R. a Princesa Imperial Viúva do Brasil, Dona Maria Pia de Bourbon-Sicílias de Orleans e Bragança, e irmãos, S.A.I.R. o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Luiz Gastão de Orleans e Bragança, e S.A.R. a Princesa Dona Pia Maria de Orleans e Bragança, em foto tirada em Cannes, França, no ano de 1927.

A MONARQUIA E O TRABALHADOR

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Em um momento em que se discute a reforma na Previdência Social e alterações nos direitos trabalhistas, gostaríamos de lembrar a relação da Família Imperial Brasileira com esses assuntos.

Por decreto de 26 de março de 1888, a Princesa Imperial Dona Isabel, então Regente do Império, inaugurou a Previdência Social, regulamentando o direito à aposentadoria dos funcionários dos Correios. Para isso, estabeleceu-se a necessidade de 30 anos de serviço e idade mínima de 60 anos.

Duas décadas depois, estando a Família Imperial no exílio, seu filho e herdeiro, o Príncipe Imperial Dom Luiz, cognominado o "Príncipe Perfeito", em seu Manifesto de 1909, destinado aos monarquistas brasileiros, propunha a inserção de uma legislação trabalhista inspirada em modelos europeus, fazendo-se as devidas adequações à realidade brasileira.

Palavras dele: “Nem deverá a Monarquia esquecer-se dos grandes problemas que precisam de uma solução na sociedade moderna. Fomentar a aliança do capital e do trabalho por leis similares, porém adaptadas a nossas condições econômicas, às das grandes monarquias europeias, tais como Alemanha, Inglaterra e Itália, dissipar por esse meio as desconfianças que hoje existem entre as duas classes produtoras, garantir o trabalho dos operários e o capital dos patrões são reformas essas que um governo de forma monárquica muito melhor do que qualquer outro pode encarar; pois estável a detenção do poder em uma família, o Chefe de Estado não precisa cortejar o voto do proletário, nem pedir o auxílio dos ricos para as campanhas eleitorais".

Na mesma linha segue S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, defendendo em suas "Propostas Básicas com vistas à Restauração da Monarquia no Brasil" que: “Esse esforço comum deve buscar a convivência harmônica e pacífica das diversas classes sociais, com equilíbrio entre ricos e pobres e entre capital e trabalho, de modo a que a opção preferencial pelos necessitados coexista com o respeito a todos os direitos adquiridos, para a ordenação cristã do País e sua caminhada vivaz e realizadora rumo à grandeza que lhe compete no concerto das nações.”

Na Monarquia, o Imperador, com a neutralidade que lhe é característica, poderia mediar melhor a relação entre empregado e empregador, visando o bem comum, sem se deixar influenciar por interesses de grupos específicos.

A INFÂNCIA E FORMAÇÃO DE UM PRÍNCIPE

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Segue relato de S.A.R. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, terceiro na linha de sucessão ao Trono, feito durante entrevista ao boletim “Herdeiros do Porvir”, acerca de sua infância e formação familiar em uma fazenda no norte do Estado do Paraná, junto aos seus pais e onze irmãos e irmãs:

Foi uma formação maravilhosa, apesar de toda dificuldade. Não tínhamos eletricidade em nossa fazenda de Jundiaí do Sul e o médico ficava a duas horas, e isso quando não chovia... Uma vida com a educação acima descrita [de acordo com os valores da Igreja e voltada para o serviço à Pátria], mas com total liberdade.

Saíamos o tempo todo a cavalo e apenas tínhamos os deveres da escola a cumprir. Os horários eram rígidos: café da manhã, almoço e jantar. Se chegasse atrasado, não almoçava. Dormíamos com os passarinhos e acordávamos com os passarinhos. A única escola em Cinzas era um grupo escolar. Os quatro primeiros anos do curso primário estudei em Cinzas e ia a cavalo.

Para nós foi um aprendizado formidável. Aprendemos com nosso pai o que era certo ou errado. A principal linha de meus pais era a formação católica, espinha dorsal de tudo que fazíamos. Tínhamos a liberdade de sair a cavalo, mas sempre dizíamos para onde: “Vou para a fazenda, para a administração, para a cidade”.

O bom desse quase isolamento na fazenda foi que nossa família ficou muito unida, num convívio muito intenso entre nossos pais e nós. Lembro-me de que muitas vezes saia com meu pai para ver o gado, as plantações, todo o desenvolvimento da fazenda, tanto eu quanto meus irmãos, algumas vezes a cavalo, outras no carro de meu pai, uma Rural Willys. Sinto pena de meus filhos, porque não tiveram, como eu, a oportunidade dessa vida de fazenda.

Outra coisa que aprendemos foi o respeito aos empregados, ao mesmo tempo em que éramos respeitados por eles. Na época, não havia rivalidade entre patrão e empregado. Os colonos eram considerados como que membros da família. Existia, entre todos, grande harmonia. Quando chovia, o carro atolava e chamávamos o trator para nos socorrer. Temos a foto da Primeira Comunhão de Dom Francisco: voltando para casa, o carro atolou e a roupa branca dele ficou toda suja de lama... Pescava com meus irmãos e colonos nos momentos de folga.

Sempre tivemos o exemplo de nossos pais nas dificuldades econômicas, mas sempre com esperança e fé na Providência Divina. Era admirável a fé de minha mãe, que sempre dizia: “Deus ajuda as famílias numerosas. Apesar das dificuldades, Deus está junto e ajuda”. Meus cinco irmãos mais novos nasceram na fazenda, e não em Casa de Saúde, graças à fé de meus pais.

Dom Luiz estudava, nessa época, na Alemanha, e quando vinha para a fazenda era uma grande festa. Tinha uma alegria contagiante e trazia presentes para todos, com aquela bondade que lhe é peculiar. Não foi muito correto de minha parte, mas quando eu estudava num colégio interno de Jacarezinho, simulei uma gripe, para que papai me levasse para casa, pois estava louco para ver Dom Luiz... Infelizmente, logo tive que voltar ao colégio, mas só a felicidade de vê-lo por instantes valia a pena. Ele vinha uma vez por ano e, para nós, era verdadeiro júbilo.

Foto: S.A.R. o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança (o segundo menino da direita para esquerda) e seus três irmãos mais próximos em idade, SS.AA.RR. os Príncipes Dom Fernando, Dom Francisco e Dom Alberto de Orleans e Bragança, durante momento de lazer na Fazenda Santa Maria, então residência da Família Imperial Brasileira, em 1962.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

NOSSO POVO NÃO É EDUCADO PARA ISSO

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"Nicolau, jovem e ingênuo, foi mal preparado pelo pai, que sempre evitou lhe dar responsabilidades. Sua irmã, Olga, fora muito clara quando falou do assunto: era tudo culpa do pai deles: "Ele nem mesmo deixava Nicolau sentar-se no Conselho de Estado antes de 1893."

Um ano mais tarde, o desnorteado tsarevich, que até o momento apreciava jogar bilhar no clube de oficiais, ir a teatros, óperas e visitar ciganas, viu-se proprietário de um vasto domínio familiar ancestral, com milhares de camponeses o chamando de "paizinho", e confiando a ele, suas vidas.

Só havia agora uma maneira de suportar o imenso e interminável dardo dos documentos oficiais, muitos deles tediosos, e absolutamente triviais, que se acumulavam com muita rapidez em sua mesa, já que ele dispensava uma secretária. Ele adotou uma rotina rigorosa. Tudo em sua vida diária era sistemático, desde a arrumação de suas canetas e lápis, e a forma de como escrevia suas cartas.

Sua calma [que as vezes era até interpretada como indiferença], não podia substituir a ausência de um comportamento típico de um monarca, ou o fato de que, sempre que se via em uma situação difícil ou de embate, ele era incapaz de ser severo com as pessoas em sua frente.

Indeciso, ele raramente agia de acordo com a opinião de alguém que não a de sua esposa [que ficava frustrada com a sua vacilação, o aconselhando a ser um verdadeiro autocrata], mas quando algo dava errado, ele jogava a culpa em cima de seus ministros, os demitindo.

Ele não tolerava perder o controle. Preferia a mediocridade profissional daqueles que não o desafiavam e falavam aquilo que ele queria escutar. Quando homens como o ministro Sergei Witte das finanças, e o primeiro-ministro, Pyotr Stolypin, davam orientações políticas decididas, sugerindo reformas socio-políticas, ele, fiel ao seu juramento à autocracia na sua coroação, e às "políticas de papai'', considerava tais atitudes uma usurpação de suas prerrogativas.

Ele particularmente se esquivava da companhia de modernizadores e representantes da cultura contemporânea, preferindo os rituais e etiquetas retrógradas daquilo que para ele era a segura velha ordem. As massas russas eram incapazes de lidar com qualquer outra forma de governo, e ele continuava acreditando que somente sua visão era a válida para o povo russo, disso Nicolau e Alexandra tinham certeza, e ninguém era mais eloquente do que ela ao expressar tal opinião: "Não somos um país constitucional, nem arriscaremos ser; nosso povo não é educado para isso."

Fonte: Os Últimos Dias dos Romanov, Helen Rappaport

TODAS AS VÍTIMAS ENTERRADAS JUNTAS

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"Uma vez que os ossos tivessem sido autenticados pelos cientistas, a decisão do governo russo seria quanto ao lugar para enterrá-los. Oficialmente, a decisão ficava ente duas cidades: Ekaterinburg, onde a família fora assassinada e os ossos encontrados, e São Petersburgo, onde por 300 anos os czares e imperatrizes Romanov foram enterrados.

Havia muitos fatores a considerar, inclusive questões de religião e de tradição, mas no fim a decisão recairia puramente no poder político.

O príncipe Nicolau Romanov, considerado chefe da família, até 2014, pelos opositores de Maria Vladmirovna [que defendia a separação dos corpos em covas importantes e menos importantes] insistiu apaixonadamente que os restos não fossem separados.

“Escrevi duas vezes ao patriarca. Falei com ministros do governo, e falei em público pela televisão russa: nós, Romanov, queremos que todos, todas as vítimas do massacre, sejam enterrados juntos, no mesmo lugar, na mesma catedral, e eu diria que no mesmo sepulcro.

 Querem enterrar o czar na Catedral Fortaleza de São Pedro e São Paulo? Ótimo! Então, enterrem o médico, a camareira e o cozinheiro lá também, no mausoléu do czar. Estiveram juntos por 73 anos. São os únicos que nunca traíram a família. Merecem ser honrados ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Se os russos de hoje não entendem isso, mesmo se alguns Romanov forem ao funeral, eu não irei.”

O presidente da Rússia, Boris Yeltsin, também nasceu nos Urais, mas passou para um estágio mais amplo, onde sua frágil presidência precisava de todo apoio possível. Politicamente, o apoio de Anatoly Sobchak, prefeito de Petersburgo, é essencial para Yeltsin, e Sobchak está decidido a enterrar os restos em São Petersburgo.

A cerimônia, contudo, foi adiada várias vezes, e prorrogada por anos, pois enquanto os cientistas discutiam, a comissão ponderava, os líderes da Igreja exigiam mais provas e os emigrados disparavam acusações, os restos terrestres do último imperador russo, sua família, três de suas filhas e quatro fiéis servidores jaziam em mesas de metal numa salinha no segundo andar do necrotério de Ekaterinburg.

Finalmente, em 17 de julho de 1998, no 80° aniversário da execução, as ossadas de Nicolau, Alexandra, três irmãs, e os demais empregados [algo sem precedentes, já que aquele era o mausoléu imperial] foram enterrados na Catedral de São Pedro e Paulo."

Fonte: Os Romanov, o Fim da Dinastia, Robert K. Massie

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FUZILADOS SEM FORMALIDADES BURGUESAS

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"Durante esses anos, a Casa de Ipatiev, que foi construída durante os anos 1880, virou um museu da revolução, um museu antirreligioso, centro do Conselho da Sociedade Ateia, dos Arquivos Regionais do Partido e o escritório do reitor da Universidade Comunista Ural-Siberiana.

As paredes ostentavam fileiras de retratos de líderes bolcheviques e, se fossem nativos dos Urais, seus chapéus, casacos e medalhas ficavam expostos em vitrines. Cartazes e diagramas aclamavam as glórias do comunismo, mostrando que fora produzida uma quantidade muito maior de tratores, aviões, toneladas de aço e conjuntos de roupas de baixo nos tempos de Stalin do que nos do czar.

Um quarto no andar de cima foi dedicado aos Romanov, com excertos do diário de Nicolau, páginas do diário de Alexei e a primeira página de um jornal de Ekaterinburg com a manchete:

EXECUÇÃO DE NICOLAU, O ASSASSINO SANGUINÁRIO COROADO – FUZILADO SEM FORMALIDADES BURGUESAS, MAS CONFORME NOSSOS PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICOS.

O porão não fazia parte do museu. Cheio de caixas velhas empilhadas até o teto, fora transformado em depósito.

Os visitantes da Casa de Ipatiev, forçosamente cidadãos soviéticos, viam os retratos, cartazes e diários, e saíam para se misturarem aos outros na Praça da Revanche do Povo. Não tinham simpatia pelos Romanov.

A família imperial era só uma parte da história, condenada, seus diários em vitrines de museu não eram mais relevantes. Mas o Partido e a KGB nunca esqueceram. Em 1977, o diretor da KGB Yuri Andropov convenceu o presidente Leonid Brezhnev de que a Casa de Ipatiev havia se tornado um local de peregrinação de monarquistas incógnitos.

Foi expedida uma ordem do Kremlin para o primeiro-secretário da Região de Sverdlovsk, um nativo siberiano chamado Boris Yeltsin, para destruir a casa no prazo de três dias. Na noite de 27 de julho de 1977, uma enorme bola de demolição pendurada num guindaste, acompanhado por escavadeiras, chegou à frente da casa. Pela manhã, o prédio estava reduzido a tijolos e pedras descarregados no lixão da cidade."

Os Romanov, o Fim da Dinastia

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EX-CZAR FUZILADO EM EKATERINBURG!

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"Desde o começo, o aniquilamento dos Romanov – a execução e o desaparecimento dos corpos – havia sido aprovado por Moscou. Até junho de 1918, as lideranças bolcheviques não sabiam bem o que fazer com a família imperial.

Já mantendo os prisioneiros em Ekaterinburg, o Soviete do Ural era veementemente a favor da execução. Leon Trotsky, o exacerbado comissário vermelho, queria um julgamento público do ex-czar em Moscou, com transmissão nacional de rádio, em que ele, Trotsky, seria o promotor. Lênin, sempre pragmático e cauteloso, preferiu manter a família como peões no jogo que sustentava com a Alemanha.

Em abril, a Rússia Soviética havia assinado o Tratado de Brest Litovsk com a Alemanha Imperial, negociando a paz em troca de um terço da Rússia Europeia e todo o ocidente da Ucrânia para ocupação alemã. Milhões de russos ficaram perplexos diante dessa decisão, que foi considerada uma traição.

Outra complicação, foi que a imperatriz Alexandra era alemã e prima-irmã do kaiser Wilhelm. Agora que a Rússia estava fora da guerra, o novo embaixador alemão em Moscou, conde Wilhelm Mirbach, deixou clara a preocupação de seu governo com relação à segurança de Alexandra e suas quatro filhas.

Lênin não tinha intenção de antagonizar os alemães, principalmente naquele momento. No começo de julho, a guerra civil e a intervenção estrangeira ameaçavam o domínio bolchevique na Rússia. Além dos alemães no oeste e no sul, fuzileiros navais norte-americanos e soldados britânicos haviam desembarcado no norte, em Murmansk. Na Ucrânia ocidental, os generais Alekseyev, Kornilov e Deniken haviam organizado um Exército Branco de voluntários.

Em meio a essa confusão, a ideia de um julgamento espetacular de Nicolau parecia sem sentido, irrelevante. Os próprios Romanov já pareciam meio supérfluos, quase um estorvo. Era melhor não arriscar para eles não caírem em mãos erradas.

Sverdlov relatou essa situação a seu amigo Filipp Goloschekin, membro do Soviete Regional do Ural. Assim, o último contou a seus companheiros do Soviete Regional do Ural que os Romanov não tinham mais utilidade para o governo e deixava a cargo do comitê decidir o momento e a maneira de dispor da família.

O Soviete do Ural votou imediatamente pela execução de todos. Comandante da Casa de Ipatiev, Yurovsky, recebeu ordens para fuzilar os prisioneiros e destruir todos os vestígios do que tinha acontecido.

O comunicado oficial redigido por Sverdlov e enviado para os jornais Pravda e Izvestia também omitiu o fato de que a esposa, as filhas e o filho de Nicolau haviam sido mortos junto com o czar. Em 20 de julho, apareceram jornais em Moscou e em São Petersburgo anunciando:

EX-CZAR FUZILADO EM EKATERINBURG! MORTE DE NICOLAU ROMANOV!

No mesmo dia, o Soviete do Ural pediu autorização para publicar: “O ex-czar e autocrata Nicolau Romanov foi fuzilado juntamente com sua família... Os corpos foram enterrados.” O Kremlin proibiu essa divulgação porque mencionava a execução da família.

Somente em 22 de julho, os editores de jornais de Ekaterinburg foram autorizados a publicar a versão manipulada por Moscou sobre o que acontecera na cidade."

Fonte: Os Romanov, o Fim da Dinastia, Robert K. Massie

O CÔMODO DO PORÃO ERA SINISTRO

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"Apenas oito dias após o massacre, Ekaterimburgo caiu sob o ataque do Exército Branco, e alguns oficiais correram à Casa de Ipatiev. O prédio estava praticamente vazio. Havia escovas de dentes, de cabelos, pentes, alfinetes e ícones pisoteados espalhados pelo chão.

Nos armários, pendiam cabides vazios. A Bíblia de Alexandra ainda estava lá, com passagens fortemente sublinhadas, flores e folhas secas entre as páginas. Também restavam vários livros religiosos, um volume de Guerra e Paz, três de Tchekhov, uma biografia de Pedro, o Grande, um volume de Contos de Shakespeare e Les Fables de la Fontaine.

Num dos quartos, encontraram uma mesinha de bordas arredondadas, onde o czarevich fazia as refeições e brincava com jogos na cama. Ao lado, um manual de instruções para tocar balalaica. Na sala de jantar, perto da lareira, estava a cadeira de rodas.

O cômodo no porão era sinistro. Ainda havia traços de sangue nos rodapés. O piso amarelo, rigorosamente lavado e escovado, apresentava marcas de balas e de baionetas. As paredes estavam laceradas por buracos de balas. Faltavam grandes partes do reboco da parede contra a qual a família fora enfileirada.

Uma busca imediata pela família não levou a lugar nenhum. Somente seis meses depois, em janeiro de 1919, teve início uma investigação minuciosa quando o almirante Alexander Kolchak, “Chefe Supremo” do Governo Branco da Sibéria, confiou a tarefa a um investigador jurídico profissional, de 36 anos, chamado Nicolai Sokolov.

Tão logo a neve começou a derreter, Sokolov iniciou o trabalho nos Quatro Irmãos. A trilha na floresta ainda apresentava os sulcos profundos das rodas das carroças e do caminhão. A terra em torno dos poços estava pisoteada, marcada por patas de cavalos.

Galhos cortados e queimados flutuavam no Poço de Ganin e na entrada estreita da outra mina. As paredes da mina mais profunda traziam evidências de explosões de granadas. Havia vestígios de duas fogueiras, uma na beira da entrada estreita da mina e outra no meio da estrada da floresta.

Para esse trabalho de reconhecimento, teve ajuda de dois tutores do czarevich: Pierre Gilliard, que dava aulas de francês, e Sidney Gibbes, professor de inglês. Ambos haviam permanecido em Ekaterinburg depois que a família imperial fora encerrada na casa.

Entre as evidências identificadas e catalogadas pelos homens desolados estava a fivela do cinto do czar, uma fivela militar de tamanho infantil que o czarevich usava, uma cruz de esmeralda, chamuscada, que a imperatriz viúva Maria tinha dado à imperatriz Alexandra, um brinco de pérola do par sempre usado por Alexandra, a Cruz de Ulm, o distintivo comemorativo adornado com safiras e diamantes presenteado à imperatriz pela própria Guarda de Uhlan de Sua Majestade, um estojinho de bolso de metal, em que Nicolau trazia sempre o retrato da esposa, três pequenos ícones das grã-duquesas, a caixa de óculos da imperatriz, seis conjuntos de corpetes femininos, fragmentos de bonés militares usados por Nicolau e seu filho, fivelas de sapatos pertencentes às grã-duquesas, os óculos do dr. Botkin e sua dentadura superior com catorze dentes.

Havia ainda alguns ossos calcinados, parcialmente destruídos por ácido e com marcas de machado, balas de revólver e um dedo humano, delgado e bem manicurado como os de Alexandra tinham sido. Sokolov recolheu também vários pregos, papel-alumínio, moedas de cobre e um pequeno cadeado, o que o deixou intrigado até mostrar essas peças a Gilliard.

O tutor imediatamente identificou-as como parte das quinquilharias que o czarevich carregava no bolso. Por fim, esmagado, mas não queimado, os investigadores encontraram o corpo decomposto do spaniel de Anastácia, Jemmy."

Fonte: Os Romanov, o Fim da Dinastia, Robert K. Massie

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COMO MATÁ-LOS?

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"Mas será que eles tomaram a decisão correta quanto ao modo de matar todos eles? O fato era que Yurovsky, embora fosse absolutamente impiedoso rumo ao comprimento de sua tarefa, não sabia qual seria a melhor opção de matar 11 pessoas, tampouco tinha certeza sobre a logística adequada para se livrar de tantos corpos.

Executar o czar era uma coisa, porém matar a família inteira e seus serventes, e ainda conseguir, como ordenado, manter segredo, era outra coisa completamente diferente. E depois, havia a pressão extra de garantir que nenhum rastro fosse encontrado pelos monarquistas, que se aproveitariam da ignorância dos mais devotos entre os camponeses, e usariam qualquer achado como "miraculosa relíquia sagrada" para angariar apoio contra os bolcheviques.

O método preferido de execução da polícia bolchevique, a Cheka, era levar as vítimas para a floresta, e atirar na parte de trás da cabeça delas. Outros sugeriram que, para se desfazer dos corpos, amarrassem-os com pesos de ferro e os jogassem no lago Iset.

Esse método podia funcionar quando era uma única vítima, mas levar outras 10 aterrorizadas para uma floresta escura, era impossível, e um camponês poderia aparecer por lá, mesmo num ponto tão remoto. Ele ainda teria que impedir o eventual estupro das garotas, ou a procura por joias.

As execuções teriam que ser dentro da casa, e sugeriram que a família fosse morta enquanto dormia. Outro, chegou a propor que trancassem as vítimas num quarto e jogassem granada. Mas isso seria muito barulhento, e a estrutura da casa poderia ser comprometida.

A única maneira viável era levá-los ao porão da casa, em um cômodo pequeno, onde não poderiam fugir, e o som dos disparos seria abafado pelo som do motor de um caminhão ligado, de madrugada, enquanto a maioria das pessoas estivesse dormindo. Em um outro quarto, que ficava perto, sempre havia um guarda com uma metralhadora.

A única fuga possível seria pela linha de tiro. De lá, os corpos teriam de ser destruídos com ácido e fogo nas clareiras escolhidas por esse propósito. Enquanto o plano lúgubre era finalizado, na manhã de 16 de julho, Olga ajudava a mãe a organizar "nossos remédios".

Este era o código para costurar as joias delas nos roupas, indicação de que, por conta da situação instável em Ekatarimburgo, elas imaginavam serem transferidas de novo, e queriam ter certeza que as joias mais preciosas não fossem entregues a Yurovsky.

Cordões de pérolas, safiras, rubis e diamantes continuaram bem escondidos. O resto da família foi dar o curto passeio habitual no jardim. O último de suas vidas."

Fonte: Os Últimos Dias dos Romanov, Helen Rappaport

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A INDÚSTRIA E O TRABALHADOR

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"Os primeiros sinais de industrialização na Rússia apareceram mesmo [tardiamente, visto que outras regiões, como a Inglaterra, começaram sua industrialização por volta de 1780] sob Nicolau I [bisavô de Nicolau II], quando uma linha ferroviária foi concluída de São Petersburgo a Moscou, em 1851.

Era uma realização de prestígio, mas era ao mesmo tempo, um início sucinto. A Rússia era grande e a construção ferroviária nunca adquiriu totalmente o impulso que proporcionaria ao país uma rede suficientemente densa [mesmo que, por volta de 1876, tivesse crescido muito consideravelmente].

Além do transporte de mercadorias ou de passageiros, isso era necessário para o movimento rápido das tropas, como foi feito mais uma vez evidente em 1914 [já havia sido aparente durante a Guerra da Criméia]. Nos primeiros dias da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha moveu seus soldados rapidamente o suficiente para evitar ofensas russas ao longo da frente oriental.

Mais de sessenta anos após a conclusão da primeira linha ferroviária substancial, o desenvolvimento das ferrovias russas estava longe de ser equivalente do inimigo alemão.

Além da construção ferroviária, a industrialização russa precoce ocorreu principalmente em matéria têxtil. Mesmo nos últimos anos da servidão, surgiram brocas têxteis que não eram diferentes da Manchester ou Glasgow na Grã-Bretanha. Eles foram fundados em Moscou, São Petersburgo e Ivanovo-Voznesensk no centro da Rússia, bem como na Polônia.

A força de trabalho consistia grandemente de ex-camponeses que já antes da introdução de um processo de produção mecanizada tinha vindo a ganhar renda suplementar tecendo em casa, e pagando aos seus senhores.

Mas os períodos reais de decolagem para a industrialização russa foram as décadas de 1880-90. Financiado por iniciativa privada [incluindo a de alguns estrangeiros], empréstimos estrangeiros e tributação comparativamente alta, especialmente daqueles que menos podiam pagar, o campesinato e, em parte, cobrando em bens de consumo como na vodka.

O governo forneceu infra-estrutura necessária e ativamente iniciou várias empresas, por exemplo, na mineração na Sibéria. Também levantou fundos exportando recursos, como cereais. Os ministros das finanças da época [entre os quais Sergei Witte merece um lugar de honra] que orientaram essa política econômica, tentando assim copiar o caminho alemão bem sucedido para a industrialização de meados do século XIX.

A construção da Transiberiana, de 9289 quilômetros, conectando Moscou ao Mar do Japão, foi chefiada grandemente por Witte na década de 1890. Portos-chave ligados às ferrovias como os de Odessa, Riga e Novorossiisk apresentaram um movimentado fluxo de navios, assim como melhores infraestruturais em seu redor.

A produção de carvão, ferro e petróleo continuaram crescendo na década de 1890 na Bacia Donets. A produção perto de Baku, no Azerbaijão, quase triplicou durante a mesma década. Principais cidades nessas regiões em expansão, como Baku ou Ekaterinoslav, viram suas populações duplicarem em dez anos.

Ainda assim, grande parte do império não foi tocado pelas mudanças, pois a indústria tendia a estar fortemente concentrada em algumas áreas.

Em 1900, todavia, quase três vezes mais pessoas trabalhavam como artesãs [fazendo produtos em pequena escala sem ferramentas mecanizadas] do que como trabalhadores industriais: oito a nove milhões eram artesãos e artesãos, quando aproximadamente três milhões encontraram emprego em fábricas e minas.

A maioria das novas fábricas estabelecidas nas últimas décadas do século XIX eram grandes, empregando milhares de trabalhadores. Os seus salários eram baixos [parcialmente porque os trabalhadores realizavam trabalho predominantemente não qualificado] e as condições de trabalho eram duras.

Entretanto, o governo respondeu a pior exploração dos trabalhadores pela legislação. Os marcos da legislação incluíram a proibição do trabalho infantil em 1882 [para crianças com menos do que doze anos]; a limitação da jornada de trabalho até um máximo de onze horas e meia por dia em 1897; e o decreto de 1903 que obrigava os empregadores a compensar os feridos no trabalho em suas empresas.

Os sindicatos, porém, eram proibidos, e as greves proibidas, também. Acidentes eram comuns, com centenas de trabalhadores morrendo em toda a Rússia todos os anos em acidentes industriais e ferroviários."

Fonte: The history of Russia and it's Empire, Kees Boterbloem

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SE NÃO HOUVESSE HEMOFILIA, NÃO TERIA HAVIDO LÊNIN

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"É impossível traçar com exatidão o curso de uma das mais esmagadoras influências desse drama: o gene recessivo que a rainha Vitória passou a seus descendentes. Até recentemente, quando o plasma e fortes concentrados de plasma se tornaram acessíveis, a hemofilia, como outras doenças hereditárias recessivas, tendiam a se extinguir nas famílias afetadas, pelo processo de atrito.

No enorme clã da rainha Vitória, esse padrão foi seguido. Na quarta geração – os bisnetos da rainha – houve seis hemofílicos. Alexei foi um deles. Dois outros foram o príncipe Alfonso das Astúrias e o príncipe Gonzalo, filhos de Alfonso XIII, rei da Espanha.

Ambos morreram em acidentes de carro: Alfonso na Áustria, em 1934, e Gonzalo em Miami, em 1938. Nos dois casos, não fosse a hemorragia incontrolável, não houve ferimentos graves.

A quinta geração da família da rainha Vitória, que inclui tanto a rainha Elizabeth quanto seu marido, o príncipe Philip, está livre da hemofilia, bem como a sexta geração. É possível que o gene mutante ainda exista em estado latente entre as descendentes da rainha Vitória, e possa surgir de repente num menino no futuro.

Mas com o passar das sucessivas gerações essa possibilidade, já distante, se tornará extremamente remota. Kerensky disse: “Se não houvesse Rasputin, não teria havido Lênin.” Se isso é verdade, é também verdade que, se não houvesse hemofilia, não teria havido Rasputin. Isso não quer dizer que tudo o que aconteceu na Rússia e no mundo consequentemente, teve origem unicamente na tragédia pessoal de um único menino.

Não é para subestimar o atraso e a insatisfação da sociedade russa, o clamor por reformas, a tensão e o desgaste de uma guerra mundial, a natureza gentil e retraída do último czar, e a histeria da impopular imperatriz. Tudo isso teve um impacto muito forte, contundente, sobre os acontecimentos. Mesmo antes do nascimento do czarevich, a autocracia já estava em retrocesso."

Fonte: Nicolau e Alexandra, Robert K. Massie

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Веселого Рождества [VESELOGO ROZHDESTVA; FELIZ NATAL]

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A tradição de instalar e decorar um Ёлка [pinheiro] para o Natal remonta ao século XVII, quando Pedro, o Grande, importou a prática como resultado de suas viagens a Europa. Pedro decretou em 1700, que o Ano Novo seria celebrado em 1º de janeiro ao invés de em 1° de setembro e, que "ramos e árvores de abeto, pinheiros e juníperos serão usados ​​para decorar casas e portas nas ruas principais". Após a morte de Pedro, a prática foi esquecida.

Não era um costume até a década de 1840, montar árvores na Rússia. O costume passaria a ser importado pelos alemães. No final dessa década, começaram a vender árvores de natal em Gostiny Dvor, centro comercial de St. Petersburgo. A primeira árvore de Natal pública foi organizada em 1852 no prédio da Estação Ekateringofsky, também na capital imperial.

Provavelmente por iniciativa da imperatriz Alexandra Fedorovna, esposa de Nicolau I, e bisavó do último czar, de origem prussiana, uma árvore de Natal foi instalada, nas câmaras pessoais da família imperial. A árvore poderia ser montada no Palácio de Inverno, em Gatchina, no caso de Alexandre III, ou em Tsarskoe Selo, no caso de Nicolau II.

Sob a doutrina marxista da União Soviética, as celebrações de Natal - juntamente com outras festas religiosas - foram proibidas como resultado da campanha ateísta. Todavia, em 1935, as celebrações e decorações natalinas, que eram celebradas não em 24 de dezembro, mas em 6 de janeiro, conforme o antigo calendário juliano [utilizado na Rússia imperial], foram transferidas para as comemorações do Ano Novo, que, no período imperial, eram comemorados em 14 de janeiro, por conta do calendário, mas com as mudanças vindas da revolução, o calendário, agora gregoriano, se ajustou em 1° de janeiro.

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