Um ano mais tarde, o desnorteado tsarevich, que até o momento apreciava jogar bilhar no clube de oficiais, ir a teatros, óperas e visitar ciganas, viu-se proprietário de um vasto domínio familiar ancestral, com milhares de camponeses o chamando de "paizinho", e confiando a ele, suas vidas.
Só havia agora uma maneira de suportar o imenso e interminável dardo dos documentos oficiais, muitos deles tediosos, e absolutamente triviais, que se acumulavam com muita rapidez em sua mesa, já que ele dispensava uma secretária. Ele adotou uma rotina rigorosa. Tudo em sua vida diária era sistemático, desde a arrumação de suas canetas e lápis, e a forma de como escrevia suas cartas.
Sua calma [que as vezes era até interpretada como indiferença], não podia substituir a ausência de um comportamento típico de um monarca, ou o fato de que, sempre que se via em uma situação difícil ou de embate, ele era incapaz de ser severo com as pessoas em sua frente.
Indeciso, ele raramente agia de acordo com a opinião de alguém que não a de sua esposa [que ficava frustrada com a sua vacilação, o aconselhando a ser um verdadeiro autocrata], mas quando algo dava errado, ele jogava a culpa em cima de seus ministros, os demitindo.
Ele não tolerava perder o controle. Preferia a mediocridade profissional daqueles que não o desafiavam e falavam aquilo que ele queria escutar. Quando homens como o ministro Sergei Witte das finanças, e o primeiro-ministro, Pyotr Stolypin, davam orientações políticas decididas, sugerindo reformas socio-políticas, ele, fiel ao seu juramento à autocracia na sua coroação, e às "políticas de papai'', considerava tais atitudes uma usurpação de suas prerrogativas.
Ele particularmente se esquivava da companhia de modernizadores e representantes da cultura contemporânea, preferindo os rituais e etiquetas retrógradas daquilo que para ele era a segura velha ordem. As massas russas eram incapazes de lidar com qualquer outra forma de governo, e ele continuava acreditando que somente sua visão era a válida para o povo russo, disso Nicolau e Alexandra tinham certeza, e ninguém era mais eloquente do que ela ao expressar tal opinião: "Não somos um país constitucional, nem arriscaremos ser; nosso povo não é educado para isso."
Fonte: Os Últimos Dias dos Romanov, Helen Rappaport