quarta-feira, 27 de junho de 2018

UM CASAMENTO IMPERIAL

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"Entre padres e litanias, ruas decoradas em negro, rostos tristes, lágrimas e torcer de mãos, Alexandra reprimia sua pequena, patética felicidade. “Pode-se bem imaginar os sentimentos”, ela escreveu à irmã.

“Um dia no mais profundo luto, lamentando um ser querido, no dia seguinte nas mais luxuosas roupas, me casando. Não pode haver maior contraste, mas nos tornou mais unidos, se é que isso é possível.” “Assim foi minha entrada na Rússia”, ela acrescentou mais tarde.

“Nosso casamento me pareceu a mera continuação das missas para o falecido, com a diferença de que então usei um vestido branco, em vez de preto.” O casamento aconteceu em 26 de novembro de 1894, uma semana após o enterro do imperador Alexandre.

O dia escolhido foi o do 47° aniversário da imperatriz viúva Maria, e para essa ocasião o protocolo permitia um breve alívio do luto. Vestidas de branco, Alexandra e Maria foram juntas na carruagem, do Nevsky Prospect até o Palácio de Inverno.

Diante de um famoso espelho de ouro usado por todas as grã-duquesas russas no dia do casamento, a noiva foi formalmente vestida pelas damas da família imperial. Ela usou um pesado vestido antigo da corte russa, de brocado de prata, com manto e cauda de ouro debruado com arminho, junto com o tradicional colar e os brincos de diamantes nupciais.

Maria retirou pessoalmente a refulgente coroa nupcial de diamantes da almofada de veludo e colocou-a delicadamente sobre a cabeça de Alexandra. Juntas, atravessaram as galerias do palácio até a capela, onde Nicolau esperava, vestindo o uniforme dos hussardos e botas.

Cada um segurando uma vela acesa, Nicolau e Alexandra se postaram diante do arcebispo. Minutos antes da uma da tarde, eram marido e mulher. Alexandra estava radiante. “Ela estava tão maravilhosamente linda”, comentou a princesa de Gales.

George, duque de York, escreveu a Mary, na Inglaterra: “Acho que Nicky é um homem de muita sorte para ter uma esposa tão bela e charmosa, e devo dizer que nunca vi duas pessoas mais apaixonadas e mais felizes do que eles. Disse a ambos que não poderia lhes desejar mais do que serem tão felizes quanto você e eu somos juntos. Estou certo?”

Devido ao luto, não houve recepção depois da cerimônia, nem lua de mel. O jovem casal retornou imediatamente ao Palácio Anitchkov. “Quando saíram do Palácio de Inverno, após o casamento, receberam uma tremenda... ovação da enorme multidão nas ruas”, George escreveu à rainha Vitória.

“Os aplausos foram muito calorosos e me lembraram a Inglaterra... Nicky tem sido a bondade em pessoa para mim, é o mesmo menino querido de sempre e conversa abertamente comigo sobre todos os assuntos... Faz tudo com tanta calma e naturalidade; todos se admiram com isso e ele já é muito popular.”

No Palácio Anitchkov, Maria esperava para recebê-los com o tradicional pão e sal. Passaram lá a noite, responderam a telegramas de congratulações, jantaram às oito e, segundo Nicolau, foram “dormir cedo, porque Alix estava com dor de cabeça”.

O casamento iniciado naquele dia foi perfeito pelo resto da vida deles. Foi um casamento vitoriano, externamente sereno e convencional, mas baseado num amor físico intenso e passional. Na noite do casamento, antes de ir dormir, Alexandra escreveu no diário do marido:

“Finalmente unidos, ligados para toda a vida, e quando esta vida acabar, nos encontraremos no outro mundo e ficaremos juntos pela eternidade. Sua, sua.” Na manhã seguinte, transpassada por novas emoções, ela escreveu: “Jamais acreditei que pudesse haver tão absoluta felicidade nesse mundo, tamanho sentimento de unidade entre dois mortais. Eu amo você, essas três palavras têm nelas a minha vida.” "

Fonte: Nicolau e Alexandra, Robert K. Massie

LINK ORIGINAL - Romanov: A Última Dinastia da Rússia

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