segunda-feira, 10 de abril de 2017

A Segunda Restauração Francesa (1870 - 1873)

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“Eles não aprenderam nada, não esqueceram nada”. A frase é do ardiloso Talleyrand, ministro e diplomata francês, a respeito dos Bourbon, a casa real tradicional da França, que foi deposta na revolução de 1789, restaurada em 1814 e novamente deposta em 1830.

Após o turbilhão da Revolução Francesa e a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte em Waterloo, a França volta a ser uma monarquia – agora constitucional – sob a liderança de Luís XVIII, irmão mais velho do guilhotinado Luís XVI. Com sua morte, em 1824, é sucedido por seu irmão, Carlos X. Após uma série de medidas reacionários e extremamente impopulares, que visavam reaproximar a França do Antigo Regime, o último Bourbon a reinar naquele país é forçado a abdicar em 1830, sendo aclamado em seu lugar Luís Filipe de Orléans, no episódio chamado de “Monarquia de Julho”.

Luís Filipe, apesar de ser conhecido como o “Rei Cidadão”, se cerca da alta burguesia e dos ricos banqueiros de Paris. É deposto em 1848, por uma nova onda revolucionária. Com o fim de seu reinado, a Segunda República Francesa é proclamada, elegendo como seu primeiro presidente por voto direto ninguém menos que Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho do antigo imperador.

O “Príncipe Presidente”, como é conhecido, governa até 1852, quando dá um golpe de Estado e, através de um plebiscito – método muito utilizado por seu tio – se torna Napoleão III, dando início ao Segundo Império Francês. O segundo Bonaparte será um monarca popular na Europa até a derrota desastrosa da França na Guerra Franco-Prussiana, em 1870, quando é deposto e o Império chega ao fim.

Após este período de forte instabilidade, onde a França experimenta tantos regimes em tão pouco tempo, o país está novamente acéfalo. A nova Assembleia Geral, eleita em 1871, está completamente dividida entre radicais, republicanos moderados, liberais, legitimistas, orleanistas e bonapartistas. Porém, essa maioria monarquista, ainda que dividida entre os apoiadores da Restauração e os apoiadores da Monarquia de Julho, vê em um homem a salvação da monarquia francesa: Henrique, Conde de Chambord.

O pretendente legitimista, neto de Carlos X e antigo exilado de 1830, é a chave para um acordo entre os monarquistas da assembleia. Como o conde já tinha uma certa idade e não tinha filhos, era provável que não deixaria herdeiros, o que abriria caminho legítimo para Filipe de Orléans, neto do rei Luís Filipe, o suceder no trono francês, deixando felizes todos os conservadores e liberais moderados do parlamento.

Porém, o sangue dos Bourbon falaria mais alto. Luís XVI jogaria no ralo todos os esforços do Marquês de Lafayette em estabelecer uma monarquia constitucional na França, fugindo para Varennes em 1792. Carlos X, ao não aceitar que os tempos haviam mudado, é deposto em 1830. Henrique seguiria os passos de seus antecessores e romperia com o frágil acordo que a monarquia e a burguesia haviam feito desde 1814. Em declaração redigida em 1873, o Conde de Chambord deixa claro que aceita o trono da França desde que a bandeira tricolor, símbolo da revolução, fosse substituída pela bandeira branca dos Bourbon.

Além disso, o futuro rei não aceitaria abdicar de seu “direito divino”, mesmo que simbólico. Essas exigências, repletas de simbolismos, desestruturam completamente o ideal monarquista e a futura restauração. Bourbons e Orléans já não se entendem mais e não há outra alternativa senão proclamar a Terceira República Francesa, porém, em caráter provisório.

Os monarquistas iriam esperar a morte do Conde de Chambord para proclamar Filipe o novo rei dos franceses. A respeitosa espera vai se arrastar até o ano de 1883, quando com o conde morre também o ramo mais antigo da monarquia francesa. Os Orléans estavam livres para reinar. Porém, já era tarde. Com Henrique morre também qualquer possibilidade de se ressuscitar o Reino da França. Nas palavras do presidente Adolphe Thiers, “a república nos divide menos”.

De fato, em 1883 o regime já estava a muito consolidado, e a causa dos pretendentes ao trono era só uma vaga lembrança. Henrique, a “criança milagrosa” em seu nascimento, chamado por seus simpatizantes de “Henrique V”, fora talvez o último príncipe a ter uma ligação direta de aclamação com o povo. Isso não era conseguido nem pelos Orléans, que com seu liberalismo agradavam mais ao parlamento e aos homens de negócio do que ao cidadão comum, tampouco pelos bonapartistas restantes, que agora eram só uma filosofia apolítica.

O Conde de Chambord, ao se agarrar a simbolismos que, mesmo sendo a base da representação monárquica, não ajudavam na conciliação entre Marianne e Joana D’Arc, ou seja, na conciliação histórica da nação francesa, enterra de uma vez por todas sua ascensão ao trono e a possibilidade de uma segunda restauração da monarquia.

Como da vez em que disse que Napoleão se acostumaria com o título de “Sua Majestade”, Talleyrand estava certo.

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