segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Monarquista, graças a Deus

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Não pretendiam os revolucionários republicanos reformar o que deveria ser reformado, mas refundar a história do país segundo novas bases e desvinculada do passado.

Poucas confissões causam mais espanto hoje em dia do que afirmar-se monarquista. É mais fácil para um jovem hodierno dizer aos pais que tem 12 identidades sexuais ativas e passivas do que observar num almoço de domingo, entre uma garfada e outra, a supremacia da monarquia. E, se elogiar o imperador dom Pedro II, corre o risco de ser ridicularizado ou, pior, tornar-se persona non grata para o dominical macarrão com frango.

Quando digo que sou monarquista, a seguir ao estupor e eventuais desmaios, sou alvejado por olhares de comiseração, escárnio ou lamento, a depender da classe econômica e do grau de escolaridade. Quanto mais altos a renda e o grau de escolaridade, maior é a desconfiança em relação à minha sanidade mental.

Em Portugal, pelo menos até a década de 1980, como nos informa o genial escritor Miguel Esteves Cardoso em crônica antiga publicada em A Causa das Coisas, “alguns magros milhões de portugueses” eram “dubitavelmente monárquicos”. O problema é que, imersos no dubitável, eram monarquistas inúteis à causa porque, quando puderam optar, votaram na república, transformando-se “tragicamente em republicanos úteis”.

"É mais fácil para um jovem dizer aos pais que tem 12 identidades 
sexuais do que se declarar monarquista"

No Brasil, quando puderam escolher, os monarquistas brasileiros fizeram em número reduzido o que deveria ter sido feito pela maioria: quase 7 milhões de bravos brasileiros votaram na monarquia. Os dados do plebiscito realizado em 1993 são reveladores: 16,5 milhões escolheram o parlamentarismo em vez do presidencialismo, cerca de 10 milhões de pessoas anularam o voto, 3,4 milhões votaram em branco e a abstenção total foi de 25,76%.

Ou seja, se em Portugal havia uma massa de portugueses “dubitavelmente monárquicos”, no Brasil tivemos uma massa de brasileiros “potencialmente monárquicos” que não foi tocada pela modesta e corajosa campanha pela volta da monarquia constitucional parlamentarista. Este que era o nosso sistema e regime de governo e foi derrubado por um infame golpe militar em 15 de novembro de 1889. Sim, aquele que aprendemos na escola ter sido uma proclamação. Não foi; foi golpe. Um golpe que inaugurou o golpismo em série que caracteriza a república presidencialista brasileira.

Os republicanos brasileiros do século 19, alguns dos quais carinhosamente apelidados de “jacobinos” – os revolucionários que tocaram o terror na França no século 18 –, derrubaram a monarquia e iniciaram um processo de revolução cultural que passava por destruir e sepultar todo o capital de experiência histórica, social e política do nosso Império. Não pretendiam os revolucionários republicanos reformar o que deveria ser reformado, mas refundar a história do país segundo novas bases e desvinculada do passado.

O resultado é conhecido: a monarquia foi ridicularizada, a história foi reescrita (primeiro pelos republicanos, depois pelos marxistas), os grandes nomes do passado foram enterrados e deliberadamente rechaçados e o que aprendemos hoje em dia sobre tão fascinante e grandioso período histórico é o casamento perfeito da ignorância com a caricatura.

O quadro, felizmente, começa a mudar aos poucos. O interesse sobre a monarquia é crescente, assim como a quantidade de brasileiros dispostos a cavar a história em busca do tesouro perdido. E a se questionar acerca das vantagens sobre a república presidencialista a partir do conhecimento das posições e das soluções da monarquia parlamentar sobre as mais diversas questões sociais, políticas e econômicas.

O mercado editorial também começa a despertar para o tema e tem aumentado o número de eventos especializados, como o Encontro Monárquico Conservador no qual fui palestrante e que foi realizado na capital do Ceará dias atrás pelo grupo São Thomas More, em parceria com o Círculo Monárquico de Fortaleza.

Num momento em que o parlamentarismo começa a ser debatido e a ganhar força política, nada mais justo do que considerar, como bem destacou Miguel Esteves Cardoso, a “questão bastante mais importante: a monarquia”.

LINK ORIGINAL: https://goo.gl/DHxkAB

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