terça-feira, 26 de setembro de 2017

DEVEMOS, ENTÃO, ATRIBUIR TODOS OS MALES DO BRASIL ATUAL À REPÚBLICA?

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Não se pode dizer que a República seja a única responsável por tudo de errado que acontece no Brasil atual, mas com certeza ela criou e mantém condições para que as soluções de nossos problemas se tornem cada vez mais complicadas, ou mesmo impossíveis.

Hoje os países estão sujeitos a incontáveis influências internas e externas, com reflexos praticamente imediatos em todas as áreas. Mas, assim como uma árvore frondosa e sadia, com raízes profundas, resiste a tormentas, assim também um país com instituições sólidas não se abala com vendavais, venham eles de onde vierem.

A realidade é que os sucessivos governos republicanos fragilizaram de forma sistemática nossas instituições, expondo-nos a todo tipo de crise.

– Trecho da cartilha "Direita? Esquerda? Siga o melhor caminho: Monarquia" da Pró Monarquia - Casa Imperial do Brasil

Charge: Letargia republicana expõe o Brasil a todo tipo de crise.

MAS POR QUE, AFINAL DE CONTAS, UM MONARCA SERIA MELHOR DO QUE UM PRESIDENTE REPUBLICANO? QUE DIFERENÇA FAZ O PAÍS SER GOVERNADO POR UM IMPERADOR OU UM PRESIDENTE?

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– O Monarca, sendo vitalício, pode inspirar e conduzir um projeto nacional, com obras de longo alcance e que visem às futuras gerações. O Presidente tem quatro anos (renováveis uma vez) para elaborar e executar seu projeto, cujo alcance é voltado quase exclusivamente à sua reeleição.

– O Monarca não tem interesse em interromper as obras dos antecessores, das quais participou antes mesmo de subir ao trono. O Presidente quer executar seu próprio projeto, e com freqüência interrompe o dos antecessores.

– O Monarca é o símbolo vivo da nação, personifica sua tradição histórica e lhe dá a unidade e continuidade. O Presidente tem mandato de apenas quatro anos e é eleito por uma parte da nação. Por isso não a personifica nem lhe dá unidade.

– O Monarca representa para o povo a figura de um pai e cria na nação a consciência de uma grande família, com um destino em comum a realizar. O Presidente é um mero funcionário público temporário, e ninguém constitui vínculos psicológicos duradouros com ele, pois é substituído a cada quatro anos.

– O Monarca não está vinculado a partidos nem depende de grupos econômicos; por isso é independente e pode se dedicar ao que é melhor para o país inteiro. O Presidente se elege com o apoio de partidos e depende de grupos econômicos, que influem nas suas decisões.

– O Monarca é educado desde criança para reinar com honestidade, competência e nobreza, e durante toda a sua formação já participa dos problemas e do governo do país. O Presidente não é educado para o cargo, sendo freqüentemente um aventureiro, um improvisado.

– O Monarca trata os súditos com amor, como um pai que ouve e se interessa pelos problemas dos filhos. O Presidente trata o povo de modo impessoal, com se fossem estranhos.

– Trecho da cartilha "Direita? Esquerda? Siga o melhor caminho: Monarquia" da Pró Monarquia - Casa Imperial do Brasil

MAS A MONARQUIA É ALGO DO PASSADO, É ALGO QUE FICOU PARA TRÁS. RESTAURAR A MONARQUIA NÃO SERIA UM RETROCESSO?

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Pelo contrário, a Monarquia é uma forma de governo muito adequada aos problemas modernos, ela se renova a cada dia e sabe se adaptar ao progresso do mundo atual.

Das 18 economias mais fortes do planeta, 12 são monarquias. Quem, em sã consciência, poderia considerar Japão, Inglaterra, Suécia, Holanda, Canadá e Austrália como países antiquados?

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU de 2014 mostrar que as duas primeiras colocadas – Noruega e Austrália – são monarquias, e entre as 10 primeiras, 6 são monarquias.

Nossa República nos relegou aos 79º lugar: hoje, o Brasil está atrás de Seychelles, Cazaquistão, Azerbaijão, e até de países em guerra.

Foto: A Monarquia se renova a cada dia. O (então) recém coroado Rei Don Felipe VI da Espanha autorizou baixar a dotação da Casa Real para ajudar a resolver a crise econômica do país.

domingo, 24 de setembro de 2017

A MONARQUIA NÃO ACABA COM A LIBERDADE DAS PESSOAS?

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A Monarquia permite aos cidadãos muito maior liberdade do que a República. Durante o governo de D. Pedro II, o Partido Republicano tinha total liberdade de atuação, assim como a Imprensa.

Foi a República que durante quase 100 anos proibiu a organização dos monarquistas e atualmente ensaia intervir na Imprensa.

Foto: Charge de Angelo Agostini para a "Revista Ilustrada" em 1887.Ao longo de todo o Segundo Reinado, a Imprensa desfrutou de total liberdade, chegando a ridicularizar, injustamente, o Imperador Dom Pedro II, sem que nunca houvesse qualquer tipo de censura.

MONARQUIA E DEMOCRACIA NÃO SE OPÕEM?

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Na verdade a Monarquia é a guardiã da verdadeira democracia. Durante todo o Segundo Reinado, no Brasil, o Partido Conservador e o Liberal alternavam-se no poder sem nenhum problema, pois o regime garantia que a vontade da opinião pública fosse expressa nas urnas. Todas as eleições ocorreram nas datas pré-estabelecidas.

Muito diferente de nosso período republicano, no qual ocorreram sucessivos golpes de estado, ditaduras, governos de exceção etc.

O conde partido ao meio

Crédito: Divulgação
Atacado por conservadores e abolicionistas, dom Gastão de Orléans, o conde d’Eu, deixou um diário em que defende a monarquia liberal e o fim da escravidão

A reputação de Gastão de Orléans (1842-1922), o Conde d’Eu, não foi positiva enquanto viveu e não mudou depois de morrer — em um navio, quando voltava para o Rio de Janeiro para tratar do patrimônio da destituída família real. Em seu tempo, o Príncipe Consorte do Brasil, marido da Princesa Isabel, era visto pelo gabinete conservador de dom Pedro II como liberal,enquanto os abolicionistas tinham restrições a ele por ser estrangeiro e católico.

Francês, nascido no castelo  da família em Neuilly sur Seine, Gastão procurava se posicionar muito acima dos partidos e assim evitar a polarização nos debates políticos. A distância o fez cair do alto direto para o esquecimento e ganhar a imagem póstuma de um conde partido ao meio, personagem impotente, incapaz de manter a coroa. Como não bastasse, sofreu campanhas de difamação quando marechal de campo das tropas da Tríplice Aliança nos último meses da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Dizia-se que havia ordenado a degola de chefes militares paraguaios e ordenado que os soldados executassem crianças e mulheres nas últimas escaramuças organizadas pelo presidente paraguaio deposto Solano Lopes.

A publicação em livro do “Diário do Conde d’Eu — comandante em chefe das tropas brasileiras em operação na República do Paraguai” (editora Paz & Terra) altera as ideias imprecisas sobre o personagem. Segundo o historiador Rodrigo Goyena Soares, que organizou, traduziu e anotou o diário, sua personalidade é mais complexa do que a retratada na his†ória do Brasil. O caderno de capa dura vermelha que Gastão manteve no Paraguai — entre outros diários que estão depositados no Museu Imperial de Petrópolis — revela inteligência, sensibilidade e tino político.

Em suas anotações, Gastão critica a grosseria dos políticos platinos, o corte dos uniformes do exército e a alimentação da tropa, obrigada a sobreviver nas trincheiras com frutas. Também expressa angústia por não receber cartas pessoais e descreve o cotidiano das tropas, com homens oriundos de todo o Brasil, seus diferentes hábitos e festas. “Ele narra que o soldados participavam de peças de teatro, festas folclóricas e até casamentos com mulheres paraguaias desamparadas”, afirma Soares. Gastão elogia a criatividade dse seus comandados: conta que os batalhões do Norte e do Nordeste construíam moendas para preparar caldo de cana e assim evitar fome e sede.

Terceiro império

“O conde d’Eu era humanista e liberal”, diz Soares. “Ele se preocupava com a organização do exército e as condições da população paraguaia rendida. Os episódios de que ele foi acusado ocorreram a sua revelia. Ele se indignava com as atitudes bárbaras dos militares. E teve um papel relevante na política, pois favoreceu a abolição da escravatura e a politização do exército na volta da Guerra do Paraguai. Foi nesse momento que os militares entraram na luta política e se associaram à nascente classe média — uma união que persiste até hoje.”

Gastão defendia a monarquia constitucional, o fim da escravidão e o desenvolvimento da economia. Influenciou Isabel em seus decretos liberais, como a Abolição da Escravatura, em 1888. Sonhava em instaurar um Terceiro Império ultraliberal com a coroção de Isabel. Mas seus sonhos se espatifaram: acabou excluído por todas as facções partidárias da época e expulso do país — como toda a família real — pelos militares republicanos que havia apoiado. “É preciso redimir o papel histórico do desprezado Príncipe Consorte do Brasil”, afirma Soares.

LINK ORIGINAL - ISTOÉ

Há 183 anos, D. Pedro I morria em Portugal, vítima de suas batalhas


Desde criança, todo brasileiro está acostumado a ver dom Pedro I de pelo menos duas maneiras. A primeira é aquela dos livros didáticos, com sua pose sisuda, porte imperial e tão (pouco) atraente como uma estátua mal conservada em praça pública. A segunda versão, mais popular, é a do dom Pedro intempestivo, mulherengo, uma espécie de latin lover (se você tem mais de 30 anos, provavelmente lembra do então galã Tarcísio Meira no filme Independência ou Morte, reprisado inúmeras vezes na Sessão da Tarde durante a década de 1980). Enfim, o português temperamental que proclamou a independência em um acesso de fúria à margem do rio Ipiranga, em meio a um forte desarranjo intestinal.

O que pouca gente sabe é que, entre essas duas versões, há outra face de dom Pedro bem menos conhecida no Brasil que só agora começa a ser resgatada. “Ele se tornou um símbolo de liberdade na Europa na década de 1830”, diz Isabel Vargues, professora de História da Universidade de Coimbra, em Portugal. “Em meio a inúmeros monarcas conservadores que estavam de volta ao poder nesse período, Pedro IV foi considerado um estadista moderno que inaugurou um período liberal no país.” (Não estranhe: “Pedro IV” é como nosso dom Pedro I passou a ser chamado pelos portugueses após ser proclamado rei em sua terra natal.)

Pesquisas já revelaram um lado fascinante do homem que conseguiu transformar a América Portuguesa em uma única nação, destino bem diferente do da América Espanhola – que se fragmentou em várias repúblicas.

Isso não significa, é claro, que dom Pedro esteja sendo conduzido ao posto de guia moral da história do Brasil. De fato, ele teve várias amantes e é bastante confiável a possibilidade de que ele tenha tido crises de diarreia em meio à proclamação da independência. Mas o realce que uma parcela da população e de historiadores continua a dar a esses aspectos picarescos parece apenas confirmar o prazer que sentem os brasileiros em reduzir os feitos de nossos vultos históricos. Afinal, é difícil imaginar que um americano ponha em xeque a grandeza de John Kennedy devido às suas escapadas conjugais (como a que teve com a atriz Marilyn Monroe). Tampouco seria fácil encontrar um francês diminuindo a grandeza de Napoleão por causa de algum mal-estar intestinal em meio a uma de suas batalhas – algo bem provável de ter acontecido.

“Não se trata de negar defeitos do caráter de dom Pedro I, mas de reconhecer que ele foi um estadista avançado quando comparado aos seus pares da época”, diz Braz Brancato, professor de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e estudioso da vida de dom Pedro após sua volta para a Europa. “Além disso, ele conseguiu governar em um dos períodos mais turbulentos para os regimes monárquicos, que estavam caindo a todo momento.”


O pequeno príncipe

A vida de dom Pedro começa em um quarto no Palácio de Queluz, residência da família real portuguesa, cujas paredes estavam decoradas com cenas do clássico Dom Quixote de la Mancha. Foi ali que Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon nasceu, em 12 de outubro de 1798.

Apesar do nome portentoso, aquela não era uma boa hora para um príncipe de Portugal nascer. Na época, o país estava encurralado entre duas potências. De um lado, a antiga aliada Inglaterra, dona da mais temida marinha do mundo. Do outro, a França de Napoleão Bonaparte, que havia acabado de invadir a Espanha e exigia que Portugal fechasse seus portos para os ingleses. No aperto, dom João optou pela Inglaterra, a aliada tradicional. O resto você já sabe: a corte portuguesa foi transferida para o outro lado do Atlântico em 1808 e o Brasil jamais seria o mesmo.

A família se adaptou logo à vida por aqui, incluindo o pequeno Pedro. Cercado de tutores encarregados de prepará-lo para ser o sábio sucessor do pai, o pequeno príncipe acabou tendo uma infância tão movimentada quanto a de qualquer moleque carioca da época. Irreverente, divertia-se dando pancadas no queixo dos meninos que vinham beijar-lhe a mão. Fascinado por armas, caçava à vontade. Adorava andar a cavalo, tocava vários instrumentos musicais e gostava do trabalho manual. Orgulhava-se de seu talento como marceneiro e ferreiro, atividades, à época, consideradas “próprias para escravos”. Mas ele não ligava: costumava conversar horas com criados.

Esse convívio popular atraía comentários não muito elogiosos. Nobres francesas reconheciam que ele era um rapagão bonito – de acordo com as más línguas, a única pessoa bonita de toda a casa real de Bragança –, mas abominavam suas roupas e seus modos. Mesmo assim, ao completar 18 anos, o príncipe era considerado um dos maiores conquistadores do Rio de Janeiro.

Era hora, então, de arrumarem uma nobre noiva para dom Pedro. E bota nobre nisso: a jovem arquiduquesa (ou apenas “princesa”) Leopoldina Carolina era filha do imperador Francisco I, líder do Império Austro-Húngaro – nessa época, uma potência. Os dois não podiam ser mais diferentes: enquanto dom Pedro preferia andar com amigos de origem simples, Leopoldina era muito refinada, tinha sólida formação científica (era craque em mineralogia) e havia sido amiga do poeta alemão Johann W. Goethe e do compositor austríaco Franz Schubert. Como a irmã de Leopoldina tornara-se esposa de Napoleão, dom Pedro se tornou concunhado do homem que obrigou sua família a fugir de Portugal. Apesar das diferenças, Leopoldina ficou de queixo caído no primeiro encontro com o noivo. Eis o que ela escreveu numa carta sobre a primeira refeição a dois entre eles: “Conduziu-me ao salão de jantar, puxou a cadeira e, enquanto comíamos, piscou-me o olho e enlaçou a perna dele na minha debaixo da mesa”.


Crise em Portugal
Apesar do casamento, a paz da família real no Rio estava com os dias contados. Desde 1815, com a derrocada de Napoleão, a desculpa que a corte tinha usado para se mudar para o Brasil não se sustentava mais. Dom João (agora João VI, graças à morte de sua mãe, Maria I) não só se recusava a voltar como havia transformado a ex-colônia em reino unido a Portugal, sacramentando o Brasil como sede do império português. A capital carioca havia deixado de ser uma vila acanhada de uns 40 mil habitantes para virar uma metrópole de mais de 100 mil.

Quem não estava achando essa história nada engraçada eram os portugueses. Eles haviam perdido o domínio político sobre o Brasil, viviam uma crise econômica (gerada, em parte, pelo fim do monopólio comercial sobre a colônia) e estavam submetidos a uma humilhante ocupação militar inglesa. Adicione a esse caldo uma pitada das ideias da Revolução Francesa, que ainda repercutiam em toda a Europa, e o resultado foi a chamada Revolução Constitucionalista do Porto, em 1820. Os revolucionários convocaram eleições e exigiram uma Constituição para Portugal, limitando os poderes absolutos do rei. Para isso, determinavam que o soberano voltasse.

Dom João VI não sabia se ia, se ficava ou se mandava dom Pedro. Tudo indica que ele temia o interesse do filho pelas ideias liberais e que, uma vez em Lisboa, ele fosse aclamado rei pelos revolucionários. O herdeiro, por sua vez, ressentia-se da desconfiança do pai. Em meio à crise, dom Pedro acabou se tornando porta-voz das reivindicações constitucionais junto ao pai, convencendo-o a jurar lealdade à Constituição.

Quando dom João VI decidiu retornar, em março de 1821, dom Pedro tornou-se príncipe regente do Brasil. Pouco antes da partida do pai, ele tomou sua primeira medida antipopular: mandou reprimir com baionetas tumultos causados por protestos contra medidas impostas por Portugal. Pelo menos três pessoas morreram no episódio.


Independência
Em Portugal, dom João VI tornou-se uma figura decorativa. Quem governava, de fato, era a Assembleia – e suas medidas atingiam em cheio o orgulho brasileiro. “O projeto dos portugueses mais exaltados parecia ser a redução do Brasil ao estado colonial, numa situação política e econômica mais desvantajosa que a de antes da vinda do rei”, diz Isabel Lustosa, autora da biografia Dom Pedro I. A partir de então, Portugal decidiu que cada província do Brasil teria um governo autônomo que responderia diretamente a Lisboa, enfraquecendo o poder do príncipe regente. Para piorar, Lisboa enviou tropas ao Brasil que deviam submissão direta ao governo português.

Dom Pedro estava dividido. De um lado, era inclinado a manter-se fiel a Portugal. Do outro, era atraído pelos panfletos e boatos que anunciavam que seria aclamado rei ou imperador do Brasil, caso rompesse com Lisboa. Um decreto luso exigindo que o príncipe voltasse à Europa, onde deveria viajar por vários países para “terminar sua educação”, fez com que ele enfrentasse diretamente as ordens da corte e decidisse permanecer no Brasil. Foi o Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822. Estava aberto o caminho para a independência.

Na tarde do dia 7 de setembro, ao voltar de uma viagem à capital paulista para apaziguar disputas políticas, a comitiva de dom Pedro foi alcançada na colina do Ipiranga pelo serviço de correio da corte. As notícias não eram nada boas: a Assembleia portuguesa exigia a demissão de todos os ministros nomeados por dom Pedro e ameaçava fazer uma devassa em todos os atos do príncipe.
Segundo um dos membros da comitiva, o padre Belchior (o mesmo que narrou que dom Pedro estava sofrendo uma disenteria “que o obrigava o tempo todo a apear-se para prover”), dom Pedro pisoteou as cartas vindas de Portugal, arrancou do chapéu o laço com as cores lusitanas e teria dito as famosas palavras: “Laços fora, soldados. Viva a independência, a liberdade e a separação do Brasil”, declarando que o lema do país seria “Independência ou Morte”.

Em 12 de outubro, dom Pedro I é aclamado imperador e defensor perpétuo do Brasil. Mas, diferentemente do que muita gente imagina, a independência do país não foi feita apenas com o grito no Ipiranga. Ao cortar os laços com Portugal, o Brasil, na prática, declarou guerra à ex-metrópole. Sangue foi derramado em diversas regiões – em algumas províncias, como na Bahia, a independência só seria conquistada quase um ano depois.


Constituinte
Após a independência, prevalecia o consenso de que o Brasil precisava de uma Constituição própria. Apesar de defender princípios liberais, dom Pedro temia que o poder da Assembleia Constituinte eleita em 1823 ameaçasse seu governo, o que poderia também levar à fragmentação do Império. Após se sentir desafiado pelos parlamentares oposicionistas, ele dissolveu a Assembleia em novembro e, em março de 1824, outorgou uma Constituição elaborada por um conselho de dez membros que ele mesmo indicara.

“Por muito tempo, essa medida autoritária terminou ofuscando o reconhecimento do avanço do texto constitucional imposto por dom Pedro”, diz a historiadora Lucia Bastos Neves, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A nova Constituição incluía direitos pouco comuns para a época, como a liberdade de crença e culto concedida a adeptos de religiões não-cristãs. Por outro lado, garantia ao imperador poderes excepcionais. Além de ser o chefe do Executivo, ele detinha também o chamado Poder Moderador, com o qual podia resolver impasses entre os demais poderes com mão de ferro e dissolver o Congresso quando quisesse.

A decisão causou revolta. Lideradas por Pernambuco, várias províncias do Nordeste se rebelaram contra o que consideraram um ato de tirania, formando a chamada Confederação do Equador. A repressão foi implacável e vários chefes rebeldes, entre eles Frei Caneca, foram executados. A revolta foi seguida por outra, no extremo sul do Império: a província da Cisplatina (atual Uruguai), anexada por dom João VI, rebelou-se com ajuda da Argentina. A guerra acabou em 1828, com o reconhecimento do Uruguai como país independente.

Outros desastres, dessa vez na vida doméstica, foram minando a popularidade do soberano. O principal deles foi o triste fim de seu casamento com dona Leopoldina. Dom Pedro chegou muito perto de assumir em público seu romance com Domitila de Castro, a marquesa de Santos, com quem teve vários filhos reconhecidos. O pior, porém, é que transformou a amante em dama de honra da imperatriz. Dona Leopoldina sofreu uma série de crises depressivas. Acabou morrendo em dezembro de 1826.

Com a morte de dom João VI no mesmo ano, o imperador se viu envolvido na sucessão do trono português. Acabou designando sua filha adolescente, dona Maria da Glória, como rainha de Portugal, combinando o casamento dela com o tio, dom Miguel, nomeado regente. Tiro pela culatra: Miguel assumiu o poder como rei absoluto de Portugal e mandou o irmão às favas.

Por aqui, as hostilidades entre brasileiros e portugueses fizeram com que dom Pedro percebesse que os nativos sempre o veriam com desconfiança por seus laços congênitos com Portugal. A imprensa atacava dom Pedro violentamente, o povo protestava nas ruas. Como seu filho, Pedro, havia nascido no Brasil, o imperador deu sua última cartada para que o Brasil não se esfacelasse, abdicando do trono em nome de uma criança de 5 anos de idade (que, coroado em 1841, seria o último imperador do Brasil).


Pedro IV
Para nós, brasileiros, a história de dom Pedro costuma terminar por aqui, com seu retorno à Europa. Mas foi ao partir para o exílio, em 1831, então já casado com dona Amélia, uma princesa alemã, que ele viveu uma espécie de renascimento e se tornou um ícone da liberdade na Europa. Havia vários motivos para que dom Pedro fosse encarado dessa maneira. O primeiro deles era sua defesa da volta de um governo constitucional às terras lusas, governada então despoticamente por seu irmão Miguel. “Naquela época, não era comum que um monarca se empenhasse em garantir direitos constitucionais”, diz Braz Brancato. Segundo o historiador, isso fazia com que ele fosse visto com desconfiança por seus pares da Santa Aliança, grupo de monarquias conservadoras cristãs que incluía Rússia, Áustria e Prússia (hoje na Alemanha).

Ao se instalar em Paris com parte da família, dom Pedro tornou-se uma das personalidades mais populares da capital francesa, sendo recebido com deferência nos elegantes bailes da corte. A França vivia uma onda liberal marcada pela ascensão do rei constitucional Luís Filipe e dom Pedro chegou a morar em um castelo real, onde recebia exilados de Portugal e de outros países que sofriam sob a mão de monarcas despóticos.

Nesse período, ele buscou apoio militar para invadir Portugal e destituir seu irmão, fazendo de sua filha a rainha de Portugal. Apesar do apoio verbal, nenhum dos reinos europeus quis se envolver oficialmente com a briga. Foi só com empréstimos pessoais (para pagar mercenários) e certo número de voluntários portugueses e franceses que dom Pedro partiu para sua derradeira aventura. Liderando um exército de 7 mil homens, ele foi para Portugal, onde teria que enfrentar dezenas de milhares de soldados comandados por dom Miguel.


O fim de um guerreiro
Incansável e se arriscando pessoalmente nas batalhas, ele inspirou seus soldados de tal maneira que o que parecia impossível aconteceu: em 20 de setembro de 1834, Portugal passava às mãos da nova rainha, dona Maria II. “Ela e seu filho, Pedro V, iriam inaugurar a fase moderna e constitucional da monarquia portuguesa”, diz Isabel Vargues.

O ex-imperador do Brasil não viveu muito para acompanhar o governo da filha. A guerra acabara também com sua saúde, e ele morreu provavelmente de tuberculose no dia 24 de setembro de 1834. No mesmo quarto decorado pelas cenas de dom Quixote onde ele nascera, 36 anos antes, quando o Brasil não passava de uma colônia portuguesa do outro lado do Atlântico.

LINK ORIGINAL: AVENTURAS NA HISTÓRIA

sábado, 23 de setembro de 2017

A cultura do ódio contra o Brasil

(Imagem: Reprodução)

Na escola, na universidade, na tevê, na vida diária, tudo nos faz odiar a nossa história, tudo nos faz odiar o nosso país. Em poucas atividades somos tão bons quanto destruir aquilo que temos de melhor ao elevar como padrão de comportamento aquilo que temos de pior. Somos mestres na arte de insultar a nós mesmos: o que é bom deve ser arruinado; o que é ruim deve ser piorado.

Como você, leitor, sou fruto dessa cultura do ódio contra o Brasil. Sou filho desse hábito de destruição da imaginação moral, das virtudes, do certo, do bom, do belo, do virtuoso. Para nós, brasileiros urbanos, o brasileiro é o portador legítimo de infâmias porque dotado de uma natureza humana corrompida. Criamos uma versão excêntrica de um historicismo hegeliano aplicado ao que somos e ao que fazemos. Nada há de dar certo porque é da nossa índole estarmos sempre errados.

Modificar a nossa história, recriá-la numa versão corrupta, amaldiçoada, esta foi a estratégia adotada por ideólogos republicanos e depois marxistas para reduzir o país à sua estatura moral e destruir a nossa imaginação moral, que funciona como escudo contra projetos de poder e de controle políticos. Se acreditamos ser uma sociedade degenerada, fica muito mais fácil para uma elite política viciada colocar-se como a nossa representante legítima e vender um discurso ético-messiânico tão moralista quanto falso. Tal é o resumo da nossa história republicana.

Não sem razão nem exagero, dizia eu no início deste artigo que sou fruto dessa cultura do ódio contra o Brasil, contra a nossa história, esta vilipendiada porque desconhecida. Até 2013 faltavam-me os vínculos afetivos com o nosso país. Sim, pode parecer estranho, mas a verdade é que o Brasil não fazia parte do meu rol de interesses sentimentais e intelectuais.

Nossa terra era apenas o local onde eu nasci, território incômodo, uma piada sem graça de Deus que me poderia ter feito inglês, mas fez-me cachoeirense, de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Contra essa gozação divina só me restava o ato revolucionário fatal: negar interiormente a minha nacionalidade, não reconhecê-la, bradar aos Céus contra ela, numa versão torta, mal-escrita e escatológica da negação de Pedro a Jesus Cristo.

Graças à pesquisa que fiz para o meu livro "Pare de Acreditar no Governo" é que, finalmente, descobri o Brasil 513 anos depois dos portugueses. As minhas caravelas sentimentais e intelectuais também atravessaram o Atlântico, mas a partir da Inglaterra, até então a minha pátria artificial. Eu era até ali o típico brasileiro, com a agravante de não gostar de futebol, de carnaval, de calor.

Foi o 7 de setembro, Dia da Independência, que me fez pensar no assunto. Refletindo sobre o passado, via-me como aquele personagem de Lições de Abismo (Livraria AGIR Editora, 1973), de Gustavo Corção, um “verme colado a um grão, (…) um microscópico monstro de acaso, sem nenhuma ingerência na fluida e esbranquiçada pátria de que”, porém, jamais “me ufanava” (p. 199-200).

Sobre o Brasil, eu seguia aquela máxima do doutor Samuel Johnson segundo a qual “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Era eu tão ignorante a respeito do nosso país quanto o era do significado da frase. Johnson a proferiu em 1775 numa conversa com James Boswell, seu primeiro biógrafo, que não forneceu explicações. A hipótese mais provável é a de que ele estivesse se referindo aos oportunistas que, sem espaço entre tories e whigs, usavam o Partido Patriota para se manterem na vida política.

Apoiador desse grupo político, o escritor quis, na verdade, denunciar que a bandeira do patriotismo estava a ser usurpada pelos canalhas que, rejeitados pelas duas principais forças políticas da época, buscavam no Patriota o seu derradeiro abrigo. A frase tem, portanto, um sentido completamente distinto do seu uso corrente, pois que era uma defesa do, não um ataque contra o patriotismo.

Sim, no passado eu também confundia nacionalismo e patriotismo, que me pareciam duas doenças a serem evitadas. O conhecimento, mais uma vez, salvou-me. E só muito mais tarde li Patriotismo e Nacionalismo (Editorial Presença, 1957), do já citado Gustavo Corção, que faz uma distinção sucinta e pedagógica dos termos. Porque não se limita aos seus conceitos, Corção conseguiu mostrar-me a dimensão afetiva e a natureza moral que tais posições carregam.

Porque as suas escolhas eram fundamentadas em exemplos concretos, não em digressões teóricas, assim Corção poderia verificar se “cada movimento” seria “bom ou mau, conforme” fosse “governado por um espírito virtuoso ou por um espírito vicioso” (p. 8). A partir disso, pôde atribuir ao patriotismo o “sentimento bom, virtuoso” e ao nacionalismo, o “vício”. Exemplos?

Nacionalismo: Hitler, Mussolini, Franco, Perón; Patriotismo: Tiradentes (*Observação da página em discordar que Tirandetes foi um verdadeiro patriota)
Nacionalismo: A invasão da Polônia em 1940; Patriotismo: A defesa da Polônia em 1940
Nacionalismo: Brasilidade, Hispanidade, Língua brasileira. Vovô Índio. Anauê; Patriotismo: Saldanha da Gama, Capistrano de Abreu.
Nacionalismo: 1937. Ditadura. (pp. 13-15)

Corção afirmou que no patriotismo “há uma reta conformidade com um justo critério; no nacionalismo, uma oblíqua disformidade causada por um injusto critério”. O paralelo que ele estabelece também “me parece perfeito”: “o nacionalismo se opõe ao patriotismo como a superstição que é um vício se opõe à religião que é uma virtude” (p. 17).

Justo critério e dimensão moral são elementos estruturais do patriotismo e pontos de distinção em relação ao nacionalismo. É a “radical incapacidade que tem o nacionalista de apreender o teor moral do patriotismo e sua dependência da justiça” que o torna totalmente incapaz “de simpatizar com o patriotismo alheio” (p. 25-26).

Há outro aspecto interessante da natureza do patriotismo que o vincula ao conservadorismo. Nas palavras de Corção, “o patriotismo é uma forma de reverência que tem apoio na tradição”. Em 1950, o autor já constatava tratar-se de “um sentimento, raro hoje”, o “respeito pelos antepassados”. Uma deferência caracterizada por “um modo peculiar racional e afetivo de ver no chão de uma terra o sinal de pés antigos”; por “um modo especial de adivinhar numa paisagem os sinais, os comoventes sinais de antigas mãos”; por “um modo sem igual de simpatizar com dores passadas e de se alegrar com passadas alegrias”; “é ter uma história comum que vem de longe, cantada na mesma língua e vivida no mesmo grande e permanente cenário” (p. 27).

Aprecio especialmente quando Corção resume o patriotismo como “a virtude da longa continuação e da grande fidelidade”. O patriota fundamenta-se, segundo ele, “no passado, como raiz, e valendo-se do que houver de genuíno nesta tradição projeta-se para o futuro”. É alguém que “deseja um Brasil melhor, deseja com todas as forças da virtude bem equilibrada a perfeição do seu povo, de sua cultura, de suas instituições”. Por outro lado, “o nacionalista também deseja um Brasil melhor, mas num outro sentido”. Qual? “Na verdade o que ele deseja é um outro Brasil” (p. 28).

Eis, segundo Corção, a distinção crucial “entre os dois espíritos”: enquanto o “patriotismo é uma reverência diante de uma realidade que continua”, o “nacionalismo é uma exultação diante de uma ideia a ser realizada de uma coisa que não existe, sonho de uns poucos, pesadelo de muitos” (p. 29).
A maioria dos brasileiros parece carregar na alma o vício do nacionalismo. Ao elevar a torpeza na conduta a símbolo da nossa natureza humana, é incapaz de enxergar o Brasil que existe para apegar-se a um Brasil que só existe em seus sonhos, no Brasil que poderia ser e jamais foi.

Diante da realidade inatingível e da utopia irrealizável, reage com mentalidade e ressentimento jacobinos, paixões, portanto, destruidoras. Se não tem o que quer e odeia aquilo que imagina conhecer, prefere a solução mais fácil, antipatriota e anticonservadora: destruir em vez de construir.
A reação de muitos sobre o dia 7 de setembro, dia da nossa independência de Portugal, foi mais um indício dessa cultura jacobina que nos acomete desde o golpe militar que fundou a república presidencialista.

Episódio fascinante da nossa história por tudo o que aconteceu antes, durante e depois, evento que ficaria muito bem posto na historiografia de qualquer país do mundo, o que mais se viu foi o escárnio de sempre, a tentativa de reduzir a história do país às vidas insignificantes que levam os seus detratores. Eles que, imbuídos do “pensamento crítico”, preferem atacar o que ignoram porque jamais aprenderam o que aconteceu no passado, o que os incapacita para reconhecer e celebrar o valor da liberdade, a grandeza da nossa história e a nobreza dos nossos mitos fundadores, os bravos e heroicos homens e mulheres, conhecidos e anônimos, que amaram e dedicaram as suas vidas ao Brasil.

Se na escola aprendemos o evento de maneira burocrática e inglória, maravilhado fica qualquer espírito com um mínimo de virtude diante do que fez e dos perigos que correu dom Pedro I. Não uma decisão de improviso, o imperador laborou prévia e calculadamente com ajudas várias pela separação, que, se desrespeitada por Portugal, resultaria em sangue português e brasileiro.

A Independência foi fruto de consultas várias, reflexões e conquista de apoios em locais-chave, como São Paulo, por parte do imperador, que deveria trazer na alma e na mente a advertência feita pelo seu pai dom João VI quando de seu retorno a Portugal, em 1821: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja por ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”. Em 1822, no calor dos acontecimentos, uma carta de dona Leopoldina ratificava o alerta do pai: “O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece”. (D. Pedro – A História não Contada, editora LEYA, 2015, p. 151-152)

Junto com a advertência da imperatriz, o imperador tinha diante de si as ameaças das Cortes Portuguesas, que governavam com despotismo e perseguiam e humilhavam seu pais, o rei e a rainha de Portugal, e os conselhos pró-independência de José Bonifácio.

Em São Paulo, após receber as notícias sobre a posição de Portugal, dom Pedro I declarou ao padre Belchior, que o acompanhava junto à comitiva: “as Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal” (p. 154). Decisão anunciada, o imperador atirou ao chão o laço azul e branco que representava as Cortes e asseverou a todos os presentes: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil. Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte” (p. 155).

Um dos fatos que a maioria desconhece é que, quando da declaração da independência por dom Pedro I, quem governava o Brasil era dona Leopoldina, feita regente provisória pelo imperador na véspera de sua viagem para São Paulo. Temos, assim, esse fato extraordinário de a independência ter sido proclamada enquanto uma mulher notável exercia o poder máximo do Império, a primeira na história do país a exercê-lo (pode dizer isso ao seu amigo petista quando ele falar que foi Dilma Rousseff).

Identifico o vício em todos os que tentam destruir as virtudes existentes no nosso passado, ou porque o ignoram, ou porque têm dele uma visão ideológica, porque um dia sofri do mal da ignorância e reagi com semelhante paixão. Por isso, assumi como responsabilidade mostrar as virtudes desse “modo peculiar racional e afetivo de ver no chão de uma terra o sinal de pés antigos”, de valorizar e compartilhar “uma história comum que vem de longe, cantada na mesma língua e vivida no mesmo grande e permanente cenário”.

Acredito, e tomo de empréstimo as palavras de Roger Scruton, que “as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”, posto que “o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante” (Como ser um Conservador, editora Record, p. 9). Por isso, a alternativa mais virtuosa que nos cabe como brasileiros é, também, a mais difícil: construir em vez de destruir.

por Bruno Garschagen

LINK ORIGINAL: GAZETA DO POVO

Canja de papagaio

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A filha de D. Pedro I, que casou com um príncipe francês e foi morar em Paris, 
assustou os europeus ao pedir esse prato brasileiro

Os reis, imperadores, príncipes e nobres da Casa de Bragança, originária de Portugal, eram loucos por galinha. Deliciavam-se com a carne dessa ave cosmopolita, domesticada na Ásia há mais de 4.000, feia e esquisita, de pernas escamosas, andar desengonçado, bico pequeno, crista carnuda e asas curtas, mas com uma carne deliciosa. Comiam-na assada, frita, cozida ou ensopada, recheada, em pedaços, guisados, desfiada e como ingrediente enriquecedor de arrozes e sopas.

Quando falamos em galinha, referimo-nos ao grupo galiforme formado por ela, da qual fazem parte o galo, o frango ou galeto, o pinto ou pintinho. A Casa de Bragança reinou em Portugal de 1139 a 1910 e governou o Império do Brasil de 1822 a 1889, através de um ramo colateral. A ela pertenceu nosso rei D. João VI, provavelmente o mais renomado traçador de galiformes, que entre 1816 e 1822 governou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Em um dos três volumes de “Rio Antigo”, (Editora Rio Antigo, Rio de Janeiro, 1960), o memorialista Charles Julius Dunlop conta que Sua Majestade comia três frangos no almoço, sem molho, acompanhados de fatias de pão torrado, sem manteiga. Fez isso enquanto permaneceu no Brasil, entre os anos de 1808 e 1821, à frente da corte lusitana que escapou das tropas de Napoleão Bonaparte. À tarde, depois de um passeio pela cidade na carruagem real, D. João VI repetia o cardápio. Na merenda, voltava a comer três frangos, conforme Dunlop. Como todos os Bragança, porém, apreciava galinha preparada de todos os jeitos.

No Rio de Janeiro, a predileção do soberano indiretamente responsável pela independência do Brasil, ao patrocinar os melhoramentos que a viabilizaram, causou transtornos públicos. Os comerciantes reclamaram que a mantearia (casa onde se guarda tudo o que pertence à mesa real) e a ucharia (despensa, especialmente para carnes) arrematavam todos os galiformes disponíveis na cidade e prejudicavam o abastecimento dos demais fregueses. Mas, ao fazerem a crítica, não levavam em conta que a Casa Real também destinava as aves ao consumo dos criados e soldados a seu serviço, bem como às ordens religiosas, orfanatos, asilos e hospitais.

A predileção dos Bragança pela galinha valia até como prova de DNA. Quem não apreciava sua carne, ficava sob suspeita de não ser um puro-sangue. Foi o que aconteceu com D. Miguel I, rei de Portugal e Algarves entre 1828 e 1834, filho de D. João VI com a infanta espanhola D. Carlota Joaquina de Bourbon e irmão mais novo do imperador Pedro I do Brasil. Em 1802, o jornal inglês “London Observer” escandalizou a Europa com uma notícia referente ao seu nascimento. Afirmou que D. João VI não se considerava pai da criança, pois estava separado há dois anos da mulher, aliás vivendo em outro palácio. Não por acaso, Dom Miguel I não seria fã de galinha.

Essa história maledicente, difícil de comprovar, corria na boca do povo. Cochichava-se que cinco dos nove rebentos de D. João VI com D. Carlota Joaquina, entre os quais D. Miguel I, não eram filhos dele. Uma das quatro exceções seria Dom Pedro I. Aliás, D. João VI demonstrava carinho paternal por ele. Embora a dieta quotidiana de D. Miguel I, filho predileto de D. Carlota Joaquina, incluísse carne de galinha, ele não a apreciaria.

D. Miguel I comeria a ave somente por ter uma carne julgada imprescindível na prevenção das doenças, sobretudo da temida tuberculose, conhecida por tísica pulmonar, e também na dieta dos convalescentes e das parturientes. Portanto, o povo suspeitava que ele não era um Bragança. Para completar, parecia-se mais com a mãe, oriunda da Casa Real de Bourbon, fundada no centro da França, que ocupou o trono da sua Espanha e de outros lugares. Paradoxalmente, D. Miguel I era moço bonito e D. Carlota Joaquina muito feia. Chamava atenção pelo queixo grande, olhos pequenos, nariz avermelhado, dentes péssimos, pele grossa, temperamento difícil “e os impulsos do sexo alvoroçados”.

Coincidentemente, o prato obrigatório no cardápio dos Bragança era a canja, nem sempre de galinha. Tratava-se de comfort food, aquela comida capaz de nos remeter à infância e resgatar a memória gustativa. D. Pedro II, que a tomava inclusive quando ia ao teatro, entre o segundo e o terceiro ato, preferia a de macuco. Na falta, ia de jacu ou jacutinga. Já a sua irmã, D. Francisca de Bragança, também filha de D. Pedro I e da arquiduquesa austríaca D. Maria Leopoldina, apreciava a de papagaio.

Seu gosto exótico assustou os europeus. Ela solicitou a preparação pouco antes de desembarcar em 1843 da fragata La Belle Poule, no porto de Brest, costa da Bretanha, depois de casar no Rio de Janeiro com Francisco Fernando Filipe de Orléans (1818-1900), Príncipe de Joinville, filho de Luís Filipe I, soberano do país onde foi viver – e se tornando, portanto, Princesa Consorte de Joinville. Como sentia frio a bordo, queria se aquecer “com um remédio da terra natal”. Os europeus já conheciam o papagaio, ave nativa do Brasil, Bolívia e norte da Argentina, famosa pela capacidade de aprender a falar como o ser humano. Sabiam ser de animal estimação e não lhes passava pela cabeça levá-la à panela.

A propósito do casamento de D. Francisca de Bragança, só os interesses políticos e diplomáticos explicam o enorme dote dela, oferecido pelo Brasil. Segundo o contrato nupcial, levou para a França, onde fixou residência, “um milhão de dinheiro em espécie, 150.000 francos de renda sobre 6% do tesouro brasileiro e vinte e cinco léguas quadradas nas férteis planícies da província de Santa Catarina”. Tratava-se de um dote muito superior ao habitual na época. Mais tarde, com dificuldades financeiras, o casal negociou a propriedade catarinense com a Companhia Colonizadora Alemã, que fundou a Colônia Dona Francisca, onde surgiu a importante cidade de Joinville.

D. Francisca de Bragança era uma moça alegre, descontraída, brincalhona e adorava se comportar de maneira divertida. Certa vez, tomou a refeição ao contrário: primeiro o café, depois os doces e finalmente uma costeleta. Entretanto, a Canja de Papagaio foi um pedido sincero. Trouxeram-lhe Soupe au Poulet et Riz, ou seja, feita com frango, arroz, um molho no qual entram manteiga, farinha de trigo, gema de ovos e creme de leite. Enfim, uma preparação aparentada com a Canja Brasileira, mas em grau distante.

Com o passar do tempo, os franceses esqueceram da esquisita Canja de Papagaio e se renderam à D, Francisca de Bragança, que os conquistou pela ousadia e espontaneidade. Ganhou inclusive o “petit nom” de “Belle Françoise”, correspondente ao apelido de “Bela Chica”, recebido em família, no Rio de Janeiro natal. O Barão de Langsdorff, embaixador que o rei Luís Filipe I encarregou de articular o casamento do filho no Brasil, descreveu-a favoravelmente em carta enviada à futura sogra da moça.

“A princesa é alta e muito elegante; a sua expressão é amável e a vivacidade da sua fisionomia nada fica a dever à sua dignidade”, afirmou. “A princesa tem cabelos louros, olhos muito escuros e ligeiramente afastados, e um olhar muito agradável. A sua fronte talvez seja proeminente em demasia, mas toda a parte inferior do rosto e da boca possui uma impressão sedutora”. Isso está documentado no livro “Diário da Viagem de D. Francisca de Bragança” (Alétheia Editores, Lisboa, 2006), sobre a mudança da princesa para a França, escrito pela Baronesa de Langsdorff, que a acompanhou na viagem como dama de companhia.

D, Francisca de Bragança adorava sopas. Seu sogro e sogra demonstravam o mesmo gosto. No inverno ou no verão, era prato obrigatório no jantar privado da família real francesa, servido entre as 16 e 17 horas. Precediam todos os outros, junto com as entradas quentes ou frias. Acredita-se que a princesa introduziu ali a Canja Brasileira. O príncipe acompanhava a mulher nessa afeição gastronômica e em muitas outras atividades.

A autora do “Diário da Viagem de D. Francisca de Bragança” testemunhou a grande identidade entre ambos. O casal se divertia bastante na França. Pela manhã, galopava no Bois de Boulogne, o conhecido parque público de Paris. À noite, ao contrário da maioria dos integrantes da família real, ia aos cafés, restaurantes e teatros da capital do país. Bom aquarelista, o príncipe retratou a mulher montada a cavalo. Os príncipes de Joiville tiveram um casal de filhos e, como nos contos de fadas, foram felizes para sempre, mesmo sem a Canja de Papagaio.

NOTA: Não publicamos receita da Canja de Papagaio por tratar-se de animal protegido pela legislação brasileira, ficando o infrator sujeito à lei de crimes ambientais (Lei 9605 de 12 de fevereiro de 1998). A simples posse dessa ave se encontra regulamentada. É permitida desde que o papagaio venha de criadouros autorizados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), com a necessária documentação de origem.

LINK ORIGINAL: VEJA

OS PAIS FUNDADORES DA NAÇÃO

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Dentre as influências que recebeu o então Príncipe Real de Portugal e Regente do Brasil, Dom Pedro de Alcantara, conduzindo-o a proclamar a Independência do Brasil, destaca-se a de sua esposa, a Princesa Real Dona Leopoldina.

A convivência diária com a esposa ampliava muito o seu horizonte, pois o Príncipe Real Regente escutava atento, com interesse, tudo o que a Princesa Real lhe contava sobre sua terra natal, a Áustria, da Corte de Viena, de seu cunhado, Napoleão Bonaparte, da política e da cultura dos países europeus, dos Monarcas do Velho Mundo, etc.

A cultura da Princesa Real impressionava o seu marido. Era o meio que lhe garantia, após conquistar a confiança do Príncipe Real Regente, uma ascendência crescente sobre o seu irrequieto espírito. Entretanto, para o bem da verdade histórica, convém frisar que o futuro Imperador Dom Pedro I, apesar de não tão bem instruído quanto sua esposa – mulher à frente de seu tempo e de inteligência muito acima da média –, não ficava alheio aos assuntos científicos e intelectuais.

- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

Retrato: SS.MM.II. o Imperador Dom Pedro I e a Imperatriz Dona Leopoldina do Brasil.

Fé de Offício de Imperador do Brasil


"Creio em Deus.

Fez-me a reflexão sempre conciliar as suas qualidades infinitas: Previdencia, Omnisciencia e Misericordia.

Possuo o sentimento religioso: innato ao homem, é despertado pela contemplação da Natureza.
Sempre tive fé e acreditei nos dogmas.

O que sei, devo-o, sobretudo, á pertinácia.

Reconheço que sou muito somenos no que é relativo aos dotes da imaginação, que posso bem apreciar nos outros. Muito me preoccuparam as leis sociaes; e não sou o mais competente para dizar a parte que de continuo tomei em seu estudo e applicação.

Sobretudo me interessei pelas questões economicas, estudando com todo o cuidado as pautas das alfandegas no sentido de proteger as industrias naturaes até o periodo do seu prospero desenvolvimento.

Invariavelmente propendi para a instrucção livre, havendo sómente inspecção do Estado quanto á moral e á hygiene, devendo pertencer a parte religiosa ás familias e aos ministros das diversas religiões.

Pensei tambem no estabelecimento de duas Universidades, uma no Norte e outra no Sul, com as faculdades e institutos necessarios e portanto apropriados ás differentes regiões, sendo o provimento das cadeiras por meio do concurso.

Igreja livre no Estado livre; mas isso quando a instrucção do povo pudesse aproveitar de taes instituições.

Estudei com cuidado o que era relativo á moeda corrente e se prendia a questão dos bancos. Quanto a legislação sobre privilegios, oppuz-me aos que se ligam á propriedade literaria, sustentando assim as opiniões de Alexandre Herculano, antes que ele as tivesse manifestado.

Cautelosa e insistentemente estudei questões de immigração sobre a base da propriedade e o aproveitamento das terras, explorações para o conhecimento das riquezas naturaes, navegação de rios e differentes vias de communicação.

Pensava na installação de um observatorio astronomico, moldado nos mais modernos estabelecimentos desse genero. Segundo as minhas previsões e estudos, poderia ser superior ao de Nice.

Cogitei sempre em todos os melhoramentos para o exercito e a marinha, affim de que estivessemos preparados para qualquer eventualidade, embora contrario ás guerras. Buscava assim evita-las.
Preoccuparam-me seriamente os estudos de hygiene publica e particular, de modo a nos livrar das epidemias; e isso sem grande vexame para as populações.

Acompanhava-me sempre a idéia de ver o Brasil que me é tão caro, o meu Brasil, sem ignorancia, sem falsa religião, sem vicios e sem distancias. Para mim, o homem devia ser regenerado e não supprimido; e por isso muito estudava a penalidade, tomando grande parte no que se fez relativamente a prisões e pesanto todas as questões modernas, que tendiam a seu melhoramento.
Procurei abolir a pena capital, tendo-se encarregado o Visconde de Ouro-Preto de apresentar ás Camaras um projecto para a abolição legal da mesma pena. Pacientemente compulsava todos os processos para a commutação da pena ultima : quando não encontrava base para isso, guardava-os, sendo a incerteza já uma pena gravissima para os réos.

Muito me esforcei pela liberdade das eleições e, como medida provisoria, pugnei pela representação obrigada do terço, preferindo a representação uninominal de circulos bem divididos; pois o systema, ainda por ora impraticavel, deve ser o da maioria de todos os votantes de uma nação. Conselho de Estado, organisado o mais possivel como o da França, reformando-se a Constituição, para que pudesse haver direito administrativo contencioso.

Provimento de 1. lugar da magistratura por concurso perante tribunal judiciario para formar lista dos mais habilitados, onde o governo pudesse escolher; concurso também para os lugares de administração; categorias de presidencias para que se preparassem os que deviam rege-las, conforme a importância de cada uma. Trabalhei muito para que só votasse quem soubesse lêr e escrever, o que suppõe riqueza moral e intellectual, isso é, a melhor.

Sempre procurei não sacrificar a administração á política.

Cogitava da construção de palacios para os ramos legislativo e judiciario e para a administração, para bibliotheca e exposições de differentes especies, para conferencias publicas.

Nunca me descuidei da sorte physica do povo, sobretudo em relação a habitações salubres e a preço commodo e á sua alimentação. Nunca deixei de estudar um só projecto, discutindo com os seus autores e procurando esclarecer-me.

O meu dia era todo ocupado no serviço publico, e jamais deixei de ouvir e fallar a quem quer que fosse. Lia todas as folhas e jornaes da capital e alguns das provincias para tudo conhecer por mim quanto possível, mandava fazer e fazia extractos nos das provincias dos factos mais importantes que se ligavam á administração, com a idéia constante de justiça a todos. Assistia a todos os actos publicos para poder ver e julgar por mim mesmo.

Em extremo gostei do theatro dramatico e lyrico, cogitando sem cessar da idéia de um theatro nacional.

Nunca me esqueci da Academia de Bellas Artes, pintura, esculptura, desenho e gravura, e fiz o que pude pelo Lycêo de Artes e Officios.

Desejava estabelecer maior numero de dioceses, conforme comportasse o território, assim como differentes seminarios.

Sempre me interessei pelas expedições scientificas, desde a do Ceará, que publicou trabalhos interessantes, lembrando-me agora da de Agassiz e de algumas que illustraram nossos patricios no continente europêo.

Presidia ultimamente a commissão encarregada do Codigo Civil e esperava que, em pouco tempo, apresentasse ella trabalho digno do Brasil. Pensava na organização de um instituto scientifico e litterario, como o da França, utilisando para isso alguns estabelecimentos de instrucção superior que já possuíamos; e para isso encarreguei o Dr. Silva Costa e outros de formarem projecto de estatutos.
Sempre procurei animar palestras, sessões, conferencias scientificas e litterarias, interessando-me muito pelo desenvolvimento do Musêu Nacional. O que ahi fez o Dr. Couty tornou esse estabelecimento conhecido na Europa; muitos dos trabalhos do Musêu são hoje citados e applaudidos. Preoccuparam-me as escolas praticas de agricultura e zootechnia.

Dei toda a attenção ás vias de communicação de todas as especies no Brasil, tendo feito, além de outros, estudo especial dos trabalhos do engenheiro Hawkshaw relativos aos melhoramentos da barra do Rio Grande do Sul. Do mesmo modo, tudo quanto se referia a estabelecer a circulação do Brasil por agua desde o Amazonas até ao Prata e dahi ao São Francisco, da fóz para o interior, ligando-se por estradas de ferro a região dos Andes ás bacias do Prata e Amazonas.

Oxalá pudesse a navegação por balões aerostaticos tudo dispensar e, elevando-se bem alto assim como a submarina aprofundando-se bastante, nos livrassem ambas das tempestades. São, porém, devaneios...

Nas preoccupações scientíficas e no constante estudo é que acho consolo e me preservo das tempestades moraes...

Dom Pedro de Alcantara.
Cannes, 23 de abril de 1891."

O Sr. Visconde de Taunay, a propósito da Fé de Offício, fez esta declaração:
"Eis o que recebi de Sua Magestade o Senhor Dom Pedro II e entrego á publicidade, como um dos documentos mais bellos, mais sinceros e honrados da história do Brasil."

Visconde de Taunay.
Rio de Janeiro, 27 de maio de 1891.

FONTE: Pedro II. Visconde de Taunay. Segunda edição. Companhia Editora Nacional. 1938. 248 pp.
A Fé de Offício se encontra publicada nas pp. 193-200. A citação do Visconde de Taunay à p. 203.

domingo, 10 de setembro de 2017

TER SIMPATIA PELA MONARQUIA NÃO É COISA DE RICO?

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Ter simpatia pela Monarquia não é coisa de rico, nem de pobre. Monarquia é algo nacional, é algo que envolve o país inteiro, com todas as suas classes sociais.

Recentemente, a Rainha Elizabeth II da Inglaterra completou 60 anos de reinado, e o que se viu foram todas as classes sociais homenageando sua Soberana.

E quando, nos meses anteriores ao plebiscito de 1993, foram realizadas pesquisas de opinião pública em favelas brasileiras, sempre estas se manifestavam majoritariamente favoráveis à Monarquia.

sábado, 9 de setembro de 2017

POR QUE OS MEMBROS DAS CASAS REAIS DO MUNDO INTEIRO NÃO SE MISTURAM COM O POVO?

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São inúmeras as ocasiões em que os membros da realeza têm contato com o povo: festividades, inaugurações, homenagens, visitas, viagens, audiências, recepções, etc.

No Brasil Imperial, qualquer brasileiro, por mais humilde que fosse, tinha acesso garantido ao Palácio e podia falar livremente com D. Pedro II.

A atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II, quando jovem trabalhou ativamente, como enfermeira, tratando dos feridos da Segunda Guerra Mundial.

Foto: S.A.I.R. o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança participa da manifestação de 16 de Agosto de 2015 na Avenida Paulista, em São Paulo.

UM REI FICA NO GOVERNO ATÉ O FIM DE SUA VIDA. O POVO NÃO PODE SE CANSAR?

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Transpondo a situação para uma família, o pai e a mãe podem ser considerados de certa forma rei e rainha em seu lar. Poderia alguém imaginar um filho, neto ou bisneto cansando do convívio com eles? Pelo contrário, qualquer ocasião seria aproveitada para manifestarem consideração e carinho.

Poucos reis ou rainhas tiveram reinando tão extenso – 60 anos – como a atual soberana da Inglaterra, e nem por isso seus súditos ingleses deixaram de sair às ruas para aplaudi-la com entusiasmo. O mesmo aconteceu no Brasil durante o longo reinando de D. Pedro II.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

ANTIGAMENTE A MONARQUIA BRASILEIRA SE IDENTIFICOU MUITO COM A IGREJA CATÓLICA. SE FOR RESTAURADA, NÃO IRÁ PERSEGUIR AS OUTRAS RELIGIÕES?

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É fato que a Família Imperial brasileira por tradição é católica apostólica e romana. Mas a Monarquia é uma instituição que tem admiradores em todas as religiões, e nos tempos atuais seria impensável um soberano perseguir adeptos de um culto que não é o seu.

O Imperador Akihito, do Japão, é a mais alta autoridade da religião xintoísta e é tido como descendente direto da deusa Amaterasu, mas nem por isto persegue os milhares de brasileiros católicos que lá trabalham, ou os milhões de budistas que existem em seu país.

NÃO FOI A MONARQUIA QUE COMEÇOU A ESCRAVIDÃO DOS NEGROS?

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A escravidão é uma triste realidade milenar, e não foi a Monarquia que a criou. Dizem as Sagradas Escrituras que os judeus viveram séculos escravizados no Egito. Pelo costume antigo, todo povo que perdia uma guerra tornava-se escravo dos vencedores.

É fato também que os negros que para cá vieram já eram escravos em seus países de origem, onde viviam em condições sub-humanas. Foram enviados não só para cá, mas para várias partes do mundo, como América do Norte e Central.

Mas no Brasil era constante a preocupação dos monarcas pela libertação deles, que a fizeram gradualmente, passo a passo, num processo lento, mas seguro, até culminar na Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 1888, contrariando os interesses de muitos escravagistas.

O que pouca gente sabe é que a Lei Áurea libertou somente 16% dos descendentes de escravos africanos trazidos para o Brasil. A realidade é que, em 1888, 84% dos afrodescendentes brasileiros já tinha sido libertados anteriormente, sobretudo graças às sucessivas leis emancipadoras e, também, à atuação das confrarias religiosas católicas que angariavam donativos para libertar escravos.

TENDO PODERES, OS SOBERANOS NÃO VÃO SE ENRIQUECER À CUSTA DO POVO?

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Os poderes dos soberanos de nosso tempo estão estritamente limitados pelas Constituições, assim como as dotações orçamentárias colocadas à sua disposição, para a manutenção e os gastos de representação das famílias reinantes.

Além disso, o monarca atua como pai de seus súditos, e roubá-los seria lesar seus próprios filhos. Todo príncipe é preparado desde o berço para uma importante missão, fazendo parte de sua educação uma formação moral sólida.

Muito diferente é o sistema republicano, no qual cada presidente eleito se julga o dono do país e não presta contas efetivas de seus atos.

Imagem: O Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, com sua esposa e filhos - o monarca atua como pai de seus súditos, e roubá-los seria lesar seus próprios filhos.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O PRÍNCIPE E A INDEPENDÊNCIA

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A atitude das Cortes de Lisboa em relação ao Brasil, durante a crise da Independência, havia congregado os brasileiros patriotas, deliberados a emancipar a antiga colônia, com ou sem o auxílio do então Príncipe Real de Portugal e Regente do Brasil, Dom Pedro de Alcântara de Bragança. As combinações para isso marchavam céleres, multiplicando-se os emissários especiais entre as Províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro, estabelecendo ligações para o grande movimento libertador.

Incumbido pelos patriotas do Rio de Janeiro de ir a São Paulo com uma mensagem verbal aos conspiradores, o Capitão Pedro Dias Pais Leme, que foi mais tarde Marquês de Quixeramobim, entendeu que era seu dever, como amigo pessoal do Príncipe Real Regente, passar na Quinta da Boa Vista e lhe narrar o que se tramava.

Sua Alteza ouviu com calma a narrativa e, ao fim, em vez de lhe agradecer ou lhe dar qualquer ordem, pôs-se a falar sobre viagens e caçadas, até que, a certa altura, chegando à janela, começou a olhar o horizonte, no rumo do sul, e, apontando-o a Pais Leme, disse:

– Que belo dia para se viajar!

O oficial compreendeu tudo. Beijou, comovido, a mão do Príncipe Real Regente, desceu rapidamente as escadas, montou seu cavalo e partiu a galope.

- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

A IMPERATRIZ E A INDEPENDÊNCIA

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Os historiadores reconhecem o grande papel que teve a Imperatriz Dona Leopoldina nos acontecimentos que prepararam a Independência do Brasil. São expressivos os textos de algumas das cartas que ela escreveu nos dias ansiosos que precederam o 7 de setembro de 1822:

“Fiquei animadíssima quando vi de repente aparecer meu esposo, ontem à noite. Ele está mais bem disposto agora para os brasileiros do que eu esperava, mas é necessário que algumas pessoas influam mais, pois não está positivamente tão decidido como eu desejaria.

Dizem que as tropas portuguesas o obrigaram a partir. Tudo então estaria perdido, e torna-se necessário impedi-lo.

Os ministros vão ser substituídos por filhos do País, que sejam capazes. Muito me tem custado alcançar tudo isso. Só desejaria insuflar uma decisão mais firme.”

Vasconcelos Drummond, amigo da família de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, participante direto daqueles acontecimentos, afirma:

“Fui testemunha ocular, e posso asseverar aos contemporâneos que a Princesa Leopoldina cooperou vivamente, dentro e fora do País, para a Independência do Brasil. Debaixo desse ponto de vista, o Brasil deve à sua memória gratidão eterna.”

- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

Retrato: a futura Imperatriz Dona Leopoldina, Regente Interina do Brasil na ausência de seu marido, assina o Decreto de Independência do Brasil, a 2 de setembro de 1822.

SE A MONARQUIA FOI BOA, POR QUE OS LIVROS ESCOLARES FALAM TÃO MAL DELA?

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Porque os livros didáticos são, na maioria, patrocinados por governos republicanos. Há uma verdadeira pressão psicológica para que os autores escrevam o que os governos querem, caso contrário seus livros não serão adotados.

Entretanto, cada vez mais autores independentes e imparciais relatam a verdadeira História do Brasil, escapando assim da censura governamental.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

SE A MONARQUIA É TÃO BOA, POR QUE OS BRASILEIROS NÃO PROMOVERAM A VOLTA DELA LOGO NO INÍCIO DA REPÚBLICA?

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Movimentos nesse sentido houve, e muitos brasileiros foram violentamente perseguidos e até mortos porque simpatizavam com os ideais monárquicos. Mas apesar das perseguições e dos 100 anos de silenciamento, o ressurgimento monárquico está aí, inconteste. Prova? A divulgação deste trabalho, com enorme aceitação de todas as classes sociais, sobretudo de jovens! Criadas as condições para a Restauração, esta se dará com naturalidade, sem a necessidade de golpes, revoluções, mortes, como sempre fazem as repúblicas.

– Trecho da cartilha "Direita? Esquerda? Siga o melhor caminho: Monarquia" da Pró Monarquia - Casa Imperial do Brasil.

Imagem: SS.AA.II.RR. os Príncipes Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, e Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil, durante o Plebiscito de 1993, primeira manifestação legal da Monarquia no Brasil após mais de 100 de silenciamento pelos governos republicanos.

NUMERICAMENTE, QUANTOS SÃO OS MONARQUISTAS NO BRASIL?

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Diariamente chegam, de todo país, pelo site monarquia.org.br e pelo Facebook da Pró Monarquia - Casa Imperial do Brasil, incontáveis mensagens de simpatia pela causa monárquica.

São manifestações espontâneas de pessoas que se empenham em manter contato, algumas se oferecendo para formar grupos de aderentes locais. Também já são vários os blogs e redes sociais especializados na matéria.

Embora não seja possível quantificar, é sem sombra de dúvida grande o número de brasileiros monarquistas ou simpatizantes da Monarquia. E esse número cresce a cada dia, sobretudo entre o público jovem.

sábado, 2 de setembro de 2017

A CARTA AOS CONSTITUINTES DE 1987

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[Publicamos a Carta que, no Dia da Pátria, 7 de setembro de 1987, S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, dirigiu aos Deputados e Senadores da Assembleia Nacional Constituinte que elaborava a atual Constituição Brasileira (a 6º da República), pedindo-lhes que, em um momento chamado de Abertura, em que se dava liberdade até aos comunistas e guerrilheiros mais extremados, também fossem garantidos os direitos políticos dos monarquistas, calados e perseguidos por uma cláusula pétrea que figurara em todas as Constituições republicanas até então. Foi por meio desse documento de enorme valor histórico, político e literário, que hoje os monarquistas podem atuar, livremente e cada vez mais fortes e visíveis, em prol da restauração da Monarquia no Brasil.]

São Paulo, 7 de setembro de 1987.

Senhores Constituintes,

É na condição de Chefe da Casa Imperial do Brasil que tenho o prazer de me dirigir a V. Exas., e o faço neste 7 de setembro que transcorre numa conjuntura história realmente digna de nota. De um lado, já estamos a poucos meses do 100º aniversário da libertação dos escravos, e a dois anos apenas do centenário da proclamação da República; de outro lado, o Brasil se encontra presentemente numa encruzilhada decisiva, como talvez nunca tenha havido em sua História.

– I –

1822-1987 – CONTINUIDADE DA AÇÃO HISTÓRICA DA CASA IMPERIAL

Posso afirmar com ufania que, nos 67 anos de regime monárquico, como nos quase 100 anos de vigência do regime republicano, a Família Imperial aproveitou todas as oportunidades ao seu alcance para bem servir o Brasil. E que sempre o fez dentro da mais estrita legalidade.

Seja-me dado mencionar, a esse propósito, vários fatos significativos, posteriores à proclamação da República e muito conhecidos a seu tempo no Brasil, mas que o correr dos anos, agitados pelo torvelinho do viver moderno e pela dramaticidade das crises e guerras internacionais, fez esquecer gradualmente.

O EXEMPLO DE D. PEDRO II

A inteira disponibilidade para o serviço da Pátria, e ao mesmo tempo a observância meticulosa às leis vigentes, já caracterizaram a conduta de meu trisavô, D. Pedro II, no decurso do breve tempo em que sobreviveu ao golpe de 15 de novembro.

É clássica a página de Affonso Celso, narrando seu último encontro com o velho Monarca, num hotel modesto de Versailles:

“A palavra de D. Pedro II (...) palpitava de ardor, a que o seu venerando aspecto, a sua autoridade moral, os nobres impulsos a que obedecia, comunicavam eloquência irresistível.

“– Quanto a voltar, continuou (...), se me chamarem estou pronto. Seguirei no mesmo instante e contentíssimo, visto ser útil ainda à nossa terra. Mas se me chamarem espontaneamente, notem. Puseram-me para fora... Tornarei se se convencerem de que me cumpre tornar. Conspirar, jamais. Não se coaduna com a minha índole, o meu caráter, os meus precedentes. Seria a negação da minha vida inteira. Nem autorizo ninguém a conspirar no meu nome ou no dos meus.” (“O Imperador no Exílio”, 2º edição, p. 57).

... SEGUIDO POR SUA FILHA, A PRINCESA ISABEL

A mesma linha de conduta deliberou seguir minha bisavó, a Princesa Isabel, que jamais incentivou nem autorizou qualquer tentativa de restauração monárquica por meios violentos. Sendo de piedade notória, ela continuou concorrendo com o valor de suas preces para que nosso País prosseguisse nas vias gloriosas da Civilização Cristã, rumo à peculiar grandeza – também cristã – que ela sabia ser o destino de nossa Pátria.

Por outro lado, interpôs ela toda a sua influência junto aos meios eclesiásticos da França, onde vivia com seu esposo, o Conde d’Eu, para que no célebre santuário do Sagrado Coração de Jesus, erguido em Paray-le-Monial, centro de convergência de piedade dos católicos de todo o mundo, estivesse presente o Brasil, por uma placa impetratória que ficou aposta a um dos muros desse lugar sagrado.

Igualmente foi por iniciativa dela, e por seu intermédio, que o Episcopado brasileiro enviou, em 1901, uma súplica ao Papa Leão XIII, pedindo a proclamação do dogma da Assunção de Maria Santíssima.

Encaminhando ao Pontífice a mensagem dos Bispos do Brasil, escrevia minha bisavó: ‘Longe de minha Pátria, sinto-me feliz ao menos por trabalhar pelo que nela pode fortificar a Fé’ (carta de 6-6-1901).

Dessa forma, o Brasil juntava sua voz ao clamor universal dos fieis, para que mais um título de glória da Santa Mãe de Deus fosse solenemente proclamado pela Igreja. Quase meio século depois, a 1º de novembro de 1950, Pio XII houve por bem definir, como dogma de Fé, a Assunção Corpórea de Maria aos céus.

Generosa e caritativa que era, a Princesa Isabel destinava parte de seus apenas suficientes recursos ao socorro dos pobres e doentes. Os pedidos que lhe chegavam do Brasil, muito numerosos, eram preferencialmente atendidos, com discrição e solicitude.

... E TAMBÉM PELO CONDE D’EU E POR SEUS FILHOS

Ele fez questão de educar num acendrado amor à nossa Pátria seus três filhos. Isso explica que, declarada a Primeira Guerra Mundial, dois deles que se encontravam em condições de combater se inscrevessem sob a bandeira inglesa, na persuasão de que, cedo ou tarde, o Brasil haveria de ingressar no conflito, e que dessa maneira eles se antecipavam no serviço de sua terra.

Meu bisavô, o Conde d’Eu, lembrado dos saudosos anos em que, como Marechal do Exército brasileiro, comandara nossas tropas na Guerra do Paraguai, não hesitou em inscrever-se na guarda cívica em que se alistavam franceses de idade avançada, dispensando assim o serviço de jovens que podiam acorrer aos campos de batalha. Era com emoção – ele confessou em carta ao historiador Max Fleiuss – que ele esperava o momento em que as tropas brasileiras chegariam à Europa, para se juntarem aos exércitos aliados.

O “PRÍNCIPE PERFEITO”: INTENSO ANELO DE VISITAR O BRASIL

Meu avô, o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, apesar de já casado e pai de três filhos, serviu nas linhas avançadas da frente belga, participou ativamente de diversas batalhas e veio a falecer, em março de 1920, com apenas 42 anos de idade, em conseqüência de um reumatismo ósseo contraído nas trincheiras do Yser. Por seu desempenho heroico foi citado em ordem do dia do Exército francês e condecorado, a título póstumo, pela França, pela Bélgica e pela Inglaterra.

Durante as operações bélicas, frequentemente ia, a serviço, ao quartel general de seu primo, Alberto I, o Rei dos Belgas. Nas conversas que então com este mantinha, mostrava meu avô um tão alto espírito cívico e patriótico, que “o Rei Cavaleiro” – como era chamado Alberto I – dele disse ser o mais perfeito Príncipe da Europa. Daí ficar ele conhecido, no Brasil, como “o Príncipe Perfeito”.

Já antes da Guerra, em 1907, seu zelo patriótico se manifestara durante a malograda viagem ao Brasil, empreendida com a esperança de visitar a nossa Pátria. Impedido de desembarcar no Rio de Janeiro pelo governo Affonso Pena – que se baseou em parecer de Ruy Barbosa –, meu avô recebeu a bordo incontáveis visitas de brasileiros, e pôde novamente contemplar, saudoso, o panorama incomparável da baía de Guanabara, o qual haveria de descrever nas páginas emocionantes de “Sob o Cruzeiro do Sul”.

Tal foi a repercussão que teve em nosso País esse livro, que seu autor chegou a ser candidato à vaga aberta na Academia Brasileira de Letras pela morte do Almirante Barão de Jaceguai. E apesar do insuspeito voto favorável de Ruy Barbosa, em razão de circunstâncias políticas, sua eleição não se concretizou.

Frustrada assim a razão principal da viagem, prosseguiu meu avô seu peregrinar por outros países da América do Sul – Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai – com o seu coração e o melhor de suas atenções permanentemente voltados para as fronteiras do Brasil. E não encontrou sossego senão quando, devendo deslocar-se de Puerto Suárez, na Bolívia, à localidade paraguaia de Bahia Negra, conseguiu licença para percorrer uma parte do rio Paraguai que atravessava o território mato-grossense. A licença, porém, foi-lhe concedida com o prévio compromisso de honra de não tomar vapor que arvorasse a bandeira nacional, e de não desembarcar em solo pátrio. Com dor de alma, meu avô cumpriu conscienciosamente ambas as condições.

Quanto a seu irmão mais moço, o Príncipe D. Antonio, também ele faleceu ainda em serviço militar, num avião caído perto de Londres, ao final do conflito.

A PRINCESA ISABEL E O PAI DA AVIAÇÃO

Enquanto esses fatos transcorriam, a Princesa Isabel ocupava o pouco que lhe restava viver, pensando com saudades no Brasil, e mantendo larga correspondência com pessoas de sua amizade que ela deixara aqui ao ser exilada. Seus salões estavam sempre abertos para os inúmeros brasileiros que a procuravam em suas residências de Boulogne-sur-Seine e do Castelo d’Eu.

Muito relacionado com a Família Imperial no exílio foi, por exemplo, Santos Dumont, o Pai da Aviação. Sentia-se minha bisavó ufana por ver um brasileiro vencer o desafio da navegação aérea. E estendia a ele o sentimento maternal que tinha por todos os brasileiros: preocupava-se pelo inventor, rezava fervorosamente por ele quando de seus arriscados vôos nos céus de Paris, e tinha especial gosto em lhe mandar saborosos farnéis, para que se alimentasse, no parque de Bagatelle, sem precisar interromper os treinamentos.

RETORNO À PÁTRIA SAUDOSA

Em setembro de 1920, uma benemérita decisão do Presidente Epitácio Pessoa revogou a “lei do banimento”, e autorizou a trasladação, para o Brasil, dos restos mortais de D. Pedro II e da Imperatriz D. Teresa Cristina.

As condições de saúde de minha bisavó – a essa altura já muito precárias – não mais lhe permitiram atravessar o Oceano, como desejava. Mas acompanhando os veneráveis despojos veio o Conde d’Eu, juntamente com D. Pedro de Alcântara, dileto que filho que a Guerra poupara. Aqui permaneceram até fevereiro de 1921.

A 14 de novembro do mesmo ano, expirava tranquilamente no Senhor a Princesa Isabel. A gratidão e as bênçãos do elemento servil libertado lhe foram, com certeza, de grande valia aos pés do trono de Deus.

No ano seguinte, viajaram os meus novamente ao Brasil, a convite do mesmo Presidente Epitácio Pessoa, a fim de participarem das comemorações do centenário de nossa Independência, sendo recebidos, por aquele insigne estadista, com expressivas manifestações de seu apreço, enquanto Chefe de Estado, e de seu valioso devotamento enquanto ardoroso brasileiro, bem como por sua nobre esposa, D. Mary Pessoa.

Tornando as circunstâncias possível que aqui voltassem a residir novamente os membros da Família Imperial, foram estes regressando, com gáudio de alma, à sua Pátria, e hoje aqui vive toda a descendência masculina de D. Pedro II.

MEU PAI, AGRICULTOR, CHEFE DE FAMÍLIA E ARTISTA – ANTES DE TUDO BRASILEIRO DE ACENDRADO AMOR À PÁTRIA

Meu Pai, D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança, primogênito do Príncipe D. Luiz, nasceu em 1909, no exílio, e foi batizado com água levada do Chafariz do Largo da Carioca. Herdou ele diretamente de sua avó, a Princesa Isabel, a Chefia da Casa Imperial do Brasil, uma vez que seu pai já era falecido quando a Redentora encerrou seus dias. Chegado ao Brasil, dedicou-se desde logo à agricultura, que exerceu com empenho no Paraná e depois no Estado do Rio de Janeiro.

D. Pedro Henrique tinha plena consciência de que, se não era oportuno que desenvolvesse aqui um papel político, restava-lhe porém um grande papel de ordem social a desempenhar. Pois a sociedade brasileira como um todo – incluída nessa designação todas as classes sociais – sempre conservou admiração e respeito para com a Família Imperial, o que se pode afirmar, sem distinção de colorido político, tanto dos brasileiros republicanos, quanto dos que continuaram fieis à causa monárquica.

Meu Pai deu ao Brasil o exemplo, não tão freqüente em nosso País e em nossos dias quanto seria de desejar, de um chefe de família modelar, que com sua esposa, minha Mãe, a Princesa D. Maria da Baviera de Orleans e Bragança, nos ensinou – a mim e aos meus onze irmãos e irmãs – que nós, mais ainda do que quaisquer outros brasileiros, temos pesadas obrigações para com a Pátria, e devemos estar dispostos a servi-la em qualquer campo e em qualquer momento que isso nos seja pedido.

Sendo dotado de notável sensibilidade artística, meu Pai passou os últimos anos de vida em seu atelier, empenhado em pintar aquarelas sobre motivos de arquitetura tradicional brasileira. Pode-se dizer que ele foi um dos propulsores da sadia tendência que hoje se faz notar em certos meios culturais e artísticos brasileiros, no sentido de valorizar e preservar a assim chamada “memória nacional”.

Até falecer, em 1981, prosseguiu ele a mesma linha de conduta que caracterizaram seus antecessores. Sem embargo da inalterável disposição de servir o Brasil, manteve modelar observância das leis vigentes, e se absteve sistematicamente de toda tentativa de perturbação da ordem legal em nome de um sentimento monárquico por certo muito legítimo e digno de respeito, mas cuja efetividade política deveria ser guardada para dias melhores.

A FAMÍLIA IMPERIAL INTEGRADA NO BRASIL DE NOSSOS DIAS

Foi nesse espírito que, à uma, a Família Imperial participou das cerimônias de trasladação dos despojos da Imperatriz D. Leopoldina, para o monumento nacional do Ipiranga, em 1954; da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, para a Catedral de Petrópolis, em 1971; do Imperador D. Pedro I para o monumento do Ipiranga – onde tanto merecia repousar o proclamador da nossa Independência – em 1972, durante os festejos do sesquicentenário da Independência; e, em 1982, dos restos da Imperatriz D. Amélia, e de sua filha, a Princesa D. Maria Amélia, também para o Ipiranga. Uma abstenção da Família Imperial poderia deslustrar as cerimônias, conferindo-lhes um caráter político que reavivasse discórdias sobre as quais o tempo havia deixado cair a sua pátina. De modo algum a Família Imperial quereria contribuir para que um efeito desses se produzisse. Sem qualquer ressentimento pelo passado, associou-se às autoridades que então exerciam o poder, na oração por aqueles ilustres mortos, e na participação das cerimônias comemorativas que elas haviam organizado.

– II –

MEU CONSEQUENTE APELO AOS SRS. CONSTITUINTES

Essa sequência de fatos, com os respectivos pormenores, ajuda-me a externar como sinto as circunstâncias em que presentemente se encontra o nosso País. E como me acho obrigado, por um dever de honra, a tomar a atitude que agora tomarei.

O BRASIL EM UM CONJUNTO DE CRISES, E A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

O Brasil atual se está debatendo não propriamente numa crise, mas numa convergência de crises de ordens diversas – morais, sociais, econômicas – que constituem um só torvelinho o qual vai agitando a Nação de ponta a ponta. A esse conjunto de crises não falta sequer a crise religiosa, ocasionada por divergências que se pronunciam, infelizmente, em nível mundial na Santa Igreja, e vão repercutindo cada vez mais em nossa população tão católica.

Nunca, em seus 165 anos de vida independente, o País esteve numa encruzilhada tão decisiva. Do rumo que ele tomar agora – e, permitam-me os Srs. Constituintes que o diga, do rumo no qual o guiarem V. Exas. – dependerá não só o futuro próximo do Brasil, mas também, em uma perspectiva histórica de mais longo prazo, todo o grandioso porvir que o espera nos séculos vindouros.

ANTE A EVENTUALIDADE DE PLEBISCITO SOBRE A FORMA DE GOVERNO

É precisamente nessa emergência – a qual eu vinha acompanhando com natural reserva, mas profundamente atento – que recebo a comunicação de que brasileiros em número não pequeno, tendo à sua testa a figura relevante do Deputado Cunha Bueno (PDS-SP), apresentaram um abaixo-assinado à Assembleia Nacional Constituinte, no qual, abstração feita de questões dinásticas, pedem um plebiscito a respeito da forma de governo que deva ser adotada em nosso País, cabendo três opções: a República Presidencial, a República Parlamentar e a Monarquia Parlamentar. Esse referendo seria realizado em 1993, após terem os propugnadores de cada forma de governo podido, com toda liberdade inerente às atuais instituições, defender junto à opinião pública suas idéias.

De mais de um lado foi-me solicitado minha opinião sobre esse abaixo-assinado, promovido por beneméritas entidades dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, e ao mesmo tempo a manifestar à Constituinte minha solidariedade com ele.

O que equivale a dizer que uma parcela dos monarquistas e, mais amplamente, dos brasileiros, deseja que eu me manifeste.

Argumentam eles que a presente conjuntura me pede mais do que a reserva que as circunstâncias haviam indicado aos meus maiores. Reunida a Assembleia Nacional Constituinte, está ela investida, segundo a doutrina jurídica vigente, de poderes soberanos. E, no exercício desses poderes, pôs-se ela ao alcance de todos os brasileiros para lhes ouvir a voz e lhes conhecer os anseios.

Na condição de continuador de linhagem tão intimamente unida à História da Pátria, e por isso mesmo destinada ao serviço desta por um liame de natureza histórica e afetiva superior até mesmo a quaisquer cogitações políticas, consideram esses abnegados brasileiros que, neste momento, não me devo calar. E bem vejo que lhes assiste toda a razão.

Este é o motivo pelo qual, Srs. Constituintes, eu me dirijo a V. Exas., a fim de lhes manifestar alguns desejos apresentados com simpatia e apreço.

EM MEIO À CONVULSÃO UNIVERSAL, OS ANSEIOS DE UM POVO CRISTÃMENTE ALTANEIRO E BOM

Estou persuadido de que nosso povo, altaneiro, religioso e bom, nada tem de comum com as vozes enganadoras que de todas as partes se levantam, fazendo ouvir sentimentos de discórdia e anseios de convulsão.

Não é em direção ao que elas apontam que o Brasil deve rumar. A medida em que a dureza das circunstâncias internacionais presentes vai acirrando os ânimos, o povo brasileiro resiste ao convite universal para a concorrência, para a rivalidade e para um desfecho de proporções apocalípticas. E lhe resiste, não só porque tal é o seu interesse – e, bem entendido, é seu direito incontestável – mas porque ele é cristão e bom, e em todas as circunstâncias o primeiro impulso de sua alma é a procura da concórdia, sob o bafejo do afeto.

UNIDADE E CONTINUIDADE HISTÓRICA BRASILEIRAS, AMEAÇADAS POR EXORBITANTE INTERPRETAÇÃO DO PASSADO

Não permitam, Srs. Constituintes, que por razão alguma se dilacere em disputas artificiais e acres nossa unidade nacional. O que indubitavelmente se daria caso se consentisse no retalhamento de nosso País para a formação de como que “nações” encravadas na nossa, portadoras de uma herança étnica e cultural apresentada como se, em muitos de seus aspectos, fosse insusceptível de integração harmônica no Brasil. A tal o convidam teólogos e sociólogos, pensadores sem tino, entre os quais não falta até quem malsine a hora em que as caravelas com a Cruz de Cristo abordaram nosso litoral, trazendo com os missionários as benções, as promessas e as riquezas espirituais da Civilização Cristã. E quem ademais vê como transgressores do direito de propriedade dos povos que aqui estavam, os bravos lusos que, ao ocuparem as imensidões ermas de nosso território, cumpriam o preceito divino “Crescei e multiplicai-vos, povoai toda a terra” (Gênesis, I, 28).

Proteção ao querido povo indígena, manutenção de suas características, tudo isto lhes desejo para que, sem se dissolverem na Pátria comum, sejam elementos positivos para a caracterização dessa fraternal soma de raças e de povos que é chamado a ser o Brasil.

A LUTA DE CLASSES, VIA QUE O BRASIL INTEIRO REJEITA

Igualmente recuso-me a ver nas relações entre capital e trabalho uma liça de atritos cada vez mais agressivos. Injustiças as há onde quer que existam homens. E cumpre que todos – os legisladores quiçá mais do que ninguém – tratem de as extirpar. A erradicação das injustiças não pode, porém, ter como rota a luta de classes, em que elas se acirram, e caminham para se tornar fratricidas. Isto, de alto a baixo de sua estrutura sócio-econômica, os brasileiros o querem. A luta de classes não é substâncias das relações capital-trabalho, mas sim a degenerescência delas. Sobram-nos os recursos para com sagacidade, firmeza e prudência, aperfeiçoar cada vez mais – no âmbito da propriedade privada e da livre iniciativa, aprimoradas pela observância das respectivas funções sociais – relações inspiradas pela justiça e pela caridade cristãs. O que peço a V. Exas. é a colaboração de todos para essa meta comum.

Há nisto uma utopia, poderão objetar, rindo-se, patrícios nossos inspirados por influências alienígenas.

Mas minha resposta é que se o Estado não extravasar de suas atribuições, se ele defender a propriedade privada e a livre iniciativa, se ele favorecer a caridade e se, sobretudo, ele franquear ao trabalho dos pobres seu latifúndio imenso de terras devolutas, ser-lhe-á possível resolver uma questão social que tantos se empenham em pintar com cores exageradamente negras, para apresentá-la como irremediável sem uma convulsão sócio-econômica.

REFORMAS INJUSTAS E LIBERTICIDAS – TEMERÁRIO MINGUAMENTO DAS ATRIBUIÇÕES DAS FORÇAS ARMADAS

A liberdade... quanto se fala dela! E quantos pensam caminhar em direção a ela, mas de fato andam rumo à tirania! A partir do momento em que o Poder Público, por sucessivas reformas – agrária e urbana, esta última tanto aplicada a bens fundiários quanto a indústrias comerciais – esteja investido do suposto direito de desapropriar a preço vil quaisquer terras, imóveis urbanos ou empresas do País, quem, no Brasil, continuará a ser verdadeiramente livre?

E se porventura se retirarem a nossas Forças Armadas sua natural atribuição de garantir a ordem interna, a quem se dará liberdade, senão à mazorca e até à revolta?

Não é o caso de entrar em pormenores. Esses poucos pontos, a que aludo como que de passagem, bem indicam o rumo geral que desejo para nossa Pátria.

A LIBERDADE DE AÇÃO MONARQUISTA, NUM BRASIL EM QUE ATÉ A PROPAGANDA COMUNISTA É LIVRE

E esta liberdade que desejo a todos, desejo-a também para aqueles dentre os brasileiros que se voltam para mim neste momento, com especial esperança de apoio e de orientação.

Não lhes seja negada agora, Srs. Constituintes, a liberdade que V. Exas. se gloriam de ver reconhecida a toda a Nação, e isto a tal ponto que, mesmo a homens que se destacaram na luta por vezes cruenta da mais extremada esquerda, ela é reconhecida. E lhes são franqueadas funções das mais altas no Estado.

Assim, aos que seguem a linha de pensamento pacífica, ordeira, impregnada de espírito de colaboração como são os monarquistas, não sejam vedados na nova Constituição direitos iguais aos que são concedidos aos mais impetuosos dentre os comunistas.

Com efeito, estou persuadido de que há todas as razões para admitir que o regime monárquico atua, de per si, do modo mais eficaz para ajudar o Brasil a que saia com felicidade do conjunto de crises que ameaçam submergi-lo. E penso que, para todos os brasileiros animados por tal persuasão, é um direito e é um dever atuar no sentido de que esse regime se estabeleça no Brasil.

Estou de acordo, pois, em que devemos pedir à atual Constituinte que não inclua, no futuro texto constitucional, a “cláusula pétrea” que foi fixada na Constituição de 1891. Essa cláusula proibia, como sabem V. Exas., que fosse objeto de consideração do Legislativo qualquer proposta de modificação da forma republicana de governo (art. 90, § 4º). O mesmo dispositivo foi inexplicavelmente repetido pelas Constituições de 1934 (art. 178, § 5º), de 1946 (art. 217, § 6º) e pela de 1967, atualmente em vigor (art. 47, § 1º). Essas Constituições, que reconheciam a todos os brasileiros, sem distinção, o direito de manifestar livremente o seu pensamento, de fato faziam uma distinção, excluindo uma categoria deles. Eram os monarquistas, impedidos discriminatoriamente de organizarem e de trabalharem legalmente para a vitória de sua causa por via eleitoral.

O “APARTHEID” IDEOLÓGICO CONTRA OS MONARQUISTAS CONTRADIZ O REGIME REPUBLICANO

Esse singular “apartheid” ideológica se torna, no Brasil de hoje, tanto mais incoerente quanto o regime de Abertura foi constituído sob o lema da repulsa a todas as discriminações e “apartheids”. A manutenção da referida “cláusula pétrea” no Brasil não tem, portanto, a menor razão de ser.

Quando o Império era vigente, aliás, tal discriminação não se suportaria contra os republicanos, que aqui gozavam de toda a liberdade. Se coisa diversa acontecesse, muitos dentre os próprios monarquistas haveriam de cerrar fileiras em torno de seus adversários políticos, para que tal liberdade lhes fosse concedida.

Como explicar que o regime republicano – o qual se pretende ainda mais cioso das liberdades do que o regime monárquico – tolha entretanto à causa monárquica o direito de existir no coração de muitos brasileiros, de se propagar e de disputar ante o País livres as preferências para si mesmo? Não é isto amordaçar o País, impedindo-o de escolher seus rumos quando e como ele quiser?

A “CLÁUSULA PÉTREA”: PARA OS MONARQUISTAS, AMORDAÇAMENTO DISCRIMINATÓRIO, PARA OS REPUBLICANOS, DESPRESTÍGIO

À vista das circunstâncias aqui expostas apresento, pois, à Assembleia Nacional Constituinte este pedido: que em nossa nova Carta Magna não seja mantida a “cláusula pétrea” que consta do Substitutivo ao Projeto de Constituição atualmente em tramitação (art. 92, § 4º, II).

A ser recusada a liberdade a que temos direito, que resultaria disso? Para os próprios republicanos, apenas desprestígio aos olhos da opinião mundial. Pois ficaria patente que, decorrido quase um século da proclamação da República, esta última ainda não sente arraigo popular suficiente para ser coerente consigo mesma e enfrentar sem apreensões a oposição monárquica. O que a mostraria consciente de que esse espírito monárquico ainda lateja no fundo do coração de incontáveis brasileiros.

Por outro lado, a inocuidade da aludida discriminação se revela pelo próprio fato de que, em 1987, quase nos umbrais do século XXI, ainda a solução monárquica se apresenta à Constituinte como uma eventualidade. Como uma eventualidade para a qual olha com esperança, ou com uma interrogação carregada de simpatia, um crescente número de brasileiros. Não prova isso, mais do qualquer outro argumento, o quanto foi contraproducente aquela medida de rigor? Por que mantê-la então?

* * *

Na esperança de que V. Exas., Srs. Constituintes, ponderem os argumentos aqui expostos e tomem em consideração esses meus anelos, manifesto-lhes desde já meu agradecimento. Incontáveis brasileiros, monarquistas ou não, não compreenderiam da parte de V. Exas. outra atitude. E não só eles hoje, mas a História amanhã, não lhes regatearão aplausos se V. Exas., coerentes consigo mesmas, reconhecerem a liberdade de ação dos brasileiros monarquistas.

Peço a Deus que ilumine os Srs. Constituintes, para que dotem nosso País de uma Constituição realmente condizente com os sagrados direitos e os altos interesses de nossa Pátria.

Luiz de Orleans e Bragança