Lima Barreto foi um dos nossos grandes escritores. Nascido em fins do século XIX, foi testemunha ocular dos primeiros anos da violenta, triste, corrupta e jovem República brasileira.
Leia esse maravilhoso texto escrito em 1918 (mas que poderia ser de 2016) e veja a diferença entre a Monarquia e a República:
"Não gosto, nem trato de política. Não há assunto que mais me repugne do que aquilo que se chama habitualmente política. Eu a encaro, como todo o povo a vê, isto é, um ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados que exploram a desgraça dos humildes.
Nunca quereria tratar de semelhante assunto, mas a minha obrigação de escritor leva-me a dizer alguma coisa a respeito, a fim de que não pareça que há medo em dar, sobre a questão, qualquer opinião.
No Império, apesar de tudo, ela tinha alguma grandeza e beleza. As fórmulas eram mais ou menos respeitadas; os homens tinham elevação moral e mesmo, em alguns, havia desinteresse.
Não é mentira isto, tanto assim que muitos que passaram pelas maiores posições morreram pobríssimos e a sua descendência só tem de fortuna o nome que recebeu.
O que havia neles não era ambição de dinheiro. Era, certamente, a de glória e de nome; e, por isso mesmo, pouco se incomodariam com os proventos da "indústria política".
A República, porém, trazendo a tona dos poderes públicos a borra do Brasil, transformou completamente os novos costumes administrativos e todos os "arrivistas" se fizeram políticos para enriquecer.
A República no Brasil é o regime da corrupção. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a "verba secreta", os reservados deste ou daquele ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência".
Lima Barreto faleceu em 1922.
O golpe republicano ocorrido em 15 de novembro de 1889 é um dia de infâmia. Um dia para ser lembrado com luto e vergonha.
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