quarta-feira, 5 de abril de 2017

A REVISTA ILLUSTRADA

Ficheiro:José Bonifácio, por Angelo Agostini.jpg
"José Bonifácio perdendo as estribeiras... "
A Illustrada não poupava as figuras proeminentes do Império.

A Revista Illustrada foi uma publicação satírica, política, abolicionista e republicana brasileira, fundada no Rio de Janeiro pelo ítalo-brasileiro Angelo Agostini, circulando durante os anos de 1876 a 1898.

Com oito páginas, a Revista possuía uma tiragem semanal de quatro mil exemplares retratando de modo satírico os fatos ocorridos. Não tinha patrocinadores nem veiculava propagandas ou reclames, tendo sua única subsistência advinda da venda dos exemplares. Isso se passou, entretanto, apenas durante a primeira fase da publicação.

A Revista teve duas fases distintas


  1. A primeira, sob a direção de Agostini, que durou até quando da Proclamação da República (1889), quando o artista - assim como o Imperador - deixam o país; Dom Pedro exilado, por conta do golpe militar, Agostini por ter fugido com uma amante;
  2. A segunda, sob a direção do também caricaturista Pereira Neto, funcionou de forma irregular. O retorno de Agostini, em 1895, o fez tornar-se apenas um funcionário. A Revista viria a desaparecer, definitivamente, pouco tempo depois.

O pesquisador Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, especialista na história da Illustrada, assinala que a primeira fase da revista (de 1876 a 1888, segundo ele) teve seu sucesso devido ao fato de reportar as grandes aspirações do público numa linguagem acessível (para o que contribuíam as ilustrações), e por sua completa independência e liberdade editorial.

A Revista Illustrada publica, em 1884 aquela que é considerada a primeira história em quadrinhos do Brasil. As Aventuras de Zé Caipora, voltada ao público infantil, trouxe a lume a personagem que viria a ser recorrente na revista. Zé Caipora ilustrou capas da Revista, como a de número 369 e, quando da edição comemorativa de doze anos da publicação, foi feito um desenho em folha dupla, nas página centrais, espécie de pôster, com a personagem.

Angelo Agostini

Dono de traço inconfundível, Agostini - que já havia participado como ilustrador de outras publicações - iniciou sua própria edição semanal da Revista, tornando-se rapidamente num dos grandes veículos opositores ao regime monárquico e à escravidão.

Em suas páginas o caricaturista atacava de modo contumaz e ácido a figura do Imperador Pedro II, sendo considerado um dos responsáveis pela deterioração da imagem pública do soberano: para se ter ideia da ferocidade dos ataques, numa edição de 1882 a Revista traz uma história em quadrinhos onde o soberano é acusado de acobertar os ladrões das jóias da coroa, como se fosse cúmplice destes (coisa que não era verdade). Tais ataques exerciam grande influência na opinião pública coetânea.

Seu posicionamento anti-escravocrata era tão lapidar que o principal líder do abolicionismo, Joaquim Nabuco, apelidara-a de Bíblia da Abolição. Quando da Lei Áurea a Revista dedicou um número cuja capa celebrizou-se com a figuração da festa pelo fim da prática hedionda.

Concorria a Illustrada com a revista "O Besouro", sob a direção do artista luso Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Segundo o pesquisador português José Augusto França as provocações de Agostini na Illustrada teriam levado Bordalo a reagir de modo violento e explosivo.

O episódio de provocações passou-se entre novembro e dezembro de 1878, quando Agostini - que atacava a tudo e a todos - provocara o rival, levado pela queda de compradores junto à grande comunidade lusitana do Rio de Janeiro. Quando reage, Bordalo retrata Agostini como um engraxate, mandando-o "à margem". Este reage, dizendo que "Agradecemos a fineza. Sabemos reconhecer que à margem d'O Besouro é o lugar mais limpo dessa folha". Colaboradores de Bordalo deixam o periódico, que fecha, voltando o cartunista para Portugal, em março do ano seguinte.

Com a República e o fim da escravidão, a realidade no país não sofre grandes mudanças; O conteúdo crítico original perde sentido - e Agostini já não é mais o porta-voz dos anseios populares, agora às voltas com os descaminhos do novo Regime.

A Illustrada, que era republicana desde seu início, nada falou durante o ditatorial governo de Floriano Peixoto, e vivendo a sua segunda fase em dependência e envolvimento com o novo Regime, perdeu sua cumplicidade com o público, e desaparecendo definitivamente.

Ficheiro:Agostini Zé Caipora.jpg
Zé Caipora

Ficheiro:Revista Illustrada 429.jpg
Capa da Illustrada nº 429, de 1886:
A capa registra Quintino Bocaiúva pintando um quadro, alusivo à febre amarela, enquanto os poderes públicos assistem impassíveis à cena, representados como vacas.

Deodoro da Fonseca apresenta a República em seu primeiro aniversário,
dia em que foi instalada a Consttiuinte. Revista Ilustrada, nº 607, novembro de 1890.

"Das urnas sairá triunfante, depois de amanhã,
a própria imagem da Pátria Republicana.Revista Ilustrada 06/09/1890.





Em contraste com as imagens da República, as caricaturas de Ângelo Agostini, publicadas durante o Império, no popular jornal Revista Ilustrada, satirizavam constantemente o Imperador Dom Pedro II.

"derrubado do trono" Revista Ilustrada nº 283, 1882

Revista Ilustrada nº 283, 1882.


FONTES:

  • Pesquisas feitas por de Marcus Tadeu Daniel Ribeiro - 1988 - e a de Nelson Werneck Sodré - 1999, citadas por CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008).
  • Almanaque, histórico da Revista Illustrada (consultada em 1 de fevereiro de 2008)
  • RIBEIRO, Marcus Tadeu Daniel. "A Arte de Alfinetar", in: revista Nossa História, ano 3, nº 30, abril 2006, pp. 70 a 73
  • ARAGÃO, Octavio. O Império da Sátira, in: Revista Nossa História, ano 3, nº 26, ed. Vera Cruz, dezembro/2005, pp. 32-34.
  • Enciclopédia Itaú Cultural, verbete Angelo Agostini (página acessada em 1 de fevereiro de 2008)
  • CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário