quarta-feira, 27 de junho de 2018

O CÔMODO DO PORÃO ERA SINISTRO

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"Apenas oito dias após o massacre, Ekaterimburgo caiu sob o ataque do Exército Branco, e alguns oficiais correram à Casa de Ipatiev. O prédio estava praticamente vazio. Havia escovas de dentes, de cabelos, pentes, alfinetes e ícones pisoteados espalhados pelo chão.

Nos armários, pendiam cabides vazios. A Bíblia de Alexandra ainda estava lá, com passagens fortemente sublinhadas, flores e folhas secas entre as páginas. Também restavam vários livros religiosos, um volume de Guerra e Paz, três de Tchekhov, uma biografia de Pedro, o Grande, um volume de Contos de Shakespeare e Les Fables de la Fontaine.

Num dos quartos, encontraram uma mesinha de bordas arredondadas, onde o czarevich fazia as refeições e brincava com jogos na cama. Ao lado, um manual de instruções para tocar balalaica. Na sala de jantar, perto da lareira, estava a cadeira de rodas.

O cômodo no porão era sinistro. Ainda havia traços de sangue nos rodapés. O piso amarelo, rigorosamente lavado e escovado, apresentava marcas de balas e de baionetas. As paredes estavam laceradas por buracos de balas. Faltavam grandes partes do reboco da parede contra a qual a família fora enfileirada.

Uma busca imediata pela família não levou a lugar nenhum. Somente seis meses depois, em janeiro de 1919, teve início uma investigação minuciosa quando o almirante Alexander Kolchak, “Chefe Supremo” do Governo Branco da Sibéria, confiou a tarefa a um investigador jurídico profissional, de 36 anos, chamado Nicolai Sokolov.

Tão logo a neve começou a derreter, Sokolov iniciou o trabalho nos Quatro Irmãos. A trilha na floresta ainda apresentava os sulcos profundos das rodas das carroças e do caminhão. A terra em torno dos poços estava pisoteada, marcada por patas de cavalos.

Galhos cortados e queimados flutuavam no Poço de Ganin e na entrada estreita da outra mina. As paredes da mina mais profunda traziam evidências de explosões de granadas. Havia vestígios de duas fogueiras, uma na beira da entrada estreita da mina e outra no meio da estrada da floresta.

Para esse trabalho de reconhecimento, teve ajuda de dois tutores do czarevich: Pierre Gilliard, que dava aulas de francês, e Sidney Gibbes, professor de inglês. Ambos haviam permanecido em Ekaterinburg depois que a família imperial fora encerrada na casa.

Entre as evidências identificadas e catalogadas pelos homens desolados estava a fivela do cinto do czar, uma fivela militar de tamanho infantil que o czarevich usava, uma cruz de esmeralda, chamuscada, que a imperatriz viúva Maria tinha dado à imperatriz Alexandra, um brinco de pérola do par sempre usado por Alexandra, a Cruz de Ulm, o distintivo comemorativo adornado com safiras e diamantes presenteado à imperatriz pela própria Guarda de Uhlan de Sua Majestade, um estojinho de bolso de metal, em que Nicolau trazia sempre o retrato da esposa, três pequenos ícones das grã-duquesas, a caixa de óculos da imperatriz, seis conjuntos de corpetes femininos, fragmentos de bonés militares usados por Nicolau e seu filho, fivelas de sapatos pertencentes às grã-duquesas, os óculos do dr. Botkin e sua dentadura superior com catorze dentes.

Havia ainda alguns ossos calcinados, parcialmente destruídos por ácido e com marcas de machado, balas de revólver e um dedo humano, delgado e bem manicurado como os de Alexandra tinham sido. Sokolov recolheu também vários pregos, papel-alumínio, moedas de cobre e um pequeno cadeado, o que o deixou intrigado até mostrar essas peças a Gilliard.

O tutor imediatamente identificou-as como parte das quinquilharias que o czarevich carregava no bolso. Por fim, esmagado, mas não queimado, os investigadores encontraram o corpo decomposto do spaniel de Anastácia, Jemmy."

Fonte: Os Romanov, o Fim da Dinastia, Robert K. Massie

LINK ORIGINAL - Romanov: A Última Dinastia da Rússia

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