O Patriarca da Independência, José Bonifácio, recebeu, certa vez, seu salário de quatrocentos mil réis, meteu as notas no fundo do chapéu e foi para o teatro, onde lhe roubaram o chapéu e o conteúdo. No dia seguinte, achou-se sem ter com que mandar comprar o jantar, e seu sobrinho, Belchior Fernandes Pinheiro, foi quem pagou as despesas do dia.
Em reunião do Conselho de Ministros, José Bonifácio referiu esta ocorrência e a extrema necessidade a que ela o reduziu e à sua família. O Imperador, generoso, entendeu que o Ministro, visto a penúria em que se achava, deveria ser indenizado, pagando-se-lhe outro mês de ordenado, e, neste sentido, deu ali suas ordens a Martin Francisco, irmão de Bonifácio e Ministro da Fazenda.
Mas Martim Francisco não obedeceu. Argumentou com o Soberano que não havia lei que pusesse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha doze meses para todos, e não treze para os protegidos; e, finalmente, pediu a Sua Majestade que retirasse a ordem, por ser inexeqüível e por que ele, Martim Francisco, repartiria com o irmão o seu próprio ordenado, e viveriam ambos com mais parcimônia naquele mês. Isto seria melhor do que dar ao País o funesto exemplo de se pagar ao Ministro duas vezes o ordenado de um só mês.
- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.
Imagem: litografia de Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844), por Sebastien Augusto Sisson.
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