quarta-feira, 10 de maio de 2017

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTES

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S.A.I. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleáns e Bragança
Chefe da Casa Imperial

[Publicamos o belo e emocionante discurso proferido por S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, no dia 12 de agosto de 1972, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ao tomar posse da cadeira n° 28 da Academia Brasileira de Artes. Transcrevemos o referido discurso a partir da transcrição publicada no livro “Dom Pedro Henrique, o Condestável das Saudades e da Esperança”, de autoria do Prof. Armando Alexandre dos Santos.]

Senhor Professor Nestor de Figueiredo e demais membros da Academia Brasileira de Artes; Senhores representantes do poder público; minhas Senhoras e meus Senhores.

Sinto-me bastante comovido pela honraria que me outorgastes, incluindo o meu nome de modesto aquarelista entre pessoas altamente dotadas, fazendo coincidir esta posse no dia do aniversário da Academia e, apraz-me consignar, no ano em que o Brasil comemora os seus 150 anos de independência política.

Falar-vos de minha vida seria ocioso, mas quero ressaltar o fato de ter nascido brasileiro em solo francês, banida que fora minha família pelos acontecimentos de 1889. Na ocasião, meu inesquecível Bisavô, o Senhor Dom Pedro II, em virtude da mudança do regime, teve de deixar em horas a Pátria estremecida que o embalara na infância e que ele governara quase cinquenta anos com sabedoria.

Assim, em conseqüência do fato consumado, retirou-se para a Europa em companhia de todos os membros de sua família e de alguns poucos súditos fieis e, no triste navio Alagoas, que o levou, compartilhava do amargo exílio meu saudoso Pai, o Senhor Dom Luiz de Bragança, no verdor de seus onze anos. Posso garantir-vos, senhores acadêmicos, jamais houve uma casa tão brasileira como nosso Castelo d’Eu ou a residência de Boulogne-sur-Seine, onde nasci em 13 de setembro de 1909! No agreste inverno europeu, eu, meus irmãos e primos, invejávamos os mais velhos que puderam viver no clima ensolarado da nossa Pátria distante.

Minha Avó Dona Isabel, que o testemunho de seus contemporâneos e o voto da posterioridade cognominaram de A Redentora, e meu Avô, o Conde d’Eu, o vencedor de Campo Grande e Peribebuí, foram as pessoas que, em companhia de meus Pais, impregnaram em meu espírito juvenil o amor à Pátria longínqua. Bem cedo fiquei privado desse carinhoso convívio, pelos sucessivos falecimentos de meu Pai, vítima de insidiosa moléstia adquirida nos campos de batalha do Yser, e de meus Avós paternos. Completaram minha educação minha Mãe, a Princesa Dona Maria Pia, graças a Deus ainda viva, e seus Pais, os representantes do ramo napolitano da Casa de Bourbon, Condes de Caserta.

Meu casamento mais tarde, com a Princesa Dona Maria da Baviera, mãe de nossos doze filhos e companheira de mais de 35 anos, foi o coroamento da educação cuidadosa que me ministraram.

Finda a Segunda Guerra Mundial e removidas as naturais dificuldades, mudamo-nos definitivamente para o Brasil, onde procurei integrar-me na sua vida comum, respeitando as instituições vigentes sem abrir mãos de direitos inalienáveis dos meus antepassados. A profissão que adotei, agricultor, não me impediu de fazer incursões no terreno da pintura, já que outros exemplos me vieram no sangue.

E venho ingressar nesta insigne Academia Brasileira de Artes exatamente na cadeira no 28, cujo patrono é o saudoso Professor Henrique Bernardelli, chileno de nascimento mas brasileiro de adoção.

Aluno brilhante da Academia Imperial de Belas Artes, destacou-se pelos seus méritos na Exposição Internacional de Paris, de 1889, na Exposição Geral do Rio de Janeiro e em inúmeros Salões. São de sua lavra as alegorias existentes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional e neste Museu Nacional de Belas Artes.

Artista extremamente fecundo foi este Bernardelli, irmão de Rodolfo, escultor notável e seu companheiro fiel até no repouso final.

Paisagista, retratista, pintor de gênero e de natureza morta, bolsista por conta própria na Europa, professor emérito, viveu intensamente os seus 78 anos de vida.

A maior parte de sua renomada arte se encontra neste palácio, neste teto que doravante será também meu. Maternidade, Messalina, Tarantela, óleos, pastéis, aquarelas, desenhos e estudos, são obras primorosas que as gerações se sucedem admirando.

Quis o destino me antecedesse nesta cadeira o membro fundador Álvaro Moscoso, verdadeiro fidalgo no saber e no gosto. Com algumas demonstrações de sua arte própria, fez-se cercar de jóias que sua sensibilidade exigia. Sua residência, acolhedora para os outros cultores do belo, foi verdadeiro museu, onde exibia peças que sua capacidade de diferenciação adquirira em inúmeras viagens pelo vasto mundo.

Minha indicação unânime para esta Academia excede de muito ao pouco que tenho ambicionado e avulta, na recepção que me ofereceis, a saudação erudita do Professor Gerson Pompeo Pinheiro, a quem não regateio agradecimentos pela dedicação aos vultos de minha família que fizeram história.

Ao digníssimo Presidente Professor Nestor de Figueiredo, a meus companheiros de Academia, aos senhores representantes de entidades governamentais e, toca-me o coração, aos excelentes amigos e servidores da minha Casa aqui presentes, o meu muito obrigado.


Foto: S.A.I.R. o Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, em sua posse como membro da Academia Brasileira de Artes.

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