quinta-feira, 29 de março de 2018

INDEPENDÊNCIA E LIBERDADE


O Imperador Dom Pedro II, por ocasião das comemorações de Independência em 1843, escreveu um soneto terminado com os seguintes versos:

“Juro, nas aras da fidelidade:
De meu pai recebeste a Independência,
Receberás de mim a Liberdade!”

O jovem Dom Pedro II tinha apenas 17 anos quando escreveu estes versos, estando de facto à frente de seu governo por apenas três.

O Imperador cumpriu sua promessa, pois diante de sua guia, o Brasil alcançou uma Era de Ouro, consolidando a nação Brasileira como independente, concedendo liberdade à todos, tanto pela abolição da escravatura quanto por ser uma das nações mais democráticas do Mundo, assim como gerou um enorme progresso econômico e cultural. O jovem Imperador consolidou a obra iniciada por seu pai em 1822.

Baseado em texto de “Revivendo o Brasil-Império”.

A REDENTORA E O REDENTOR



O Mundo deve a ideia de uma de suas Sete Novas Maravilhas à Princesa Imperial e a um Padre. Em 1859 o Padre Pedro Maria Boss sugeriu à Princesa Imperial Dona Isabel a criação de um monumento religioso no topo do Corcovado, a Princesa Isabel animou-se com a ideia dando apoio oficial, porém o plano ficou em hiato.

Em 1884 Dom Pedro II inaugurou a Estrada de Ferro do Corcovado, considerado um “milagre” da engenharia por percorrer 3.824 metros em terreno extremamente íngreme. Décadas depois quando o Cristo Redentor começou a ser construído foi esta linha férrea que possibilitou sua construção.

Após a assinatura da Lei Áurea a Princesa Isabel retomou a ideia de 1859, que era um de seus sonhos desde então. O intuito de sua construção seria uma homenagem à libertação de todos os escravos do Brasil.

Ofereceram à Princesa Isabel uma estátua sua, ela recusou e no dia 2 de Agosto de 1888 a Princesa Imperial propôs a construção de uma estátua simbolizando o Coração de Cristo, o coração que assim como os escravos tanto havia sofrido. O Golpe de 15 de Novembro fez com que o sonho da Princesa Dona Isabel caísse por terra.

Anos depois, em 1921, agora tendo como foco o centenário da Independência, o projeto da Princesa foi retomado pelo General Pedro Carolino Pinto de Almeida, com a aprovação de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o primeiro Cardeal do Brasil e da América Latina.

Mais de 20 mil assinaturas enviadas ao Presidente Epitácio Pessoa, o mesmo que revogou o banimento Imperial, pediam que o monumento a Jesus Cristo abençoando o Rio de Janeiro do alto fosse construído.

Na cerimônia de bênção da pedra fundamental em 4 de Abril de 1922 quem lançou a pedra fundamental foi a Princesa Maria Pia das Duas-Sicílias, viúva do Príncipe Imperial Dom Luís Maria, avô do atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, Dom Luiz Gastão.

A construção começou em 1924 e o monumento idealizado pela Princesa Isabel e pelo Padre Boss somente foi concluído em 12 de Outubro de 1931.

domingo, 25 de março de 2018


O dr. Manuel Veloso Paranhos Pederneiras, falecido em 1906, era da idade de Pedro II e, parte por coincidência, parte por esforço, nas maneiras e no trajar, parecidíssimo com o Imperador.

Trabalhando na imprensa, coube-lhe certa vez acompanhar o soberano em uma das suas excursões pelo interior.

Ao passar o trem, em marcha lenta, por uma estação de segunda ordem, a multidão, ao ver a figura imponente do jornalista na plataforma do carro destinado à imprensa, rompeu em ovação:

Viva o nosso Imperador!

Pederneiras, o lenço na mão, agradecia risonho:

Obrigado, meu povo! Obrigado!… Obrigado!…

Pedro II, que vinha no carro anexo, ia chegar à portinhola. Ao dar, porém, com Pederneiras, encolheu-se todo na poltrona para que o povo continuasse na sua ilusão…

Múcio Teixeira — “Os Gaúchos”, pág. 312; confirmada pelo prof. Raul Pederneiras, filho de Paranhos Pederneiras.

sábado, 24 de março de 2018

O FANTASMA DO CORONEL

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Pelos idos da década de 1960, um conhecido meu viajou à Macapá levando uma carga de sal. Naquele tempo o Maranhão tinha salinas na região de Alcântara, e barcos subiam mais para o norte transportando o produto.

A capital do Amapá oferecia poucos serviços, e as hospedarias não eram luxuosas. A testemunha encontrou abrigo numa grande e velha casa ribeirinha, toda em madeira, tipo ainda bastante comum na Amazônia.

Sua proprietária era uma mulher gorda e mal apresentada. Reclamava que a freguesia diminuíra muito, e que pelejava para pagar as contas. Dizia que seus clientes entravam, mas não dormiam. Cedo da noite pediam a saída.

Não importava. Estava cansado e era ali mesmo que ficaria. Mas ainda era dia, e depois do almoço foi ao banheiro: uma casinha de pau à pouca distância do rio.

Já de cócoras, ao modelo antigo (mas sem começar a obra) viu, à meia distância, um homem de farda militar azul, com várias medalhas ao peito. Nada tinha de estranho a não ser o lugar inusitado e o fato de ter sumido da mesma forma que apareceu. Dispensou maiores preocupações e foi cuidar do que era urgente.

Bem depois, já de noite, por volta das dez horas, se recolheu. Entrou na rede e dormiu. Mas não por muito tempo.

Em instantes foi acordado com o ranger da porta do quarto se abrindo devagar. Não virou para ver, pois estava escuro e imaginou que estivesse solta.

Engano! Passos fortes se aproximaram, e uma voz rouca e baixa lhe falou dentro de sua cabeça: “Você foi o primeiro que não teve medo. Por isso vou lhe pedir um favor: marcarei com teu cigarro, no canto do quarto, o lugar onde a dona deve cavar”. Quem me narrou isso afirmou que não teve força para se levantar, pois se sentia totalmente paralisado, e logo o sono lhe tomou por completo.

Os galos cantaram anunciando a alvorada, despertando quem ali estava. Foi quando passou a mão por debaixo da rede procurando sua carteira de cigarros e não a achou. Levantou-se logo após, quando os primeiros raios já passavam pelas frestas da madeira. De pé, viu a carteira bem no canto do quarto, ao meio de uma das lajotas de barro cozido que faziam o piso.

Como deveria tomar o barco para Belém, e um avião de volta a São Luís, foi atrás da gorda dona da casa e lhe contou toda a história. A mulher entrou no seu quarto e voltou de lá com uma caixa de sapatos cheia de fotografias já amareladas do tempo. Folheando aqueles registros, apontou feliz o narrador a um fardado: “Este!”. Emocionada, com o olhos marejados, respondeu que aquele era seu avô.

Foram ao local e com um giz ela marcou o lugar onde estavam os cigarros. Meu amigo teve de seguir seu caminho, e não soube do resultado. Mas ficou tudo bem guardado consigo, especialmente a lembrança do brilho das comendas reverberando o sol pelos vapores quentes da floresta.

(imagem meramente ilustrativa de um veterano brasileiro da Guerra do Paraguai)

Por Diogo G. Neves

O MEDO DO III REINADO


"Em 1876, na segunda regência, começou uma campanha de detração promovida pelos círculos republicanos, positivistas e anticlericais contra a Princesa Isabel, por causa de seu catolicismo.

Tais círculos viam que ela — por sua firmeza de princípios, por sua formação profundamente católica, mas também pelo pulso que demonstrou nas regências — seria uma imperatriz que faria da Terra de Santa Cruz realmente uma bela exceção no mundo.

Ela exerceria uma profunda influência por sua autenticidade, sua cultura, sua religiosidade, e por tudo aquilo que pode elevar o espírito de um povo. Isso os referidos círculos não desejavam de nenhum modo.

Começaram então a campanha de detração: ela era feia; era carola; era boba; não era patriota; não gostava do Brasil; preferia ter médicos franceses a brasileiros, e outras calúnias. O Conde d’Eu, que sofria de surdez, era chamado de surdão, arrogante, e mantinha cortiços de aluguel.

Até a surdez — da qual ele evidentemente não tinha culpa — era assacada em meio às calúnias. De tal maneira que, pouco a pouco, esse casal foi sendo demonizado, para se evitar que mais tarde ele subisse ao trono.

Dizia-se, em certos círculos, que era preciso proclamar a república logo, porque se a Princesa Isabel assumisse o poder, acabaria com todo esse movimento ateu, positivista e republicano.

Ela teria pulso e prestígio para fazer isso. Tornou-se corrente a frase: “Precisamos fazer a república enquanto o velho está vivo, senão a filha dará cabo de nós”."

Dom Luiz de Orleáns e Bragança - Chefe da Casa Imperial do BR

sexta-feira, 23 de março de 2018

A BANDEIRA DA ESTRELA VERMELHA


NAS ÚLTIMAS SEMANAS DE 1889, a tripulação de um navio brasileiro ancorado no porto de Colombo, capital do Ceilão (atual Sri Lanka), foi pega de surpresa pelas notícias alarmantes que chegavam do outro lado do mundo.

O cruzador Almirante Barroso partira do Rio de Janeiro em 27 de outubro do ano anterior para uma grande aventura. O objetivo era completar em menos de dois anos a circum-navegação do globo terrestre, jornada de 36.691 milhas náuticas ou cerca de 68 mil quilômetros. Para realizar tão importante e arriscada missão, a Marinha do Brasil designara alguns de seus melhores oficiais e marinheiros e uma de suas embarcações de guerra mais modernas. Movido a propulsão mista — a vela e a vapor —, o Almirante Barroso pesava 2.050 toneladas, tinha 71 metros de comprimento, levava 340 tripulantes e viajava equipado com seis canhões e dez metralhadoras.

Desde a partida, havia sido alvo de homenagens e recepções calorosas em diversos portos estrangeiros. Depois de cruzar o temido cabo Horn, no extremo sul do continente americano, o navio brasileiro passara algumas semanas em Valparaíso, no Chile, onde a tripulação fora saudada com um baile de gala oferecido pelas autoridades locais. Em seguida, tinha enfrentado o imenso e ainda relativamente desconhecido oceano Pacífico, com escalas em Sydney, na Austrália; Yokohama e Nagasaki, no Japão; Xangai e Hong Kong, na China; e Achém, na Indonésia.

Foram meses de isolamento do resto do mundo, comunicando-se raramente com o Brasil. Uma semana antes do Natal de 1889, ao atracar em Colombo, o almirante Custódio José de Mello, comandante do navio, encontrou à sua espera um telegrama com uma notícia extraordinária. Brasil República... — anunciava a mensagem.

— Bandeira mesma sem coroa...

Despachado do Rio de Janeiro no dia 17 de dezembro, o telegrama, na verdade, só confirmava os rumores que a tripulação tinha ouvido na escala anterior, na Indonésia. Conforme notícias de segunda mão transmitidas pela tripulação de um navio holandês ali ancorado, o governo do Brasil havia sido derrubado. Mais do que isso, o país passara por uma drástica mudança de regime. O Império brasileiro, até então visto como a mais sólida, estável e duradoura experiência de governo na América Latina, com 67 anos de história, desabara na manhã de 15 de novembro. A Monarquia cedera lugar à República.

O austero e admirado imperador Pedro II, um dos homens mais cultos da época, que ocupara o trono por quase meio século, fora obrigado a sair do país com toda a família imperial. Vivia agora exilado na Europa, banido para sempre do solo em que nascera. Enquanto isso, o comando da nova República estava entregue às mãos de um marechal já idoso e bastante doente, o alagoano Manoel Deodoro da Fonseca. À primeira vista, eram informações tão improváveis que, na escala indonésia, Custódio de Mello preferiu ignorá-las e seguir viagem na crença de que o Império brasileiro continuava forte e sólido, como sempre fora.

Estava tão seguro disso que, no dia 2 de dezembro, aniversário do imperador Pedro II, ordenou que a bandeira imperial fosse hasteada a bordo e saudada por toda a tripulação, como mandava o regulamento da Marinha e como se nenhuma mudança tivesse ocorrido no Brasil. O telegrama recebido no Ceilão, no entanto, não deixava margem para dúvidas. O país tornara-se, de fato, uma República. Segundo as instruções oficiais enviadas do Rio de Janeiro, a bandeira nacional
continuava praticamente a mesma, com seu largo retângulo verde sobreposto por um losango amarelo.

Desaparecia apenas a coroa imperial, que até então ocupava o centro do pavilhão. Até aquele momento, porém, ninguém sabia
exatamente o que colocar no lugar da coroa. O comunicado avisava que o navio só receberia a nova e definitiva bandeira republicana quando chegasse a Nápoles, na Itália, meses mais tarde. Um segundo telegrama dizia que, até lá, o comandante teria de improvisar:

Ice agora mesma (bandeira) nacional, substituindo coroa estrela
vermelha.

Em resumo, enquanto não se soubesse exatamente que símbolo haveria no centro da bandeira republicana, Custódio de Mello deveria apenas trocar a coroa imperial por uma estrela vermelha.

FONTE: "1889" - Laurentino Gomes

quinta-feira, 22 de março de 2018

23/03/1673 - FUNDAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS


Já no início do século XVI, embarcações que demandavam a Bacia do Prata aportavam na Ilha de Santa Catarina para abastecer-se de água e víveres. Entretanto, somente por volta de 1673 é que o bandeirante Francisco Dias Velho deu início ao povoamento da ilha com a fundação de "Nossa Senhora do Desterro" — segundo núcleo de povoamento mais antigo do estado — desempenhando importante papel político na colonização da região.

A partir da vinda de Dias Velho intensificou-se o fluxo de paulistas e vicentistas, que ocuparam vários outros pontos do litoral. Em 15/03/1726 a povoação da Ilha de Santa Catarina foi separada da vila da Laguna, sendo em 26 de março do mesmo ano elevada à categoria de vila.

No século XIX, em 24/02/1823, Desterro foi elevada à categoria de cidade; tornou-se capital da Província de Santa Catarina em 1823 e inaugurou um período de prosperidade, com o investimento de recursos imperiais. Projetaram-se a melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras obras urbanas.

A modernização política e a organização de atividades culturais também se destacaram, marcando inclusive os preparativos para a recepção ao Imperador Dom Pedro II (1845). Em outubro desse mesmo ano, ancorada a embarcação imperial nos arredores da ilha, o Imperador permaneceu em solo catarinense por quase 1 mês. Neste período, S.M. dirigiu-se várias vezes à Igreja (hoje Catedral Arquidiocesana), passeou pelas ruas da Vila do Desterro e, na "Casa de Governo".

Em 1891, quando Deodoro da Fonseca renunciou à presidência, seu vice, Floriano Peixoto, assumiu o poder, mas não convocou eleições após isso, contrariando o prescrito na constituição de então, fato que gerou duas revoltas: a Segunda Revolta da Armada (originária da Marinha, no Rio de janeiro) e a Revolução Federalista (patrocinada por fazendeiros gaúchos).

As duas insurreições chegaram ao Desterro, entretanto Floriano conteve-as ao aprisionar seus líderes e, com isso, restaram no domínio da cidade somente simpatizantes do presidente que, em sua homenagem, deram à capital a denominação de Florianópolis, ou seja, "cidade de Floriano".

Os revoltosos, por sua vez, vieram a ser fuzilados na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim - por isso, o episódio foi chamado de Chacina de Anhatomirim.

A ORDEM DE CRISTO: A PRESENÇA DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS NO BRASIL


A Ordem de Cristo originalmente era uma ordem religiosa e militar, criada a 14 de Março de 1319 pela Bula Papal Ad ea ex-quibus de João XXII, que, deste modo, acedia ao pedidos do rei português Dom Dinis. Recebeu o nome de Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e foi herdeira das propriedades e privilégios da Ordem do Templo.

Em Maio desse mesmo ano, numa cerimônia solene que contou com a participação do Arcebispo de Évora, do Alferes-Mor do Reino D. Afonso de Albuquerque e de outros membros da cúria régia, o rei Dom Dinis ratificou, em Santarém, a criação da nova Ordem.

Em 1789 a Ordem de Cristo foi secularizada, tornando-se uma ordem honorífica até sua extinção em 1910. A ordem foi refundada em 1917 como a Ordem Militar de Cristo e é presidida pelo seu grão-mestre, o Presidente da República Portuguesa (O Presidente da República Portuguesa é, a par da Assembleia da República, do Governo e dos Tribunais, um órgão de soberania).

A história do descobrimento do Brasil é cheia de mistérios e suposições, muito disso graças às lacunas da história oficial e de muitos estranhos artefatos e inscrições encontrados não apenas no Brasil, mas em toda a América do Sul. Esses artefatos sugerem que Cabral não teria sido o primeiro a chegar em nosso país.

Um dos fatos da história oculta do descobrimento do Brasil envolve a famosa Ordem de Cristo. Na Idade Média foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários, que tantas páginas da história preencheram. Dissolvida violentamente em 1312 pelo Papa, a Ordem continuou existindo em Portugal – um dos reinos mais tolerantes naquele momento – e albergou aqueles que fugiam da atroz perseguição em outros domínios europeus.

O rei português D. Dinis foi o mentor da fundação da Ordem de Cristo, que na realidade era uma fachada para ocultar os verdadeiros templários os que outrora haviam protegido os caminhos de peregrinação europeus até Jerusalém conquistada pelas Cruzadas.

Outro personagem célebre, o infante D. Henrique, conhecido como “O Navegante” e fundador da Escola de Sagres (de técnicas e descobrimentos náuticos) foi o líder da Ordem de Cristo. Os ideais da expansão cristã reacenderam-se no século XV quando seu Grão-Mestre, Infante D. Henrique, investiu os rendimentos da Ordem na exploração marítima. O emblema da ordem, a Cruz da Ordem de Cristo, adornava as velas das caravelas que exploravam os mares desconhecidos.

Alguns historiadores acreditam que o infante e seus navegantes, conheceram o Brasil antes que Cabral. O próprio Cabral havia se tornado membro da ordem no ano de 1495, portanto pouco antes de realizar a sua viagem para o Brasil. Muitos pesquisadores acreditam que caso Cabral não tivesse aderido ao Ordem de Cristo, ele jamais teria sido encarregado dessa viagem.

O certo é que o Brasil fez parte do patrimônio da Ordem durante muito tempo. As caravelas que aqui chegaram traziam abertas as velas com a cruz templária, símbolo máximo da instituição.

“Ainda hoje existem grupos muito fechados no Brasil de cavaleiros templários que realizam ritos antiquíssimos e que se consideram herdeiros do patrimônio deixado pela Ordem de Cristo, um patrimônio espiritual que se inspira no nascimento de uma grande potência econômica a partir do próximo milênio”, dizia Aurélio Abreu.

Um dos dados mais significativos para compreender a nova Terra Prometida ou Paraíso Terrenal – tal como Cristóvão Colombo proclamou ao descobrir o continente Americano – é a desconhecida ou talvez omitida história de Pedro de Rates Hanequim, natural de Lisboa que viveu durante 26 anos em Minas Gerais.

Em 1741, sua Majestade, João V ordenou o confisco de bens e a excomunhão de Hanequim e, em 1744, o Santo Ofício (a Inquisição) ditou a sua morte primeiro por afogamento, e pelo fogo, depois, a fim de reduzir seu corpo a cinzas. Tudo isso para que Hanequim não tivesse sepultura e que seu nome se apagasse de uma vez por todas da história. Porém, os mesmos documentos eclesiásticos imortalizaram este crime.

Por que morreu Hanequim? Por algo muito grave para aquela época: seu nome estava ligado a uma conspiração contra a monarquia portuguesa e seu domínio sobre o Brasil, pois procurava a independência daquela colônia. Não obstante, não foi esse o motivo principal que o levou aos tribunais do Santo Ofício ou que a Inquisição decretara a sua morte. Segundo conta o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “A visão do Paraíso”, o cidadão luso foi condenado por considerar o Brasil como o “Paraíso Terrenal” onde havia uma árvore com frutos semelhantes a figos ou maçãs que encarnavam o bem e o mal.

Hanequim também acreditava que os índios brasileiros descendiam de uma das tribos perdidas de Israel – que aparecem no Velho Testamento – e que Adão, o progenitor da humanidade, criou-se no Brasil. De aqui partiu para Jerusalém ao abrir-se o Oceano Atlântico para permitir sua caminhada, do mesmo modo que o Mar Vermelho se abriu aos israelitas. E para provar que este Adão brasileiro existiu, Hanequim mencionava as marcas de pés humanos que apareciam marcados em algumas rochas nas costas da Bahia.

Com toques proféticos, Hanequim apregoava que no Brasil se erigiria o “Quinto Império”, super-poderoso, que alargaria seus domínios por todo o Planeta.

Além disso, Hanequim difundiu que o Dilúvio Bíblico não tinha sido universal: o Brasil tinha escapado do aguaceiro. A maior heresia do prisioneiro foi a de ter considerado que na Criação do Mundo somente intervieram o Filho e o Espírito Santo, excluindo o Deus-Pai desta importante tarefa. A isto se acrescenta que as entidades Divinas tinham corpo material, ou seja, os anjos e inclusive Nossa Senhora seriam tão palpáveis como qualquer um dos mortais.

Embora sob tortura durante três anos, Hanequim continuou afirmando suas teorias diante do enraivecidos padres do Santo Ofício que não lhe perdoaram a heresia. Hoje, passados vários séculos, as palavras do malogrado herege ainda ecoam como proféticas e todos os anos, em alguns rincões paradisíacos do Brasil surgem grupos que proclamam o nascimento de uma Nova Nação abençoada por Deus ou pelos deuses.

O FUZILAMENTO DA FAMÍLIA IMPERIAL BRASILEIRA


Às onze horas da noite de 6 de novembro, um grupo de militares havia se reunido na casa do tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, professor de matemática da Escola Militar da Praia Vermelha e diretor do Instituto dos Meninos Cegos.

O objetivo era tratar dos preparativos para a "revolução". Entre eles estavam o capitão Antônio Adolfo da Fontoura Mena Barreto, os tenentes Saturnino Cardoso e Sebastião Bandeira, o aluno da Escola de Guerra Aníbal Elói Cardoso e o alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso. Na conversa, todos se manifestaram de acordo com o uso das armas para depor a Monarquia.

Combinou-se um plano pelo qual os participantes ficariam encarregados de agitar os ânimos nos quartéis, estocar armamento e munição e traçar em detalhes o golpe a ser desfechado nos dias seguintes. A certa altura, porém, Benjamin Constant mostrou-se preocupado com o destino do imperador Pedro II.

O que devemos fazer do nosso imperador? — perguntou.

Fez-se um minuto de silêncio, quebrado pelo alferes Joaquim Inácio:

Exila-se — propôs.
Mas se resistir? — insistiu Benjamin.
Fuzila-se! — sentenciou Joaquim Inácio.

Benjamin assustou-se com tamanho sangue-frio:

Oh, o senhor é sanguinário! Ao contrário, devemos rodeá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício muito digno.

Por uma ironia da história, o “sanguinário” Joaquim Inácio Cardoso, então com 29 anos, viria a ser avô de um futuro presidente da República, o manso Fernando Henrique Cardoso. Para fortuna de Pedro II, no dia 15 de novembro haveria de prevalecer a posição de Benjamin. Em vez de fuzilado, como queria Joaquim Inácio, o imperador seria despachado para o exílio.

Vocês fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado

CAPITÃO FELICÍSSIMO DO ESPÍRITO SANTO CARDOSO, bisavô do presidente Fernando Henrique Cardoso, em telegrama enviado de Goiás ao filho, Joaquim Inácio, que ajudara a proclamar a República em 1889

- Baseaso em trecho do livro "1889", de Laurentino Gomes

quarta-feira, 21 de março de 2018

Estados Unidos do Brasil


A Constituição que passou a vigorar em 1967, durante o regime militar sob o comando do general Arthur da Costa e Silva, abandonou o antigo nome que datava da proclamação da República.Há 50 anos, o Brasil deixava de usar o nome oficial "República dos Estados Unidos do Brasil", que perdurava oficialmente desde 1891, época da primeira Constituição republicana do país.

A mudança foi estabelecida com a entrada em vigor da Constituição brasileira de 1967. Elaborada pelo regime militar sob o comando do general Arthur da Costa e Silva, ela entrou em vigor em 15 de março daquele ano. O documento foi denominado simplesmente como "Constituição do Brasil", ao contrário das versões republicanas anteriores, que apresentavam o nome "Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil" ou "Constituição dos Estados Unidos do Brasil".

Em 1969, uma emenda reconfigurou o texto de 1967, que passou a se chamar Constituição da República Federativa do Brasil, nome que permaneceu na elaboração da Constituição de 1988, que está em vigor hoje. Em 1968, uma lei estabeleceu a substituição do nome "Estados Unidos" por "República Federativa" em símbolos nacionais, em brasões e selos oficiais.

Perdurando por quase 75 anos, os "Estados Unidos do Brasil" eram o sucessor do monárquico "Império do Brasil", estabelecido pela Constituição de 1824 e que vigorou até 1889. Ao usar "Estados Unidos", a Constituição de 1891 procurava explicitar a postura do novo regime republicano, que deu fim ao Estado unitário que vigorava no Império. O documento promoveu a descentralização política e uma nova relação entre o poder central e as antigas províncias do país, que passaram a se chamar Estados e conquistaram mais autonomia. O modelo foi inspirado na Constituição dos Estados Unidos da América.

À época, a grafia de Brasil ainda era "Brazil" - isso só mudou com um decreto em 1931.

Os "Estados Unidos" permaneceram nas constituições de 1934, 1937 e 1946. Apenas a Carta autoritária de 1937, apelidada de "polaca" pela semelhança com a Constituição Polonesa de 1935, alterou levemente o nome, denominando o país como "Estados Unidos do Brasil", retirando a palavra "república" - que voltaria em 1946.

Jornais da década de 1960 revelam que não houve muita discussão sobre os motivos do abandono do nome "República dos Estados Unidos do Brasil".

O país vivia então sob o regime militar. Segundo o jurista José de Almeida Melo, autor do livro Direito Constitucional do Brasil, os militares queriam evitar que o nome oficial fosse confundido com o dos EUA. Outras fontes apontam que o governo militar queria assinalar uma mudança radical com o passado e salientar as mudanças pela qual o país passava.

Antes da independência, o Brasil foi chamado Terra de Santa Cruz, Vice-Reino do Brasil e Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e até mesmo Pindorama (pelos índios), entre outros nomes.

Apesar de ter saído de cena há 50 anos, o nome Estados Unidos do Brasil foi objeto de uma gafe do senador e ex-ministro das Relações Exteriores José Serra. Em 2012, durante uma entrevista, Serra se referiu ao país como "Estados Unidos do Brasil". Ao ser corrigido pelo entrevistador, perguntou: "Mudou?"

Guerra Grande ou Guerra Civil do Uruguai

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A "Guerra Grande" ou "Guerra Civil do Uruguai" é a denominação dada ao enfrentamento ocorrido no Uruguai entre 1839 e 1851, entre os partidos blanco e colorado. Tais facções eram apoiadas por cada um dos principais partidos da Confederação Argentina, os federalistas e os unitários: os federalistas uniram-se aos blancos contra os unitaristas, unidos aos colorados, além da intervenção temporária da França, do Império Britânico e do Império do Brasil, pendendo aos colorados.

Com o fim da Guerra da Cisplatina (1825-1828), o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata assinaram em 27 de agosto de 1828 um tratado de paz onde ambos os países acordaram que a antiga província brasileira estaria definitivamente independente e que se necessário fosse, combateriam para que assim permanecesse. A Cisplatina passou a chamar-se oficialmente República Oriental do Uruguai após da promulgação da sua constituição, em 1830.

Em seguida, foi eleito o seu primeiro presidente: Fructuoso Rivera. Rivera possuía um rival chamado Juan Antonio Lavalleja, conhecido por haver declarado a independência da província Cisplatina com o apoio dos chamados "Trinta e Três Orientais". Da rivalidade entre os dois caudilhos, surgiram dois partidos no Uruguai: o Blanco, agrupando os correligionários de Lavalleja, e o Colorado, os partidários de Rivera.

A tensão entre o presidente e seu rival atingiu o ápice quando o último se rebelou na tentativa de tomar o poder à força. O revoltoso descobriu que o ditador do país vizinho, Rosas, estaria interessado não apenas em ajudá-lo financeiramente, mas também militarmente. Pouco depois Lavalleja descobriu um novo aliado, desta vez em território brasileiro: o Coronel Bento Gonçalves.

O brasileiro iniciou a ajuda militar ao caudilho oriental a partir de 1832. O encarregado de negócios do Brasil em Montevidéu, Manuel de Almeida Vasconcelos, recebeu, em setembro de 1832, a denúncia de que Bento Gonçalves estava a auxiliar Lavalleja. Em seguida alertou o governo imperial de que o caudilho uruguaio se dirigia costumeiramente até à fronteira para receber munições, homens, armas e víveres da parte de Bento Gonçalves.

Vasconcelos ouviu diretamente do presidente Rivera que Bento Gonçalves continuava a enviar tropas para invadir o território uruguaio, onde saqueavam e assassinavam habitantes indefesos e que o militar brasileiro havia logrado convencer alguns de seus oficiais e soldados a se rebelarem para integrar a província brasileira do RS à Argentina.

O governo brasileiro tentou impedir as ações de Bento, mas sem sucesso, uma vez que se encontrava incapaz de se impor, uma vez que que naquele momento o Brasil estava passando por diversas rebeliões e que o Exército Imperial estava espalhado pelo território do combatendo-as.

O caudilho brasileiro recebia ordens expressas para não se envolver no conflito uruguaio, no entanto, preferia ignorar e realizar o contrário. Em 1834, foi à vez de Bento invadir pessoalmente o Uruguai em companhia de Lavalleja. Graças à insubordinação e traição de Bento Gonçalves, o Brasil viu-se arrastado para os conflitos da região.

No ano de 1835, Rivera cumpriu o seu mandato presidencial e Manuel Oribe foi eleito para sucedê-lo. No início, o novo presidente se opunha aos atos de Bento Gonçalves e Lavalleja, mas 3 anos depois viria a se aliar aos revoltosos.

Em novembro do mesmo ano, mais uma vez o ministro dos negócios estrangeiros enviou ao governo brasileiro um ofício informando que havia rumores de um acordo entre Lavalleja, Rosas e Bento para que este último declarasse a independência do RS, se tornasse ditador e em seguida integrasse a província brasileira à Confederação Argentina.

Logo depois, Vasconcelos encontrou-se pessoalmente com o presidente uruguaio Oribe e avisou-o dos planos. Oribe declarou ao brasileiro que já sabia em parte da situação e garantiu a Vasconcelos que de fato Rosas estava apoiando Bento Gonçalves.

Para o enviado brasileiro, a confirmação de que um chefe de Estado estrangeiro estaria financiando e apoiando o desmembramento de uma nação estrangeira fora uma terrível surpresa. Em 1835, Bento Gonçalves, com o apoio direto de Rosas e Lavalleja, finalmente iniciou a rebelião no RS que viria a ser chamada de "Farroupilha", extirpando a província, à força, do restante do Brasil.

Piorando ainda mais a situação, Oribe desistiu de sua aliança com o ex-presidente Rivera e aliou-se a Rosas, Lavalleja e Bento Gonçalves. Em seguida, iniciou uma revolta, mas acabou sendo derrotado e partiu para o RS, onde se aliou aos farrapos, até então aliados de Rosas.

Em seguida, Rivera e os farrapos invadiram o Uruguai e conquistaram completamente o país, com a exceção da capital, Montevidéu. Derrotado, Oribe partiu para a Argentina após renunciar à presidência e Rosas ordenou a invasão do Uruguai, que possuía apenas 75 mil habitantes, sendo um terço descendente de portugueses.

De 1838 a 1842, os confrontos ocorrem em território argentino. Lá se enfrentaram as correntes locais de federales, Rosas e unitários de Lavalle. Rosas deu a Oribe um exército para retomar o poder no Uruguai. Rivera havia assumido o poder em Montevidéu em outubro de 1838 após derrotar Oribe, um blanco pró-Rosas. Os unitários de Lavalle deram apoio ao colorado Rivera. Muitos unitários estavam exilados em nações vizinha, inclusive no Uruguai, fugindo de Rosas.

Em dezembro de 1842 , os blancos, de Oribe travaram a Batalha de Arroyo Grande com os colorados de Rivera. Rivera esperava contar com um auxílio de homens de Bento Gonçalves, presidente da separatista República Rio-Grandense, que não se concretizou por Pedro Ferré, governador da província argentina de Corrientes, não permitir a passagem do exército.

Além disto, o General José Maria Paz, ex-governador de Córdoba, que havia lutado contra as forças de Rosas, prometeu mandar-lhe reforços e não o fez. Oribe, com as forças rosistas derrotou inapelavelmente seus rivais .

Após 1842, o confronto passou ao território uruguaio. Oribe, vitorioso em Arroyo Grande, iniciou um cerco a Montevidéu que foi notícia em todo o mundo . Tal cerco durou nove anos e Montevidéu foi descrito por Alexandre Dumas como a nova Troia.

Essa foi a etapa na que conviveram no Uruguai dois governos: o de Montevidéu chamado de Gobierno de defensa sob o comando de Fructuoso Rivera, e o de Manuel de Oribe que organizou seu governo, conhecido como Gobierno de Cerrito. A esta altura, vendo-se enfraquecer, Rivera deixa de apoiar a República Rio-Grandense na sua guerra contra o Império, para conseguir o apoio de Dom Pedro II.

Ficheiro:Bandera calabreses de garibaldi.png
Bandeira calabresa dos legionários italianos de Giuseppe Garibaldi, 
antes usada contra Napoleão Bonaparte

A defesa da cidade era feita por um contingente de 5000 ex-escravos, libertos para este fim, além da comunidade de exilados. O Império Britânico auxiliou fornecendo suprimentos. Giuseppe Garibaldi que viera do Brasil onde lutara pelos farroupilhas, foi nomeado comandante da força naval em 1842.

Em 1843, organizou os legionários italianos conhecidos como camisas vermelhas que, com os legionários franceses comandados pelo coronel Thiebaut uniram-se aos colorados na defesa da cidade. Garibaldi era hábil em técnicas de guerrilha e desposava causas libertárias, sendo conhecidas suas posições contrárias ao Império do Brasil. Em 1846, Garibaldi obteve as celebradas vitórias na batalha de Cerro e na batalha de San Antonio, sendo aclamado herói.

O governo da França também mantinha disputas com as autoridades argentinas em Buenos Aires. Entre 1845 e 1850, tanto as tropas britânicas como francesas intervieram, transformando o conflito em uma guerra internacional. Entre 1838 e 1840, a esquadra naval francesa manteve um bloqueio ao porto de Buenos Aires, por discordâncias políticas. Era conhecida a posição inglesa contrária à anexação do Uruguai pelos argentinos.

Em dezembro de 1845, esquadras britânicas e francesas forçaram a passagem de uma frota de 100 navios mercantes até o rio Paraná. Rosas tentou, em vão, impedir a passagem com a chamada Batalha da Vuelta de Obligado. As esquadras franco-britânicas protegiam Montevidéu por mar.

A forte intervenção europeia ocorreu para garantir a livre navegação através dos rios Paraná e Uruguai, formadores do estuário do Prata. Entretanto, em 1849, a Inglaterra e, em 1850 a França, assinaram tratados com Buenos Aires, permitindo a navegação no Prata, e cessaram a participação na guerra. O que representou uma vitória diplomática de Juan Manuel Rosas. Com isso Montevidéu estava a ponto de cair.


Um levante interno contra Rosas na Argentina, do governador de Entre Ríos, Justo José de Urquiza, modificou a cena. Com o auxílio de pequena força uruguaia fortaleceu Montevidéu expulsando Oribe e deixando os colorados no controle. O Brasil, que iniciava uma campanha contra Rosas, interveio no Uruguai em maio de 1851, auxiliando os colorados com apoio financeiro e naval.

A Armada Imperial, comandada por Grenfell executou a passagem forçada do Forte de Tonelero permitindo o desembarque das tropas no porto de Diamante. Em fevereiro de 1852, Rosas foi derrotado na batalha de Monte Caseros por Urquiza. Com a derrota, fugiu e asilou-se em um navio britânico, seguindo depois para a Inglaterra, onde morreu em 1877.

Foi assinada a paz em 08/10/1851, dizendo-se que "não haverá vencidos nem vencedores".

Após quase 12 anos de guerra o Uruguai estava arruinado. A população se reduzira, abandonando o país. Os analfabetos eram 80 % da população. A criação de gado estava falida. O estado teve que grandes dívidas com os Impérios Francês, Brasileiro e Britânico. Fora as dívidas privadas.

A 12/10/1851 foram assinados os 5 tratados entre o Governo Imperial e o da "defesa de Montevidéu":
  • Tratado da Perpétua Aliança: O Uruguai estabeleceu o direito do Brasil intervir em conflitos internos do Uruguai;
  • Tratado de Extradição: O Brasil poderia solicitar a extradição de escravos fugidos e internados no Uruguai, bem como de criminosos;
  • Tratado de Comércio e navegação: Ficou permitida a navegação no rio Uruguai e seus afluentes, e isenção de taxas alfandegárias ao Brasil na exportação de charque e gado;
  • Tratado de Socorro: Ficou reconhecida a dívida uruguaia para com o Brasil;
  • Tratado de Limites: O Uruguai renunciou as suas reivindicações territoriais ao norte do rio Quaraí (rio Cuareim), reduzindo suas fronteiras de cerca de 176 000 quilômetros, e reconhecendo ao Brasil o direito exclusivo de navegação da lagoa Mirim e do rio Jaguarão.

Secreto Salão Persa no subsolo do Centro do Rio


Localizado embaixo do Theatro Municipal, o Salão Assyrio comporta o Restaurante Assyrio, que chama a atenção por sua decoração persa, babilônica e assíria.

O Salão foi construído junto com o Theatro Municipal e em sua badalada inauguração contou com a presença do então presidente da República, Nilo Peçanha. Olavo Bilac, o grande poeta, também se fez presente neste dia.

“A inspiração deste projeto decorativo remete à região da Babilônia e Assíria, onde é nítida a referência ao Palácio de Xerxes, em Persepolis”, informa o site Cultura RJ.

Todo o Salão Assyrio é decorado de forma única. O Chão, as colunas, o teto, a mobília, todas as peças compõem o ambiente de rara beleza.

Antes de ser restaurante, o Salão abrigou os grandes bailes do Theatro Municipal, chegou a ser um cabaré, onde ninguém menos que Pixinguinha tocava com seu conjunto Os Oito Batutas, além de ter sido, também, um museu do Theatro.

terça-feira, 20 de março de 2018

THEATRO DA PAZ - PARÁ

Imagem relacionada

Localizado na cidade de Belém, no estado do Pará, foi inaugurado em 15/02/1878. Possui linhas neoclássicas e foi construído no período áureo da exploração da borracha na Amazônia. O seu nome foi sugerido pelo Bispo da época, Dom Macedo Costa, em homenagem ao fim da Guerra do Paraguai, o qual também lançou a pedra fundamental do edifício, em 03/03/1869.

O autor do projeto foi o pernambucano José Tibúrcio Pereira Magalhães. Foi construído por Calandrine de Chermont com pequenas alterações introduzidas pela repartição de Obras Públicas. Ficou pronto em 1874, mas só foi aberto ao público no dia 15/02/1878 com o drama de Adolphe d'Ennery, "As duas órfãs", ao som da orquestra sinfônica do maestro Francisco Libânio Collas.

O teatro sofreu alterações na sua fachada, após a grande reforma de 1904. Foi retirada uma coluna do pátio frontal superior do Teatro, que era em número de 7, o que feria os preceitos arquitetônicos do período neoclássico, que pede número par de colunas em frontarias.

Cobrado pela Sociedade Artística Internacional, que mantinha o Teatro, o Governador da época Augusto Montenegro mandou demolir a fachada e reconstruí-la recuando-a e retirando uma coluna, e no vácuo que ficou a mostra, antes preenchido por pequenas janelas, mandou botar bustos simbolizando as artes: Dança, Poesia, Música e Tragédia, e ao centro o brasão de armas do estado do Pará, para fortalecer a simbologia republicana que estava enfim instaurada.

O Teatro da Paz, no dizer de Leandro Tocantins, "é um monumento neoclássico por excelência". Nas laterais, pátios cercados de colunas, escadas que dão acesso à Praça da República. Poltronas de palhinhas (não de almofada), seguindo o formato de ferradura. No saguão, há dois bustos talhados em mármore de carrara: José de Alencar e Gonçalves Dias, introdutores do indianismo no Brasil. No salão nobre, ao lado de espelhos de cristal, estão os bustos dos maestros Carlos Gomes e Henrique Gurjão.

Ali Carlos Gomes encenou sua mais famosa ópera, "O Guarani". O decorador desse cenário privilegiado foi o italiano Domenico de Angelis que, posteriormente, decorou o Teatro Amazonas, de Manaus. Ele foi também o autor do painel representando os deuses gregos, Apolo e Diana, no cenário amazônico que fica no teto da sala de espetáculos. Dele também era o teto de jover, perdido por causa de uma infiltração.

Durante a Ciclo da Borracha, as mais famosas companhias líricas se apresentaram ali. Com o declínio da borracha, o Teatro da Paz passou por grandes dificuldades. Sem apresentações, estava quase sempre fechado, e as restaurações não eram suficientes para lhe garantir um bom funcionamento.

Manteve o status de maior teatro da Região Norte, até ser ultrapassado pelo Teatro Estadual Palácio das Artes Rondônia, e um dos mais luxuosos do Brasil, com cerca de 140 anos de história, além de também ser considerado um dos teatros-monumentos do país, segundo o IPHAN.

domingo, 18 de março de 2018

O Brasil independente lhe deve honras

Sua Majestade Imperial D. Leopoldina
Imperatriz do Brasil

Primeira mulher a governar o Brasil independente, D. Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, ou simplesmente D. Maria Leopoldina, foi esposa do primeiro Imperador do Brasil, Sua Majestade Imperial D. Pedro I. No Sete de Setembro de hoje, rendo minhas homenagens e respeito para com a Mulher que tornou-se brasileira por escolha e amou de fato esta Nação.

O que poucos sabem, hoje em dia, é que D. Leopoldina esteve à frente de forma decisiva do processo de independência do país. O movimento feminino esquece-se (muitas vezes pela simples ignorância) de várias mulheres que estiveram à frente do Brasil de forma corajosa e, por vezes, à frente do seu tempo. Em meio a uma época em que se comemora a primeira pessoa do sexo feminino a ser presidente da República do Brasil, o nosso Império viu duas mulheres tomarem as rédeas da Nação. A primeira delas, D. Leopoldina, a segunda, D. Isabel, a Redentora.

Vasconcelos Drummond, um dos políticos e diplomatas que se destacaria no processo de Independência do Brasil, afirmou:

"Fui testemunha ocular, e posso asseverar aos contemporâneos que a Princesa Leopoldina cooperou vivamente, dentro e fora do país, para a Independência do Brasil. Debaixo desse ponto de vista, o Brasil deve à sua memória gratidão eterna."

Um exemplo de atitude da Imperatriz que mostra sua defesa aos interesses brasileiros, pode ser visto em uma carta sua escrita ao seu esposo D. Pedro I por ocasião da Independência:

"É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína."

Com a volta da Família Real Portuguesa para Portugal, em 1821, D. Pedro ficou no Brasil como Príncipe Regente. Em meio à agitação política que o Brasil passava, eram perceptíveis os sinais de uma unidade nacional se construindo. Portugueses e brasileiros estavam em pé de guerra. 

D. Leopoldina exerceu a Regência confiada ao seu marido em 13 agosto de 1822, quando D. Pedro lhe nomeou Chefe do Conselho de Estado e Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o Brasil, e a partir disso, ele partiu para São Paulo para tentar apaziguar os ânimos por lá.

Em dois de setembro de 1822, sabendo que Portugal exigia a volta de D. Pedro ao seu país de origem, D. Leopoldina reune o Conselho de Estado e assina o decreto de Independência, declarando o Brasil separado de Portugal. Ela envia uma carta ao seu marido onde adverte enfaticamente: 

"O pomo está maduro, colha-o já, senão apodrece." 

Depois disso veio o Grito do Ipiranga!

Dona Leopoldina, então Princesa Real-Regente do Reino do Brasil preside a reunião do Conselho de Ministros em 2 de setembro de 1822.

Ainda como Governante, mas desta vez já de um Brasil Independente, D. Leopoldina idealiza a Bandeira da nova Nação, cuja mistura do Verde (cor heráldica da família Bragança, de D. Pedro) e do Amarelo (na verdade dourado, cor heráldica de sua família, os Habsburgos), tornaria-se um Símbolo de identificação Nacional. Jean Baptiste Debret, célebre pintor, dá vida a essa ideia e cria a Bandeira do Império do Brasil.

Um fato curioso é narrado no livro "Revivendo o Brasil Império", de Leopoldo Bibiano Xavier. Diz ele que nos idos de 1824, Vasconcelos Drummond, já citado anteriormente, comenta que uma tropa pretendia forçar a abdicação de D. Pedro I, e só a veneração que tinham à Imperatriz D. Leopoldina é que pôde demovê-los do seu intento. Foi então que lhe ofereceram secretamente a Coroa, ao que ela respondeu: 

"Sou cristã, e dedico-me inteiramente ao meu marido, aos meus filhos. 
Antes de consentir num semelhante ato, eu me retirarei para a Áustria."

Juramento da imperatriz Maria Leopoldina à Constituição do Brasil 1824

Por fim, a Imperatriz não se interessava muito por roupas e enfeites. Mas gastava muito, visto que dava esmolas de sua própria dotação. Terminava por gastar mais do que podia. Após sua morte em 1826, verificou-se que tinha dívidas decorrentes de suas obras de caridade. A Assembleia Legislativa sentiu-se honrada em mandar efetuar os pagamentos desses débitos deixados pela Imperatriz.

A Imperatriz e seus filhos

LINK ORIGINAL - O BRASIL É REAL

O HINO NACIONAL BRASILEIRO - PARTE 2/2

Apesar de ser mantido pela República, o Hino de Francisco Manuel da Silva continuou a ser executado sem letra. Nesse período diversas letras foram compostas, inclusive pelo famoso escritor Humberto de Campos, mas nenhuma acabou sendo oficializada até então.

Nesse período situações inusitadas aconteceram, como por exemplo, uma narrada pelo escritor Gastão Penalva em seu livro Botões Dourados. O encouraçado Minas Gerais, da Marinha de Guerra do Brasil, estava fundeado em frente à cidade de New York, tendo conduzido o ministro Lauro Muller e sua comitiva aos Estados Unidos.

O navio brasileiro foi visitado por várias comissões americanas, inclusive uma de suboficiais da marinha ianque, que convidaram seus colegas brasileiros para um jantar em um dos salões do Cordigal Hotel. Terminado o evento, os anfitriões, de surpresa, cantaram o hino dos Estados Unidos, ouvido de pé pelos presentes. Os brasileiros se viram obrigados também a cantar o seu, pois, o contrário seria uma desfeita injustificável aos americanos.

Presente ao jantar o mestre de bordo do Minas Gerais, Bernardo, não se alterou, passou logo a senha aos seus subordinados: "Pessoal, se ninguém se lembrar daquela letra arrevesada do Braço Forte, pode mesmo cantar a antiga Laranja da China."

Eles não tinham outro recurso. Como os americanos não sabiam nada da língua portuguesa, os marinheiros brasileiros, ao som da orquestra americana, se aprumaram e entoaram uníssonos, afinados, sem a menor discrepância musical, e com a máxima seriedade, como se de fato estivessem a cantar uma letra oficial:

"Laranja da China 

Laranja da China 

Laranja da China 

Abacate, limão doce, tangerina..." 

Por incrível que possa parecer, foi um sucesso! Os marinheiros americanos tiveram uma explosão homérica de abraços. Muitos pediram cópias da letra.

Finalmente a letra

Somente em 1909 é que a atual letra do Hino foi composta, com pequenas diferenças do que conhecemos hoje, pelo poeta Joaquim Osório Duque-Estrada. Cabe ressaltar que originalmente na segunda linha da primeira estrofe constava "Da independência o brado retumbante", mas Osório resolveu deixar "De um povo heroico o brado retumbante".

Em 1916, o autor trocou "Pelo amor da liberdade" por "Em teu seio ó liberdade"; "Quando em teu belo céu risonho e límpido" por "Se em teu formoso céu risinho e límpido"; e "Dos filhos de teu flanco és mãe gentil" por "Dos filhos deste solo és mãe gentil". Na segunda parte do hino, as frases alteradas foram "Entre as ondas do mar e o céu profundo" por "Ao som do mar e à luz do céu profundo" e "O pavilhão que ostentas estrelado" para "O lábaro que ostentas estrelado".

Duque Estrada recebeu do governo federal pela composição da letra do Hino Nacional a quantia de cinco contos de réis - um grande valor para a época -, quando foi adquirida a propriedade plena e definitiva da letra do hino através do Decreto 4.559, de 21 de agosto de 1922, após um longo e intenso debate no Congresso Nacional, que durou anos.

Mas a letra do hino só seria finalmente oficializada pelo Decreto 15.671, de 6 de setembro de 1922, assinado pelo presidente Epitácio Pessoa, as vésperas dos festejos do Centenário da Independência do Brasil.

Biografia do autor

Joaquim Osório Duque-Estrada nasceu a 29 de abril de 1870, em Pati do Alferes, no estado do Rio de Janeiro, filho do tenente-coronel, Luiz de Azevedo Coutinho Duque-Estrada e de Mariana Delfim Duque-Estrada. Era afilhado do general Osório, o Marques do Herval, de quem recebeu o segundo nome. Cursou o Colégio Pedro 2º, onde, em 1887, Silvio Romero o distinguiu entre os alunos prefaciando o seu primeiro livro de poesias, Alvéolos. Recebeu o grau de bacharel em letras em 1888, com apenas 18 anos de idade.

Em 1888, escreveu os primeiros ensaios como um dos auxiliares de José do Patrocínio na campanha da abolição. Nesse ano alistou-se nas fileiras republicanas, ao lado de Silva Jardim, entrando para o Centro Lopes Trovão. Em 1891, dedicou-se à diplomacia sendo nomeado 2º secretário de Legação do Brasil, no Paraguai. De 1893 a 1896, morou em Minas Gerais, onde foi redator do Eco de Cataguazes.

Destacou-se no magistério como professor e inspetor-geral de ensino, até o ano de 1902, quando foi nomeado regente interino da cadeira de História Geral e do Brasil no Colégio Pedro 2º. Voltou à imprensa e colaborou com quase todos os jornais do Rio de Janeiro.

Publicou 27 livros " poesias, didáticos, peças teatrais, conferências, traduções e libretos de óperas " destacando, além de Alvéolos, Flora de Maio, A Arte de Fazer Versos e A Abolição, este com prefácio de Rui Barbosa. Foi critico literário, mantendo por muito tempo a secção Registro Literário nos jornais cariocas Correio da Manhã, no Imparcial e no Jornal do Brasil.

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1915, na vaga de Silvio Romero, seu antigo professor, sendo o segundo ocupante da cadeira 17, que tem como patrono, o jornalista Hipólito da Costa. Seu discurso de posse foi respondido por Coelho Neto.

Em outubro de 1909, elaborou seu Projeto de Letra Para o Hino Nacional Brasileiro. Sete anos depois fez algumas alterações, sendo o projeto oficializado em 1922, na véspera das comemorações do centenário da Independência do Brasil.

Os belos e patrióticos versos do nosso glorioso Hino Nacional, magnificamente adaptados à música de Francisco Manuel da Silva, composta entre 1822 e 1823, consagrou para sempre o nome de Joaquim Osório Duque-Estrada, como Roquete Pinto, seu sucessor na Academia Brasileira de Letras, bem expressou: "Seu pensamento há de palpitar por entre gerações. A gente pequenina, hoje mais feliz que a do meu tempo, pode cantar o Hino de Francisco Manuel".

Duque-Estrada faleceu em 5 de fevereiro de 1927, na cidade do Rio de Janeiro, aos 56 anos de idade.

Hino Nacional Brasileiro

Música: Francisco Manuel da Silva

Letra: 

Joaquim Osório Duque-Estrada 

"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas 

De um povo heroico o brado retumbante 

E o sol da liberdade em raios fúlgidos 

Brilhou no céu da Pátria nesse instante." 

A beira do tranquilo e sereno córrego do Ipiranga foi ouvido pelo heroico povo brasileiro o grito estrondoso e forte de "Independência ou morte". A liberdade surgiu sob um sol brilhante no céu do Brasil naquele momento.

"Se o penhor dessa igualdade 

Conseguimos conquistar com braço forte, 

Em teu seio, ó liberdade, 

Desafia o nosso peito a própria morte!" 

A liberdade do povo brasileiro pode ser conquistada com braço forte (segurança e poder).

"Ó Pátria Amada, 

Idolatrada 

Salve! salve!" 

A Pátria brasileira é o idílio (o amor) do seu povo, sempre pronto à salvá-la do perigo.

"Brasil, um sonho intenso, um raio vívido 

De amor e de esperança à terra desce, 

Se em teu formoso céu risonho e límpido 

A imagem do Cruzeiro resplandece!" 

O Brasil é sempre um sonho, como um raio ardente e intenso. O amor e a esperança do seu povo abrangendo o território do país. O céu sempre belo e claro. A imagem da constelação do Cruzeiro do Sul brilha com intensidade (significando a proteção de Cristo sobre o Brasil).

"Gigante pela própria natureza 

És belo, és forte impávido colosso, 

E o teu futuro espelha essa grandeza." 

O tamanho continental do Brasil desde sua formação. É bonito e grande. E o futuro mostrará a sua grandeza como nação.

"Terra adorada, entre outras mil, 

És tu Brasil, ó pátria amada! 

Dos filhos deste solo és mãe gentil, 

Pátria amada, Brasil!" 

O Brasil é adorado pelo seu povo, que são os filhos da Pátria amada, que os protege como uma mãe.

Segunda Parte

"Deitado eternamente em berço esplêndido 

Ao som do mar e à luz do céu profundo, 

Fulguras, ó Brasil, florão da América, 

Iluminado ao sol do Novo Mundo!" 

O Brasil está estendido em um berço maravilhoso, ao som das ondas, e sob um penetrante céu azul. O Brasil brilha no continente americano, iluminado pelo sol de um país independente (uma nova nação).

"Do que a terra mais garrida 

Teus risonhos lindos campos têm mais flores, 

"Nossos bosques têm mais vida, 

Nossa vida no teu seio, mais amores"." 

A terra (Brasil) é vistosa, com uma natureza mais florida e linda, com seus bosques cheios de beleza. No Brasil temos mais amores (a natureza).

Osório Duque Estrada cita nesse trecho versos da Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias:

"Minha terra tem palmeiras, 

Onde canta o sabiá... 

...Nosso céu tem mais estrelas, 

Nossas várzeas têm mais flores, 

Nossos bosques têm mais vida, 

Nossa vida mais amores." 

"Ó Pátria Amada, 

Idolatrada 

Salve! salve!" 

"Brasil, de amor eterno seja símbolo 

O lábaro que ostentas estrelado 

E diga ao verde-louro desta flâmula 

Paz no futuro e glória no passado." 

O Brasil é simbolizado pela bandeira nacional, com sua esfera estrelada, o verde da bandeira, que simboliza paz em seu futuro e história cheia de glórias.

"Mas se ergues da justiça a clava forte 

Verás que o filho teu não foge à luta, 

Nem teme quem te adora a própria morte." 

A justiça se faz com clava (pedaço de pau usado como arma) e o brasileiro (filho) não fugirá da luta em defesa da pátria, nem que tenha que sacrificar a própria vida.

"Terra adorada, entre outras mil, 

És tu, Brasil, ó pátria amada! 

Dos filhos deste solo és mãe gentil, 

Pátria Amada, Brasil!" 

O HINO NACIONAL BRASILEIRO - PARTE 1/2

De acordo com o paragrafo 1º do artigo 13 da Constituição do Brasil, são os símbolos da Pátria, a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. Inserido como um verdadeiro patrimônio da nação brasileira, o nosso hino, é considerado por sua harmonia um dos mais belos do mundo. Vários autores erroneamente escreveram que o Hino Nacional Brasileiro havia sido composto quando da abdicação do trono do Brasil pelo Imperador D. Pedro 1º, em 7 de abril de 1831, ou mesmo escrito para a coroação de D. Pedro 2º, em 1841, mas estas informações caíram por terra graças a pesquisas que comprovaram que o hino havia sido feito antes, mais precisamente logo após a Independência do país, em 7 de setembro de 1822.

Seu autor, o músico Francisco Manuel da Silva a teria feito entre o fim de 1822 ou o inicio de 1823, em um armarinho localizado na esquina das atuais ruas Senador dos Passos com a Regente Feijó, no centro da então capital do Império, o Rio de Janeiro. O estabelecimento era de propriedade de José Maria Teixeira, um músico armador, que gostava de tocar clarinete, nas horas vagas.

Em sua loja reuniam-se um grupo de amigos que tinham afinidade musical. Além de Francisco Manuel da Silva, faziam parte o cantor da Capela Imperial, Zacarias da Cunha Freitas, que posteriormente seria cônego; o poeta Laurindo Rebelo, conhecido por Largatixa; Bento Fernandes das Mercês; José Rodrigues Cortes, e o próprio dono da loja.

O autor

Francisco Manuel da Silva nasceu no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, no dia 21 de fevereiro de 1795, filho de Joaquim Mariano da Silva e de Joaquina Rosa da Silva. De origem humilde, desde pequeno Francisco gostava de música, e graças ao destino, teve como seu professor o padre José Mauricio Nunes Garcia, mestre em filosofia, poliglota, inspetor de música da Real Capela (por ato do príncipe Regente D. João, futuro rei Dom João 6º), grande admirador de Nunes Garcia, e sem dúvida, o maior compositor brasileiro de sua época, tendo escrito mais de 200 músicas, destacando-se a célebre Réquiem.

Além de Nunes Garcia, outros dois nomes também influenciaram Francisco em sua formação intelectual e musical, o austríaco Sigismund von Neukomm, discípulo do grande compositor Haydn, que chegara ao Rio de Janeiro com a comitiva do duque de Luxemburgo, que viera, por ordem do rei Luiz 18, para reatar as relações entre França e Portugal; e o português Marcos Portugal, que veio para o Brasil em virtude da invasão napoleônica em seu país.

Logo após sua chegada ao Rio de Janeiro, este foi nomeado pelo príncipe regente D. João, mestre da Capela Real e da Real Câmara, e pouco depois diretor do Teatro de São João. Foi também diretor do Conservatório de Santa Cruz e diretor-geral de todas as funções públicas, também por ato de D. João 6º.

Em 1805, aos dez anos de idade, Francisco iniciou seus estudos de violoncelo, e em 1809, ingressou como soprano no coro da Capela Real. Aos 15 anos, já sabia harmonia, e revelava tendências para compositor e instrumentista. No ano de 1816, passou a estudar contraponto e composição, com músico Sigismund von Neukomm. Em 1825, era o segundo violoncelo da Capela Imperial.

Apesar de sua dedicação ao seu trabalho, Francisco se viu obrigado por determinação de Marcos Portugal, seu superior na hierarquia funcional, de gênio irrascível - e sentindo-se ameaçado pelo jovem e talentoso músico - a mudar de instrumento, de violoncelo para violino. Ameaçado de demissão, se não manifestasse aplicação a essa nova e desnecessária tarefa, Francisco não desanimou e entregou-se ao estudo com ardor, e não tardou a tornar-se um exímio violonista.

Sete dias depois da abdicação do imperador Pedro 1º, em 14 de abril de 1831, no Teatro São Pedro de Alcântara, foi executado o hino de sua autoria, para comemorar o dia 7 de abril, data da renúncia ao trono brasileiro por D. Pedro, em favor de seu filho Pedro 2º. Esse hino, que na ocasião ficou conhecido como Hino 7 de abril, seria posteriormente oficializado como o Hino Nacional Brasileiro.

Sociedade musical

Idealista, Francisco Manuel da Silva fundou, em 1833, a Sociedade Beneficente Musical, da qual foi eleito presidente. Graças ao seu trabalho, a entidade prosperou e se estabilizou, ajudando muito os integrantes do meio artístico. Em 1841, assumiu o cargo de mestre geral da Capela Imperial e, no ano seguinte, foi nomeado mestre compositor da Capela Imperial.

Quando ocupou esse cargo, a Capela Imperial possuía ao todo 105 figuras, distribuídas em 33 músicos instrumentistas; 37 capelães cantores; 2 mestres compositores de música; 2 mestres de capela e 4 organistas. Ocupou ainda vários cargos de direção de diversos teatros no Rio de Janeiro e de companhias líricas.

Pela dedicação a seu trabalho, foi condecorado pelo Imperador D. Pedro 2º, em 1857, com a ordem da Rosa, no grau de oficial.

Quando da inauguração da estátua do proclamador da Independência do Brasil, o Imperador D. Pedro 1º, na hoje Praça Tiradentes, região central do Rio de Janeiro, em 25 de março de 1862, Francisco organizou a celebração de um "Te Deum" ao ar livre, em que tomaram parte na grande orquestra 242 professores e 653 músicos, por ele dirigidos com rara maestria profissional. Entre os alunos do coro destacaram-se Francisco de Paula Rodrigues Alves, que seria presidente da República, e Joaquim Nabuco, posteriormente grande escritor, politico e intelectual brasileiro.

Em 1863, Francisco participou do lançamento da pedra fundamental da sede do Conservatório de Música, como um dos responsáveis pela fundação, que deu origem ao Instituto Nacional de Música, hoje pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Também pianista, Francisco é autor de sete hinos, além do Nacional: o do Coração, das Artes, Hino à Imperial Sociedade Amantes da Instrução, o de Guerra, o Hino à Virgem Santíssima e o Hino ao Infante Dom Afonso. Compôs também musica instrumental, musica vocal e um extenso repertório de música sacra. Sua última composição foi "Peça para soprano, harpa, harmonia e orquestra", executada na Igreja São Francisco de Paula, no Rio.

No ano de 1865, já doente, a assembleia geral da Sociedade Beneficente Musical conferiu o titulo de presidente honorário a Francisco Manuel da Silva, que antes recebera da Sociedade Musical Campesina o titulo de sócio honorário.

Foi casado com Monica Rosa do Bom Sucesso, com quem teve três filhas. Viúvo, casou com Tereza Joaquina de Jesus. Faleceu aos 70 anos, no dia 18 de dezembro de 1865, vitimado por tísica. Seu corpo foi sepultado no cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, da qual era irmão, no bairro carioca do Catumbi.

Anos depois, a compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, ao visitar o túmulo de seus pais, deparou, por acaso, com o de Francisco Manuel da Silva, que estava em situação lastimável. Em uma reunião da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - SBAT, a maestrina exortou a entidade para que se mobilizasse e desse ao autor do Hino Nacional Brasileiro uma sepultura condigna. Em 12 de novembro de 1926, foi inaugurado no cemitério de São Francisco de Paula, um novo túmulo, obra do escultor Correia Lima.

O Hino Nacional Brasileiro

Composto após a Independência do Brasil, o hino de Francisco Manuel de Silva, recebeu do poeta e magistrado Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, piauiense de nascimento e radicado no Rio de Janeiro, onde se tornou desembargador do Tribunal de Relação (hoje de Justiça), a primeira letra que se tem noticia, em 1831, quando da abdicação de D. Pedro 1º do trono brasileiro.

As quadras iniciais da letra do Hino são as seguintes:

"Os Bronzes da tirania 

Já no Brasil não rouqueijão: 

Os monstros, que o escravizarão, 

Já entre nós não vicejão. 

Da Pátria o grito 

Eis se desata 

Desde o Amazonas, 

Até o Prata. 

Ferros e grilhões, e forças 

D"antemão se preparavão: 

Mil planos de proscrição 

As mãos dos monstros gisavão. 

Seguem-se mais nove quadras, acompanhadas de igual número de estribilhos, na longa e rebuscada letra do desembargador Ovidio. Posteriormente uma nova letra foi feita na qual falava da coroação de D. Pedro 2º, acompanhando dos fatos históricos da época, e assim iniciava:

"Quando vens faustoso dia 

Entre nós raiar feliz, 

Vemos em Pedro Segundo 

A ventura do Brasil, 

Da Pátria o grito 

Eis se desata 

Desde o Amazonas, 

Até o Prata. 

Quando da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, os positivistas, ardorosos partidários do novo regime, pretendiam substituir o hino, sob a alegação que ele era do Império, apesar de nunca ter sido oficializado pela monarquia.

O governo provisório teria convidado, por telegrama, Carlos Gomes, que estava na Europa, para compor o novo hino do Brasil. Seria premiado com vinte contos. O compositor campineiro, segundo informações, teria recusado o convite com uma resposta lacônica passada por outro telegrama:

"Não posso". Ficou então resolvido que seria realizado um concurso para a escolha de um novo hino pátrio. No dia 4 de janeiro de 1890, 29 concorrentes, entre os quais figuravam os melhores músicos do Brasil, apresentaram seus hinos perante uma comissão formada por Miguel Cardoso, Alfredo Bevilacqua, Frederico Nascimento, Ignácio Porto Alegre e Carlos de Mesquita.

Na tarde de 20 de janeiro de 1890, com a presença do chefe do governo provisório marechal Deodoro da Fonseca, ministros, altas autoridades, imprensa e povo, o concurso teve lugar no Teatro Lírico no Rio de Janeiro.

A execução dos quatro melhores hinos foi feita por uma banda marcial formada por 70 músicos, do Arsenal de Guerra, e dos Menores Desvalidos (depois Instituto João Alfredo), e o canto foi interpretado por um coro masculino de 30 vozes de integrantes dos teatros cariocas, sob a regência do maestro Carlos de Mesquita.

As quatro músicas finalistas eram de autoria de Francisco Braga (compositor da música do futuro Hino à Bandeira), Jeronimo de Queiroz, Alberto Nepomuceno e Leopoldo Américo Miguez, que saiu vitorioso. A letra seria do poeta e escritor José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque, que havia sido publicada no Diário do Comércio, do Rio de Janeiro, na edição de 26 de novembro de 1889.

Após a execução da música vitoriosa, por exigência do público que irrompeu em delírio para que se tocasse o hino de Francisco Manuel da Silva, o que coube a orquestra regida por Luís Agostinho de Gouveia, Deodoro da Fonseca aplaudiu calorosamente, juntamente com o público que lotava o teatro, mas teria exclamado convicto: "Prefiro o velho!".

Alguns republicanos ficaram contrariados, pois entendiam que o velho hino era da monarquia e não refletia o novo regime político brasileiro. Mas, no próprio teatro, o marechal baixou o Decreto 171, lido pelo ministro do Interior, Aristides da Silveira Lobo. A norma legal determinava: "Conserva o Hino Nacional e adota o da Proclamação da República."

O Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil constituído pelo Exército e Armada, em nome da Nação, decreta:

Art. 1º - É conservada como Hino Nacional a composição musical do maestro Francisco Manuel da Silva.

Art. 2º - É adotada sob o título de Hino da Proclamação da República a composição do maestro Leopoldo Miguez, baseada na poesia do cidadão José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros Albuquerque.

O magnifico hino de Miguez e de Medeiros e Albuquerque ficaria famoso pelo estribilho, que seria muito entoado em manifestações contra a ditadura militar:

Liberdade! Liberdade! 

Abre as asas sobre nós! 

Das lutas na tempestade 

Dá que ouçamos tua voz! 

Anos antes, ainda no Império, uma verdadeira apoteose ao hino de Francisco Manuel da Silva, denominada Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro foi composta pelo pianista norte-americano de renome mundial, radicado no Brasil, Louis Moreaux Gottschalk, e sua estreia se deu em concerto em 1869, tendo sido executada por 650 músicos, no Rio de Janeiro.

Dedicada a Son Altesse Impériale Madame la Comtesse d"Eu, a princesa Isabel, a futura Redentora, a obra trata de variações, especialmente em piano, da música de Francisco Manuel da Silva. Foi muito executada pelas consagradas pianistas brasileiras Guiomar Novais e Eudóxia de Barros, e também pelo famoso pianista americano Eugene List. Também foi difundida pela TV, quando do funeral do presidente Tancredo Neves, em 1985, e usada em programas eleitorais do Partido Democrático Trabalhista, de Leonel Brizola.

Durante o regime militar, em 1973, a Comissão Nacional de Moral e Civismo abriu processo para verificar se a obra deveria ser banida do território nacional, por supostamente tratar-se de arranjo musical do hino nacional, algo proibido pela Lei 5.700, de 1971. Após alguns anos, o processo foi encerrado, prevalecendo o bom senso no parecer de pessoas como o músico Alfredo Melo, que explicou a diferença entre arranjo e variação.

Essa legislação que rege os símbolos nacionais determinava que a execução do hino fosse sempre feita de acordo com o arranjo musical realizado pelo maestro Alberto Nepomuceno, que muito se dedicou para que o Hino fosse tocado e cantado de uma mesma forma em todo o país.

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Eufrásia Teixeira Leite


Eufrásia Teixeira Leite (Vassouras, 1850 – Rio de Janeiro, 1930) foi uma herdeira, investidora financeira e filantropa brasileira, cuja trajetória de vida mostra claramente como a riqueza podia modificar o tratamento que a sociedade dava a algumas mulheres no século XIX. Após a perda dos pais em 1972, Eufrásia e sua irmã, Francisca Bernardina, passaram a administrar com notável talento a herança recebida, multiplicando seu patrimônio e deixando, em testamento, uma fortuna que poderia comprar 1.850 quilos de ouro, aos preços da época, e cuja maior parte foi legada a instituições assistenciais e educacionais da cidade de Vassouras-RJ. O usufruto da riqueza garantiu-lhe a emancipação econômica, tornando-a, além de uma bem-sucedida rentista, uma mulher independente que viveu a vida conforme as suas escolhas. Para os padrões atuais, Eufrásia seria bilionária.[1]

Família e educação

Era filha caçula do Dr. Joaquim José Teixeira Leite e Ana Esméria Correia e Castro, sendo neta paterna do barão de Itambé, neta materna do barão de Campo Belo, sobrinha do barão de Vassouras e sobrinha-neta do barão de Aiuruoca. Tinha uma única irmã, Francisca Bernardina Teixeira Leite (1845-1899), e um irmão que morreu na infância. A família de seu avô paterno já era muito rica quando mudou-se de Conceição da Barra de Minas para Vassouras. Seu pai e seu tio barão de Vassouras se estabeleceram como capitalistas, fundando, no Rio de Janeiro, a empresa "Casa Teixeira Leite & Sobrinhos", que emprestava dinheiro a juros e realizava intermediações financeiras com os prósperos fazendeiros de café. Por outro lado, a família de sua mãe era composta somente por ricos plantadores de café, sendo ela membro da tradicional família Correia e Castro.[2] Para os padrões brasileiros da época, recebeu uma educação aristocrática, tendo estudado na escola de moças de madame Grivet, que existia na localidade de Comércio, hoje Sebastião Lacerda, em Vassouras. Além do ensino básico, aprendeu boas maneiras, a falar o francês e a tocar piano.[3]

Partida para a Europa

Com a morte de seus pais, , em 1872, Eufrásia e sua irmã herdaram uma fortuna de 767:937$876 réis (767 contos, novecentos e trinta e sete mil, oitocentos e setenta e seis réis), o que equivalia na época à dotação pessoal do imperador D. Pedro II ou a 5% das exportações brasileiras. Logo depois, em 1873, morreu sua avó, a baronesa de Campo Belo, e as irmãs receberam, como herança, mais 106:848$886 (cento e seis contos, oitocentos e quarenta e oito mil e oitocentos e oitenta e seis réis) na forma de títulos e escravos, que logo foram vendidos.[4] Na época, a região de Vassouras entrava em decadência, devido ao esgotamento do solo e ao envelhecimento dos escravos, mas os bens das irmãs não eram fazendas de café; elas possuíam apólices de títulos da dívida pública do Empréstimo Nacional de 1868, ações do Banco do Brasil, depósitos bancários, títulos de crédito de pessoas, apenas 12 escravos, uma casa no Rio de Janeiro e uma grande propriedade urbana em Vassouras, atualmente conhecida como Casa da Hera ou Chácara da Hera, onde residiam com seus pais.[3] Jovens e solteiras, as irmãs venderam ações, títulos e a casa do Rio de Janeiro, cobraram créditos, alforriaram os escravos, fecharam a casa da chácara, deixando dois empregados incumbidos de sua conservação, e partiram, em 1873, para residir em Paris.

Romance com Joaquim Nabuco

Eufrásia, além de inteligente e hábil com negócios, foi uma mulher muito bela, como mostram diversos quadros e retratos. Quando viajou para a Europa, conheceu no navio o diplomata Joaquim Nabuco e iniciou um namoro com ele. As cartas amorosas que recebeu de Joaquim Nabuco foram, diz a tradição, por expressas instruções dela, encerradas em seu caixão. Já as cartas e bilhetes que enviou a Joaquim Nabuco, estão guardadas no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, em Recife. Algumas dessas cartas sugerem que algo muito íntimo, para além dos padrões da época, teria ocorrido entre os dois.[5] A maior parte do romance ocorreu na Europa, onde Eufrásia tinha interesses financeiros e mundanos. Joaquim Nabuco, porém, tinha ambições políticas no Brasil. O romance durou de 1873 até 1887, quando Eufrásia remeteu a última carta para Joaquim Nabuco. Dois anos depois, ele se casou com Evelina Torres Soares Ribeiro. Eufrásia jamais se casou.[6][7].

Vida na Europa

Eufrásia tinha o espírito empresarial da família e investiu sua fortuna e a da irmã, não em terras ou ativos produtivos, mas em capital financeiro, sabendo administrá-la e multiplicá-la com maestria no circuito mercantil internacional. Em países europeus, comprou ações de empresas que produziam com as novas tecnologias da Segunda Revolução Industrial, como indústrias extrativistas, companhias ferroviárias, indústrias de transformação e bancos estrangeiros, e participou da internacionalização de capitais que ocorria na época. No Brasil, Eufrásia comprou ações no Banco do Brasil, Banco Comércio e Indústria de São Paulo, Banco Mercantil do Rio de Janeiro, Companhia América Fabril, Cia. de Fiação e Tecidos Aliança, Cia. Tecelagem de Seda Ítalo-Brasileira, Companhia Antártica Paulista, Cia. Cantareira e Viação Fluminense, Cia. Docas de Santos, Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, Cia. Paulista de Estradas de Ferro, Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Consta ter sido a primeira mulher a entrar no recinto da Bolsa de Valores de Paris. Instalou-se em Paris, residindo depois de 1884 com a irmã em um hôtel particulier de cinco andares, na rua Bassano 40, 8º arrondissement, próximo ao Arco do Triunfo, endereço sofisticado até os dias atuais.[3] As irmãs viviam uma vida recatada, mas participavam da vida social parisiense. Eufrásia integrou o círculo das amizades mais próximas de Dona Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil, quando esta estava já no exílio na França. Sua irmã, Francisca Bernardina, tinha uma séria deformação na bacia e morreu em 1899, em Paris, sem ter se casado. Assim, Eufrásia herdou também a fortuna da irmã.[5] Entre 1874 e 1928 veio somente duas vezes ao Brasil,[3] mas viajou para diversos outros países. Viu a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) na Europa e lamentou os danos causados aos prédios.

Retorno e morte no Brasil

Retornou definitivamente para o Brasil em 1928 e passou temporadas na Casa da Hera, em Vassouras. Mantinha-se quase como reclusa, tanto que até comprou, em 1924, a chácara do Dr. Calvet, ao lado da chácara da Hera,[4], apenas para manter-se longe dos vizinhos.

Viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro, em um apartamento em Copacabana, cercada de empregados fiéis, excêntrica e solitária. Queria retornar para Paris, mas tinha problemas renais que a impediram de viajar.

Sem "descendentes nem ascendentes", seu primeiro testamento legava toda a sua fortuna para o Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, instituição católica com sede em Roma, mas que geria diversos estabelecimentos de instrução no Brasil.[4] Um segundo testamento, feito as vésperas de sua morte, legou praticamente toda a sua fortuna para obras de caridade, a serem realizadas por instituições da cidade de Vassouras.

Foi enterrada no Rio de Janeiro. Posteriormente, seu corpo foi exumado e enterrado no mausoléu de seu avô, o primeiro barão de Itambé, em Vassouras. No local não há lápide que indique a sepultura de Eufrásia.

O testamento

Disputas judiciais

No dia da sua morte, um primo distante de Eufrásia, Antônio José Fernandes Júnior, praticamente furtou o original do seu testamento da cabeceira da sua cama a fim de evitar que o documento fosse extraviado por outros parentes. Foram nomeados quatro inventariantes para o espólio de Eufrásia, porém um deles morreu logo depois, e outro pediu para que se retirasse seu nome. Restaram apenas os irmãos Antônio José Fernandes Júnior, que inventariou os bens do Brasil, e Raul Fernandes, que inventariou os bens do exterior.[4] O testamento foi contestado judicialmente pelas primas Umbelina Teixeira Leite dos Santos Silva, baronesa de São Geraldo, Cristina Teixeira Leite d´Escragnolle Taunay, viscondessa de Taunay, e Francisca Teixeira Leite Brhuns. A elas juntaram-se outros primos do lado paterno de Eufrásia, representados por advogados que também eram da família Teixeira Leite. Os advogados desses herdeiros deserdados alegaram a insanidade de Eufrásia devido a "uma moléstia crônica [de rins (sic)], de natureza gravíssima, que se veio processando com lentidão, aniquilando a paciente não só fisicamente como também mentalmente".[5] Entretanto, as cartas que Eufrásia escreveu pessoalmente, nos meses que antecederam sua morte, provam que ela se mantinha, aos 80 anos, completamente lúcida e ainda gerindo seus negócios. Em um confronto judicial que durou seis anos, os herdeiros da família Teixeira Leite foram afinal derrotados pelos inventariantes, Antônio José Fernandes Júnior e Raul Fernandes, que eram advogados. Em agosto de 1937, quando os herdeiros deserdados da família Teixeira Leite tentaram reabrir o processo judicial de impugnação do testamento, a população de Vassouras revoltou-se, fechou o comércio, cercou o fórum durante as audiências e ameaçou os advogados. O juiz chamou a polícia, mas o delegado disse que os policiais tinham saído da cidade.[5] Os advogados fugiram pelos fundos do fórum, e os incidentes pararam aí.[4] Um decreto presidencial da ditadura de Getúlio Vargas determinou que, em todos casos, somente podiam herdar os parentes colaterais até segundo grau, o que então calou parte dos herdeiros deserdados. Apesar disto, os primos do lado materno, os Correa e Castro, conseguiram obter uma parte da herança, com base no testamento de D. Ana Esméria, mãe de Eufrásia, feito em 1872. Segundo o documento, se Eufrásia e a irmã morressem solteiras e sem filhos, uma parte dos bens de D. Ana Esméria, anexados à herança das filhas, deveria passar para algumas de suas sobrinhas. Com isto, a Justiça decidiu pela distribuição de valores da herança de Eufrásia para os inúmeros herdeiros descendentes destas primas Correa e Castro.[4] Durante mais de vinte anos, os irmãos Antônio José e Raul Fernandes atuaram como testamenteiros. Resultaram 30 volumes de manuscritos depositados no Centro de Documentação Histórica de Vassouras.[5]

Inventário da herança

A fortuna que Eufrásia tinha herdado dos pais, da avó e da irmã tinha crescido muito com seus investimentos, apesar da grande depressão de 1929 e das perdas com empresas russas confiscadas pela revolução comunista de 1917. Era tão grande que o atestado de óbito de Eufrásia registra que exercia a profissão de "milionária".[3] O espólio tinha um valor estimado em 37 milhões de réis, o que poderia comprar 1.850 quilos de ouro na época. Em sua maior parte, constituía-se de ações de 297 empresas, de dez países diferentes, além de títulos de dívidas de governos. Partes menores eram a casa em Paris (que na época valia 2 milhões de francos e atualmente valeria mais de 10 milhões de euros) e um loteamento de 49 terrenos na atual rua Pompeu Loureiro, em plena época de crescimento imobiliário de Copacabana.[5] O menos valioso dos bens imóveis legados foi provavelmente a Casa da Hera, com seus móveis, decoração e utensílios domésticos, avaliada em 96:700$000 (noventa e seis contos e setecentos mil réis), cuja área tinha sido aumentada com a compra da chácara do Dr. Calvet, avaliada em 44:050$000 (quarenta e quatro contos e cinquenta mil réis). Herdeiros Os principais herdeiros de Eufrásia foram a Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, o Instituto das Missionárias do Sagrado Coração e o Colégio Salesiano de Santa Rosa de Niterói.[3] Os dois últimos deveriam fundar dois colégios para meninas e meninos pobres, cada um mantendo cinqüenta órfãs e órfãos, e outros estudantes pagantes. O Colégio Salesiano de Santa Rosa de Niterói recusou a incumbência e sua parte, conforme o testamento, foi passada para a Santa Casa de Misericórdia de Vassouras. Valores menores foram legados para a Fundação Osvaldo Cruz, para o agente de Eufrásia em Paris, para alguns primos e empregados domésticos. Dinheiro em espécie foi destinado aos pobres de Vassouras e aos mendigos que moravam na rua em que Eufrásia residira, em Paris.[3] As cartas que enviava para seus empregados mostram que era bastante autoritária e detalhista nos seus pedidos, mas que pagava a todos muito bem. Todos os seus empregados receberam boas doações em vida ou legados no seu testamento. Para um ex-escravo, doou em vida uma casa no Rio de Janeiro. A filha desse escravo, Cecília Bonfim, que também foi sua empregada, afilhada e herdeira, repetiu o seu gesto e deixou um testamento legando seu bens aos pobres de Vassouras.[5] Resultados da herança Nos terrenos deixados por Eufrásia, em Vassouras, foram construídos o Instituto Feminino para moças pobres, o Colégio Regina Coeli para moças, o Senai, o atual fórum, delegacia e muitos outros prédios. O Hospital Eufrásia Teixeira Leite foi construído com os recursos que legou. O testamento de Eufrásia tem várias exigências que prejudicaram o atingimento dos seus objetivos devido a fatos posteriores imprevisíveis. Todos os bens foram legados sob cláusulas de inalienabilidade e da insubrogabilidade que deviam protegê-los. Os valores obtidos com as vendas das ações foram aplicados em apólices do Tesouro Nacional, cujos juros deveriam financiar as instituições criadas, como o Instituto Feminino e o hospital. Entretanto, a hiperinflação brasileira destruiu o valor original das apólices do Tesouro. Como resultado, a Santa Casa de Misericórdia de Vassouras e o Hospital Eufrásia Teixeira Leite passam hoje por séria crise financeira. Uma das cláusulas do testamento de Eufrásia pedia "conservar a Chácara da Hera com tudo que nela existisse no mesmo estado de conservação, não podendo ocupar ou permitir que fosse ocupada por outros".[4] Assim, a residência de seus pais em Vassouras é hoje o Museu Casa da Hera, considerado o melhor exemplo preservado de habitação urbana de famílias ricas do vale do Paraíba do Sul no século XIX.