domingo, 4 de março de 2018

PRÍNCIPE DOM LUIZ DE ORLEANS E BRAGANÇA – 80 ANOS: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

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O Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (1909-1981), Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 ao seu falecimento, sempre desejou dar ao seu filho primogênito e herdeiro dinástico, o então Príncipe Imperial do Brasil, Dom Luiz de Orleans e Bragança, aquilo que a injusta e imoral Lei do Banimento, que forçou a Família Imperial Brasileira ao exílio na Europa, após o golpe republicano de 15 de novembro de 1889, não havia lhe permitido ter: uma educação no Brasil, entre brasileiros e dentro das melhores tradições do nosso País.

Esse sonho, felizmente, pôde ser realizado com o retorno definitivo da Família Imperial para o Brasil, em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial. No período em que residiram no Rio de Janeiro, primeiro em Santa Teresa, depois na Urca, o jovem Príncipe Imperial – junto aos seus irmãos imediatamente mais novos, os Príncipes Dom Eudes e Dom Bertrand de Orleans e Bragança – estudaram no Colégio Santo Inácio, administrado pelos Padres da Companhia de Jesus.

No ano de 1951, tendo herdado, de um benemérito comerciante português, um excelente imóvel comercial na Rua do Ouvidor, o Chefe da Casa Imperial o vendeu, usando o lucro da venda para comprar uma propriedade rural, a Fazenda São José, de 72 alqueires, em Jacarezinho, no norte do Estado do Paraná, para onde se transferiu com todos os seus.

Lá, foram acolhidos de braços abertos pelo Bispo local, Dom Geraldo de Proença Sigaud (1909-1999), descendente do médico que havia feito o parto do Imperador Dom Pedro II (1825-1891), que ajudou a Família Imperial a se estabelecer na região e também abriu as portas dos colégios católicos locais para os jovens Príncipes e Princesas, conforme esses iam chegando à idade escolar. Alguns anos mais tarde, tornariam a se mudar, para outra propriedade, um pouco maior, a Fazenda Santa Maria, em Jundiaí do Sul, também no norte paranaense.

Sendo assim, o Príncipe Imperial e seus irmãos – os supracitados Príncipes Dom Eudes e Dom Bertrand, bem como os Príncipes Dom Pedro de Alcantara, Dom Fernando e Dom Antonio de Orleans e Bragança – estudaram no Colégio Cristo Rei, administrado por Padres Palotinos alemães, enquanto suas irmãs – as Princesas Dona Isabel (1944-2017) e Dona Eleonora (hoje Princesa de Ligne, pelo casamento) de Orleans e Bragança – estudaram no Colégio da Imaculada Conceição, ótima escola dirigida por freiras, também em Jacarezinho.

Os outros irmãos – os Príncipes Dom Francisco e Dom Alberto e as Princesas Dona Maria Thereza (hoje Senhora Johannes Hessel de Jong) e Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança –, por serem ainda muito jovens, eram educados em casa. Naquelas boas instituições religiosas de ensino – nos bons tempos, anteriores à crise imensa que, a partir da década de 1960, iria se patentear nos meios católicos – a boa influência familiar era complementada e corroborada.

Nos longos anos de vida na fazenda, a Princesa Consorte do Brasil, Dona Maria da Baviera de Orleans e Bragança (1914-2011), esforçava-se para que seus doze filhos aprendessem bem, além do português, obviamente, o francês, recebendo ainda noções básicas do alemão, ministradas pela própria mãe e também por Fraulein Zita Donner, governanta alemã, originária da região dos Sudetos, que Sua Alteza havia trazido da Europa em 1949, para lhe ajudar com a educação dos filhos, que iam se tornando sempre mais numerosos.

Em casa, o idioma habitualmente praticado era o francês, já que o português era amplamente usado na escola e nas relações, muito estreitas, com os empregados da fazenda. Eram também familiarizados com o italiano e o espanhol – sobretudo por meio de leituras –, e recebiam, na escola, o ensino regular de inglês. Foram, pois, todos os doze Príncipes e Princesas habituados a uma cultura multilíngue, tendo base para, mais tarde, se o desejassem, aprofundar os seus conhecimentos em vários idiomas.

Tendo concluído seus estudos secundários em 1956, no ano seguinte, o Príncipe Imperial, então com 19 anos de idade, retornou à França, para frequentar o Colégio Universitário de Paris, onde aperfeiçoou seus conhecimentos da língua francesa e, seguindo os passos de seu pai, que lá havia se bacharelado em 1936, cursou Ciências Políticas e Sociais. Posteriormente, foi para a Baviera, terra natal de sua mãe, ingressando na Universidade de Munique, onde estudou Química e Física, bacharelando-se em 1967, qualificado profissionalmente como engenheiro químico.

No período em que viveu na França, Sua Alteza esteve hospedado com sua avó paterna, a Princesa Imperial Viúva do Brasil, Dona Maria Pia de Bourbon-Sicílias de Orleans e Bragança (1878-1973), e com sua tia, irmã mais nova de seu pai, a Princesa Dona Pia Maria de Orleans e Bragança, Condessa René de Nicolaÿ (1913-2000); na Alemanha, viveu com seu tio e padrinho, irmão mais velho de sua mãe, o Príncipe Ludwig da Baviera (1913-2008), e a esposa e prima-irmã deste, a Princesa Irmingard da Baviera (1923-2010), no Castelo de Leutstetten.

Nas horas vagas que lhe proporcionava o rígido curso universitário, e durante o período de férias, em que viajou por toda a Europa, aproveitou o jovem Príncipe Imperial para tornar mais conhecido o Brasil nos ambientes que frequentava, a saber, os círculos da mais alta nobreza europeia e os meios universitários franceses, alemães e italianos.

 Sua Alteza também foi recebido nas diversas cortes monárquicas do Velho Continente, bem como representou seu pai em importantes eventos da realeza, como o casamento, celebrado em Atenas, em 1962, de seu primo segundo, o Infante Dom Juan Carlos da Espanha, com a Princesa Sophia da Grécia e Dinamarca (mais tarde, Rei Dom Juan Carlos I e Rainha Dona Sofía da Espanha), onde, acompanhado de sua irmã, a Princesa Dona Isabel, o Príncipe Imperial se sentou em lugar de destaque, junto aos demais Príncipes Herdeiros das Casas reinantes e não-reinantes.

Cabe acrescentar, no tocante ao Príncipe Imperial e ao seu irmão, o Príncipe Dom Bertrand (hoje Príncipe Imperial do Brasil), que foi muito grande a influência que teve, em sua formação, o Doutor Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), que era, no sentido estrito do termo, amigo de infância do pai dos então jovens Príncipes, pois tinha quase a mesma idade que o Príncipe Dom Pedro Henrique, e haviam brincado juntos no Bois de Boulogne, na Paris de 1913 para 1914. Em 1922, novamente estiveram juntos, quando a Família Imperial veio ao Brasil para as comemorações do Centenário da Independência, e, depois disso, por anos a fio, mantiveram correspondência.

Quando o Príncipe Dom Pedro Henrique, Chefe da Casa Imperial do Brasil, já casado e pai de quatro dos doze filhos e filhas que viria a ter, retornou em definitivo ao Brasil, logo tomou contato com o Doutor Plinio, que, naquele meio tempo, havia se transformado em um importante líder católico, e com cujas ideias Sua Alteza concordava inteiramente, tanto mais que coincidiam com aquelas boas ideias que recebera em sua educação, especialmente de sua mãe, a Princesa Imperial Viúva.

Esta, aliás, em princípios da década de 1960, na última conversa que teve com Doutor Plinio, quis lhe agradecer formalmente todo o bem que havia feito ao seu filho e aos seus netos. Além disso, quando Doutor Plinio publicou, em 1959, o livro “Revolução e Contra-Revolução”, no qual condensou o principal do seu pensamento, o Chefe da Casa Imperial sentiu tanta consonância com aquela obra que fez questão de prefaciar sua edição francesa.

Também foi por conselho do preclaro amigo que Sua Alteza resolveu reabrir o processo do Palácio Guanabara (antigo Paço Isabel), contra a União, que injustamente despojara seus avós, a então Princesa Imperial do Brasil, Dona Isabel de Bragança (1846-1921), e o Príncipe Dom Gastão de Orleans, Conde d’Eu (1842-1922), de sua residência particular.

Esse processo era geralmente dado como perdido, devido à prescrição, mas, graças a uma brecha legal apontada pelo jurista amigo, o Chefe da Casa Imperial conseguiu reabri-lo. Inicialmente aberto em 1895, e ainda não resolvido, é esse o processo mais antigo em trâmite na Justiça Brasileira.

O Chefe da Casa Imperial, que comparecia anualmente às Semanas de Estudo do jornal “Catolicismo”, do qual o Doutor Plinio era a alma-propulsora, levou seu primogênito, o então Príncipe Imperial, ainda adolescente, a uma dessas Semanas, em 1955. O jovem dinasta participou de todas as conferências e círculos de estudo, e retornou literalmente encantado a Jacarezinho, com as perspectivas de luta ideológica que se abriam diante de seus olhos.

Em longas conversas com o Príncipe Dom Bertrand, então menino de 14 anos, cavalgando ambos pelas estradas de terra da região da fazenda paterna, o Príncipe Imperial reproduziu ao irmão tudo quanto se lembrava das conferências, das conversas e dos ambientes da Semana de Estudos.

Quando, no ano seguinte, seu pai anunciou em família que partiria para São Paulo, para nova Semana de Estudos, levando consigo o Príncipe Imperial, imediatamente o Príncipe Dom Bertrand declarou que também queria ir. O Chefe da Casa Imperial, em um primeiro momento, disse que não o levaria, porque ainda era muito jovem. Mas, diante da insistência do filho, acabou por levá-lo, e o Príncipe Dom Bertrand imediatamente aderiu àquele grupo católico, do qual haveria de nascer, alguns anos depois, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP.

Data dessa época a participação dos Príncipes Dom Luiz e Dom Bertrand nas atividades da futura TFP – que, após a morte do seu idealizador e fundador, viria a se transformar no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, do qual Suas Altezas são membros fundadores e entusiastas. Seu pai sempre viu com imenso agrado essa participação, pois entendia que é papel dos nobres, e dos Príncipes em especial, estar sempre na posição de maior risco, em defesa dos seus povos. Em uma de suas últimas entrevistas à imprensa, em 1972, Sua Alteza declarou: “Tenho dois filhos ligados à TFP e me orgulho disso.”

Hoje Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand recorda: “Papai nos ensinava que as Monarquias decaíram quando os Reis deixaram de estar à frente de seus povos, na frente de batalha, e se limitaram a ficar nos palácios, mandando os generais chefiarem as batalhas. O lugar do Rei é no campo de luta, à frente do seu povo!”

Ademais, estando proibida a propaganda ativa dos ideais monarquistas, devido à vigência da Cláusula Pétrea, infame dispositivo constitucional que punha os monarquistas fora da lei, e estando, por outro lado, o Brasil ameaçado pela guerra psicológica movida pelo comunismo internacional, o que de melhor poderiam os dois Príncipes fazer, do que estar no local de maior risco da luta ideológica anticomunista?

Durante a campanha do Plebiscito de 1993, quando algum jornalista indagava Suas Altezas acerca de sua participação nas atividades de uma entidade anticomunista como a TFP, o Príncipe Dom Luiz, já Chefe da Casa Imperial do Brasil, e o Príncipe Imperial Dom Bertrand, depois de explicarem o que acima foi dito, sempre concluíam:

“A TFP, no momento presente, é o local de maior risco na luta ideológica para defender o Brasil do grande risco que o ameaça. Não há nenhuma outra posição em que seja necessário ter mais coragem e valor do que na TFP. Pois é aí o nosso lugar.”

Essa posição claramente anticomunista nunca se chocou, na mente do Príncipe Dom Pedro Henrique, com a imparcialidade política própria de um Monarca e, por extensão, de um Chefe de Casa. Sua Alteza entendia, como também entendem seus filhos e atuais herdeiros diretos do Trono do Brasil, os Príncipes Dom Luiz, Dom Bertrand e Dom Antonio de Orleans e Bragança, bem como já demonstram entender seus netos, o Príncipe Dom Rafael e a Princesa Dona Maria Gabriela de Orleans e Bragança, filhos do Príncipe Dom Antonio e herdeiros do porvir monárquico em nosso País, que um Soberano constitucional não precisa esconder as ideias que tem; a imparcialidade política que deve manter não lhe pede tanto.

Afinal, todo o Brasil conhecia as convicções abolicionistas do Imperador Dom Pedro II e da Princesa Dona Isabel, que, obviamente, não violaram a Constituição por terem, nem por deixarem saber que tinham, tais convicções. A respeito disso, fala o comunicado que o Círculo Monárquico Isabel, a Redentora, de Porto Alegre, fez publicar no jornal “Zero Hora”, em sua edição de 23 de dezembro de 1988:

“O que se deve esperar de um pretendente ao trono numa monarquia constitucional é que, em matéria política, como em qualquer outra, ele de nenhum modo vá além dos limites que a Constituição estabeleça a seu poder. O que o obrigará, uma vez coroado, a abstenções e silêncios, quiçá dolorosos, mas que a lealdade ao juramento do respeito à Constituição, que era prestado no Brasil sobre os Santos Evangelhos, lhe obriga a respeitar escrupulosamente.”

Assim como o Imperador Dom Pedro II, o Príncipe Dom Luiz sempre encontrou no estudo um verdadeiro prazer. Mas, divergindo neste ponto de seu trisavô, gostou desde cedo da equitação e da caça, tendo mesmo, neste último esporte, conquistado alguns troféus. Nos últimos anos, retomou a fotografia, revelando, na precisão das composições e na matização dos detalhes, o veio artístico herdado tanto da Casa de Bragança como da Casa de Witteslbach, Família Real da Baviera, de sua mãe. É, ainda, apreciador de música erudita, especialmente de compositores brasileiros da escola barroca.

Foto: S.A.I.R. o então Príncipe Imperial do Brasil, Dom Luiz de Orleans e Bragança, na juventude.

Leia sobre a infância do Chefe da Casa Imperial do Brasil, acessando: https://goo.gl/iyP1BN

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