quinta-feira, 8 de março de 2018

OS BRASÕES DOS REINOS MEDIEVAIS

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Os brasões ou escudos de armas, na tradição medieval, foram criados seguindo às leis da heráldica. Seu objetivo era identificar indivíduos, famílias, clãs, cidades e nações. O desenho de um brasão é normalmente posto num suporte em forma de escudo que representa a defesa usada pelos guerreiros.

No caso dos escudos de armas nacionais, estas evoluíram a partir de símbolos associados à realeza ou a algum nobre de alta condição, no entanto o surgimento destes brasões ficou envolto em lendas e outras auras de mistério...

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Escudo de França (a flor-de-lis):

A origem lendária das flores-de-lis no brasão medieval francês datam da época de Clóvis, Rei dos Francos. Segundo essa teoria uma pomba branca teria descido do Céu com essa flor e uma ampula de santo óleo para ungir o Rei. A flor-de-lis era conotada com a Santíssima Trindade (daí as 3 pétalas) e com Virgem Maria e a Sua pureza.

No entanto, a verdadeira razão política prende-se com a necessidade de afirmação e legitimação Real, assim essa flor passou a ser um símbolo do Direito Divino do Soberano, e a partir daí, os monarcas ungidos defenderam que a sua autoridade vinha diretamente de Deus. No século XIV os cronistas começaram a afirmar que a monarquia podia identificar a sua origem a Clóvis e ao Direito Divino entregue a si e aos seus descendentes para governar a França.

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Escudo de Inglaterra (os três leões):

O 1º registo das Armas Reais data do Reinado de Henrique II (1154-1189), que usava um, ou dois leões em posição "rampante" (levantada). A origem destes animais é Bíblica, pois o leão é usado para representar São Marcos, um dos evangelistas. Esse animal já havia sido referido pelo profeta Ezequiel na Torá como um dos que se senta perto de Deus, simbolizando a Majestade e o Poder Divinos.

Não surpreende que tenha sido escolhido pelo pai de Henrique, Geoffrey Plantageneta, Conde de Anjou, como seu símbolo pessoal. Os filhos de Henrique II, Ricardo e João, usaram um número variável desses leopardos, tanto em posições "rampante" como "en passant".

Ficheiro:Shield of the County of Portugal (1095-1139).pngFicheiro:Brasão de armas do reino de Portugal (1139).svg
Escudo de Portugal (quinas, besantes e castelos):

O brasão português é claro na ligação entre religião e política, especialmente se atendermos ao ambiente de tensão entre as Fé Cristã e muçulmana durante a Reconquista. Segundo uma lenda que circula desde 1419, Dom Afonso Henriques teria tido uma visão de Cristo crucificado na noite anterior da Batalha de Ourique, em 1139.

Cristo teria passado a mensagem de que Portugal era um Reino abençoado por Deus e de que Este lhe daria a vitória. Entusiasmado, Dom Afonso ordenou a todos que pintassem as Chagas de Cristo na cruz azul, símbolo da Casa de Borgonha à época, e passado pelo seu pai, Conde Dom Henrique.

No entanto esses símbolos têm uma origem menos mística: segundo o historiador Joaquim Veríssimo Serrão, o escudo de do 1º Rei português era reforçado com pregos de ferro para tornar a madeira mais resistente ao choque, e quando se pintou a cruz azul sobre a superfície do escudo as cabeças desses pregos ficaram salientes, levando alguém a pintar essas saliências de branco, criando um contraste com a cruz.

Mais tarde, quando Dom Afonso morreu e o escudo passou para o seu filho Dom Sancho I, em 1185, estava já gasto, sendo apenas visível junto aos conjuntos de pregos, mais uma vez o rei ou algum dos seus artistas desenhou o formato de cinco escudetes, ou quinas, circundando os pregos.

Já no século XIII, aquando do casamento do Rei Dom Afonso III com Dona Beatriz de Castela, as fortalezas que faziam parte do brasão do Reino vizinho foram transpostas para as bordas do escudo português criando o desenho que ainda hoje se pode ver.

Ficheiro:Coat of Arms of Castile and Leon.svg
Escudo de Leão e Castela (símbolos romanos e fortalezas):

O brasão do Reino de Leão apresenta o animal em causa de cor púrpura em fundo branco e sua posição também mudaria de "en passant" para "rampante" no século XII. É envolta em mistério a sua origem, uma das teorias diz que o leão era o brasão pessoal de Ataces, Rei dos Alanos, um dos povos germânicos que havia chegado à Península Ibérica no século V.

Ataces teria escolhido a cidade de Legio (Leão) como assentamento e passado a usar o símbolo desse animal. A outra teoria tem a ver com a origem romana do próprio nome da cidade, pois foi aí que se instalou a Legião (Legio) VII "Gemina", que teria um leão como símbolo. A cidade passou assim a ser conhecida como Legio evoluindo depois para León (Leão).

Na verdade ambas as teorias são apenas conjecturas. Já a sua congênere castelhana apareceu bem mais tarde, mas teve um desenvolvimento rápido. A primeira aparição de um castelo ("castilla") num Selo Real data de 1176, no reinado de Don Alfonso VIII, que passou a utilizar a figura de um castelo no reverso de moedas, selos e cunhos.

A explicação para tal também é desconhecida, talvez aqueles territórios estivessem pejados de castelos, e como era uma construção muito comum na paisagem passou a retratar o próprio reino.

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Escudo de Aragão (sangue do Conde de Barcelona):

Após a derrota na batalha de Lleida, em 897, contra os Muçulmanos, o Conde de Barcelona, Guilfredo, o cabeludo, em seu leito de morte, foi visitado pelo Rei Carolíngio Carlos, o Calvo.

Testemunhando a sua bravura em combate, o Soberano mergulhou os seus dedos no sangue do Conde e pintou um escudo dourado que ele próprio tinha oferecido a Guilfredo como reconhecimento da sua lealdade à Coroa (à época os Condes de Barcelona eram vassalos dos Reis Francos).

Os dedos ensanguentados criaram então um padrão de listras vermelhas em fundo dourado que se podem ver hoje em dia não só na bandeira Catalã mas também na de Aragão, Valência e Ilhas Baleares.

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Escudo de Navarra (as correntes dos escravos do Califa)

Fundo vermelho, com correntes interligadas a dourado dispostas em cruz, a partir do centro, onde consta uma esmeralda. A mitologia do brasão retrataria sua origem na Batalha de Navas de Tolosa, em 1212, envolvendo o Rei Don Sancho VII, onde a cavalaria quebrou as correntes dos escravos do Califa, para que não fugissem diante do inimigo.

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Escudo do Sacro-Império Germânico (a águia alemã):

Para os Germanos, o corvo negro era o pássaro do deus Odin. Os Romanos reservavam a imagem da águia somente para os mais reverenciados seres, como o deus Júpiter ou o Imperador, e isso servia como metáfora de invencibilidade.

Carlos Magno teria tomado partido dessa simbologia para associar a sua condição aos antigos Imperadores romanos, fazendo da Águia Imperial (Reichsadler) o seu estandarte. Por volta do ano 1200, a águia negra num campo dourado era geralmente reconhecido como o Brasão Imperial. Em 1433 a águia bicéfala foi adotada.

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Escudo da Hungria (coroa de Santo Estêvão e Cruz Patriarcal):

Os brasões anteriores, com ou sem a coroa de Santo Estêvão, algumas vezes como parte de um maior e mais complexo escudo, fazem parte das Armas húngaras desde o século XII, sendo o elemento mais antigo a Cruz Patriarcal, que mostra a influência romana vinda dos Balcãs. Surgiu por volta de 1190 durante o reinado do Rei Béla III.

Em versões posteriores, três colinas e uma Coroa apareceram na base da Cruz. As faixas vermelhas e brancas eram o símbolo dos Árpáds e foram usadas pela 1ª vez no brasão em 1202, no Selo do Rei Imre.

Ficheiro:Herb Polski.svg
Escudo da Polónia (a águia branca):

De acordo com a lenda, o fundador do primeiro Ducado, Lech, reparou num ninho de uma águia branca e quando olhou para a ave a luz do crepúsculo solar parecia banhar as suas asas de ouro. Ele ficou encantado e decidiu usar essa representação como símbolo pessoal.

A primeira aparição oficial da águia ocorreu no tempo de Boleslaw I (992-1025), como símbolo da dinastia Piast. A partir de 1167 seria definitivamente usada na heráldica dos Duques, mais tarde Reis. Em 1295, pouco antes da primeira fragmentação do Reino, Przemysl II reconheceu a águia como símbolo nacional.

LINK ORIGINAL: REPENSANDO A IDADE MÉDIA

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