Nesse período situações inusitadas aconteceram, como por exemplo, uma narrada pelo escritor Gastão Penalva em seu livro Botões Dourados. O encouraçado Minas Gerais, da Marinha de Guerra do Brasil, estava fundeado em frente à cidade de New York, tendo conduzido o ministro Lauro Muller e sua comitiva aos Estados Unidos.
O navio brasileiro foi visitado por várias comissões americanas, inclusive uma de suboficiais da marinha ianque, que convidaram seus colegas brasileiros para um jantar em um dos salões do Cordigal Hotel. Terminado o evento, os anfitriões, de surpresa, cantaram o hino dos Estados Unidos, ouvido de pé pelos presentes. Os brasileiros se viram obrigados também a cantar o seu, pois, o contrário seria uma desfeita injustificável aos americanos.
Presente ao jantar o mestre de bordo do Minas Gerais, Bernardo, não se alterou, passou logo a senha aos seus subordinados: "Pessoal, se ninguém se lembrar daquela letra arrevesada do Braço Forte, pode mesmo cantar a antiga Laranja da China."
Eles não tinham outro recurso. Como os americanos não sabiam nada da língua portuguesa, os marinheiros brasileiros, ao som da orquestra americana, se aprumaram e entoaram uníssonos, afinados, sem a menor discrepância musical, e com a máxima seriedade, como se de fato estivessem a cantar uma letra oficial:
"Laranja da China
Laranja da China
Laranja da China
Abacate, limão doce, tangerina..."
Por incrível que possa parecer, foi um sucesso! Os marinheiros americanos tiveram uma explosão homérica de abraços. Muitos pediram cópias da letra.
Finalmente a letra
Somente em 1909 é que a atual letra do Hino foi composta, com pequenas diferenças do que conhecemos hoje, pelo poeta Joaquim Osório Duque-Estrada. Cabe ressaltar que originalmente na segunda linha da primeira estrofe constava "Da independência o brado retumbante", mas Osório resolveu deixar "De um povo heroico o brado retumbante".
Em 1916, o autor trocou "Pelo amor da liberdade" por "Em teu seio ó liberdade"; "Quando em teu belo céu risonho e límpido" por "Se em teu formoso céu risinho e límpido"; e "Dos filhos de teu flanco és mãe gentil" por "Dos filhos deste solo és mãe gentil". Na segunda parte do hino, as frases alteradas foram "Entre as ondas do mar e o céu profundo" por "Ao som do mar e à luz do céu profundo" e "O pavilhão que ostentas estrelado" para "O lábaro que ostentas estrelado".
Duque Estrada recebeu do governo federal pela composição da letra do Hino Nacional a quantia de cinco contos de réis - um grande valor para a época -, quando foi adquirida a propriedade plena e definitiva da letra do hino através do Decreto 4.559, de 21 de agosto de 1922, após um longo e intenso debate no Congresso Nacional, que durou anos.
Mas a letra do hino só seria finalmente oficializada pelo Decreto 15.671, de 6 de setembro de 1922, assinado pelo presidente Epitácio Pessoa, as vésperas dos festejos do Centenário da Independência do Brasil.
Biografia do autor
Joaquim Osório Duque-Estrada nasceu a 29 de abril de 1870, em Pati do Alferes, no estado do Rio de Janeiro, filho do tenente-coronel, Luiz de Azevedo Coutinho Duque-Estrada e de Mariana Delfim Duque-Estrada. Era afilhado do general Osório, o Marques do Herval, de quem recebeu o segundo nome. Cursou o Colégio Pedro 2º, onde, em 1887, Silvio Romero o distinguiu entre os alunos prefaciando o seu primeiro livro de poesias, Alvéolos. Recebeu o grau de bacharel em letras em 1888, com apenas 18 anos de idade.
Em 1888, escreveu os primeiros ensaios como um dos auxiliares de José do Patrocínio na campanha da abolição. Nesse ano alistou-se nas fileiras republicanas, ao lado de Silva Jardim, entrando para o Centro Lopes Trovão. Em 1891, dedicou-se à diplomacia sendo nomeado 2º secretário de Legação do Brasil, no Paraguai. De 1893 a 1896, morou em Minas Gerais, onde foi redator do Eco de Cataguazes.
Destacou-se no magistério como professor e inspetor-geral de ensino, até o ano de 1902, quando foi nomeado regente interino da cadeira de História Geral e do Brasil no Colégio Pedro 2º. Voltou à imprensa e colaborou com quase todos os jornais do Rio de Janeiro.
Publicou 27 livros " poesias, didáticos, peças teatrais, conferências, traduções e libretos de óperas " destacando, além de Alvéolos, Flora de Maio, A Arte de Fazer Versos e A Abolição, este com prefácio de Rui Barbosa. Foi critico literário, mantendo por muito tempo a secção Registro Literário nos jornais cariocas Correio da Manhã, no Imparcial e no Jornal do Brasil.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1915, na vaga de Silvio Romero, seu antigo professor, sendo o segundo ocupante da cadeira 17, que tem como patrono, o jornalista Hipólito da Costa. Seu discurso de posse foi respondido por Coelho Neto.
Em outubro de 1909, elaborou seu Projeto de Letra Para o Hino Nacional Brasileiro. Sete anos depois fez algumas alterações, sendo o projeto oficializado em 1922, na véspera das comemorações do centenário da Independência do Brasil.
Os belos e patrióticos versos do nosso glorioso Hino Nacional, magnificamente adaptados à música de Francisco Manuel da Silva, composta entre 1822 e 1823, consagrou para sempre o nome de Joaquim Osório Duque-Estrada, como Roquete Pinto, seu sucessor na Academia Brasileira de Letras, bem expressou: "Seu pensamento há de palpitar por entre gerações. A gente pequenina, hoje mais feliz que a do meu tempo, pode cantar o Hino de Francisco Manuel".
Duque-Estrada faleceu em 5 de fevereiro de 1927, na cidade do Rio de Janeiro, aos 56 anos de idade.
Hino Nacional Brasileiro
Música: Francisco Manuel da Silva
Letra:
Joaquim Osório Duque-Estrada
"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante
E o sol da liberdade em raios fúlgidos
Brilhou no céu da Pátria nesse instante."
A beira do tranquilo e sereno córrego do Ipiranga foi ouvido pelo heroico povo brasileiro o grito estrondoso e forte de "Independência ou morte". A liberdade surgiu sob um sol brilhante no céu do Brasil naquele momento.
"Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!"
A liberdade do povo brasileiro pode ser conquistada com braço forte (segurança e poder).
"Ó Pátria Amada,
Idolatrada
Salve! salve!"
A Pátria brasileira é o idílio (o amor) do seu povo, sempre pronto à salvá-la do perigo.
"Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece!"
O Brasil é sempre um sonho, como um raio ardente e intenso. O amor e a esperança do seu povo abrangendo o território do país. O céu sempre belo e claro. A imagem da constelação do Cruzeiro do Sul brilha com intensidade (significando a proteção de Cristo sobre o Brasil).
"Gigante pela própria natureza
És belo, és forte impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza."
O tamanho continental do Brasil desde sua formação. É bonito e grande. E o futuro mostrará a sua grandeza como nação.
"Terra adorada, entre outras mil,
És tu Brasil, ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!"
O Brasil é adorado pelo seu povo, que são os filhos da Pátria amada, que os protege como uma mãe.
Segunda Parte
"Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!"
O Brasil está estendido em um berço maravilhoso, ao som das ondas, e sob um penetrante céu azul. O Brasil brilha no continente americano, iluminado pelo sol de um país independente (uma nova nação).
"Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida no teu seio, mais amores"."
A terra (Brasil) é vistosa, com uma natureza mais florida e linda, com seus bosques cheios de beleza. No Brasil temos mais amores (a natureza).
Osório Duque Estrada cita nesse trecho versos da Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias:
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá...
...Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
"Ó Pátria Amada,
Idolatrada
Salve! salve!"
"Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado
E diga ao verde-louro desta flâmula
Paz no futuro e glória no passado."
O Brasil é simbolizado pela bandeira nacional, com sua esfera estrelada, o verde da bandeira, que simboliza paz em seu futuro e história cheia de glórias.
"Mas se ergues da justiça a clava forte
Verás que o filho teu não foge à luta,
Nem teme quem te adora a própria morte."
A justiça se faz com clava (pedaço de pau usado como arma) e o brasileiro (filho) não fugirá da luta em defesa da pátria, nem que tenha que sacrificar a própria vida.
"Terra adorada, entre outras mil,
És tu, Brasil, ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria Amada, Brasil!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário