domingo, 17 de abril de 2016

O LADO HUMANO DO IMPERADOR "DEMONÃO"


RIO - Em 2010, o pesquisador paulista Paulo Rezzutti descobriu no acervo da Hispanic Society of America, em Nova York, um lote de 94 cartas inéditas de D. Pedro I para sua conhecida amante, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. Nessa correspondência, escrita pouco depois da proclamação da Independência, entre 1823 e 1827, o imperador expressava seu desejo de ir “aos cofres” da marquesa, descrevia-se como “fiel, desvelado, constante e agradecido amante” e assinava sempre como “O Demonão”.

As cartas, reunidas em 2011 no livro “Titília e o Demonão” (Geração Editorial), reforçavam a imagem de “devasso” que se costuma ter de D. Pedro I ainda hoje. Mas deixavam entrever também, diz Rezzutti, características menos lembradas do imperador. Para dar conta desse “outro lado” do personagem, o pesquisador escreveu o livro “D. Pedro I — A história não contada”, lançado pela editora Leya.

— Quando lancei “Titília e o Demonão”, percebi que, mais até do que o erotismo, o que interessava mesmo os leitores era o lado mais humano de D. Pedro I que aparecia nas cartas. Ele não falava só de sacanagem, falava muito do amor pelos filhos e das preocupações com as intrigas da família real. Então quis escrever um livro que mostrasse esse lado mais humano — diz Rezzutti, por telefone.

CARTAS PARA AS IRMÃS

“D. Pedro I — A história não comentada” começa com uma cena que simboliza essa busca pelo “lado humano” do imperador. Em 2012, Rezzutti foi convidado a participar da exumação dos restos mortais de D. Pedro I, abrigados em uma cripta no subsolo do Monumento do Ipiranga (SP). O procedimento, liderado pela arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, trouxe à tona detalhes reveladores, como a verdadeira altura de D. Pedro I (entre 1,67m e 1,73m, mediana para os padrões da época) e o fato de ter sido enterrado apenas com condecorações de Portugal, e nenhuma do Brasil. Durante a exumação, Rezzutti testemunhou cenas curiosas, como a do funcionário do Monumento do Ipiranga que, ao confirmar que o sarcófago continha os restos do imperador, gritou: “O Pedrão é nosso!”

Para compor o livro, Rezzuti recorreu a documentos pouco conhecidos do grande público, como as cartas trocadas entre o imperador e suas irmãs durante a crise sobre a sucessão ao trono português depois da morte de D. João VI, em 1926. Traído por seu irmão, Miguel, que assumiu o trono, D. Pedro I analisava o caso com as irmãs, que acabaram se aliando a Miguel. Rezzutti diz que procurou também lembrar o fato de que D. Pedro I tinha consciência da crueldade da escravidão e, por isso, tentou passar projetos para reduzir o tráfico de escravos e incentivou a vinda de imigrantes europeus para o Brasil.

O pesquisador trabalha atualmente em uma biografia da imperatriz Leopoldina, prevista para 2017. Com o trabalho nesses livros, Rezzutti espera desfazer as “caricaturas” de D. Pedro I e de outros personagens da monarquia que se formaram ao longo da História.

Sempre que um sistema político cai, o sistema seguinte tenta desmoralizar o anterior para se afirmar. A República fez isso com a Monarquia, e D. Pedro I foi um prato cheio, porque usaram a imagem de homem devasso para criar a imagem de um regime moralmente decadente — diz Rezzutti. — Tentei sair do maniqueísmo e mostrar D. Pedro I em seus pontos positivos e negativos. Ele pode não ser o maior herói da História brasileira, mas também não é o vilão que muitos acreditam ser.

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