Aconteceu que o Rei mandou construir, inteiramente segundo seu gosto, um Palácio, ao qual deu o nome francês de Sans-Souci. Concluída a construção do Palácio, quando se tratou de proceder o ajardinamento das áreas que o cercavam, aconteceu que um moleiro, velho e teimoso, não quis vender ao Rei o seu moinho... que ficava bem no meio da área que, nos planos régios, seria ocupada pelo parque.
O Soberano ofereceu pagar a quantia que o moleiro estipulasse, por mais elevada que fosse. Mas este, obstinado, recusou. Qualquer governante republicano atual não hesitaria: imediatamente fulminaria um decreto de desapropriação por interesse público. Tal solução não foi adotada pelo déspota coroado.
O Rei simplesmente se resignou a ter, bem no meio do seu parque, a companhia incômoda do moinho, que fazia barulho e sujava a área com a farinha que o vento levava. E o célebre moinho acabou por se incorporar definitivamente ao parque régio.
Conta-se que, mais de cem anos depois, os descendentes do moleiro, necessitando de dinheiro, procuraram o remoto sucessor do Rei Frederico II, para lhe perguntar se não desejaria adquirir o moinho. O Rei Frederico Guilherme IV se recusou fazer a compra, mas ordenou que fosse entregue aos moleiros, como presente, a quantia que eles pretendiam receber pela venda.
Isso porque a permanência daquele moinho, como propriedade privada encastoada dentro do Palácio de Sans-Souci, era um símbolo das liberdades prussianas, era um monumento nacional, que permanece de pé até os dias de hoje.
- Baseado em trecho do livro “Parlamentarismo, sim! Mas à brasileira, com Monarca e Poder Moderador eficaz e paternal”, do Prof. Armando Alexandre dos Santos.
Foto: o Moinho do Palácio de Sans-Souci.
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