quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O RAMO NÃO-DINÁSTICO DA FAMÍLIA IMPERIAL BRASILEIRA

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O filho primogênito da Princesa Dona Isabel e do Conde d’Eu, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara, Príncipe Imperial do Brasil enquanto herdeiro dinástico de sua mãe, era grande amante de caçadas, de esportes e de viagens. Propendia mais para a vida em família, com as amenidades próprias do lar doméstico, e para a vida social em escala privada, não se sentindo particularmente afeito aos incertos vaivéns da política e aos embates da vida pública.

O Príncipe Dom Pedro de Alcântara se apaixonou, por volta de 1900, por uma jovem dama checa, a Baronesa Elisabeth Doberzenky von Dobrzenicz, filha do Barão João Wenzel Doberzensky von Dobrzenicz e da Condessa Elisabeth Kottulinsky von Kottulin. A Baronesa Elisabeth pertencia a uma Família da pequena nobreza, há muito estabelecida na Boêmia, mas não era Princesa de sangue real.

Portanto, a Princesa Dona Isabel, enquanto Chefe da Casa Imperial e Imperatriz “de jure” do Brasil, não viu com bons olhos o pretendido matrimônio de seu primogênito e herdeiro. Sua posição não se devia, como poderia parecer, a um antipático “orgulho de casta”. Sem dúvida, pesavam no espírito da Redentora razões de prestígio para a Família Imperial Brasileira – e, por extensão, para o próprio Brasil – relativamente ao nível das esposas de seus filhos. Mas, muito acima disso, sua posição se explicava, sobretudo, pela preocupação que Sua Alteza tinha de que seus filhos se casassem em Famílias que cultivassem o mesmo espírito de sacrifício dos Príncipes em favor de suas pátrias.

Assim sendo, a Chefe da Casa Imperial e o Conde d’Eu pediram que o Príncipe Imperial, durante alguns anos de reflexão, pusesse à prova seu amor pela Baronesa Elisabeth, retardando o casamento. Após a prolongada espera, afinal, o Príncipe Imperial, “tendo maduramente refletido”, “por muito livre e espontânea vontade”, renunciou “não só por mim, como por todos e cada um dos meus descendentes”, a todo e qualquer direito à Coroa e Trono do Brasil.

O documento de renúncia – que não reproduzimos aqui por ser muito conhecido e divulgado – foi assinado em Cannes, no dia 30 de outubro de 1908, diante da Chefe da Casa Imperial do Brasil, que, nos termos dos Artigos 11 e 98 da Constituição Imperial de 1824, representava a Nação Brasileira, e foi aceito por Sua Alteza. A Redentora, oficializando-o, comunicou-o formalmente ao Diretório Monárquico do Brasil, sediado no Rio de Janeiro e composto por antigos Ministros e Conselheiros de Estado do Império.

Com seu ato de renúncia, que constituiu ato jurídico perfeito e acabado, cuja inteira validade ninguém pode por em dúvida, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara perdeu a condição de Príncipe Imperial do Brasil, que passou ao seu irmão, o Príncipe Dom Luiz (este, por respeito ao irmão mais velho, também havia prolongado seu próprio noivado, com a Princesa Maria Pia de Bourbon-Sicílias, com quem veio a se casar pouco depois da renúncia de seu irmão, no dia 4 de novembro de 1908).

Removidos, pois, os obstáculos para o matrimônio, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara se casou, no dia 14 de novembro de 1908, em Versalhes, com a Condessa Elisabeth Doberzenky von Dobrzenicz (o Imperador Francisco José I da Áustria, acatando um pedido de sua prima, a Redentora, e por amizade e simpatia pelo Príncipe Dom Pedro de Alcântara, elevou a Família de sua noiva à condição de Condes, antes do casamento).

O casal teve cinco filhos: a Princesa Dona Isabel (1911-2003), que se casou com o Príncipe Henrique de Orleans, Conde de Paris e, desde 1940, Chefe da Casa Real da França; o Príncipe Dom Pedro Gastão (1913-2007), que desposou a Princesa Esperança de Bourbon; a Princesa Dona Maria Francisca (1914-1968), casada com o Príncipe Dom Duarte Nuno, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real de Portugal; o Príncipe Dom João (1916-2005), casado com a nobre egípcia Fátima Scherifa Chirine, e, em segundas núpcias, com a dama brasileira Teresa Silva Leite; e a Princesa Dona Thereza (1919-2011), que foi a última neta viva da Redentora e do Conde d’Eu, desposada pelo industrial luso-espanhol Ernesto Martorell y Calderó.

Ainda em meados da década de 1920, após ter sido revogado o injusto banimento da Família Imperial, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara se transferiu definitivamente, com a esposa e os filhos, para o Brasil, fixando residência em Petrópolis, sua cidade natal, onde viveram no Palácio do Grão-Pará, um anexo do Palácio de Verão (atual Museu Imperial de Petrópolis). Seu pai, o Conde d’Eu, havia desejado muito fixá-lo no Castelo d’Eu, propriedade adquirida pela Família Imperial na Normandia, França, pois desejava que seu filho primogênito, afastado da sucessão ao Trono do Brasil, estabelecesse um novo Ramo da Casa Real Francesa, os Orleans-Eu. Entretanto, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara, após a morte do pai, tão logo que pôde, preferiu retornar ao Brasil, terra onde nascera e pela qual conservava profunda nostalgia.

A descendência do Príncipe Dom Pedro de Alcântara e da Princesa Dona Elisabeth constitui, portanto, o Ramo não-dinástico da Família Imperial Brasileira, permanecendo sua condição de Príncipes e Princesas, com o tratamento de Altezas Reais, desde que nascidos de matrimônios legítimos, celebrados de acordo com o rito da Igreja Católica.

- Baseado em trecho do livro “Dom Pedro Henrique, o Condestável das Saudades e da Esperança”, do Prof. Armando Alexandre dos Santos.

Foto: SS.AA.RR. o Príncipe Dom Pedro de Alcântara e a Princesa Dona Elisabeth de Orleans e Bragança e seus quatro filhos mais novos, os Príncipes Dom Pedro Gastão e Dom João e as Princesas Dona Maria Francisca e Dona Thereza de Orleans e Bragança, na residência da família, o Palácio do Grão-Pará, em Petrópolis; a primogênita, a Princesa Dona Isabel, já havia se casado com o Príncipe Henrique de Orleans, Conde de Paris e Chefe da Casa Real da França, e, portanto, residia na Europa. Do casal e de seus filhos varões descende o Ramo não-dinástico da Família Imperial Brasileira, sem direitos ao Trono do Brasil.

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