domingo, 14 de janeiro de 2018

Imperatriz Leopoldina

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O ano de 1997 assinalou o bicentenário do nascimento daquela que foi a primeira Imperatriz do Brasil, Dona Carolina Josefa Leopoldina.

As numerosas e justas comemorações ocorridas ao longo do ano realçaram o vulto de D. Leopoldina, resgatando-o do esquecimento no qual infelizmente foram colocados tantos e tantos de nossos maiores.

Dando-se por inteiro à terra à qual a conduziram os desígnios da Providência, ela secundou e incentivou seu augusto esposo, o futuro Imperador D. Pedro I, nos passos e decisões de que resultou nossa soberania plena.

E bem exatamente foi uma carta sua, com o relato comentado das últimas notícias do Rio de Janeiro e da Corte portuguesa, que inspirou ao Príncipe Regente o histórico Brado do 7 de Setembro.

Muito justamente, pois, a esposa de nosso primeiro Imperador pode ser aclamada como Mãe dos Brasileiros.

Necessitaríamos hoje de figuras como a de D. Leopoldina!

Nossas presentes incertezas, exigências e responsabilidades excedem muito aquelas que em 1822 tocavam aos brasileiros.

Diante das apreensões e desatinos de um mundo que parece desfazer-se entre desabamentos sucessivos e enganosas fulgurações, o Brasil precisa imperiosamente reencontrar as vias indicadas por suas tradições católicas.

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 1997 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).

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Trechos das resoluções pessoais da jovem D. Leopoldina.

Desde o despertar, o meu primeiro pensamento será a lembrança da presença de Deus; minhas primeiras palavras serão: Ó Santíssima e adorável Trindade, eu Vos dou meu coração e minha alma, adoro-Vos com todos os coros dos Anjos. Ó Jesus, meu Salvador, tende piedade de mim!

Longe de mim os gastos inúteis, o luxo pernicioso, os adereços indecentes, as vaidades mundanas e as vestes escandalosas. Minha virtude tão necessária será sempre a modéstia, para conservar a pureza de meu coração, sem a qual não poderei agradar a Deus.

Lembrar-me-ei frequentemente das promessas que fiz no dia de meu casamento diante da Igreja e das obrigações que contraí. Guardarei inviolavelmente a fidelidade devida a meu esposo.

Se a Providência me favorecer dando-me filhos, guardá-los-ei como como um penhor precioso do céu que Deus pedirá um dia de minhas mãos. Terei cuidado de lhes dar uma educação esmeradamente cristã, e tratarei sempre de lhes imprimir o respeito que os filhos devem aos pais.

Longe de mim todo o ar de arrogância e de soberba; serei grave e modesta em todos os sentidos, honesta, suave, afável e polida com os grandes e pequenos.

Aceitarei todas as penas e aflições como vindas da mão de Deus, unindo-as aos sofrimentos de Jesus Cristo; sem falar delas a não ser com Jesus e com meu confessor.

(Excerto do Cartão de Natal de 1997 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).


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Há 180 anos, Dona Leopoldina, Regente do Brasil na ausência do Príncipe Dom Pedro, assinava a 2 de setembro a ata da Reunião do Conselho de Estado em que se decidiu nossa Independência.

Essa jovem Princesa, vinda dos esplendores da corte imperial de Viena, entendeu e amou profundamente a vocação extraordinária da Pátria que adotara.

Ao firmar com os ministros de Estado a decisiva deliberação que cinco dias depois seu Esposo chancelaria e converteria em realidade no histórico brado do Ipiranga, ela por certo intuía tudo quanto de grandioso estava reservado à Terra de Santa Cruz.

Grandeza que só poderia estar na linha do desenvolvimento da semente de civilização aqui plantada pela ação missionária e colonizadora de Portugal, e que deveria desabrochar no futuro para formar um grande Império, todo ele pacífico, benfazejo e enriquecedor para outras nações da terra, pelo pleno aproveitamento dos quase infindos recursos naturais de que a Providência o dotara e, principalmente, pelo luzir cristão da alma de seu povo.

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2002 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).

Bicentenário do Casamento de Da. Leopoldina

No ano de 2017, deu-se a coincidência de efemérides centenárias da maior importância para o Brasil e para o mundo. Dentre elas o casamento, faz 200 anos, do Príncipe Real D. Pedro com a Arquiduquesa D. Leopoldina, que viriam a ser nossos primeiros Imperadores.

Assente, já no Congresso de Viena, o reconhecimento do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, impunha-se assegurar, para o herdeiro do Príncipe Regente D. João, uma união à altura do novo patamar a que se elevara a dinastia lusa.

D. João apontou alto: deveria vir da Casa d’Áustria a escolhida. Mas não era indiferente ao Império austríaco a pretensão: "bella gerant alii, tu felix Austria nube" (guerras, que outros as façam; tu, Áustria feliz, casa-te), rezava o adágio vienense.

Incumbido das tratativas e com precisas instruções de D. João, o Marquês de Marialva firmou com o Príncipe de Metternich, em novembro de 1816, um contrato nupcial muito conveniente às duas partes.

O novel Reino Unido se associava à Casa dos Habsburgos, equilibrando assim a influência britânica, e por sua vez a Áustria lograva projeção num Novo Mundo que se destacava da velha Europa.

D. Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena recebeu a educação primorosa e requintada que preparava as arquiduquesas para as mais exigentes alianças.

A isso presidia a Fé católica e se acrescentava a formação do caráter, expressa nos “Propósitos” por ela assumidos ainda bem jovem.

Estabelecido seu destino empenhou-se no estudo das coisas de sua futura Pátria, o Brasil, e incorporou a seu nome o “Maria” tão costumeiro no mundo português.

O casamento, por procuração, foi celebrado pelo Arcebispo de Viena no dia 13 de maio de 1817, na Igreja de Santo Agostinho, Capela Imperial, sendo D. Pedro representado pelo tio de D. Leopoldina, o Arquiduque Carlos.

Ponto culminante das cerimônias, a esplendorosa recepção oferecida por Marialva no Augarten de Viena marcou época, sendo até hoje corrente entre os vienenses a expressão “casamento brasileiro" para rotular um enlace particularmente faustoso.

Depois de longa viagem e em meio a jubilosa expectativa, D. Leopoldina chegou ao Rio de Janeiro no dia 5 de novembro, conhecendo então seu marido, ele contando 19 anos, ela 20. No dia seguinte receberam a Bênção Nupcial, e a capital brasileira teve três dias de brilhantes festejos.

D. Pedro, voluntarioso, generoso, não precisamente mortificado, sinceramente religioso nos grandes momentos, encontrou na preparada e piedosa Arquiduquesa providencial complementação.

Já Princesa Real, o devotamento de D. Leopoldina ao esposo foi inteiro, dando-lhe sete filhos nos nove anos de casamento, quatro dos quais chegaram à idade adulta e dois reinaram: D. Maria II em Portugal e D. Pedro II no Brasil; este, soma feliz das qualidades das duas dinastias e o maior dos governantes brasileiros.

Aplicando-se desde logo à sua nova condição, fez-se benquista em todos os níveis e logrou verdadeira popularidade, que, em aumento constante, viria a tornar-se geral veneração no final de seus dias, em 1826.

Com a volta de D. João VI a Portugal em 1821 por exigência das Cortes, D. Leopoldina envolveu-se paulatinamente nos assuntos de governo, secundando D. Pedro, agora Príncipe Regente, nas decisões a tomar.

Seu discernimento das linhas mestras da política nacional, daquilo que estava em jogo, é hoje largamente reconhecido por historiadores.

Três vezes Regente em ausências prolongadas de D. Pedro, ante a ameaça de um retorno do Brasil à condição anterior e o consequente confronto entre “portugueses” e “brasileiros”, D. Leopoldina sustentou firmemente, em colaboração com o grande José Bonifácio, a preservação da soberania nacional.

Foi decisiva sua intervenção para o “Fico”.

E face ao ultimato das Cortes portuguesas exigindo o imediato embarque de D. Pedro, presidiu, como Regente, a reunião do Conselho de Estado de 2 de setembro de 1822 que deliberou a independência do Brasil.

A ata da reunião, firmada por ela e logo enviada ao marido, na Província de São Paulo, ia acompanhada da exortação: “Pedro, o pomo está maduro, colhe-o agora ou apodrecerá”.

O Grito do Ipiranga, no dia 7, seria a culminação desse processo, assegurando, com a soberania, a integridade de nosso imenso território, que pedia como corolário lógico, embora não automático, o reconhecimento do estatuto imperial.

Eficazmente reivindicado por D. Pedro junto à Santa Sé e às Coroas europeias, para tal reconhecimento foi determinante a anuência obtida por D. Leopoldina de seu pai o Imperador Francisco I.

Estava concluída a obra da Independência.

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2017 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).

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Participação decisiva da Imperatriz Leopoldina na nossa Independência

A atitude de D. Leopoldina, defendendo os interesses brasileiros, acha-se eloquentemente estampada na carta que escreveu a D. Pedro I, por ocasião da Independência do Brasil:

É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.

Dentre as influências que recebeu D. Pedro I, conduzindo-o a proclamar a Independência, destaca-se a da Imperatriz.

A convivência diária com D. Leopoldina ampliava muito o horizonte de D. Pedro I, que escutava atento, com interesse, o que ela contava de sua terra natal, da corte vienense, de Napoleão, da política e história europeias, dos monarcas no Velho Mundo, etc.

A cultura de D. Leopoldina impressionava D. Pedro. Era o meio que lhe garantira, após conquistar a confiança do marido, uma ascendência crescente sobre o seu irrequieto espírito.

Os historiadores reconhecem a grande participação que teve D. Leopoldina nos acontecimentos que prepararam a Independência.

São expressivos os textos de algumas das cartas que ela escreveu nos dias ansiosos que precederam o 7 de setembro de 1822:

“Fiquei admiradíssima quando vi de repente aparecer meu esposo, ontem à noite. Ele está mais bem disposto para os brasileiros do que eu esperava, mas é necessário que algumas pessoas influam mais, pois não está tão positivamente decidido como eu desejaria.

Dizem que as tropas portuguesas o obrigarão a partir. Tudo então estaria perdido, e torna-se necessário impedi-lo. Os ministros vão ser substituídos por filhos do País, que sejam capazes. Muito me tem custado alcançar tudo isso. Só desejaria insuflar uma decisão mais firme”.

Vasconcelos Drummond, amigo dos Andradas e participante direto dos acontecimentos, afirma:

“Fui testemunha ocular, e posso asseverar aos contemporâneos que a Princesa Leopoldina cooperou vivamente, dentro e fora do País, para a Independência do Brasil. Debaixo desse ponto de vista, o Brasil deve à sua memória gratidão eterna”.

Mulher superior ao seu tempo, D. Leopoldina trouxera para o Brasil missões científicas, prestigiara a vinda de sábios, tais como Emanuel Pohl e von Martius, que pode ser considerado como o primeiro estrangeiro a revelar à Europa o Brasil.

Dom Pedro I lançara, na colina do Ipiranga, o grito famoso que fez independente o Brasil. Dias depois, nos salões repletos do Paço, reclamava ele que lhe trouxessem fitas verdes, pois queria que todos usassem o laço das cores representativas do Brasil livre.

Vendo que ainda faltavam alguns distintivos, voltou-se alegremente para Dona Leopoldina, perguntando-lhe: — Não haverá mais fitas verdes no palácio?

Sorrindo, ela respondeu que não; mas, ainda assim, dirigiu-se aos seus aposentos, para mais uma busca. Abriu e remexeu quantas gavetas encontrou, mas nada de fitas verdes.

Já desanimava, e dispunha-se a voltar ao salão com as mãos vazias, quando seus olhos caíram sobre o leito, cujas fronhas ostentavam, a correr pelos ilhoses do bordado, fitas da cor procurada.

Não se deteve a pensar. Arrancou-as todas e voltou ao salão, ruborizada e feliz, para distribuir os distintivos. Em seu entusiasmo, exclamou: — Não havia mais fitas verdes, mas arranquei as dos travesseiros de minha cama!

Imediatamente, sentindo o silêncio que se fizera, corou. Viu que ninguém se sentia digno da honra de tais distintivos. No meio daquela indecisão, o primeiro a dar um passo para a frente foi Antônio de Menezes Vasconcelos Drummond.

Dona Leopoldina estendeu para ele a mão, que segurava um laço verde. E sobre aquela mão e aquele laço se inclinou a cabeça do patriota, que beijou os dedos de Leopoldina, exclamando: — Obrigado, Majestade!

Era a primeira vez que se dava a Dona Leopoldina esse título.

A Imperatriz Leopoldina, modelo de vida familiar e cristã

Francisco I, pai da Imperatriz Leopoldina, fez chegar a D. Pedro I, por intermédio da embaixada austríaca, estas recomendações:

“Recomendo-vos que peçais ao meu genro que faça respeitar a Religião e promover os bons costumes. Se tomar estes conselhos, não é necessário preocupar-se com constituições. Esta é a melhor constituição, a constituição prática. As outras são teorias impraticáveis e quiméricas”.

Narra Vasconcelos Drummond que, já em 1824, a tropa pretendia forçar a abdicação de D. Pedro I, e só a veneração que tinham à Imperatriz Leopoldina é que pôde demovê-los do seu intento. Foi então que lhe ofereceram secretamente a coroa, ao que ela respondeu: — Sou cristã, e dedico-me inteiramente ao meu marido, aos meus filhos. Antes de consentir num semelhante ato, eu me retirarei para a Áustria.

A primeira tentativa de uma colonização não portuguesa, baseada na pequena propriedade, foi formada em Nova Friburgo, em 1819, com suíços de língua francesa e alemã, e reforçada posteriormente por alemães. Fracassou em consequência de o terreno ser pouco favorável, da falta de habilitação dos imigrantes para a agricultura, e de boas comunicações com a capital.

Muitos colonos transferiram-se para o Rio, fomentando o artesanato local, ou alistaram-se nos corpos estrangeiros, enquanto as mulheres trabalhavam como enfermeiras ou empregadas. Muitas famílias chegaram ao extremo da miséria, tanto que as crianças saíam a pedir esmolas pelas ruas.

D. Leopoldina esvaziou várias vezes seus cofres pessoais para acorrer às viúvas e aos órfãos. Era este um dos motivos pelos quais ela se viu moralmente obrigada a contrair dívidas secretamente, para poder socorrer os necessitados.

A Imperatriz Leopoldina não se interessava por roupas caras e enfeites, mas era uma inveterada gastadora, pois seu bom coração a levava muitas vezes a distribuir esmolas da sua própria dotação a todos os que sofriam e vinham apelar para a sua magnanimidade. Com isso ela gastava mais do que podia.

Quando morreu, em 1826, verificou-se que tinha algumas dívidas, decorrentes de suas obras de caridade. A Assembleia Legislativa sentiu-se honrada em mandar efetuar o pagamento desses débitos deixados pela Imperatriz.

(Excerto do livro Revivendo o Brasil Império, de Leopoldo Bibiano Xavier).


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