domingo, 14 de janeiro de 2018

Príncipe Gastão de Orleans

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Há noventa anos – 28 de agosto de 1922 – entregava sua alma a Deus meu bisavô, o Conde d’Eu, injustamente exilado em 1889 depois de haver consagrado 25 anos de sua existência ao Brasil, adotado como a própria pátria por ocasião de seu matrimônio com a Princesa Isabel.

O Príncipe Luís Filipe Maria Fernando Gastão d'Orleans nasceu a 28 de abril de 1842, no castelo de Neuilly-sur-Seine, filho primogênito do Duque de Nemours – quarto filho do Rei Luís Filipe – e da Princesa Vitória Augusta de Saxe Coburgo Gotha.

Escolheu a carreira das armas, primeiro cursando a Academia Militar de Segóvia e buscando depois a ação no Marrocos, onde cobriu-se de louros na batalha de Tetuan.

Aquele a quem estava reservada a patente de Marechal do Exército chegava assim ao Brasil em 1864 já temperado em combate e com brilhante folha de serviços.

Eclodida a Guerra do Paraguai, o curso do conflito em sua última fase o levou a chefia das forças nacionais, que exerceu com brilho e grande competência.

Tal é o testemunho do General Osório, Marques de Herval: "Brindo o Senhor Conde d'Eu, meu companheiro d'armas, pelo seu valor, pela sua coragem e pela justiça com que administrou o exército: brindo-o porque no Paraguai deu sempre provas de amar o Brasil e se devotou d'alma ao seu serviço como os brasileiros que lá serviram".

Sua afeição ao Brasil foi inteira e constante.

Estava ele na difícil situação que toca aos estrangeiros cônjuges de herdeiros do trono: exame rigoroso, juízo severo, crítica fácil. Mas soube – pelo seu caráter e por sua formação cristã – granjear respeito e estima nas funções oficiais como nas relações pessoais.

Ficou isso patente em 1921 quando aqui pôde retornar após três décadas de exílio, recebendo inúmeras manifestações de consideração e afeto.

Mostra eloquente dessa entrega ao Brasil é a carta derradeira que dirigiu aos brasileiros estando ainda em nosso território, reproduzida mais adiante.

Seu devotamento aos três filhos e o cuidado com sua formação foram exímios. Teve a preocupação de educá-los na consciência da herança histórica que encarnavam.

Com a Princesa Isabel cultivava no Castelo d'Eu o perfume de um lar brasileiro, e buscou, para a formação dos netos, ilustres mestres conterrâneos.

Já octogenário e enfraquecido, voltava ao Brasil em 1922 para as comemorações do Centenário da Independência, pretendendo apresentar aos brasileiros o neto, Príncipe D. Pedro Henrique, meu pai, que dois anos antes se tornara Chefe da Casa Imperial; mas aprouve a Deus chamá-lo ainda em alto mar, a bordo do vapor "Massilia".

Última manifestação de desvelo de uma doação plenamente assumida e do cumprimento do dever levado até o fim, exemplo de vida que se soma a muitos outros da Dinastia que regeu nossa Nação.

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2012 de Dom Luiz de Orleans e Bragança)

Manifesto com que, ainda em território nacional, se despediu dos brasileiros o Conde d'Eu

"Aos Brasileiros – A todos os amigos que nesta terra me favoreceram com a sua sincera e para mim tão prezada afeição, aos companheiros que, há longos anos já, partilharam comigo as amarguras em prol da honra e segurança da Pátria Brasileira, a todos os que na vida militar ou na civil até há pouco se dignaram comigo colaborar, a todos aqueles a quem, em quase todas as províncias do Brasil, devo finezas sem número e generosa hospitalidade, e a todos os Brasileiros em geral um saudosíssimo adeus e a mais cordial gratidão.

Não guardo rancor a ninguém e não me acusa a consciência de ter cientemente a alguém feito mal.

Sempre procurei servir lealmente o Brasil na medida de minhas forças.

Desculpo as acusações menos justas e juízos infundados de que por vezes fui alvo.

A todos ofereço a minha boa vontade em qualquer ponto a que o destino me leve.

Com a mais profunda saudade e intenso pesar afasto-me deste país, no qual vivi, no lar doméstico ou nos trabalhos públicos, tantos dias felizes e momentos de imorredoura lembrança.

Nestes sentimentos acompanham-me minha mui amada esposa e nossos ternos filhinhos, que debulhados em lágrimas conosco empreendem hoje a viagem do exílio.

Praza a Deus que, mesmo de longe, ainda me seja dado ser em alguma coisa útil aos Brasileiros e ao Brasil".

Bordo da canhoneira "Parnahyba", no ancoradouro da Ilha Grande,
17 de novembro de 1889.

Gastão d'Orleans.

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