O Presidente da França, Sadi Carnot, decidiu prestar ao Imperador as honras de Chefe de Estado. A importância das exéquias públicas do Soberano deposto, decidida pelo governo francês, e as homenagens póstumas de que foi alvo, causaram a maior irritação ao Embaixador do Brasil, que apresentou ao Quai d’Orsay os protestos do governo republicano.
Enviados de todas as nações compareceram à cerimônia fúnebre. Na Igreja da Madeleine, entre os membros do corpo diplomático, só se notou um lugar vazio – o do representante do nosso País. O Brasil oficial se negou a tomar parte na maior glorificação do nome brasileiro! Mas o Brasil profundo, autêntico, estava condignamente representado por uma filha enlutada, a Princesa Dona Isabel, convertida em Chefe da Casa Imperial e Imperatriz “de jure” do Brasil.
Naquele dia 9 de dezembro, muito cedo, apesar da chuva incessante e do vento frio, uma verdadeira multidão começou a ocupar a Praça da Madeleine e a invadir as ruas e avenidas adjacentes. Antes do meio-dia, a multidão já se tornara tão compacta, que os correspondentes do “Daily Telegraph” e do “Daily Mail” escreveram:
“Havia tanta gente nos funerais do Imperador quanto nos de Victor Hugo.”
Calcula-se em 200.000 as pessoas que assistiram à passagem do cortejo fúnebre.
Joaquim Nabuco, correspondente do “Jornal do Brasil”, escreveu por ocasião das exéquias suntuosas do Imperador em Paris:
“Mais do que isso, infinitamente, D. Pedro II preferia ser enterrado entre nós, e por certo que o tocante simbolismo de fazerem o seu corpo descansar no ataúde sobre uma camada de terra do Brasil interpreta o seu mais ardente desejo. Ao brilhante cortejo de Paris ele teria preferido o modesto acompanhamento dos mais obscuros de seus patrícios, e daria bem a presença de um dos primeiros exércitos do mundo em troca de alguns soldados e marinheiros que lhe recordassem as gloriosas campanhas nas quais seu coração se enchera de todas as emoções nacionais.
Mas foi a sua sorte morrer longe da Pátria. É uma consolação, para todos os brasileiros que veneram o seu nome, ver que ele, na sua posição de banido, recebeu da gloriosa nação francesa as supremas honras que ela pode tributar. No dia de hoje o coração brasileiro pulsa no peito da França.”
- Baseado em trecho do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.
Ilustração: o cortejo fúnebre de S.M.I. o Imperador Dom Pedro II do Brasil, com seu caixão envolto em uma Bandeira do Império, conforme registrou periódico francês da época.
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