sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

UM GRÃO-DUQUE RUSSO NO IMPÉRIO


"O Imperador Dom Pedro — sua longa barba branca e seus óculos dourados de um velho professor universitário — escutava com simpatia minha descrição da selva. A ausência de disputas políticas e até mesmo de contatos vitais entre a Rússia e o Brasil permitiam-lhe conversar livremente.

'Os europeus falam tantas vezes sobre a chamada juventude dos países da América do Sul', ele disse com uma grande tristeza em sua voz. 'Ninguém percebe que estamos irremediavelmente velhos. Nós somos mais velhos que o mundo. Nada é deixado, ou pelo menos nada foi descoberto até agora para os povos que habitavam este continente milhares de séculos atrás.

Há apenas uma coisa que sempre permanecerá na América do Sul: o espírito de inquieto ódio. Ele vem da selva. Prega-se em nossas mentes. As ideias políticas de hoje estão relacionadas com as de ontem sem nenhum outro vínculo, exceto o desejo perpétuo de uma mudança. Nenhum governo pode suportar porque a selva nos leva a lutar.

No momento atual, há uma grande agitação a favor de um regime republicano. Bem, eles devem tê-lo. Conheço muito bem meu povo para tentar organizar um derramamento de sangue desnecessário. Estou cansado. Deixe o futuro presidente tentar manter a paz civil no Brasil.'

Alguns anos depois o Brasil se tornou uma república. Dom Pedro fez exatamente como prometeu: ele abdicou voluntariamente* e alegremente, deixando seus súditos levemente surpreendidos pela facilidade decepcionante de sua vitória. Sua memória é apreciada no Brasil até hoje, e um monumento criado por uma assinatura popular glorifica a sabedoria silenciosa desse gentil senhor.

Eu gostava dele imensamente, e como ele não tinha nenhuma pressa em particular, ficamos por mais de duas horas em seu escritório modesto e confortável com grandes janelas que se abriam para um vasto jardim, onde inúmeros pássaros ocupavam-se em busca de sua refeição da tarde. Nós falamos francês.

Bem distinto, gramaticalmente correto, o fraseio pouco incerto acrescentou um toque de timidez amigável a este encontro entre um soberano cambaleante dos trópicos e um representante da então formidável casa reinante do Norte. Quando estávamos prontos para ir, ele colocou a Cruz da Grande Ordem do Brasil no meu peito.

Agradeci o pedido, mas admiti minha preferência pela Ordem da Rosa, uma estrela de nove pontas em uma coroa de rosas. Ele riu. "A Ordem da Rosa é uma das nossas mais humildes condecorações. Praticamente todo mundo tem." Mesmo assim. Melhorou minha ideia do Brasil."

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O Grão-Duque gostou tanto do Brasil que chegou a dizer: "quem bebe da água de Beykos voltará sem falta a Istambul - dizem os turcos. Tenho minhas dúvidas. Bebi-a e não sinto o mais leve desejo de rever aquela cidade... Entretanto, daria tudo, para ainda uma vez voltar a comtemplar a maravilhosa beleza do Rio".

Fonte: "Once a Grand Duke", em português: "Era uma vez um Grão Duque", memórias do grão-duque Alexandre Mikhailovich, cunhado do Czar Nicolau II, de 1931.

*OBS: Dom Pedro II jamais chegou a abdicar.

LINK ORIGINAL - Romanov: A Última Dinastia da Rússia

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