domingo, 9 de agosto de 2015

A REPÚBLICA PELA REVISTA ILUSTRADA

Angelo Agostini, fundador da Revista

Com oito páginas, a Revista possuía uma tiragem semanal de quatro mil exemplares retratanto de modo satírico os fatos ocorridos. Não tinha patrocinadores nem veiculava propagandas ou reclames, tendo sua única subsistência advinda da venda dos exemplares. Isso se passou, entretanto, apenas durante a primeira fase da publicação

A Revista teve duas fases distintas:
  1. A primeira, sob a direção de Agostini, que durou até quando da Proclamação da República (1889), quando o artista - assim como o Imperador - deixam o país; este, por conta do golpe militar; aquele, por haver fugido com uma amante;
  2. A segunda, sob a direção do também caricaturista Pereira Neto, funcionou de forma intermitente. O retorno de Agostini, em 1895, fê-lo tornar-se apenas um funcionário. A Revista viria a desaparecer, definitivamente, pouco tempo após.

O pesquisador Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, especialista na história da Illustrada, assinala que a primeira fase da revista (de 1876 a 1888, segundo ele) teve seu sucesso devido ao fato de reportar as grandes aspirações do público numa linguagem acessível (para o que contribuíam as ilustrações), e por sua completa independência e liberdade editorial.

Dono de traço inconfundível, Agostini iniciou sua própria edição semanal da Revista, tornando-se rapidamente num dos grandes veículos opositores ao regime monárquico e à escravidão. Em suas páginas o caricaturista atacava de modo contumaz e ácido a figura do Imperador Dom Pedro II, sendo considerado um dos responsáveis pela "deterioração" da imagem pública do soberano: para se ter ideia da ferocidade dos ataques, numa edição de 1882 a Revista traz uma história em quadrinhos onde o soberano é acusado de acobertar os ladrões das jóias da coroa, como se fosse cúmplice destes. Tais ataques exerciam influência na opinião pública coetânea. Porém, seu posicionamento anti-escravocrata era tão lapidar que o principal líder do abolicionismo, Joaquim Nabuco (amigo da Família Imperial), apelidara-a de Bíblia da Abolição. Quando da Lei Áurea a Revista dedicou um número cuja capa celebrizou-se com a figuração da festa pelo fim da prática hedionda. 

Deodoro da Fonseca apresenta a República em seu primeiro aniversário,
dia em que foi instalada a Consttiuinte. Revista Ilustrada, nº 607, novembro de 1890.

"Das urnas sairá triunfante, depois de amanhã,
a própria imagem da Pátria Republicana.Revista Ilustrada 06/09/1890.

Dias antes das eleições de 15 de setembro de 1890 para a Constituinte,
a Revista Ilustrada convida o povo a votar. Revista Ilustrada, 06/09/1890

Em contraste com as imagens da República, as caricaturas de Ângelo Agostini, publicadas durante o Império, no popular jornal Revista Ilustrada, satirizavam constantemente o Imperador Dom Pedro II.

Nesta charge ele é "derrubado do trono" Revista Ilustrada nº 283, 1882

Revista Ilustrada nº 283, 1882.





A República e o fim

Com a República e o fim da escravidão, a realidade no país sofre grandes mudanças; O conteúdo crítico original perde sentido - e Agostini já não é mais o porta-voz dos anseios populares, agora às voltas com os descaminhos do novo Regime. A ILUSTRADA, QUE OUTRORA ATACAVA, DE MANEIRA PESADA, O PRÓPRIO IMPERADOR, GOZANDO DA LIBERDADE QUE O IMPÉRIO PROPORCIONAVA, É CENSURADA PELO GOVERNO DITATORIAL REPUBLICANO, A MESMA REPÚBLICA PELO QUAL LUTARA, passou a viver em dependência e envolvimento com o novo Regime, perdeu sua cumplicidade com o público, e desaparecendo definitivamente.

A revista, assim como os outros republicanos "sinceros" foram calados e/ou empurrados para o esquecimento pela república, a mesma república pelo qual lutaram dentro da plenitude de liberdades do Império do Brasil.

FONTES:
  1. Pesquisas feitas por de Marcus Tadeu Daniel Ribeiro - 1988 - e a de Nelson Werneck Sodré - 1999, citadas por CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008).
  2. Almanaque, histórico da Revista Illustrada (consultada em 1 de fevereiro de 2008)
  3. RIBEIRO, Marcus Tadeu Daniel. "A Arte de Alfinetar", in: revista Nossa História, ano 3, nº 30, abril 2006, pp. 70 a 73
  4. ARAGÃO, Octavio. O Império da Sátira, in: Revista Nossa História, ano 3, nº 26, ed. Vera Cruz, dezembro/2005, pp. 32-34.
  5. Enciclopédia Itaú Cultural, verbete Angelo Agostini (página acessada em 1 de fevereiro de 2008)
  6. CAVALCANTI, Carlos Manoel de Hollanda. Angelo Agostini e seu “Zé Caipora” entre a Corte e a República, in: História, imagem e narrativas, Nº 3, ano 2, setembro/2006 – ISSN 1808-9895 (pesquisada em 1 de fevereiro de 2008)


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