Escola Municipal Gonçalves Dias: agrado para o Imperador e marco do ensino público
Tombada pelo município em 1990, a unidade, situada no Campo de São Cristóvão, foi a segunda escola pública da cidade a ser concluída, ao custo de 90 contos de réis. A primeira, entregue dois meses antes, foi a São Sebastião, demolida com a construção da Avenida Presidente Vargas, em 1938.
— Com a demolição da São Sebastião, ela passa a ser a mais antiga Escola do Imperador e é a mais antiga ainda em funcionamento. Trata-se de um importante marco da arquitetura e da história da cidade, pois foi um dos primeiros prédios feitos especialmente para o ensino público na cidade do Rio. Antes, só havia salas-escolas, que funcionavam em prédios da iniciativa privada. Lá, funcionou uma escola-modelo, que recebia estudantes do Instituto de Educação para estagiar — explica Márcio Brigeiro, professor de História da Escola Municipal Gonçalves Dias, que, desde 2012, pesquisa informações sobre a instituição. Segundo Brigeiro, as duas escolas foram projetadas pelo mesmo escritório de arquitetura e engenharia, o Ballariny & Bosísio, e erguidas simultaneamente, com projetos arquitetônicos muito semelhantes. Quando foi construída, a edificação era composta de um corpo central, com um pavimento — que abrigava secretaria, auditório e administração —, ladeado por dois torreões com dois andares. A ala direita abrigava as salas de aula dos meninos; a esquerda era destinada ao ensino de meninas. Localizado ao lado de outro importante prédio, o Colégio Pedro II, o edifício sofreu modificações arquitetônicas ao longo dos últimos 141 anos.
Para o professor Márcio Brigeiro, a memória da Escola Municipal Gonçalves Dias deve ser mais valorizada. E o prédio merecia ser tratado como um ponto de visitação no bairro de São Cristóvão.
— A escola não tem importância apenas pela arquitetura, mas pelo que ela representa para a cidade. Do Rio de Janeiro agrário e escravocrata, passando pela fase industrial e proletária, até chegar à fase urbana global contemporânea em processo de revitalização, a escola testemunhou a história do bairro de São Cristóvão, da cidade e da educação pública brasileira — diz o pesquisador, que planeja escrever um livro sobre a escola e que é um dos idealizadores do projeto “Gonçalves, dias melhores virão”, que tem até um blog.
O professor lamenta, por exemplo, o fato de o relógio do frontão estar quebrado. E o péssimo estado de conservação do piano, que jaz abandonado num canto do auditório.
— Com a reforma na primeira década do século XX, o relógio pode ter sido trocado, ou só levantado para o segundo andar, isso eu não consegui descobrir em minhas pesquisas. De qualquer forma, ele é antigo e tenho relatos de alunos que dizem tê-lo visto funcionando nas décadas de 80 e 90. O que sabemos é que levaram a parte mecânica para consertar, mas nunca mais trocaram as peças. Já no caso do piano, da marca francesa Pleyel, com teclas de marfim, temos uma promessa para restaurá-lo. É um instrumento raro, onde Villa-Lobos e Ernesto Nazareth tocaram, que foi doado à escola no começo do Século XX — comenta.
Das oito Escolas do Imperador, erguidas na fase final do reinado de D. Pedro II, apenas cinco prédios permanecem de pé. Um deles é hoje sede do Centro Cultural Municipal José Bonifácio, na Saúde, Zona Portuária.
Segundo o professor de história Márcio Brigeiro, que fez uma extensa pesquisa sobre a Escola Municipal Gonçalves Dias, a carta que D. Pedro II escreveu a seu ministro, recusando a estátua em sua homenagem, estimulou, a partir da década de 1870, a construção de prédios públicos próprios para escolas de instrução primária na Corte Imperial.
— Além da Associação Comercial, houve edifícios construídos com subscrições da Câmara, por exemplo, como a Escola São Sebastião, que custou cerca de 80 contos de réis — conta Márcio Brigeiro.
Em suas pesquisas, o professor constatou que, além da Gonçalves Dias, até hoje estão relativamente conservadas as fachadas dos prédios das escolas das antigas freguesias de Nossa Senhora da Conceição da Gávea, de Sant’Anna e de Nossa Senhora da Glória, onde funcionam, respectivamente, a Escola Municipal Luiz Delfino, o CREP (Centro de Referência da Educação Pública do Rio de Janeiro), a Escola Municipal Rivadávia Correa (prédio anexo) e o Colégio Estadual Amaro Cavalcante, segundo um relatório escrito em 2012.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/escola-municipal-goncalves-dias-agrado-para-imperador-marco-do-ensino-publico-12181766#ixzz3nWkALgOR
© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.
Nenhum comentário:
Postar um comentário