sexta-feira, 23 de outubro de 2015

PONTE RIO-NITERÓI

Inusitado. Plano idealizado por Leon D’Escoffier: ele projetou apartamentos e lojas numa ponte, além de elevadores - Reprodução / DNER

Há 40 anos, completados nesta terça-feira, Niterói e Rio de Janeiro passaram a ser cidades integradas, graças à inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva, que ficou mundialmente conhecida como Ponte Rio-Niterói. O plano tirado do papel durante o regime militar - um marco da engenharia e um dos símbolos do projeto ufanista da época - não era uma ideia nova. O primeiro a pensar numa ligação entre os municípios foi Dom Pedro II, que, encantado com as obras do metrô sob o Rio Tâmisa, em Londres, consultou engenheiros britânicos sobre a possibilidade de abertura de um túnel no fundo da Baía de Guanabara. Também durante o Império, uma proposta de construção de uma ponte foi apresentada ao monarca, mas não prosperou.

Entre 1902 e 1952, o sonho de uma ligação entre as duas cidades foi muito discutido nos gabinetes dos palácios do Ingá e do Catete e nas rodas de políticos e empresários tanto no Rio, então capital da República, quanto na terra de Araribóia, capital do antigo Estado do Rio de Janeiro. Uma licitação para a obra chegou a ser feita, mas a empresa vencedora faliu. Na década de 60, o governo militar retomou o projeto e o executou.

- O imperador Dom Pedro II era um visionário. Foi durante sua regência que se pensou na mudança da capital do país para a Região Centro-Oeste do Brasil. Foi dele a ideia da ligação entre Rio-Niterói. Dom Pedro II estava encantado com os avanços tecnológicos apresentados pelos britânicos na construção do metrô de Londres. Ele autorizou um engenheiro inglês a realizar um estudo para a abertura de um túnel sob a Baía de Guanabara. Mas, infelizmente, o plano não foi em frente - conta Francisco de Albuquerque, engenheiro e presidente do Círculo Monárquico de Niterói.

  • Um túnel do Flamengo ao Gragoatá

Segundo Albuquerque, foi o engenheiro inglês Hamilton Lindsay-Bucknall quem recebeu a concessão para a construção de um túnel ferroviário submarino. Pelo seu projeto, haveria uma ligação entre o Flamengo, no Rio, e o Gragoatá, em Niterói. Também a pedido do imperador, o engenheiro inglês P.W.Barlow projetou uma ponte entre as duas cidades. A construção teria cinco quilômetros de extensão e ligaria a Ponta do Calabouço, no Rio, ao Gragoatá. Esse traçado, na época considerado o menor entre os municípios, seria incluído em vários projetos que antecederam o definitivo, executado pelo governo militar.

  • Apartamentos e lojas entre pilares

Muitas ideias foram propostas para conectar Niterói e Rio por um túnel ou uma ponte. A mais inusitada foi apresentada na década de 30 pelo arquiteto francês Leon D’Escoffier. Seria uma obra colossal, com pistas de rolamento exclusivas para carros de passeio, veículos pesados, metrô e até garagem. Pelo projeto, haveria, entre os pilares de uma gigantesca ponte, 946 apartamentos, 996 lojas e dois cineteatros. E também 102 elevadores, que desceriam até alguns metros abaixo do nível do mar. Uma curiosidade chama a atenção quando os antigos projetos são pesquisados: todas as propostas discutidas até a primeira metade do século passado incluíam obras para mais de um sistema de transporte. De trem, carro, ônibus, metrô ou até a pé, as pessoas poderiam escolher um modo de circular entre Rio e Niterói.

Um dos projetos da década de 20 lembra a emblemática Golden Gate, ponte dos Estados Unidos que liga São Francisco a Sausalito. A versão brasileira seria erguida entre a Praça Quinze e o Gragoatá. Entre historiadores, há quem diga que a Avenida Almirante Barroso, no Centro do Rio, foi planejada para se integrar a essa ponte.

Antes da Ponte atual, inaugurada em 1974, o plano de ligação entre Niterói e Rio que esteve mais próximo de sair do papel fora elaborado em 1952. Naquele ano, o então presidente Getulio Vargas sancionou a lei federal 1.793, permitindo a abertura de uma concorrência pública internacional para a construção de um túnel de 6.105 metros sob as águas da Baía de Guanabara. A vencendora do pleito foi a empresa francesa Études et Entreprises, que sofreu um revés financeiro logo após vencer a disputa, o que a obrigou a abandonar o projeto.

POR RENATO ONOFRE, 03/03/2014.

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