segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O PT É UMA DECEPÇÃO PARA A DEMOCRACIA

"O PT é uma grande decepção para a democracia", 
diz Dom João Henrique de Orléans e Bragança

Dos membros atuais da família imperial do Brasil, o fotógrafo D. João Henrique de Orléans e Bragança, de 61 anos, é um dos mais engajados em movimentos sociais e políticos. Figura popular nas cidades de Paraty e do Rio de Janeiro, onde mora, o bisneto da princesa Isabel tem se tornado um dos principais críticos da atual conjuntura política e econômica brasileira. Em passagem recente pelo Recife, o príncipe conversou com o Diario e revelou que foi eleitor e votou no PT no passado. Hoje, seu sentimento é de frustração e de revolta. Aliás, para ele, figuras como o ex-presidente Lula e seu ex-ministro José Dirceu deveriam ter o mesmo destino: a desfiliação partidária e o afastamento da vida pública. “As lideranças do PT que levantam o punho cerrado na hora de serem presas estão indo contra qualquer postura democrática. Os punhos de José Dirceu estavam ‘cerrados’ com o dinheiro dentro”, critica. Na conversa, D. João ainda atribui ao ex-presidente Lula o início da crise econômica e dos cenários futuros. “O filme de terror vai continuar por um bom tempo. É muito grave o que foi feito”, avalia ao citar a perda de valor de mercado da Petrobras em 80%.

"O PT é uma grande decepção para a democracia"

Estamos em um ano no qual uma presidente que foi reeleita há poucos meses já enfrenta uma grave crise política. O que esperar do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff?
O Brasil está passando por um filme de terror. Mas o filme de terror está saindo da tela. Nós estamos passando por uma tempestade perfeita. Só que muito mais que uma tempestade. Tudo está dando errado ao mesmo momento. Nós estamos passando por uma crise econômica, uma crise política e uma crise moral. Tudo junto. E no começo de um mandato quando o governo tem que ter a maior legitimidade possível, a maior força para fazer reformas importantes que o Brasil está precisando, e justamente nesse momento, ela está no chão (Dilma). Ela não está governando, não está conseguindo governar, não está conseguindo ter iniciativa. O governo parece autista e isso é gravíssimo para o país. Quem está sofrendo a maior consequência são as classes mais baixas, que têm menos gordura para queimar ou que não têm gordura nenhuma. Isso tudo por conta de um estelionato eleitoral que foi feito para ganhar as eleições. Até o ano passado, tudo andava bem, as contas estavam bem, e de repente tudo ficou ruim. Não foi o Brasil que ela prometeu nas eleições. Então, é esse quadro de terror pelo qual estamos passando.


Recentemente, o ex-presidente Lula foi convocado pela Polícia Federal para depor na investigação da Operação Lava-Jato. A Polícia Federal diz que o petista poderia ter “sido beneficiado” pelo esquema de corrupção na Petrobras. Na sua avaliação, Lula é uma “surpresa” ou uma “decepção”?

Na história das democracias, nós estamos abertos a pessoas até então intocadas, até então fora de suspeita, que se tornam suspeitas e decepcionam seu eleitorado como aconteceu com várias lideranças do PT, inclusive presas. Eu sempre digo que os partidos deveriam ser mais importantes que as figuras que formam esses partidos. As lideranças que se veem suspeitas de graves denúncias têm obrigação moral de se desligar do partido. Grande parte das lideranças do PT que levantam o punho cerrado na hora em que são presas está indo contra qualquer postura democrática, cívica e contra uma instituição que é seu partido. Então, estão querendo se sobrepor ao seu partido ou negando a justiça. Nesse caso, os punhos de José Dirceu estão cerrados com o dinheiro dentro. Ele prestou consultorias aproveitando seus contatos do governo para, de forma ilegal, aparentemente, ganhar dinheiro e pedir dinheiro para o partido. Então, é uma pena que queiram levar o PT junto. O PT tem mais de 1,5 milhão de filiados que merecem respeito.  É um partido importante no quadro político brasileiro. O PT precisa se reinventar e desligar todas essas figuras que estão prejudicando o partido. E se o ex-presidente Lula continuar sob suspeição e com indícios de ligações indevidas e ilícitas, deve pedir desligamento do PT.

Dom Joãozinho participou dos protestos, mas diz que impeachment só dentro da lei.

Na eleição passada, o próprio PT defendeu que os casos de corrupção estão sendo mais investigados no país, não estão indo para “debaixo do tapete”. Realmente progredimos? Podemos dizer que somos da “geração Sérgio Moro (juiz da Lava-Jato)”?
Nós avançamos muito no Brasil. Nós temos instituições diferentes. Muitos países ao nosso lado na América Latina também. Isso é a força do vigor das instituições. E mais, quando a presidente Dilma diz que é no governo dela que estão acontecendo investigações de corrupção, vindo à tona todos esses escândalos, é mentira. Porque quem está descobrindo esses escândalos é o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário, na figura forte do juiz Sérgio Moro. São essas instituições fortes e independentes que estão fazendo com que a justiça seja feita.

Desde a Proclamação da República que ninguém de sua família se filia a partidos políticos no Brasil. Vocês adotam uma “posição neutra”, mas, no seu caso, já foi eleitor do PT?
Eu já votei no PT, porque como cidadão eu voto, e me decepcionei muito porque o PT foi uma grande esperança para a juventude. Porque eu fui universitário e, na minha época de universitário, os podres da política brasileira como Paulo Maluf (PP), Fernando Collor (PTB), Sarney (PMDB), todos esses coronéis que não largam o osso, já estavam no poder e eram podres. E o PT veio com a mensagem e bandeira de mudar a política. E era a grande bandeira do PT: a mudança honesta e transparente, com gente decente. E toda uma geração acreditou nessa mensagem. Toda essa geração está decepcionada e se acha traída. Porque esse mesmo PT, na figura do ex-presidente Lula, se aliou a Sarney, se aliou a Collor e a Maluf. Então, o PT é uma grande decepção para a democracia no Brasil.

Recentemente, sua presença nos protestos contra o governo da presidente Dilma foi noticiada pela imprensa. Muitos pediam o impeachment nas ruas. É essa sua opinião?
A lei é a base da democracia. A presidente foi eleita legitimamente, por muito pouco, mentindo, enganando, tomando decisões equivocadas pelas quais estamos pagando hoje e vamos continuar pagando por muito tempo, principalmente as classes mais pobres. Ela tomou decisões que penalizam sobretudo  os pobres. Ela deixou de aumentar a gasolina e o combustível na hora que deveria; ela desonerou o ISS em 20% quando não poderia; ela diminuiu os custos da energia elétrica para todo o Brasil quando não podia; ela fez as famosas pedaladas fiscais, usando dinheiro para programas sociais, quando não podia. Está estourando tudo agora. Esses foram alguns dos muitos erros astronômicos da gestão dela para simplesmente ganhar a eleição. Na minha opinião, pessoas que fazem isso são traidoras. Somente isso já deveria ser motivo para impeachment. Mas tem que ser através da lei. A lei não prevê isso como motivo para impeachment.

Países vizinhos ao Brasil, como Bolívia e Paraguai, que não enfrentam problemas políticos, têm previsão de crescimento de 4,3% e 4% no PIB este ano. No Brasil é esperada uma queda de 1%. No nosso caso, crise política é sinônimo de crise econômica?
Não. A crise econômica começou no segundo mandato do ex-presidente Lula, quando ele focou o crescimento do Brasil na manutenção do emprego no consumo interno, que é uma política totalmente errada, na opinião da maioria dos economistas. As reformas estruturais que o Brasil precisava não foram feitas. O ex-presidente Lula teve legitimidade, teve força política, teve carisma para isso, mas não fez. Ele jogou fora uma parte importante da sua biografia. Poderia ter feito essa mudança e não quis. Ele quis a manutenção do poder a qualquer custo. E agora nós estamos pagando por isso. Não tem nada de crise internacional. Nada. A crise na Europa já passou. Vários países da Europa estão se reestruturando.

Saiba mais

  1. D. João Henrique de Orléans e Bragança é filho único do casamento entre o príncipe brasileiro d. João Maria (1916-2005), neto da princesa Isabel, com a princesa egípcia Fátima Scherifa Chirine (1923-1990);
  2. Está em seu segundo casamento com Cláudia Melli. Foi casado com a arquiteta Stella Cristina Lutterbach, com quem teve seus dois únicos filhos: João Philippe (1986) e Maria Cristina, Killy (1989);
  3. D. João Henrique é dono de uma pousada em Paraty e tem negócios imobiliários na cidade. Na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), costuma abrir a programação com um almoço para escritores e intelectuais em sua casa;
  4. Em 1993, d. João Henrique foi cotado como “imperador do Brasil”, caso a população escolhesse a monarquia como sistema de governo. O congresso escolheria um descendente de d. Pedro II para o posto, mas o sistema republicano presidencialista venceu a disputa.


FONTE:
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2015/10/05/interna_politica,601801/o-pt-e-uma-grande-decepcao-para-a-democracia-diz-d-joao-henrique-de-orleans-e-braganca.shtml

OBS: S.A.R. é um Príncipe da Casa de Orleáns e Bragança e descendente dos Imperadores do Brasil, porém, graças a renúncia de Dom Pedro de Alcântara (primogênito da Princesa Dona Isabel), o "ramo" de Petrópolis, ramo do qual Dom João faz parte, já nasceu sem direitos.

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