segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A VOLTA À CASA: O TRANSLADO DE PEDRO II


O navio couraçado São Paulo transportou os caixões imperiais de volta ao Brasil em janeiro de 1921. O governo republicano português deu ao imperador e a imperatriz uma exumação com dignidades condizentes com um chefe de estado, com os dois recebendo as mesmas honras ao chegarem no Brasil. O príncipe Gastão, Conde d'Eu, acompanhou os restos de seus sogros junto com seu único filho ainda vivo Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão-Pará. Sua esposa Isabel ficou na França por estar muito idosa e doente para participar das cerimônias. Ela acabou morrendo no ano seguinte sem nunca rever seu país natal. O presidente Artur Bernardes declarou um feriado nacional e o retorno de Pedro e Teresa Cristina foi celebrado por toda a nação.

Comparecendo à principal cerimônia no Rio de Janeiro estava o conselheiro Antônio da Silva Prado, o último ministro do império ainda vivo, que havia viajado de São Paulo. Centenas de pessoas foram ao evento. "Os velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram todos brasileiros". Isso marcou a reconciliação da república brasileira com seu passado monárquico. Entretanto, a "recondução oficial da figura de d. Pedro como herói nacional se daria mesmo em 1922, quando se preparava uma grande festa de comemoração do centenário da Independência do Brasil", durante a qual o imperador foi amplamente aclamado.

Os brasileiros celebraram espontaneamente o centenário do próprio Pedro três anos depois. Houve uma clara "desproporção entre o entusiasmo gerado pelas festividades em torno do natalício de d. Pedro e o pouco-caso pelo aniversário da República, que completava, então, 36 anos". Bernardes reconheceu a popularidade do monarca e afirmou que ele não negaria "a justiça que se lhe deve. Ele amou o Brasil e enquanto teve forças e energia procurou servi-lo rodeando-se dos melhores elementos de época". Pedro mais uma vez tornou-se o "Pai da Pátria".

Seu corpo e o de Teresa Cristina foram temporariamente deixados na Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo no Rio até a finalização da construção da Catedral de São Pedro de Alcântara em Petrópolis. O enterro final ocorreu em 5 de dezembro de 1939, aniversário de 114 anos de Pedro, quando o ditador Getúlio Vargas aproveitou a cerimônia como uma oportunidade de beneficiar sua própria popularidade (da mesma forma como Benito Mussolini havia feito com o enterro de Anita Garibaldi em 1932). Vargas dedicou a capela funerária na catedral onde os restos mortais do imperador e da imperatriz foram enterrados e onde permanecem até hoje.

Muitas das profundas transformações alcançadas durante o reinado de Pedro sobreviveriam sua deposição e também sua morte. Foram permitidos o florescimento de conceitos como um sistema político representativo e o paradigma de cidadania que tornaram-se arraigados sob o império, tanto que eles sobreviveram "nos três regimes subsequentes – a República Velha (1889–1930), a Era Vargas (1930–45) e a República Liberal (1945–64)". O conceito de uma nação-estado como imaginado por Pedro no século XIX foi até mesmo apropriado pelos militares que tomaram o poder em 1964. Apesar desse conceito ter começado a mudar na década de 1980, ele ainda permanece.

No começo do século XXI, "Seu nome é amplamente empregado para evocar tanto os valores tradicionais quanto a herança nacional. Sua imagem confere respeitabilidade, dignidade e integridade a qualquer evento ou instituição que a utilize".

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