sábado, 9 de dezembro de 2017

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Se o que tem cor é colorido, se o ato de dar cor a algo é colorir e se o aparelho que mede a intensidade das cores é o colorímetro, por que, em português, dizemos cor e não color?
Outras línguas europeias, assim como o português, tem uma palavra descendente da latina ‘color’ (pronuncia-se /kólor/). Confira na figura. Mas a língua portuguesa tinha que ser a diferentona. O que ocorreu?

Na Península Ibérica, o latim vulgar foi, pouco a pouco, se transformando numa língua bem diferenciada. No século VIII, já tínhamos a chamada língua galego-portuguesa ou português arcaico. Mas até aí o ‘color’ latino ainda era chamado de color, assim como o fazem os espanhóis.

Pelo século XII, houve um fenômeno fonético nesse português arcaico que o diferenciou bem das demais línguas filhas do latim: a síncope da letra L. Do mesmo jeito que é mais fácil para uma criança que está aprendendo a falar dizer /boínha/ em vez de /bolinha/ e /gaínha/ em vez de /galinha/, os portugueses preferiram não pronunciar o L do interior de muitas palavras. Nisso, a latina ‘dolor’ virou door, ‘salire’ virou saire (sair), 'volare' virou voare (voar), ‘mala’ virou maa e ‘color’ virou ‘coor’.

Esse foi o primeiro passo, pois no século XIII, outra mudança fonética aconteceu, marcando assim a passagem do português arcaico para o português moderno: a crase. Crase é a reunião de duas vogais iguais para virar uma só. É a economia das vogais. Perceba como é tão comum, hoje em dia, ouvir-se /álcol/ para álcool e /antinflamatório/ para anti-inflamatório. Assim, door transformou-se na nossa atual dor, maa acabou sendo má (malvada) e coor virou cor.

A palavra mais usada mudou (color --> cor), mas as derivadas mantiveram o L etimológico: dolorido, volante, saliente, malévola, coloração.

Síncope do L seguido de crase, eis o porquê do sumiço do L de várias palavras portuguesas. Mais um capítulo da riqueza histórica da nossa amada Língua Portuguesa.

Post original: Nomes Científicos

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