1908 – O Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, filho da Princesa Isabel e herdeiro de seus direitos dinásticos ao trono do Brasil, acaba de contrair núpcias com a Princesa D. Maria Pia de Bourbon-Duas Sicílias.
Dessa união haveriam de nascer o Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança (1909-1981), pai do atual Chefe da Família Imperial do Brasil; a Princesa D. Pia Maria (Condessa René de Nicolay); e o Príncipe D. Luiz Gastão, falecido em 1931.
Em 1913, o “Príncipe Perfeito” – como fora cognominado por seus inúmeros e esperançosos admiradores – publicaria o famoso livro Sob o Cruzeiro do Sul, no qual narrava a viagem efetuada em 1907 ao nosso Continente, e relatava com melancolia sua decepção quando, à entrada da Barra do Rio de Janeiro, foi inteirado de que o Governo federal lhe vedava o desembarque.
Ao mesmo tempo, recordava com afeto as numerosas visitas de brasileiros que recebeu, a bordo do transatlântico em que viajava.
O anelo de penetrar no Brasil, o Príncipe pôde realizá-lo alguns meses mais tarde, quando, precisando deslocar-se desde Puerto Suárez, na Bolívia, até a localidade paraguaia de Bahia Negra, conseguiu licença para fazê-lo percorrendo uma larga extensão do rio Paraguai, que atravessa o território mato-grossense.
Ainda nessa ocasião, porém, o ilustre brasileiro teve de assumir o compromisso de não desembarcar, e de não tomar vapor que arvorasse a bandeira nacional.
Sob o Cruzeiro do Sul valeu ao autor a apresentação de sua candidatura à vaga deixada pelo Almirante Barão de Jaceguay na Academia Brasileira de Letras.
Devido a fortes pressões políticas, entretanto, por uma pequena diferença de votos foi eleito outro candidato.
Até seus últimos instantes, quando, em 1920, faleceu vitimado por enfermidade contraída nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, o Príncipe D. Luiz sempre conservou inabalável o mesmo amor por sua terra natal.
E a esta quis dedicar Sob o Cruzeiro do Sul, com as palavras que se tornariam célebres:
“Ao Brasil, pátria querida e sempre lembrada,
Afetuosa homenagem do filho ausente”.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 1985 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
***
A 4 de novembro de 1908 o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, segundo filho da Princesa D. Isabel, desposava a Princesa D. Maria Pia de Bourbon-Duas Sicílias.
Cem anos transcorridos, é justo dedicar à memória de meus avós paternos o cartão de Natal da Casa Imperial.
Em carta de 9 daquele mesmo mês aos membros do Diretório Monárquico brasileiro, a Princesa Isabel se manifestava agradecendo as felicitações pelos consórcios de seus filhos:
“O do Luiz teve lugar em Cannes no dia 4 com todo o brilho que desejava para ato tão solene da vida de meu sucessor ao Trono do Brasil. Fiquei satisfeitíssima.
O do Pedro deve ter lugar no dia 14 próximo. Antes, assinou ele sua renúncia à Coroa do Brasil, e aqui lha envio, guardando eu papel idêntico.
Pedro continuará a amar sua pátria, e prestará a seu irmão todo o apoio que for necessário e estiver ao seu alcance.
Graças a Deus são muito unidos. Luiz ocupar-se-á ativamente de tudo o que disser respeito à monarquia e qualquer bem para nossa terra”.
Tais palavras traduziam a diligente preocupação da Redentora em afiançar, na sua descendência, a noção viva e eficaz de uma missão histórica a cumprir em relação ao Brasil.
Dom Luiz, “homem como poucos, príncipe como nenhum” – na expressão de seu primo e amigo o Rei Alberto I da Bélgica – não teve a possibilidade de realizar os muitos anelos e metas que acalentava em relação à Pátria.
Vitimou-o em 1920 inexorável enfermidade contraída nas frias trincheiras da I Grande Guerra, na qual lutara com denodo, deixando em tenra idade os descendentes que lhe dera D. Maria Pia: D. Pedro Henrique, meu Pai, meus tios D. Luiz Gastão e D. Pia Maria.
Minha Avó soube fazer seu o empenho da Princesa Isabel, inculcando nos filhos a importância da dinastia que encarnavam e dos deveres que lhes tocavam como príncipes.
Combinação admirável de bondade, firmeza de caráter e religiosidade, teve ela notável influência na formação dos netos, exercida até o final de seus longos dias. Legado precioso pelo qual lhe serei sempre comovidamente grato.
Neste 2008 que chega a seu fim, o Brasil a bem dizer como um todo se tomou de admiração, ufania e esperança, nas múltiplas celebrações dos 200 anos da Vinda da Família Real, nas quais, muito naturalmente, os espíritos se voltaram para nossa Dinastia, vendo nela a representação viva e perene daquilo que a Pátria tem de mais autêntico.
Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de 2008 de Dom Luiz de Orleans e Bragança).
Nenhum comentário:
Postar um comentário