domingo, 14 de janeiro de 2018

Imperatriz Teresa Cristina

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Se o Brasil deve a D. João VI as sábias decisões que tornaram possível nossa soberania, e a D. Pedro I sua resoluta concretização, a D. Pedro II deve sobretudo a fixação dos padrões da monarquia brasileira, que nortearam o Segundo Reinado e permaneceram vivos na memória nacional.

Padrões – hauridos da tradição cristã do Ocidente – todos feitos de honra, de respeitabilidade, de venerabilidade, que dimanavam do Imperador pairante sobre as contingências da esfera política e marcavam profundamente a vida da Nação.
Nessa obra foi fundamental a parte de minha trisavó, a Imperatriz D. Teresa Cristina.

A essa Princesa da Casa de Bourbon-Duas Sicílias nascida em Nápoles a 14 de março de 1822, filha do Rei Francisco I e da Rainha D. Maria Isabel, tocou a sorte que pelo casamento tão frequentemente cabe a Princesas: ir para terras distantes, para um país desconhecido que deve adotar como próprio e com o qual se identificará.

Seu matrimônio não obedeceu aos ditames românticos tão ao gosto do século XIX. Mas os fatos mostraram que aquela foi uma aliança acertada para o Brasil.

Por suas qualidades de alma e seu temperamento D. Teresa Cristina conquistou o Imperador e os brasileiros: inteligente, sensível, com primorosa formação clássica e artística, era consorte bem à altura do erudito esposo; afável, benevolente, religiosa, com discreta nota de dama sofredora, compunha com D. Pedro II o par régio que verdadeiramente inspirava a vida nacional, tanto pública quanto familiar.

Acompanhou sempre o Imperador em suas muitas viagens e tornou-se em extremo querida pela população, ficando conhecida como "a Mãe dos brasileiros".

Toda mãe sofre ao ser apartada dos filhos e da casa.

Assim foi notadamente com D. Teresa Cristina após 46 anos de doação à terra que adotara.

Abalada a fundo com a derrubada do Trono e a inclemência do desterro, sua saúde declinou rapidamente durante a viagem para o exílio, vindo a falecer a 28 de dezembro de 1889 em modesto hotel na cidade do Porto.

À Baronesa de Japurá confiou suas últimas palavras: "Não morro de moléstia, morro de dor e de desgosto... Brasil, terra abençoada que nunca mais verei..."

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão de Natal de Dom Luiz de Orleans e Bragança)

A Imperatriz Teresa Cristina, Mãe dos Brasileiros

Com a Imperatriz Teresa Cristina, a caridade sentou-se no trono brasileiro

Nos 46 anos que viveu entre nós, realizou Dona Teresa Cristina, a terceira Imperatriz, o perfeito protótipo de virtudes cristãs, pelo que lhe coube esse título de “mãe dos brasileiros”, no consenso unânime dos corações.

Durante a viagem que nos trouxe a Imperatriz Teresa Cristina, adoeceu um oficial de um dos navios brasileiros. A Imperatriz exigiu então que lhe informassem minuciosamente sobre a marcha da moléstia.

E quando soube que o estado do distinto oficial era cada vez pior, mandou que parassem os navios e, em alto mar, deixando a capitânea, foi para bordo do navio onde estava o doente, a fim de ministrar-lhe seus cuidados.

Ficou junto à cabeceira do oficial até que ele expirasse. Desde esse instante verificaram os membros da comitiva imperial quão grande era o coração da nova Imperatriz.

A 3 de setembro de 1843, chegava ao Rio a esquadra que nos trouxe de Nápoles a Imperatriz Teresa Cristina, e no dia seguinte ela desembarcava com o Imperador, que havia ido recebê-la no navio.

As qualidades excelsas de Dona Teresa Cristina sintetizam-se no cognome que lhe ficou, de mãe dos brasileiros, e resume-se na frase com que Benjamin Mossé encerra a notícia da sua chegada aqui: Desde esse dia a caridade se assenta no trono do Brasil.

Referindo-se a D. Pedro II e Dona Teresa Cristina, Machado de Assis conclui uma poesia com estes versos:

“Bem-vindo! diz-te o povo, e a frase poderosa

É como que fervente e tríplice ovação;

— Ouve-a tu, que possuis um anjo por esposa,

Por mãe a liberdade, e um povo por irmão!”

Para que a auréola de sua esposa não fosse trocada pela coroa de espinhos, D. Pedro II aconselhou-a, com prudência e sabedoria, a limitar-se à sua dupla missão de esposa e mãe, e que nunca atendesse a pedidos de favores de quem quer que fosse, pois para cada pretendente servido haveria dúzias e centenas de pretensões malogradas.

A Imperatriz assim fez. Sempre que se atreviam a importuná-la com pedidos, dizia:

— Isso é lá com o Imperador.

Dona Teresa Cristina rapidamente se adaptou ao novo ambiente. Seu completo alheiamento em relação à política, sua generosidade para com os necessitados, seu sorriso terno e o trato sempre amável ganharam a admiração do povo. Ela se tornou a “mãe dos brasileiros”, e a mulher mais popular e mais respeitada em todo o Império.

A visita de D. Pedro II a Jerusalém, em 1876, foi um dos marcantes acontecimentos locais da época.

Para só citar um exemplo, basta dizer que a Imperatriz Dona Teresa Cristina, conforme sublinham as crônicas, foi a primeira imperatriz, depois de Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, que pisou naquelas terras tão caras aos cristãos.

Durante a estada de D. Pedro II em Paris, Dona Teresa Cristina dava recepções no salão do Grande Hotel.

Enquanto ela recebia as senhoras, o Imperador ficava quase sempre num salão vizinho, com algumas personalidades das ciências e das letras, que Gobineau lhe apresentava. Se alguém perguntava pelo Imperador, ela respondia:

— Está com os doutores.

O Príncipe de Joinville, casado com Da. Francisca, irmã do Imperador, brincava com a esposa:

— Diga-me uma coisa, Chica: se você me tivesse perdido, iria procurar-me entre os doutores?

— Eu te procuraria por toda a parte – respondia a Princesa, sorrindo.

Da Imperatriz Teresa Cristina, nada há de mal a dizer

Ao tempo da proclamação da República, muito se havia zombado do Império, escarnecido o seu pessoal, envilecido o seu princípio essencial, infamado o Imperador nas pessoas dos seus antepassados.

Não era possível fazê-lo nas pessoas da sua esposa e das suas filhas, cuja compostura e virtudes exigiam uma veneração à qual só um louco se poderia esquivar.

D. Teresa Cristina era respeitada por todos os partidos e pelos jornais de todos os matizes.

Era extremamente caridosa. Quando teve de partir para o exílio, ficou desolada por não mais poder socorrer grande número de famílias desprotegidas da sorte, que tinham sempre dela o apoio moral e financeiro.

Que iria acontecer a essa pobre gente?

O Governo Provisório comprometeu-se a não abandonar os pobres mantidos pela bolsa particular do casal imperial.

No angustioso momento da partida para o exílio, a Imperatriz chorava convulsivamente.

O Barão de Jaceguai a aconselhou:

— Resignação, minha senhora.

— Tenho-a, e muito. Mas a resignação não impede as lágrimas. E como deixar de vertê-las, ao sair desta minha terra que nunca mais hei de ver?

No dia 28 de dezembro de 1889, 40 dias após o banimento da Família Imperial da nossa Pátria, morreu em um hotel de Lisboa a Imperatriz Teresa Cristina.

Nos seus últimos instantes de vida, confidenciou à Baronesa de Japurá:

— Maria Isabel, eu não morro de doença. Morro de dor e de desgosto.

O historiador Max Fleiuss afirma: “Costuma-se dizer que o dia 15 de novembro foi uma revolução incruenta, feita com flores. Houve, porém, pelo menos uma vítima: a Imperatriz”.

Os jornais europeus comentaram a morte da Imperatriz.

“Le Figaro” escreveu em 29 de dezembro de 1889:

“A Europa saudará respeitosamente esta Imperatriz morta sem trono, e dir-se-á, falando-se dela: sua morte é o único desgosto que ela causou a seu marido durante quarenta e seis anos de casamento”.

No mesmo dia o jornal “Le Gaulois” afirmou:

“Era uma mulher virtuosa e boa, da qual a História fala pouco, porque nada há de mal a dizer-se”.

(Excerto do livro Revivendo o Brasil Império, de Leopoldo Bibiano Xavier).

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