Diz-se muitas vezes, sem motivo claro, que o Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil foi fundado em 1808, mas esse foi apenas o ano em que aquela formação militar, na altura a Brigada Real da Marinha Portuguesa chegou às Américas.
Aquela força, naturalmente, já existia e não era mais que a mais recente reorganização da infantaria naval portuguesa. Esta, ora, nem data de 1808, que foi meramente o ano da sua transferência para as Américas, nem de 1797, quando Maria I mandou criar a Brigada Real da Marinha. A Brigada era, afinal, não mais que os três regimentos da Armada - os 1º e 2º de Infantaria, mais o Regimento de Artilharia da Armada - na forma que Maria decidiu dar-lhes.
As formações em si existiam, naturalmente, já há muito. Os fuzileiros portugueses - e, por conseguinte, os brasileiros - têm existência ininterrupta desde 1618, quando se fez o Terço da Armada da Coroa de Portugal. O Terço - "terço" foi o nome tradicional dos regimentos portugueses até ao século XVIII, quando por influência europeia se adoptou a actual designação - tinha por objectivo o guarnecimento da artilharia e fuzilaria dos vasos da Armada, assim como a participação em operações anfíbias que viessem a ser necessárias.
Na verdade, estas tropas têm entre nós História mais antiga ainda, pois datam de 1585 - fala-se em 1618 por ser desse ano a formação de um terço concretamente devotado a estes objectivos. Seja como for - 1585 ou 1618 - o que resulta claro é que a infantaria naval portuguesa foi, talvez, a segunda do mundo a ser criada - mais antiga, só a espanhola, que data de 1537. Outros corpos de fuzileiros internacionais são todos eles mais recentes, como os Royal Marines britânicos (1664), os Korps Mariniers holandeses (1665), os Marines norte-americanos (1775), os Troupes de Marine da França (1622) ou a Infantaria Naval russa (1705).
Transferida com a corte e a Rainha para o Brasil em 1808, a Brigada Real de Marinha, herdeira directa do Terço da Armada, foi instalada no mesmo ano na Fortaleza de São José da Ilha das Cobras pelo Secretário da Guerra, o Conde da Anadia.
Os fuzileiros brasileiros de lá mais não saíram, e a Ilha das Cobras, na Baía de Guanabara, mantém-se até aos nossos dias o seu quartel-general. Com a independência do Brasil, declarada em 1822 e reconhecida em 1825, o que da Brigada lá estava instalado transformou-se no Batalhão de Artilharia Naval da Marinha Imperial do Brasil, antecessor directo do actual do Corpo de Fuzileiros Navais.
Os fuzileiros brasileiros seriam chamados a combater na Guerra dos Farrapos e na Guerra do Paraguai, assim como, nos nossos dias, em numerosas operações de paz da ONU. Em Portugal, deu-se processo similar. Em 1832, a Brigada passa a Regimento da Armada Real Portuguesa, e em 1837 em Batalhão Naval.
Os fuzileiros de Portugal combateriam nas campanhas africanas do século XIX, na Primeira Guerra Mundial e na Guerra do Ultramar. Hoje, são uma das melhores forças à disposição das forças armadas portuguesas e participam frequentemente em operações de paz sancionadas pela ONU.
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