"Que poderia oferecer um regime monárquico a essa república centenária ainda tão sem rumo?
Vou limitar o argumento a um ponto que me parece mais relevante. Independentemente do poder que exerça, o que a figura Real sempre fez foi permitir a representação simbólica da nação mais eficaz do que qualquer presidente da república pode oferecer.
A revolução francesa teve que inventar nova representação da nação, porque antes a nação era o Rei. O presidente é eleito, é membro do partido, de facção. Por mais que o cargo lhe confira a única representação do país, ele sempre será visto como partidário.
Apenas em um ou outro caso, algum presidente pode escapar desta limitação e alçar-se acima dos partidos, como De Gaulle [presidente francês]. Sintomaticamente, é logo chamado de presidente imperial.
A representação simbólica da nação em uma pessoa cercada de convenção que lhe dá caráter de permanência (a linha dinástica) confere um grau de estabilidade ao sistema político que não pode ser desprezado em países marcados pela instabilidade crônica.
Não se trata de introduzir imobilidade, mas exatamente o contrário. Uma vez estabilizada a representação nacional, fica o espaço livre para o exercício do conflito, para a luta de partidos, facções, classes, o que for...
Fica livre o conflito de interesses, que não mais precisa ser coibido em nome da estabilidade do sistema"
José Murilo de Carvalho
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