domingo, 14 de janeiro de 2018

Imperatriz Dona Amélia

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Dona Amélia, nossa segunda Imperatriz, teve fugaz passagem na História do Brasil, mas deixou nela bela e perfumada marca.

A perda prematura de D. Leopoldina levara D. Pedro I a buscar nas Cortes europeias uma nova consorte, encontrada por seus enviados nessa princesa bávara de 17 anos, que ao nome ilustre de Leuchtenberg somava os predicados de virtude e formosura.

Chegada ao Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1829, D. Amélia, no dia imediato, recebia com o Imperador a bênção nupcial e era apresentada aos quatro filhos que ele dera a D. Leopoldina.

Cheia de afeto, a nova Imperatriz cobriu de abraços carinhosos aquelas crianças que recebia como suas.

Dois anos depois, porém, D. Pedro I abdicava, na fundada esperança de assegurar, em torno da pessoa de seu filho, a unidade do novo Império.

Dona Amélia perdia assim, de um golpe, a situação de Imperatriz, a Pátria e os filhos que adotara.

O devotamento de D. Amélia a D. Pedro, nas vicissitudes que se seguiram, até sua morte em 1834, o benéfico influxo de sua firmeza de caráter sobre o impulsivo esposo, a dedicação à única filha de ambos, D. Maria Amélia, até a morte precoce dela aos 22 anos, o recolhimento austero que se impôs depois no Paço das Janelas Verdes, em Lisboa, já não são partes das Histórias do Brasil, mas fazem pensar no espaço que ela teria ocupado, e no bem que teria feito, se aqui tivesse podido permanecer.

Fez questão de se fazer tratar, até sua morte, aos 61 anos, como “Imperatriz Viúva do Brasil”.

Solenemente trasladados para o Brasil, em 1982, seus restos repousam junto aos de D. Pedro I e de D. Leopoldina, no Monumento do Ipiranga.

Nos tempos turvos nos quais vivemos, em que o Brasil repetidamente é convidado a renunciar à sua identidade, em aras de modelos pretensamente novos, é sempre benéfico recordar exemplos de bondade, de dignidade e de limpidez, como os de Dona Amélia, engendrados pela influência milenar da civilização cristã.

Dom Luiz de Orleans e Bragança
(Excerto do Cartão Comemorativo dos 180 anos do Casamento de D. Pedro I com D. Amélia).

Firmeza de atitudes da jovem Imperatriz Da. Amélia

No Palácio de São Cristóvão, depois da bênção de núpcias de D. Pedro I com Da. Amélia de Leuchtenberg, o Imperador lhe apresentou os seus filhos.

Com afetuosidades de comover, D. Amélia cobriu de abraços carinhosos, maternalmente, as princesinhas e o príncipe herdeiro.

De repente, D. Pedro lembrou-se de sua filha adulterina, e pediu à Marquesa de Itaguaí:

— Minha boa Francisca, vá buscar a duquesinha de Goiás.

Aquela ordem foi um choque. Da. Amélia estremeceu. Secou-lhe bruscamente o sorriso nos lábios. Com voz firme, fitando o Imperador nos olhos, disse:

— Majestade! Poupe-me a dor dessa apresentação. Eu quero ser mãe dos filhos de D. Leopoldina. Mas unicamente dos filhos de D. Leopoldina. Eu não quero conhecer – nem sequer conhecer! – a filha bastarda da Marquesa de Santos. Peço a Vossa Majestade, portanto, que faça retirar imediatamente essa menina do Paço. É o primeiro pedido, senhor D. Pedro, que a Imperatriz faz ao Imperador.

Sem esperar resposta, incisiva e decidida, ordenou:

— Marquesa, vá avisar às açafatas que a Duquesa de Goiás deve sair já deste Paço. Que preparem as malas.

Atônita, D. Francisca não sabia o que fazer. Olhou para D. Pedro, suplicando uma decisão. D. Pedro balbuciou apenas:

— Cumpra as ordens da Imperatriz, Marquesa.


***
Francisco Gomes da Silva, conhecido como “Chalaça”, era um indivíduo de péssimos costumes, e exerceu funesta influência sobre o Imperador D. Pedro I.

Durante algum tempo, seu poder no Paço era quase absoluto. Era necessário removê-lo, mas ninguém se sentia com ascendência para pedir isso ao Imperador.

O Marquês de Barbacena, chamado ao Paço, ouviu de D. Pedro:

— Meu Barbacena, o Chalaça, como Vossa Excelência sabe, tem trabalhado com afinco nos meus negócios particulares. É de uma dedicação rara. Eu preciso, portanto, dar uma prova de amizade a ele. Vossa Excelência conhece a paixão que ele tem por dignidades. Vamos, por conseguinte, satisfazer-lhe a vaidade. Mande lavrar um decreto concedendo-lhe o título de marquês.

— Marquês?! O Chalaça?!

— Sim, meu Barbacena. E por que não?

— Perdão, Majestade, mas é necessário ponderar um pouco. Esse decreto é uma temeridade. É um ato comprometedor. Fazer do nosso vulgaríssimo Chalaça um marquês, é graça verdadeiramente escandalosa. Vossa Majestade vai irritar o País com tão acintosa mercê. Como Primeiro Ministro, não referendo esse decreto.

— Não referenda?

— Não! Não referendo. E digo mais. Se Vossa Majestade quiser conservar-me no Ministério, há de fazer a mim esta mercê, que reputo essencial à moralidade e ao prestígio do Trono: despedir o Chalaça. Mandar o Chalaça embora do Brasil.

Nisto, abre-se a porta e entra no salão Da. Amélia.

Logo D. Pedro lhe comunica, risonho:

— Sabe? Aqui o Barbacena está me pedindo uma graça incrível.

— Uma graça? Então é necessário concedê-la já. Não se pode negar coisa alguma ao nosso Barbacena.

— Mas é preciso ver o que pede o Barbacena...

— Que há de ser, meu Deus?!

— Um disparate! A saída do Chalaça do Brasil.

D. Amélia toma então ares sérios. Pensativa e grave, diz:

— O nosso Marquês tem razão. Esse homem precisa sair do Império.

— Que diz a minha Imperatriz?

— Digo que o Chalaça precisa sair daqui.Vossa Majestade perdoe, mas eu digo mais: esse tipo é abominável. Eu o detesto, e detesto-o porque ele desmoraliza o Paço. Porque prejudica o Império. Porque impopulariza o regime. Porque compromete Vossa Majestade.


A Imperatriz e o Primeiro Ministro foram implacáveis. Ao final, cedendo às evidências, D. Pedro decidiu conceder ao Chalaça uma missão diplomática em Nápoles.

***

Da. Amélia de Leuchtenberg, segunda esposa de D. Pedro I e Imperatriz do Brasil, amou os filhos de Da. Leopoldina de toda a alma, como o prometera, com desvelos de mãe. No dia da abdicação de D. Pedro I, ela escreveu uma carta ao pequenino D. Pedro II, então com 6 anos: “Não me pertences senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai. Mas quero-te como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-Imperador, no seu exílio, através os mares, em terras estranhas. Adeus, pois, para sempre!” Dirigindo-se às mães brasileiras, fez então uma súplica comovente: “Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração. Entregando-o a vós, sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura”.

(Excerto do livro Revivendo o Brasil Império, de Leopoldo Bibiano Xavier).

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