terça-feira, 22 de setembro de 2015

HÁ 118 ANOS FALECIA ANTONIO CONSELHEIRO

A única foto conhecida de Antônio Conselheiro. 
Foto tirada pelo fotógrafo Flávio de Barros, a serviço do Exército.

Antônio Vicente Mendes Maciel, ou, como é conhecido, Antonio Conselheiro, foi um grande líder popular brasileiro. Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém-libertos. Esse mesmo arraial com brasileiros pobres e descontentes com a república e suas ações, foi destruído pelo Exército republicano na chamada "Guerra de Canudos" em 1896. A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contra-revolucionário monarquista perigoso. (Bem democrática a república brasileira, não?)

Nasceu em 13 de março de 1830, na cidade de Quixeramobim, interior do Ceará, então um pequeno povoado perdido em meio à caatinga do sertão central da província do "Ceará Grande". Desde o início da vida, seus pais queriam que Antônio seguisse a carreira sacerdotal, pois entrar para o Clero era naquela época uma das poucas brechas que os pobres teriam para ascender socialmente. Com a morte de sua mãe, em 1834, a meta de transformar Antônio Vicente em Padre tem seu fim. Seu pai casa-se novamente. Em 1855 Morre o pai de Antônio, e ele é obrigado a abandonar os estudos e assumir o comércio da família aos 25 anos de idade; malogram de vez quaisquer sonhos sacerdotais. Estes negócios não vão nada bem (mais tarde Antônio será processado devido a não quitação de suas dívidas) Em 1857 Antônio casa-se com Brasilina Laurentina de Lima, jovem filha de um tio seu. No ano seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral, onde Antônio Vicente passa a viver como professor do primário, dando aulas para os filhos dos comerciantes e fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo os pobres e desvalidos em troca de pequena remuneração. Passa a mudar-se constantemente, em busca de melhores mercados para seus ofícios; primeiro vai para Campo Grande (atual Guaraciaba do Norte), depois Santa Quitéria e finalmente Ipu, então um pequeno povoado localizado bem na divisa entre os sertões pecuaristas e a fértil Serra da Ibiapaba.

Em 1861, flagra a sua mulher em traição conjugal com um sargento de polícia em sua residência na Vila do Ipu Grande. Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos sertões do Cariri, já naquela época um pólo de atração para penitentes e flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do nordeste. Em 1874, em Sergipe, o jornal "O Rabudo" traz a primeira menção pública de Antônio Maciel como penitente conhecido nos sertões. Já famoso como "homem santo" e peregrino, Antônio Conselheiro é preso nos sertões da Bahia, pois corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna à Bahia. Cresce a notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres; para eles, Antônio Conselheiro, ou o "Bom Jesus", como também passa a ser chamado, seria uma "figura santa", um profeta enviado por "Deus" para socorrê-los. Quando do fim da escravidão, ato assinalado, depois de tanta luta dos brasileiros em conjunto com a Família Imperial, feito assinalado por S.A.I a Princesa Dona Isabel, a Redentora, muitos ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então nenhum meio de subsistência (muito graças a república que impediu que os projetos do Parlamento Imperial de adentrar com o negro à sociedade), partem em busca de Conselheiro.

A "Revista Ilustrada", veículo de propaganda republicana durante o Império (e depois cencurada pela própria república), retratava Conselheiro de forma caricatural, tentando "barrar" a República.

  • O ARRAIAL DE CANUDOS

O ano de 1896 marca o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos: em 24 de novembro deste ano, é enviada a primeira expedição militar contra Canudos, sob comando do Tenente Pires Ferreira. Mas a tropa é surpreendida pelos "fanáticos" de Antônio Conselheiro, durante a madrugada, em Uauá. Após uma luta corpo-a-corpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do exército morreram oito militares e dois guias. Estas perdas, embora consideradas insignificantes quanto ao número nas palavras do comandante, ocasionaram o retiro das tropas. Em 29 de dezembro de 1896 tem início uma segunda expedição militar contra Canudos. Assim como a primeira, esta expedição foi violentamente debelada pelos conselheiristas.
O início da terceira expedição contra Canudos, comandada pelo capitão Antônio Moreira César, conhecido como "o Corta-Cabeças", por suas façanhas "heroicas" na Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Mas, acostumado aos combates tradicionais, Moreira César não estava preparado para eliminar Canudos, e foi abatido por tiros certeiros de homens leais a Antônio Conselheiro. A tropa foge em debandada, deixando para trás armamentos e munição. Para os conselheiristas, trata-se de uma prova cabal da "santidade" do beato de Belo Monte. Em 5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição contra Canudos, desta vez o cerco foi implacável, até muitos dos que se rendiam foram mortos, eliminar Canudos e seus "fanáticos habitantes" tornou-se uma questão de honra para o exército republicano.

Em 22 de setembro de 1897, há 118 anos, morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte "caminheira" (disenteria). Em 5 de outubro de 1897, matam os últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do arraial. Em 6 de outubro de 1897, o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos, sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo Dr. Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio. O arraial de Canudos é completamente destruído. Um incêndio na antiga Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, em Salvador (BA), destrói a cabeça de Antônio Conselheiro, que lá se encontrava desde o final da guerra de Canudos, em outubro de 1897.

  • MEMORIAL
Há dois centros culturais relacionados à Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Um localizado em Quixeramobim no interior do Ceará, conta a história de seu conterrâneo, está situado no centro da cidade, próximo ao Banco do Brasil. O outro situado em Canudos, Bahia, criado pelo Decreto 33.333, de 30 de junho de 1986, (publicado no Diário Oficial de 1º de julho) mantido e administrado em parceria com a UNEB.

CANUDOS, o maior massacre do ESTADO REPUBLICANO BRASILEIRO contra seus próprios "filhos". Um dos motivos que levou S.M. o Imperador Dom Pedro II do Brasil a não reagir o GOLPE DE ESTADO que instaurou a república era justamente evitar que brasileiros derramassem sanguem de seus irmãos... a república nunca pensou duas vezes em massacrar o povo para se manter.



FONTES:

  1. NOVAIS SAMPAIO, Consuelo. Canudos - Cartas para o Barão, páginas 231-232.
  2. PIRES FERREIRA, Manuel da Silva. Relatório do Tenente Pires Ferreira, comandante da 1a Expedição contra Canudos. Quartel da Palma, 10 de dezembro de 1896.
  3. MARTINS, Paulo Emílio Matos. O empreendedor do sertão HSM Management 61 março-abril 2007
  4. RODRIGUES, Nina. As collectividades anormaes, (Bibliotheca de Divulgação Scientifica, nº 19, RJ Civilização Brasileira, 1939
  5. CUNHA, Euclides da. Os Sertões; 1866 – 1909. Os Sertões;- Campanha de Canudos- 17ª ed. Rio de Janeiro. Ediouro, 1995.
  6. PORDEUS, Ismael. Escritos sobre Antônio Conselheiro e a Matriz de Quixeramobim. Coleção Outras Histórias, vol.65, Museu do Ceará, Secretaria de Cultura do Ceará. 2011.

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