As Herdeiras de Dom Pedro II, a Princesa Dona Isabel e sua irmã, a Princesa Dona Leopoldina
A fim de preparar sua herdeira direta para seu papel, começou o imperador Dom Pedro II a preocupar-se com a formação da futura imperatriz. Desde cedo, porém, o Dom Pedro iniciou entendimentos para dar às filhas uma preceptora. Por indicação da tia das princesas, Francisca de Bragança, a escolhida foi a condessa de Barral. Para a educação de Isabel e da sua irmã numerosos mestres foram designados, que elaboraram um severo programa de estudos. Seu pai comentara que:
"o caráter de qualquer das princesas deve ser formado tal como convém a senhoras que poderão ter que dirigir o governo constitucional de um império como o Brasil. A instrução não deve diferir da que se dá aos homens, combinada com a do outro sexo: mas de modo que não sofra a primeira. Convirá conformar-se, quando for de proveito, aos regulamentos da instrução pública primária e secundária. Poderá impor castigos, e quando forem leves, sem meu conhecimento prévio, devendo minhas filhas não saber ilegível que o tenho, quando isto não for conveniente, sendo o maior deles a reclusão em um dos quartos dos respectivos aposentos, assim como representar-nos, mesmo perante nossas filhas, sobre a justiça da concessão de algum prêmio."
Mas, apesar de todo este rigor, sua infância teve muitos momentos de descontração, ao lado da irmã Leopoldina. Em seu diário ela diz: "Petrópolis, residência de verão, residência deliciosa: jardins floridos, canais cortando a cidade..." ou mais adiante: "Eu fui de Petrópolis a pé até a cascata de Tamarati. A mana andou tão pouco a cavalo."
A proximidade da princesa com os negros, desde a mais tenra infância, e o diálogo franco e cordial com eles estabelecido, inclusive nas brincadeiras infantis, pode vir a explicar sua futura inserção no movimento abolicionista. A questão ainda não foi convenientemente estudada pela historiografia brasileira.
Seu pai a deu o mesmo ritmo de estudos que recebera, o estudo das ciências ocupou um papel primordial na educação de Isabel. O ensino das princesas dirigido pelo imperador refletia sua visão de uma educação universal com forte teor científico como essencial para um governante. O conteúdo do currículo seguido por Isabel contrasta fortemente com a educação dada à maioria das mulheres brasileiras da época, inclusive aquelas de origem abastada. As aulas ocorriam em seis dias da semana, nove horas e meia cada, com o ensino de português, latim, francês, inglês, alemão, história de Portugal, França, Inglaterra e outros países, literatura portuguesa e francesa, geografia, geologia, astronomia, química, física, geometria e aritmética, desenho, piano e dança, economia política e outros. Mary Del Priore, afirma que apesar do vasto conteúdo dado, a apreensão das matérias nem sempre eram as melhores, que "suas leituras eram censuradas pelo pai e pelo marido," com foco em conhecimentos sobre a vida doméstica.
Isabel nutria profundo interesse pelas questões ligadas ao desenvolvimento da educação no país, especialmente a educação pública, como fica patente em sua fala do trono, enquanto Regente do Império, em 1º de fevereiro de 1877:
"A instrução pública continua a merecer do governo a maior solicitude. Foram criadas no município da corte escolas de segundo grau, e as normais, destinadas a preparar professores para o ensino primário de ambos os sexos, terão de ser brevemente inauguradas. Nas províncias este ramo de serviço apresenta sensível progresso, limitado, porém pela falta de meios de que podem dispor. Se os melhoramentos materiais por elas empreendidas têm recebido vosso auxílio, justificada será qualquer despesa que autorizeis para coadjuvar esse grande elemento de civilização."
FONTES:
- FALAS do trono desde 1823 até o ano de 1889. Brasília, D.F.: INL/MEC, 1977, p. 438;
- Barreira, Wagner Gutierrez; Laurentino Gomes, Mary del Priore, José Murilo de Carvalho. (Setembro 2013). "De pai para filha". Aventuras na História (122): 28-37. São Paulo: Editora Abril;
- LACOMBE, L. L.; Isabel, a Princesa Redentora, Instituto Histórico de Petrópolis: Petrópolis, 1989, p.34;
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