terça-feira, 7 de novembro de 2017

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Em meio a crise que ocorreu em seu reinado, Don Maximiliano I do México recorreu ao primo da única monarquia estabilizada das Américas, o Império do Brasil:

"O sonho do arquiduque Maximiliano, subitamente lançado ao posto de imperador do México, incluía D. Pedro II e uma poderosa aliança com o Brasil. Mas nunca chegou nem perto de se realizar. Em apenas três anos, desmoronou e virou tragédia.

(...)Quatro anos antes, Maximiliano havia se encontrado pessoalmente com Pedro II. Numa viagem à América do Sul, fora recebido pelas princesas Isabel e Leopoldina em Petrópolis, e depois rumara até o Espírito Santo para ver o imperador. Amante da botânica e da zoologia, aproveitou a viagem para explorar a natureza tropical. Dizem que levou espécimes de aves, insetos e plantas para a sua coleção particular.

Mas agora a boa vida tinha acabado. À frente do Império mexicano, pressionado por todos os lados, não tardou em escrever para o seu primo brasileiro. As cartas alternavam comentários formais com mensagens de cunho pessoal. Elas revelam as estratégias usadas pelo imperador mexicano para se aproximar do Brasil. Tratando o primo brasileiro por “irmão”, Maximiliano não poupa elogios ao governo que, segundo ele, “desperta a inveja do Novo Mundo”, e evoca possíveis afinidades entre seus impérios:

“Tenho pensado nas similaridades que reinam entre nossos dois países e todo o meu desejo é seguir a via traçada por Vossa Majestade para obter bons resultados”.No afã de criar vínculos econômicos e diplomáticos com o Brasil, Maximiliano condecorou D. Pedro II com o Colar da Águia Mexicana, da Ordem das Grandes Cruzes. Este prêmio só havia sido concedido até então aos soberanos da Áustria e da Rússia. Como retribuição, o imperador brasileiro condecorou a imperatriz Carlota com as insígnias da Ordem Imperial.

A imprensa brasileira, contudo, ignorou solenemente o gesto diplomático: os jornais não registram nenhuma menção ao intercâmbio de medalhas. Um projeto pessoal de Maximiliano também justificava suas investidas. O imperador queria consolidar a hegemonia de dois grandes impérios dos Habsburgo na América, recuperando o prestígio da dinastia. Para isso, pretendia casar seu irmão, o arquiduque Luís Victor, com a filha mais velha de Pedro II, a princesa Isabel, herdeira do trono do Brasil. Mais uma vez os planos de Maximiliano não deram resultado.

O imperador austríaco Francisco José soube do plano e não o considerou um bom negócio. Estava mais interessado no futuro europeu da dinastia, e pressionou Luís Victor a desistir. Mesmo depois das várias tentativas de aproximação, até o começo de 1865 o Brasil ainda não havia reconhecido oficialmente o Império do México. Maximiliano, então, mudou de estratégia: passou a investir no envio de diplomatas ao Brasil. A representação diplomática no Rio de Janeiro passou a ter a mesma importância que tinham as de Viena, Bruxelas, Paris e Roma.

Para defender os interesses mexicanos no Brasil, foi escalado D. Pedro Escandón, advogado e agente comercial, filho de uma das famílias mais ricas do México. Ao chegar, em janeiro de 1865, Escandón logo percebeu o pouco entusiasmo de D. Pedro II e o desprezo cínico que a imprensa devotava ao Império mexicano. Mas os ventos pareciam anunciar tempos melhores. No mês seguinte, Escandón foi recebido pelo imperador do Brasil no Palácio de São Cristóvão, em audiência pública e com todas as pompas.

Seguro de que este reconhecimento de Pedro II serviria de fundamento para uma aliança de interesses entre os impérios americanos, Escandón discursou, entusiasmado, dizendo que era preciso “conservar inalteráveis as preciosas relações que sempre devem existir entre dois povos irmãos, identificados em origem, raça, crenças e governo, falando línguas diferentes, mas compreendendo-se facilmente, porque a cordialidade expressa seus pensamentos e simpatias”. Pedro II se limitou a agradecer a prova de amizade de seu “irmão e primo, o imperador do México”.

Depois da audiência, Escandón ainda tentou consumar um tratado de comércio com o Império do sul, e propôs que se enviasse um representante brasileiro ao México. Tudo o que conseguiu, no entanto, foram respostas evasivas."

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